O governo Dilma Rousseff chega ao fim de maneira melancólica. O PT está deixando o poder com a presidente sendo reprovada por 70% da população. Diferentemente do governo Collor, a gestão petista está sendo defenestrada do Palácio do Planalto em decorrência de um movimento que teve origem nas ruas e que ecoou no Congresso.
O impeachment de 1992 foi um processo que começou no legislativo federal e que depois ganhou as ruas. A esmagadora maioria do povo brasileiro não quer mais o PT. Até a chamada "nova classe média" se deu conta de que o partido se tornou o grande artífice da atual depressão econômica, que já fez o desemprego ultrapassar 10 milhões de pessoas este ano e que ameaça mais 2 milhões de trabalhadores até o final de 2016. O PT sempre passou a ideia de que a ascensão de 30 milhões de pessoas para a classe C foi obra do partido. Para muitos, essa bobagem colou e os petistas, mesmo atolados em um mar de lama desde o caso do mensalão, permaneceram no poder.
Cumpre dizer que a redução da pobreza nos últimos anos só foi possível porque tudo começou a ser preparado no início dos anos 90. Não é obra de um governo apenas. Na gestão Collor, deu-se a abertura da economia brasileira. A história dos carros que pareciam "carroças" é emblemática. O país era fechado para o resto do mundo e isso desestimulava inovações. Além disso, foi nessa época que começaram as privatizações. As ineficientes estatais eram um poço sem fundo na absorção de recursos públicos.
No governo Itamar Franco, as privatizações foram mantidas e teve início o processo de estabilização de preços. O Plano Real eliminou uma inflação na casa dos 2500% ao ano, algo que penaliza duramente os mais pobres. No governo Fernando Henrique, as privatizações continuaram. Medidas como a Lei de Responsabilidade Fiscal, o regime de metas de inflação, o câmbio flutuante e a política de superávit fiscal foram determinantes para a estabilização da economia.
O PT encontrou o caminho pavimentado para implementar políticas sociais de grande envergadura. No governo Lula, os benefícios das privatizações, da abertura externa e da política de estabilidade macroeconômica dos anos anteriores deixaram tudo pronto para um amplo programa de redistribuição de renda, a grande bandeira petista. O crescimento econômico entre 2004 e 2008, devido em grande parte ao crescimento mundial, facilitou a vida dos petistas.
O desemprego em queda, a renda em alta e os programas de assistência social tiveram efeito político magnífico para o governo, que apenas curtiu o momento. Nessa época, o PT deveria ter implementado uma nova rodada de medidas fundamentais para o desenvolvimento nacional, como as iniciadas nos anos 90. Foi uma chance para tornar a economia mais competitiva. Mas o partido não teve competência para investir em ações voltadas à qualificação de trabalhadores, à ampliação e modernização da infraestrutura e para a condução das reformas estruturais como a política e a tributária.
O Brasil vive uma crise enorme por conta das barbeiragens do PT na economia e por causa da corrupção patrocinada pelo partido. Os ganhos na área social retrocedem de modo acelerado e estão tendo peso para que os petistas sejam definitivamente rechaçados do poder.
Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto Único. Atualmente, é Subsecretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.
Publicado no Jornal A Gazeta Regional - Caçapava: 29/04/2016