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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Cabra-cega

A crise na qual o país está mergulhado não se limita apenas à inflação ou ao déficit público. Encontrar soluções para esses problemas é relativamente simples. A maioria dos economistas conhece as medidas necessárias, e eles saberiam o que fazer se tivessem a liberdade de agir. No entanto, essa liberdade está ausente.


Qualquer plano para estabilizar a economia e, o que é ainda mais crucial, recuperar a capacidade e o estímulo ao investimento, exigirá mudanças profundas nas instituições.


A ausência dessas mudanças institucionais nos mantém reféns de um conjunto de circunstâncias políticas, econômicas e culturais que não se coadunam com o avanço do país em direção a uma nova fase de crescimento e desenvolvimento. É exatamente essa falta de capacidade para implementar essas mudanças institucionais que está nos prejudicando.


É fundamental reconhecer que o Brasil atual está cada vez mais defasado em relação às nações industrializadas modernas. Continuamos altamente dependentes do Estado, lutamos para expandir um mercado de consumo em massa, estamos ficando para trás em termos de tecnologia e mostramos uma forte tendência ao isolacionismo econômico.


Se continuarmos nesse caminho, em breve o país enfrentará uma significativa fuga de capitais, iniciando um processo relativamente desconhecido pelo empresariado nacional, que até agora tinha fé e investia no mercado interno.


O Brasil precisa se libertar de certos dogmas que estão impedindo o seu desenvolvimento. Acreditar que podemos ter uma nação moderna e dinâmica sem um influxo significativo de investimentos estrangeiros é um erro.


A regulamentação excessiva do Estado em nome da proteção dos mais vulneráveis é outro exemplo de uma boa intenção que não funciona quando levada ao extremo, como tem acontecido no Brasil. A desregulamentação é essencial para o crescimento e fortalecimento da iniciativa privada. Os recentes problemas relacionados à regulamentação do mercado de locação são um exemplo claro de como o excesso de intervenção pode sufocar uma atividade, causando prejuízos enormes e injustiças.


Outro aspecto prejudicial é a pressão exercida sobre o Estado para que, sob o pretexto de proteger interesses sociais, assuma os custos de decisões equivocadas tomadas por indivíduos.


Essa abordagem resulta em paternalismo e clientelismo, tornando ineficiente a ação governamental e transferindo para a coletividade o ônus de uma estrutura econômica ineficiente decorrente desse comportamento.


O mundo está evoluindo rapidamente, mas o Brasil ainda não se adaptou a essa nova realidade econômica contemporânea, na qual o setor privado e a internacionalização do capital desempenham papéis preponderantes.


O medo do capital estrangeiro, por exemplo, é uma preocupação antiquada e, na realidade, inofensiva. É importante entender que o Brasil precisa se ajustar à nova realidade econômica, na qual o setor privado e a internacionalização do capital desempenham papéis cruciais.


 

MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE é doutor em Economia pela Universidade de Harvard, diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas e consultor de economia desta Folha.

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