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Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Dois anos de Collor


Dois anos após a posse, percebem-se dois governos Collor. O primeiro foi caracterizado pela fase olímpica, sonhadora, e quase inconsequente do presidente Collor. Foram medidas ousadas, corajosas, e na maior parte das vezes, implementadas de forma atabalhoada, denotando a pouca experiência da equipe do governo. Foram cometidos erros que custaram caro ao presidente em termos de sua credibilidade e de sua sustentação política. Perderam-se oportunidades preciosas para efetuar reformas estruturais, tão necessárias quanto difíceis de serem implementadas sem apoio parlamentar e popular.

Hoje, é chorar sobre leite derramado. Os custos sociais da fase adolescente do governo Collor estão ainda sendo cobrados da população brasileira. Mas o aprendizado prosseguiu. No momento, há mais profissionalismo no governo federal. As metas são mais realistas, o discurso é mais comedido, e os resultados estão sendo incomparavelmente mais positivos, ainda que o país amargue uma das mais profundas crises de sua história.

Foram quase dois anos de custos sociais elevados, sem resultados palpáveis. Tivesse havido menos arrogância do presidente e de seu quadro de auxiliares, a situação econômica estaria menos angustiante. Agora, os resultados positivos virão a conta gotas, ao passo que no início do governo, com quadros e metas mais maduros, teriam vindo em enxurrada.

Não obstante, o governo Collor está abrindo brechas importantes. Aceitam-se hoje metas que seriam no mínimo polêmicas nos governos anteriores, tais como a abertura da economia, a privatização, o fim do monopólio estatal da Petrobrás, a previdência privada, a internacionalização do setor de informática, a desregulamentação, a liberdade cambial, a primazia das forças do mercado sobre o intervencionismo econômico. Ainda que todos estes programas estejam sendo sofrivelmente implementados, não há como deixar de reconhecer os méritos do presidente Collor ao persegui-los tenazmente.

Faltam muitas outras reformas estruturais a serem implementadas. O que se espera é que o presidente não se acovarde com os insucessos do passado, e recupere, porém, maduramente, sua antiga ousadia para continuar reformando o país.

As caneladas o presidente vai fazendo o que outros não fizeram. Ainda restam dois anos e meio de governo, tempo suficiente para fazer o que precisa ser feito. A batalha acha-se longe de estar vencida. Em realidade, ainda existem mais razões para duvidar do que para acreditar. Mas, quem sabe...

Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA).

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