top of page
  • Marcos Cintra

Eleições 94 - Votos em branco e nulos



As estatísticas obtidas após a apuração das urnas nas últimas eleições informam o comportamento dos 94,7 milhões de eleitores. Na votação para presidente, cerca de 15% deixaram a cédula em branco ou anularam o voto; para o Senado, esses votos atingiram quase 31,5%, e para a Câmara, alcançaram pouco mais de 28%. As abstenções superaram os 17,5%.


Apesar das características dessas eleições, preocupa o voto propositadamente anulado e o voto em branco.


Portanto, não pode ser ignorada nesse episódio a queda acentuada do prestígio e da credibilidade da classe política, tanto pelos escândalos apurados, a maioria até agora sem exemplar punição, como pela inoperância dos políticos nos diferentes planos de governo. Merece destaque a atuação do Congresso Nacional, onde o interesse da nação pouco contou, como revelou o fracasso da revisão constitucional. Cabe lembrar, ainda, a recente intenção de majorar os vencimentos de deputados e senadores em níveis elevados, com todos os custosos desdobramentos nas casas legislativas das demais instâncias de representação política. Tudo a ilustrar a insensibilidade e o desapreço pelos frustrados eleitores que os elegeram.


Entretanto, essas eleições já puniram, exemplarmente, tradicionais políticos populistas, personalistas carismáticos, cujas práticas e discursos não mais condizem com os tempos atuais. Ao eleitorado incumbe exigir a punição dos desaforados envolvidos nos atos de corrupção e de fraude que pulularam nas eleições de 3 de outubro, levando à recontagem de votos e, até mesmo, à anulação do pleito em importantes colégios eleitorais.


Resta agora esperar que a classe política se conscientize da responsabilidade com os destinos do país, do dever de trabalhar e perseguir soluções para o mar de problemas que deixaram acumular e que vem castigando a sociedade em seus mais diferentes segmentos. Sem descuidar de prestar contas de sua atuação aos seus eleitores.


O voto é o único instrumento de que dispõe o cidadão para abrir e se manter na rota da mudança, da renovação e moralização dos costumes políticos.


Dos eleitores, espera-se que permaneçam atentos à ação dos eleitos, cobrando suas promessas de campanha, exigindo-lhes conduta digna no exercício do mandato. A recomendação de que procurem vencer os desapontamentos e o desinteresse, com vistas a minimizar a presença de votos em branco e nulos, afigura-se inteiramente oportuna e pertinente.


Pois o voto é o único instrumento de que dispõe o cidadão para abrir e se manter na rota da mudança, da renovação e moralização dos costumes políticos. É seu dever evitar o escapismo do voto em branco ou nulo e bem valer-se dessa expressão máxima do exercício da cidadania que é eleger seus dirigentes, votando conscientemente, participando da vida política, da árdua, trabalhosa e demorada tarefa de transformação da postura e da cultura política brasileira.


Marcos Cintra Cavalcante de Albuquerque, 48 anos, é doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), vereador da cidade de São Paulo pelo PL e professor titular da Fundação Getúlio Vargas (SP). Foi Secretário de Planejamento e de Privatização e Parceria do Município de São Paulo na administração Paulo Maluf.


 

Publicado na Folha Cultural: 01/11/1994

Publicado no Jornal A Cidade de S.Paulo: 10/12/1994

Topo

NOVOS ARTIGOS:

bottom of page