Responder a uma pergunta direta e crucial, como a feita pela Folha aos candidatos à Presidência - "como combater a inflação?" - não é tarefa fácil. A maioria tentou responder, mas, diga-se de passagem, sem muito sucesso. No entanto, contribuíram para o debate, diferenciando-se nesse aspecto de candidatos como Lula e Brizola, que não se dispuseram a enfrentar essa questão, revelando uma atitude de descaso evidente com os eleitores brasileiros.
Avaliar a qualidade das propostas antiinflacionárias dos candidatos exigiria que eles tivessem apresentado, em primeiro lugar, um diagnóstico claro da crise brasileira. Em seguida, a terapia recomendada deveria ter sido discutida. No entanto, o que se observa é que todos eles apresentaram apenas a terapia, com exceção de Covas, que fez um avanço no diagnóstico, mas não especificou o tratamento.
Vale ressaltar ainda que, embora os candidatos tenham descartado a recessão como parte do controle da inflação, todas as respostas têm em comum uma ênfase essencialmente convencional em termos de política econômica, ou seja, a ênfase na austeridade e no controle dos desequilíbrios orçamentários do setor público.
Enquanto alguns candidatos priorizam a contenção de gastos, outros preferem aumentar as receitas. No entanto, as propostas não fornecem informações essenciais para que o eleitor possa julgar os candidatos, como, por exemplo, como reduzir despesas e aumentar receitas sem prejudicar o crescimento econômico do país.
Collor argumenta que o combate à inflação deve ocorrer por meio de um processo de crescimento auto-sustentado. Embora a expansão econômica possa evitar um agravamento das pressões inflacionárias, fazê-las retroceder é uma questão muito mais polêmica. A resposta de Afif se perde em jargões econômicos pouco transparentes e vagos, como "mudança no regime fiscal e monetário" ou "renegociação não-convencional" da dívida externa.
Maluf confunde o eleitor ao afirmar que reduções nas despesas públicas podem não resultar em superávits, e superávits também podem não resultar em redução na emissão de títulos públicos ou de moeda, o que significa que os juros e a inflação podem não diminuir, contrariando o que o candidato sugere.
Covas não especifica o tipo de reforma fiscal que recomenda e deixa em silêncio o tipo de política de preços e salários "socialmente acordada" que propõe (não seria o mecanismo de mercado na fixação de preços um tipo de contrato social?).
Ulysses apresenta uma série de sugestões diversas, enquanto Caiado adota uma abordagem mais parcimoniosa e simplista. Roberto Freire vai contra o bom senso ao defender a intervenção do Estado em sua proposta antiinflacionária. Em resumo, foi um debate decepcionante.