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Marcos Cintra

A conjuntura econômica atual

O Plano Bresser tem quatro meses de vida, e os resultados positivos que já foram colhidos devem-se mais ao impacto imediato do congelamento de preços — mesmo que frouxo, como o praticado — do que à eliminação de pressões inflacionárias latentes. Inicia-se agora a fase mais delicada da operação, que é a passagem para uma estrutura menos rígida de controle de preços. Como sempre, os resultados imediatos de um congelamento são positivos. O difícil, contudo, é garantir que a boa performance inicial, perdure no futuro. Qualquer avaliação sobre o futuro da estratégia anti-inflacionária do governo exige a análise de algumas questões fundamentais.


O PLANO DE CONTROLE MACROECONÔMICO


A leitura do programa deixa claro que, se existirem condições para sua implementação, tornar-se-á possível a concretização de um processo de crescimento equilibrado dentro de um contexto de preços estáveis. Faltam detalhes acerca de uma política industrial, de uma ampla reestruturação tributária e de outras reformas de base. Mas os objetivos do plano são apenas aqueles necessários para estabilizar a economia e para dar início a uma nova trajetória de crescimento.


O Plano de Controle Macroeconômico fornece importantes indicações sobre o futuro e sugere que a concretização de seus objetivos implicaria uma reorientação no sentido de uma maior participação do setor privado. O ajuste programado até 1991 ocorrerá de acordo com as seguintes metas:


a) Os investimentos totais aumentarão de 19,5% para 24,8% do PIB.

b) O déficit público será reduzido de um valor estimado de 6,2% em 1987 para 2% em 1988.

c) Os gastos correntes do governo crescerão a 3% ao ano, taxa inferior ao crescimento do PIB.

d) Os investimentos públicos se manterão estáveis em 7,5% do PIB ao ano, ao passo que os privados aumentarão de 12,2% para 17,38% do PIB.

e) O consumo privado se elevará a taxas "muito acima do crescimento da população".

f) O setor público aumentará sua poupança corrente de zero para 5,3% do PIB, liberando parte da poupança do setor privado para financiar seus próprios investimentos.


Embora as projeções efetuadas no Plano de Controle Macroeconômico incorporem todas estas metas, o resultado final não é, como pode parecer, uma clara preferência pela redução do setor público na economia. No máximo haverá uma tímida retração do setor estatal. Os dados da tabela foram extraídos do Plano de Controle Macroeconômico e agrupados conforme suas vinculações à iniciativa privada ou pública. Cabe notar que a participação do superávit comercial na composição do PIB foi incorporada ao setor privado, pois é nele que se concentra a maior parte das transações comerciais com o exterior, embora se saiba que empresas estatais também contribuam para a geração daquele resultado.


Os números mostram que a participação do setor privado na economia aumenta ligeiramente no horizonte temporal do Plano. Em contrapartida, há retração do setor estatal. Mas este resultado poderá não ser significativo se considerarmos que parte do superávit comercial poderá estar sendo gerado nas empresas governamentais como apontado acima. É importante reconhecer que o Plano Macro estanca um processo de hipertrofia do setor público. A ênfase que ele coloca na contenção dos gastos com o intuito de reduzir o déficit mostra que poderá haver uma inflexão naquela tendência. Mas cabe lembrar que, em geral, o programa não desestatiza a economia brasileira, como mostra a tabela abaixo.


O DÉFICIT PÚBLICO


É nesta questão que residem as maiores preocupações em relação ao futuro do Plano Bresser. Os dados referentes aos agregados monetários em julho e agosto mostraram que não houve progresso na contenção dos gastos públicos. Preocupa observar que as primeiras providências concretas atuam no sentido de cortar linearmente gastos de custeio (e também de investimentos), como por exemplo a decisão de reduzir a folha de pagamento das estatais. Tal medida apenas tornará o setor público ainda mais desaparelhado para concorrer com o privado em matéria de eficiência. Não faz sentido cortar o número de funcionários, ou pagar salários mais baixos, sem a devida consideração das necessidades específicas de cada atividade.


Pelo contrário, o desejável é que os órgãos e empresas do governo paguem bem, e não sofram limitações para a contratação de pessoal necessário para a produção em níveis de eficiência iguais, ou até mais altos, que os do setor privado. Não é com cortes indiscriminados que se resolverá o problema das estatais no Brasil. O essencial é que se definam claramente os setores onde o governo deva atuar. Os demais, devem ser totalmente transferidos para a iniciativa privada. Esta é a forma correta de desestatizar aqueles setores onde o Estado não mais encontra justificativas para atuar; e onde sua presença é essencial, não há porque, "a priori", cortar a folha de pagamentos, ou reduzir investimentos.


Da forma como as coisas caminham, o setor estatal continuará praticamente com a mesma participação no sistema econômico; só que ao não poder pagar bem, nem investir o necessário, ainda mais distorcido e ineficiente. A retração da presença estatal nas atividades produtivas é a única forma eficiente de lidar com o problema do déficit público. Ao mesmo tempo em que se estaria transferindo atividades para o modelo de gestão privada, que é nitidamente mais eficiente do ponto de vista econômico, se estaria também extirpando a fonte mais importante dos desequilíbrios orçamentários do governo.


A necessidade de privatizar a economia brasileira nada tem a ver com o tamanho do Estado. No Brasil, cerca de 15% da população economicamente ativa acha-se no setor público; na Inglaterra são cerca de 50 %, e na Espanha não ultrapassa 8%. Mas, em todos estes casos, a privatização se justifica apenas como uma busca de eficiência como forma de combate à inflação e no caso brasileiro, como meio de tornar o Estado mais atuante no atendimento aos serviços básicos de que carece a população. Controlar o déficit público sem um profundo corte no espaço ocupado pelo Estado na economia é pura ilusão. Mesmo que relativamente pequena no conjunto da economia a participação estatal gera déficits crônicos que poderão atingir facilmente 10% do PIB. Esforços para mantê-lo nos limites de 5% ou 6% são impulsos passageiros que logo se tornam inócuos face à ineficiência estrutural do Estado como produtor de bens e serviços de mercado.


O QUE ESPERAR DO PLANO BRESSER


Existe preocupação no ar em relação ao sucesso do Plano Bresser. As autoridades econômicas estão identificando corretamente os pontos fundamentais do combate anti-inflacionário; mas têm sido aparentemente incapazes de atuar eficazmente sobre eles. O que se percebe, de fato, é que a política econômica está desequilibrada quase que exclusivamente centrada na política monetária e sem meios de recuperar a eficácia da política fiscal. Há unanimidade na urgência de maiores controles sobre os dispêndios públicos, e declarações neste sentido foram feitas pelos mais altos escalões da administração pública. Mas o fato é que as promessas e intenções não se realizam, o que parece indicar que o governo não tem coragem para concretizá-las. Desta forma, o ressurgimento das pressões hiperinflacionárias é apenas questão de tempo. Mas diferentemente do Plano Cruzado, — que teve erros de concepção e não apenas de implementação como muito se insiste em afirmar —, o Plano Bresser é coerente, mas poderá não ter sucesso. Isto porque a saída do congelamento está tumultuada, e o déficit público não foi ainda tocado. São estes os dois pontos fundamentais e de cuja correta implementação dependerá o sucesso da atual estratégia anti-inflacionária. O primeiro ponto, é de fácil solução, cabendo apenas cumprir o estipulado no decreto-lei 2336 que criou o Plano Bresser.


O segundo, no entanto, envolve grande complexidade. Não é uma questão de simples calibragem, mas de profunda alteração no comportamento da população e do governo. Apesar do otimismo inicial que contagiou a todos, os fatos demonstram que pouca coisa parece estar mudando.



II — COMO AS ESTRATÉGIAS DO DIRETOR FINANCEIRO ZUCKERMAN RENDERAM 2 BILHÕES DE DÓLARES PARA A CHRYSLER.


Em agosto de 1983, Lee A. Iacocca organizou uma coletiva para anunciar que a Chrysler Corp. pagaria seu empréstimo (garantido pelo governo) de US$ 1,2 bilhão sete anos antes do previsto. Atrás do palanque de Iacocca, estrategicamente colocado para as câmeras, um cheque do tamanho da parede. Mas, antes que as luzes se acendessem, Iacocca apontou para a primeira fila da sala lotada e gritou: "Zuckerman, espero que este cheque não volte!". Frederick W. Zuckerman, Diretor Financeiro da Chrysler, é colega de Iacocca desde os tempos da Ford, no início da década de 60. Enquanto Iacocca imaginava o Mustang, Zuckerman trabalhava com os números para ver se o carro daria lucro. Ele deixou a Ford em 1967 para assumir a função de executivo financeiro na IBM; se reuniram na Chrysler em 1979: Iacocca vendia os carros e Zuckerman tomava conta do dinheiro.


Mas, ultimamente, Zuckerman tem feito muito mais do que verificar se os cheques têm fundos. Desde a metade de 1984, quando os resultados de Iacocca tornaram-se públicos, Zuckerman, de 53 anos, conseguiu um lucro de dois bilhões de dólares administrando os fundos da Chrysler. Na verdade, a maioria dos administradores de recursos daria tudo para ter os mesmos resultados que ele.


Em 19 de julho de 1984, Zuckerman, que obteve seu MBA da Universidade de Columbia em 1958, convenceu-se de que as taxas de juros tinham atingido o ápice. Ele demitiu todos os administradores de recursos que prestavam serviço para a empresa, e o fundo de pensão vendeu todas suas ações e comprou debêntures de alta qualidade no valor de US$ 1,1 bilhão, com rendimentos de 14,2%. Nos dois anos seguintes, Zuckerman ficou apenas observando. Enquanto isso, as taxas de juros caíram 5%, e as debêntures dobraram de preço. "Ele não poderia ter feito melhor", comenta Martin Leibowitz, diretor administrativo da Salomon Brothers. "Seu timing foi perfeito".


Na primavera de 1985, Zuckerman concluiu que a tendência de alta do dólar estava terminando. Ele relembra: "Em Londres, os motoristas de taxi aceitavam dólares no lugar de libras esterlinas. Naquele exato momento, eu percebi que o topo estava formado". Ele fez um "Hedge" no qual comprou posições a termo em moedas estrangeiras para assegurar taxas de câmbio favoráveis. "Nos últimos dois anos, evitamos perdas superiores a US$ 100 milhões do capital de giro da empresa"; durante o mesmo período, ele obteve mais US$ 100 milhões de lucro ao negociar bônus do governo para a Chrysler.


Zuckerman conta que em fins de novembro de 1986 inclinava-se por sair de debêntures e comprar ações para o fundo de pensão, mas não fez nada até dez de março deste ano. Ele concorda que perdeu uma das maiores altas do Mercado de Ações até hoje e que a demora custou-lhe a oportunidade de ganhar Duzentos milhões de dólares; mas Zuckerman retirou US$ 1,3 bilhão (metade da carteira do fundo) do mercado de debêntures algumas semanas antes da queda devastadora. Na verdade o dinheiro foi para o índice de ações Standard & Poor's 500, e desde março o índice cedeu 5%, enquanto as debêntures caíram 15%. O resultado líquido: ele evitou perdas de 100 milhões de dólares.


SEM FALSA MODÉSTIA


Zuckerman gosta de tomar decisões arriscadas. Como no final de 79, quando ele deixou um emprego seguro na IBM para juntar-se a Iacocca no que parecia ser uma empresa moribunda. "Eu disse a minhas duas filhas adolescentes que se as coisas não dessem certo elas poderiam continuar na Universidade, mas que as mordomias estariam acabadas". "Era a oportunidade de participar no que poderia ser um grande acontecimento". "Existem três grandes acontecimentos no século 20", diz Zuckerman com certo exagero: "O desembarque na Normandia em 1944, a chegada do homem à lua em 1969 e a ressurreição da Chrysler". Da mesma forma que outros executivos que juntaram-se a Iacocca, a princípio Zuckerman ganhava um salário modesto, mas também recebeu opções dando-lhe o direito de comprar ações a um preço unitário de US$ 1,33. As coisas correram bem, pois recentemente as ações da Chrysler eram negociadas a 36 dólares.


Zuckerman vive em um apartamento na Park Avenue, decorado com objetos de arte e mobília britânica do século 18, e trabalha nos escritórios de Nova York e Detroit.


O patrimônio do fundo de pensão da Chrysler cresceu de US$ 1,2 bilhão para US$ 3,4 bilhões em três anos, colocando sua rentabilidade entre os melhores. Atualmente as aplicações do fundo estão repartidas igualmente entre debêntures e o índice S&P 500.


Quais são as previsões de Zuckerman para os mercados financeiros no médio prazo? "O mercado de ações, de maneira errática, superará os 2.500 pontos nos próximos 3 a 6 meses. E eu não ficaria surpreso se as taxas dos Bônus do Tesouro de 30 anos caíssem para 7,5%".



Publicado na Com-Tec News.

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