Os recentes desdobramentos no processo de renegociação da dívida externa brasileira sugerem que o ministro Bresser Pereira pode ter perdido uma oportunidade valiosa para marcar pontos.
A proposta de "securitização" não é nova; anteriormente, era conhecida como "exit bonds". A sugestão de Bresser apenas expandiu o uso desse instrumento, o que, em um processo de negociação, é perfeitamente aceitável - é normal pedir mais para obter menos. Portanto, o ministro não errou nesse aspecto.
O que é curioso é que Bresser não tenha aproveitado duas situações favoráveis. Primeiramente, o impacto da vitória dos peronistas na Argentina e, posteriormente, o fato de o ministro brasileiro ter sido convidado para discutir a questão com Baker.
A mudança política na Argentina deve levar os credores a adotar posições mais flexíveis. Talvez, se a postura do ministro brasileiro tivesse sido apenas ouvir o que Baker tinha a dizer, Bresser poderia estar retornando com um compromisso mais forte do governo americano para uma solução satisfatória para o Brasil. Se o ministro não tivesse apresentado sua proposta de "securitização" na mesa, também não teria sido pressionado a recuar, evitando todo o desgaste que ocorreu com essa questão.
Além disso, se Bresser Pereira não tivesse cedido aos pedidos para divulgar os resultados de sua conversa com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos imediatamente após o encontro, também teria poupado Baker de sentir-se obrigado a proteger sua imagem e divulgar uma nota, que provavelmente seria mais severa do que o teor das conversações. Afinal, o acordo entre o secretário do Tesouro e os bancos, sem o aval do FMI, também coloca Baker em uma situação delicada perante a comunidade financeira internacional, que é muito apegada aos rituais tradicionais de renegociação de dívidas.
Essa situação acabou sendo embaraçosa para todos, inclusive o presidente Sarney, que endossou publicamente a proposta do ministro da Fazenda. O Brasil não aproveitou uma situação que poderia ser potencialmente favorável.
De qualquer forma, o mais importante é que as autoridades continuem buscando soluções. A fragilidade da situação econômica brasileira é evidente e deve ser usada como um fator de pressão em nosso favor. No entanto, é essencial lembrar que negociações financeiras internacionais requerem habilidade e profissionalismo. Certamente, esta rodada tumultuada de conversações ainda deixa alguns trunfos nas mãos do ministro Bresser Pereira. Esperamos que ele saiba usá-los no futuro.