As relações econômicas do Brasil com o exterior estão indo de mal a pior, apesar da manifesta intenção do governo de solucionar a pendência da moratória brasileira. Não se trata apenas da impossibilidade de saldar compromissos assumidos, como no caso da deterioração das contas externas durante o Plano Cruzado. O Brasil foi forçado, então, a decretar a moratória. Mas ao que parece, existe um desejo explícito de afastar o país da comunidade econômica internacional, seja nas transações financeiras, comerciais ou de capitais.
No impasse da dívida, prevaleceu o bom senso. Os países credores não pressionaram o Brasil além dos limites suportáveis; em contrapartida, foram tomadas as medidas internas necessárias para a recuperação dos superávits comerciais. Formalmente, a moratória foi suspensa, afinal, um pagamento será feito. No entanto, nada indica que as dificuldades estão superadas, pois dificilmente os credores concordarão com outras exigências brasileiras, além das já conhecidas.
Também na questão da reserva de mercado na informática, as tensões já assumem proporções preocupantes. As restrições comerciais impostas pelos Estados Unidos às exportações brasileiras certamente não são significativas do ponto de vista da redução esperada das exportações. Contudo, mostram claramente que perderam a paciência e estão dispostos a aplicar sanções cada vez mais severas.
Porém, o que mais causa alarme é a aversão crescente aos capitais estrangeiros por parte do governo e também dos parlamentares constituintes.
O país necessita urgentemente de medidas que contribuam para reduzir o angustiante problema do endividamento externo. Uma delas, sem dúvida, é a possibilidade de permitir aos credores a conversão da dívida em investimentos de risco.
É óbvio que surgirão problemas e dificuldades no processo de conversão, a mais séria sendo a expansão do endividamento interno. Por outro lado, não é razoável impor restrições aos eventuais interessados, como se fosse possível prever todas as ocorrências. Uma legislação detalhada evita que as desvantagens da conversão se concretizem. No entanto, há uma inevitável perda de interesse por parte dos investidores potenciais. A proposta do Banco Central para regulamentar esta operação, recentemente divulgada pela imprensa, é um bom exemplo de uma legislação cautelosa, mas que dificilmente será aplicada, provavelmente devido à falta de interessados.
Quanto aos trabalhos da Constituinte, o que está ocorrendo na Comissão de Sistematização é razão suficiente para que o Brasil precise de algumas décadas apenas para se recuperar dos estragos, mesmo que o plenário volte atrás em tudo o que já foi aprovado sobre a matéria. A mensagem enviada ao mundo é que o Brasil não deseja a vinda de investidores estrangeiros, e quanto aos que já estão aqui, devem se preparar para sair. O que nossos parlamentares não percebem é que, junto com as multinacionais, também estão expulsando o investidor brasileiro, atemorizado com esta onda de nacionalismo irresponsável.
Não há mais racionalidade econômica no Brasil, que insiste em cair no samba, repetindo alguns desgastados refrões nacionalistas.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 41, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas e consultor econômico desta Folha.