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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

A Inflação em URV

A imprensa noticiou na sexta-feira que em abril não houve inflação em URV. A coleta de preços da FGV apurou uma ligeira deflação, de 0,09%.

Esses números contrariam os resultados de outros institutos. Segundo a Fipe, a inflação em URV na primeira quadrissemana de maio foi de 2,09%, contra 2,62% na pesquisa anterior. Dados do Dieese também indicam inflação em URV.

O IGP da FGV inclui, além dos preços ao consumidor (peso de 30%), um índice de preços no atacado (peso 60%) e um índice de preços da construção civil (peso 10%). Uma análise desses índices mostra que, mesmo para a FGV, houve em abril alta de preços em URV.

Os preços para o consumidor aumentaram 1,65% em URV (3,44% em março). A construção civil teve inflação de 2,43% (11,24% em março). Já os preços no atacado, de maior peso na composição do IGP, caíram 1,42% (contra aumento de 2,74% em março).

Nota-se que o consumidor continua tendo perdas de poder aquisitivo, já que a evolução da URV, que corrige os salários, não vem acompanhando o aumento do custo de vida.

Mas há fatos auspiciosos. Os indicadores de preços mostram que os aumentos em cruzeiros reais vêm dando sinais de acomodação. O IPC da Fipe tende a se estabilizar em torno de 46,5% ao mês; o IPCA do IBGE em torno de 43%.

Isto mostra que os preços relativos buscam equilíbrio, após o aumento na dispersão da inflação setorial nas semanas imediatamente posteriores à criação da URV. E propicia condições favoráveis para a criação do real a partir de julho.

A preocupação é saber por quanto tempo a inflação em real ficará baixa. As reformas estruturais não estão sendo feitas e o déficit público está longe de um equilíbrio estrutural.

Em suma; nota dez para o governo na eliminação do componente inercial da inflação. Mas, quanto ao vestibular do controle permanente da inflação, o governo não está fazendo sua lição de casa.

A inflação poderá voltar com violência. E com um agravante: os mecanismos de indexação terão sido desmontados. E o grande perdedor será o assalariado, como sempre.

 

MARCOS CINTRA, doutor em economia pela Universidade Harvard (EUA), e professor titular da Fundação Getulio Vargas.


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