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  • Marcos Cintra

O hábito contínuo da indexação

Espera-se que a inflação caia para taxas mensais próximas de 3% a partir de julho, devido à chegada do real, que é aguardada com otimismo. No entanto, existem armadilhas traiçoeiras.


O hábito generalizado do uso de várias formas de indexação, adquirido ao longo de décadas de inflação, é uma delas. Antes considerado apenas um analgésico para casos de grave desconforto, tornou-se um medicamento comum, consumido sem considerar seus efeitos colaterais, como a inércia inflacionária. Ainda mais preocupante é o fato de que a economia se acostumou com esse remédio e perdeu a imunidade aos sintomas da doença. Atualmente, o governo está aplicando placebos e analgésicos, como a URV, a superindexação e a troca de moeda, na tentativa de apagar a memória inflacionária.


Apesar da introdução do real, ainda haverá inflação. Parte dela, residual, tenderá a desaparecer na ausência de mecanismos de indexação. No entanto, outra parte, de natureza estrutural, surgirá em cada ciclo econômico devido a focos autônomos de pressões inflacionárias que não foram eliminados pela fracassada revisão da Constituição.


Diante de qualquer indício de redistribuição injusta de renda, os setores econômicos recorrem à indexação, até mesmo de forma preventiva, como os trabalhadores do transporte coletivo de São Paulo, que obtiveram aumentos salariais alegando possíveis perdas futuras. O Plano Real prevê o fim dos mecanismos de indexação para evitar a retroalimentação inflacionária. No entanto, com uma taxa mensal de 3% e reajustes contratuais anuais, as perdas podem ultrapassar 40% durante o período. Como o organismo econômico reagirá a essa proibição? É provável que a síndrome de abstinência seja intensa, com os agentes econômicos resistindo à proibição do uso da indexação.


A inflação remanescente, após o tratamento, é a mais difícil de combater. Ela se torna muito mais resistente quando focos inflacionários não são eliminados. Uma política contracionista rigorosa - embora dolorosa e não infalível - é o recurso que resta para combatê-la.



MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE é vereador da cidade de São Paulo pelo PL.


Publicado no Jornal dos Empresários.

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