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Marcos Cintra

Reflexões sobre sobre o debate entre derrotistas e ufanistas

Muito se fala sobre a crise atual, mas poucos se dedicam a analisar seus desdobramentos ao longo dos próximos meses. O debate atual mais parece uma pendenga entre torcidas organizadas.


De um lado, os derrotistas, tentando mostrar que a crise já atingiu em cheio a economia, que será inevitavelmente sugada pela recessão nos países desenvolvidos. E do outro, os ufanistas, mostrando que há um descolamento das economias em desenvolvimento, como o Brasil, e que, portanto, a crise será apenas uma desaceleração no forte ritmo de crescimento recente. E, nessa briga de rua, poucos discutem como será a economia mundial que emergirá.


A crise financeira que teve início em meados de 2007 atingiu seu ápice nos terríveis meses de setembro e outubro de 2008. Um ano, portanto, após seu início, a crise se avolumou e se espalhou de tal forma que semeou pânico ao redor do mundo.


A integração dos mercados mundiais e os desconhecidos e misteriosos instrumentos financeiros criados ao longo das últimas décadas fizeram um trabalho perfeito, de quase completa destruição da credibilidade dos agentes nas instituições.


A preferência pela liquidez tornou-se irracional, jogando por terra qualquer análise objetiva dos conceitos que deveriam ser determinantes na formação de preços de ativos financeiros.


Felizmente, tudo indica que esse tempo já passou, apesar de deixar um rastro de destruição de valores por todo o espaço econômico mundial. Cabe agora juntar os cacos e avaliar o que o futuro nos reserva.


DERROTISTAS x UFANISTAS


Inicialmente, cumpre apontar que, apesar da violência do olho do furacão já haver se dissipado, o ambiente econômico é alarmantemente negativo. A crise financeira já contaminou os mercados reais. A violência da recessão assusta as economias, e a expectativa de que os países emergentes seriam capazes de sustentar, ainda que fragilmente, a economia mundial torna-se cada dia mais irrealista.


Nesse terreno desolado existe apenas a sensação confortadora de que a pronta ação das autoridades econômicas em todo o mundo foi capaz de controlar o pânico. Balões de oxigênio contendo pura liquidez foram distribuídos abundantemente, mas, como alertou ANNA SCHWARTZ, do alto dos seus 94 anos, em memorável entrevista, o problema fundamental pode estar na perda de credibilidade do sistema quanto à sua solvência. O que esperar daqui para frente?


Certamente haverá um período de acomodação, como o que estamos vivendo atualmente. Os fundamentos econômicos serão reavaliados, e as oportunidades de investimentos timidamente analisadas nos próximos seis meses a um ano.


Os primeiros balanços e demonstrações de lucros e perdas após a tormenta assombrarão os mercados, prevalecendo a volatilidade e a incerteza, porém, dentro de faixas de valores mais racionais.


Essa deverá ser a marca dos meses à frente. Determinar o valor de qualquer ativo afigurar-se-á uma tarefa difícil e altamente arriscada. Será a hora das oportunidades, quando surgirão os vencedores dessa crise. O mundo escolherá seus novos jogadores estratégicos.


Mas o pior será o rescaldo do atual quadro econômico. Surge, então, uma série de perguntas que sintetizamos a seguir:


  • Como o mundo irá drenar a crescente liquidez que alaga os mercados mundiais?

  • Como evitar as pressões inflacionárias que surgirão, se nada for feito?

  • Como refluir os capitais públicos que invadiram os board rooms das empresas em todo o mundo?

  • Como evitar que a intervenção estatal, necessária no momento como um típico "bem público," seja confundida com a estatização da gestão e com os ultrapassados métodos de produção e administração centralizados? Como reconquistar credibilidade para o mercado e permitir que ele continue agindo como o melhor mecanismo gerador de riqueza já utilizado pela humanidade?

  • Como administrar o crescente endividamento do setor público e evitar o crescimento da carga tributária?

  • Como avaliar as consequências do forte realinhamento das taxas de câmbio?

  • Qual será o comportamento do dólar após o pânico que o transformou em porto seguro para os investidores inseguros?

  • Que blindagens contra futuras crises serão erigidas e que restrições ao crescimento econômico elas poderão implicar?

  • E, principalmente, como ficará a economia norte-americana após esse tsunami financeiro?


Sugiro que esses temas sejam analisados, pois o futuro será um emocionante desenrolar de novos desafios.

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