O temor de um novo pacote - com congelamento de preços e outras tantas medidas igualmente conhecidas - volta a rondar a economia brasileira. A inflação de julho se revelou mais elevada do que se esperava. Neste ritmo, os preços estarão aumentando em mais de 20% até o final do ano. Só restará adotar mais uma vez um novo choque.
Sem dúvida, se o governo não tomar medidas corajosas para neutralizar esta preocupante reversão de expectativas, não lhe restará alternativas senão a de novo congelamento. Afinal, a política fiscal mostra-se cada vez mais frágil, e a política monetária está no mínimo confusa. As taxas de juros reais negativas contrariam frontalmente as intenções das autoridades econômicas. No entanto, não parece haver qualquer sinal de mudança à vista.
O controle de preços que vier até o final do ano pode ser total - o congelamento - ou parcial - uma pré-fixação. Em ambos os casos, os resultados serão pífios. Não há possibilidade de sucesso para um congelamento que já está sendo antecipado. Da mesma forma, não haverá clima para a adesão dos agentes econômicos a um sistema de aumentos pactuados em uma conjuntura que dá sinais de expansão, ainda que modesta.
Para completar o quadro de indefinição, o governo mostra-se indeciso entre a indexação formal de salários e a livre negociação; mostra interesse em negociar com os credores externos e ao mesmo tempo adota ridículos comportamentos de ultrapassado orgulho nacionalista; defende o sistema de mercado, mas ameaça o setor privado a cada indício de descontrole inflacionário. Enfim, não sinaliza corretamente aos agentes econômicos, deixando a impressão de não possuir um projeto consistente de estabilização.
O ambiente econômico e político do país começa a ficar parecido com o dos últimos 12 ou 18 meses do governo anterior: pouca esperança de que alguma coisa de positiva venha a ocorrer. Cessar as buscas de alternativas, e a prioridade passa a ser apenas a de evitar uma explosão hiperinflacionária. Enfim, o atual governo já passa a imagem prematura de derrotado.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 45, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas e consultor de economia da Folha.