Segundo uma grande empresa de recursos humanos, depois do Japão e da Índia, o Brasil é o país onde as empresas têm mais dificuldades para encontrar trabalhadores treinados. Engenheiros, motoristas, operadores de produção e contadores são alguns dos profissionais mais difíceis de serem encontrados atualmente pelas firmas brasileiras. Há uma forte demanda por profissionais qualificados em diferentes áreas no Brasil por conta da economia aquecida, mas as empresas não conseguem preencher essas vagas porque durante anos a educação de qualidade foi negligenciada e o ensino técnico foi desvalorizado. Para suprir essa deficiência, empresas empregam trabalhadores estrangeiros mesmo havendo mão de obra desempregada no mercado interno.
Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que em apenas cinco anos a mão de obra originária de outros países cresceu 177%. As autorizações para estrangeiros trabalharem no Brasil saltaram de 25.440 em 2006 para 70.524 em 2011. Chama a atenção nesse período o crescimento de mais de 60% no número de pessoas com segundo grau completo, que somaram no ano passado 23.744 indivíduos.
Por outro lado, o IBGE revela que aproximadamente 60% dos 1,3 milhão de desempregados nas regiões metropolitanas do país têm onze anos ou mais de estudo. Ou seja, há um grande contingente de pessoas procurando emprego no Brasil que tem o mesmo nível de escolaridade de um terço da mão de obra importada em 2011.
Parte da mão de obra que vem para o país refere-se a profissionais especializados na supervisão de processos de transferência de tecnologia de ponta, mas o crescimento da importação de trabalhadores, sobretudo de pessoas com segundo grau ou formação técnica, deve ser inserido em um contexto onde fica evidente que o sistema educacional e de capacitação do profissional brasileiro não reage em sintonia com as necessidades da atividade produtiva.
É preciso acelerar a qualificação do trabalhador brasileiro em todos os seus níveis, de tal forma que ela se torne uma política pública com ações de curto, médio e longo prazo e integre governo, empresas, entidades de classe e universidades. Um dos componentes dessa política deve ser a vinculação dos programas de transferência de renda à participação de seus beneficiários em cursos de capacitação profissional.
Transferir renda sem exigir uma contrapartida dos beneficiários de ações como, por exemplo, o seguro desemprego ou o Bolsa Família desestimula a inserção de pessoas no mercado de trabalho. Enquanto recebem o benefício, muitos indivíduos não têm interesse em cursos de capacitação porque temem perdê-lo.
Criar uma política nacional de qualificação do trabalhador, tendo como um de seus pilares básicos a vinculação dos programas de transferência de renda à participação de desempregados em cursos de qualificação profissional, seria uma forma de elevar a capacidade produtiva da mão de obra nacional. Essa ação teria um efeito multiplicador na economia por conta do aumento da produtividade do fator trabalho. Além disso, elevaria a renda do trabalhador e minimizaria os impactos sociais negativos gerados pelo desemprego e pela baixa capacitação laboral de uma grande massa de brasileiros.
Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor-titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.
Gazzetta D'Italia: 01/03/2012
Jornal do Bom Retiro: 28/03/2012