Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque
O clima de incertezas hoje supera os piores momentos que antecederam o Plano Cruzado. O governo não consegue transmitir qualquer segurança em relação ao futuro. Pelo contrário, o que se observa são acusações mútuas, críticas, desencontros, decepções, tudo isso dentro do núcleo central da administração.
Para resolver essa situação, é preciso tomar medidas imediatas para conter as elevações de preços e salários. Uma opção viável seria um congelamento de preços, por noventa dias, ideia que ainda conta com grande apoio popular, como demonstrado por uma pesquisa recente. Nesse cenário, os preços já realinhados oficialmente seriam congelados nos níveis atuais, enquanto os demais seriam reajustados em relação aos preços de 28 de fevereiro, com base no índice oficial da inflação.
A ideia de um "pacto reformista" que redefiniria estruturalmente as principais variáveis da economia brasileira parece irreal, dada a falta de realismo nas propostas apresentadas pelos representantes dos trabalhadores. Portanto, é importante buscar um "pacto circunstancial" que evite a deterioração da situação atual e permita a formulação de uma política econômica confiável.
A situação é grave, com a escalada inflacionária ameaçando tornar-se incontrolável. O retorno da reindexação parece inevitável, dadas as atuais circunstâncias, e é necessário estabelecer regras e parâmetros para realinhamentos de preços e salários, buscando coordenação nesse processo.
Um congelamento de noventa dias não resolve diretamente os problemas inflacionários, mas evita um descontrole imediato e dá tempo às autoridades para formular uma política econômica eficaz. Poderia incluir aumentos de salários reais compensatórios concedidos ao longo dos meses seguintes ao congelamento. O rigor na fiscalização dos preços congelados e a flexibilidade para ajustes são essenciais.
A alternativa é o caos atual, e é fundamental buscar soluções emergenciais para evitar uma crise econômica ainda mais profunda.
MARCOS C. CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE é doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), chefe do departamento de Economia da FGV-SP e consultor de Economia desta Folha.