Levantamento de uma consultoria internacional de recursos humanos revelou que, em um grupo de 36 países, o Brasil é o segundo onde as empresas encontram maior dificuldade para selecionar trabalhadores capacitados, ficando atrás apenas do Japão. Entre os empresários brasileiros, 64% afirmaram ter dificuldades para preencher vagas, sendo que o percentual médio das economias pesquisadas foi de 31%.
A falta de trabalhadores qualificados em todos os níveis tem causado a entrada de um contingente crescente de estrangeiros no Brasil. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) revelam que em apenas três anos a mão-de-obra oriundárias de outros países cresceu quase 70%. As autorizações saltaram de 25.440 em 2006 para 42.914 em 2009, sendo que chama a atenção nesse período o crescimento de 92% no número de trabalhadores com segundo grau completo ou formação técnica.
O MTE mostra que as empresas estão importando muitos técnicos e profissionais com segundo grau. No ano passado, eles somaram 16.538 indivíduos. Porém, o IBGE revela que 60% dos 1,6 milhão de desempregados nas regiões metropolitanas do país têm mais de onze anos de estudo. Ou seja, há um grande contingente de pessoas procurando emprego no Brasil que tem o mesmo nível de escolaridade de 40% da mão-de-obra importada em 2009.
Parte da mão-de-obra que vem para o país refere-se a profissionais especializados na supervisão de processos de transferência de tecnologia de ponta, mas o crescimento da importação de trabalhadores, sobretudo de pessoas com segundo grau ou formação técnica, deve ser inserido em um contexto onde fica evidente que o sistema educacional e de capacitação do profissional brasileiro não reage em sintonia com as necessidades da atividade produtiva.
Urge repensar a qualificação do trabalhador brasileiro em todos os seus níveis, de tal forma que ela se torne uma política pública com ações de curto, médio e longo prazos e integre governo, empresas, entidades de classe e universidades. Um dos componentes dessa política deve ser a vinculação dos programas de transferência de renda à participação de seus beneficiários em cursos de capacitação profissional.
Simplesmente transferir renda sem exigir uma contrapartida dos beneficiários de ações como, por exemplo, o seguro desemprego ou o Bolsa Família, desestimula a inserção de pessoas no mercado de trabalho. Enquanto recebem o benefício, muitos indivíduos não têm interesse em cursos de capacitação porque temem perdê-lo.
Criar uma política nacional de qualificação do trabalhador, tendo como um de seus pilares básicos a vinculação dos programas de transferência de renda à participação de desempregados em cursos de qualificação profissional, seria uma forma de elevar a capacidade produtiva da mão-de-obra nacional. Essa ação teria um efeito multiplicador na economia por conta do aumento da produtividade do fator trabalho. Além disso, elevaria a renda do trabalhador e minimizaria os impactos sociais negativos gerados pelo desemprego e pela baixa capacitação laboral de uma grande massa de brasileiros.