As taxas de inflação são indicadores de desequilíbrios dentro de um sistema econômico. Neste sentido, o acompanhamento dos índices de preços é uma informação relevante para a tomada de decisões por parte dos agentes econômicos.
Há que notar, contudo, que no Brasil as previsões sobre as taxas de inflação passaram a ser excessivamente valorizadas como indicadores de tendências. Através do processo de formação de expectativas, variações na inflação, muitas vezes aleatórias e de pequena magnitude, passaram a distorcer a percepção da realidade econômica. É o que se observa no momento, quando alterações de um ou dois pontos percentuais sobre a verificada no mês anterior - que atinge patamares de cerca de 15% mensais - são tidas como divisor de águas entre uma situação de descontrole inflacionário, ou então de estabilidade de preços.
De certa forma, o novo ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, se consolidará no cargo se a inflação de janeiro, ou de fevereiro, for abaixo de 15%, e será criticado se atingir 16% ou 17%, quando, na realidade, tais variações não refletem adequadamente as perspectivas da economia do país. O essencial é verificar o tipo de política econômica que será seguido - isto sim, deveria orientar a formação de expectativas - e não os índices de inflação em alguns poucos meses, que poderão estar sofrendo impactos aleatórios de curto prazo, ou os reflexos de decisões econômicas tomadas no passado e que somente após uma certa defasagem de tempo irão afetar a taxa de inflação corrente. O fundamental é acompanhar a política econômica, que definirá a tendência inflacionária, e não as oscilações de curto prazo observadas isoladamente.
Outro temor, igualmente injustificado, se refere a um novo congelamento de preços.
As experiências de 1986 e de 1987 não foram bem-sucedidas, e o novo ministro nega veementemente a repetição daquela medida. Mas é importante apontar para o fato de que um congelamento temporário de preços faz parte do arsenal convencional de política econômica, tendo sido utilizado inúmeras vezes em países industrializados, como os Estados Unidos. É uma medida valiosa para, por exemplo, resolver o "problema de coordenação" numa política de estabilização. O congelamento pode conseguir romper a inércia de um comportamento altista nos preços, reduzindo os riscos de que se introduzam distorções caso haja comportamento diferenciado nos mecanismos de formação de preços das empresas, com benefícios para umas e perdas para outras.
O perigoso, como pudemos observar, é um congelamento de preços dentro de uma estrutura econômica desequilibrada, na qual as causas estruturais da inflação continuam intocadas. Porém, se precedido de um esforço sério de estabilização - capaz de interromper as tendências altistas da inflação - um congelamento temporário poderá ser necessário para que a inflação decline, ainda mais numa economia altamente indexada como a brasileira.
O atual clima psicológico no meio empresarial poderá distorcer a avaliação da nova equipe no Ministério da Fazenda. A inflação nos próximos dois meses não irá refletir, de imediato, a opção de política econômica a ser seguida, e nem um eventual congelamento de preços deve ser interpretado como uma decisão errada, dependendo das circunstâncias e das medidas complementares.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 41, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas e consultor econômico desta Folha.