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  • Marcos Cintra

Para evitar o colapso

A economia brasileira poderá, a qualquer momento, sofrer uma nova e violenta intervenção. Não para sanar o organismo econômico, mas simplesmente para mantê-lo vivo, ainda que em estado apenas vegetativo.


Não cabe discutir o diagnóstico, sobejamente discutido. Conhece-se a terapia para estabilizar a economia: um amplo ajuste fiscal e o estabelecimento de regras de gestão pública capazes de conquistar credibilidade na solvência do setor público nacional. Neste quadro, há que se lançar mão de medicamentos como a privatização, a independência da autoridade monetária, a redistribuição dos encargos entre os vários níveis de governo, a consolidação da dívida pública, uma eficaz reforma tributária, capaz de garantir os níveis de arrecadação previstos no orçamento, a resolução do conflito redistributivo pela retomada do crescimento econômico. Não são novidades.


Falta, contudo, uma equipe com competência e credibilidade para efetuar estas múltiplas intervenções e que se mostre capaz de restaurar a "antiga religião fiscal", nos dizeres de James Buchanan: devoção no equilíbrio orçamentário, destruída, para gáudio dos políticos, pela visão keynesiana do intervencionismo público.


No momento, não se dispõem de instrumentos e nem de equipes capazes de praticar as múltiplas intervenções de que necessita a economia brasileira. Assiste-se passivamente à trágica deterioração do quadro clínico.


Não restará outra alternativa que uma intervenção violenta, praticada pelos enfermeiros de plantão. Apenas uma traqueotomia para manter a economia viva. Sem qualquer esperança, ou pretensão, de que a doença seja curada. Um novo congelamento para sustar as violentas perdas salariais, para reduzir os juros nominais que atingiram patamares inviáveis para a sobrevivência das empresas e para impedir a deflagração de uma súbita explosão hiperinflacionária. Uma traqueotomia que não será capaz de curar as aflições do paciente, mas que servirá para evitar um iminente colapso.


Há outra solução? Resta apenas ganhar tempo, na esperança de que as saídas da crise sejam maduramente negociadas e implementadas pela sociedade. Há que evitar a tentação de novos planos miraculosos, que poderiam apenas precipitar um desfecho indesejável; mas também não se pode, na inoperância, permitir que o caos se instale no país.


 

Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, 45, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, consultor de economia da Folha e presidente regional do PDS.

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