O desemprego e a marginalidade social atingem grandes contingentes da população mundial, assim excluída do mercado formal de trabalho. Tem-se que as campanhas emergenciais de distribuição de alimentos, vestuário e medicamentos são pouco eficientes, e a introdução de projetos de distribuição de dinheiro tipo seguro-desemprego leva à acomodação, contribui para aumentar o déficit público, reduz as fontes de financiamento ao setor privado, gerador de riquezas e, contraditoriamente, ao invés de reduzir, aumenta a miséria. É o que mostram práticas de países desenvolvidos ou em desenvolvimento.
A solução duradoura para esse problema reside no estímulo à discussão, concepção e introdução de formas de criar riquezas, pois a experiência indica que na maioria das comunidades carentes urbanas e rurais há recursos humanos e materiais não utilizados, que precisam ser mobilizados para a produção, ser introduzidos no circuito formal dos mercados e atender às suas demandas reprimidas por bens e serviços. É um desafio que pode contar com a participação de instituições governamentais, religiosas, agências internacionais de desenvolvimento, etc. Uma alternativa é incentivar a criação de cooperativas de trabalhadores e transformá-los em gerentes e proprietários de seus próprios negócios.
Existem exemplos de iniciativas bem-sucedidas. Nos Estados Unidos, em Silver City, Novo México, a diocese criou a Cooperative Ownership Development Cooperation, em moldes semelhantes ao do projeto Accion International, baseado em Cambridge, Massachusetts. Na Espanha, a cidade de Mondragón tornou-se uma comunidade-cooperativa de 20 mil sócios, reunidos em mais de 200 entidades, que produzem bens e serviços diversificados, inclusive de alta tecnologia. Tais projetos compreendem o aporte de capital inicial; o financiamento para aquisição de máquinas e equipamentos que elevem a qualidade da produção; e, tão ou mais importante, a realização de seminários de apoio e gerenciamento, com vistas a elevar a produtividade e a competitividade das microempresas e inseri-las nos mercados doméstico e internacional. A prática de política fiscal adequada evita a exaustão da capacidade de reinvestimento e de melhoria da renda.
No Brasil, a primeira experiência dessa natureza ocorreu no âmbito do polo Noroeste, nos Estados de Rondônia e Mato Grosso, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). No ano de 1989, capacitou mais de 2.200 pessoas, dando origem a várias unidades empresariais que se expandiram e que hoje se caracterizam como pequenas empresas lucrativas. A metodologia adotada é baseada na que foi aplicada e testada, com êxito, desde a década de 70, em projetos desenvolvidos em diversos países, como Honduras, México, Costa Rica, Haiti, Santo Domingo, Panamá e em países da África e Ásia.
Na cidade de São Paulo, os efeitos da crise econômica são mais variados e profundos, devido à magnitude de sua população e ao grau de seu desenvolvimento, levando a um descompasso dramático entre os recursos disponíveis e as demandas sociais. (Continua)
Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade de Harvard.