Atualizado e revisado, o livro do ex-presidente do Banco Central, Carlos Langoni, publicado no Brasil em 1985 e intitulado "A Crise do Desenvolvimento", foi lançado nos Estados Unidos pelo International Center for Economic Growth. Na apresentação, Paul Volcker ressalta as qualificações acadêmicas e profissionais do autor e diz que os leitores interessados obterão no texto uma noção mais clara da natureza e da dimensão do desafio da dívida externa nas economias latino-americanas.
Efetivamente, está correto o ex-presidente do banco central dos EUA, Langoni conduz o leitor à reflexão realista e altamente proveitosa da questão. Enriquecida pela sua experiência como um dos protagonistas da renegociação da dívida externa brasileira, o autor faz uma análise rigorosa do problema, considerando seus vários ângulos.
Ainda na introdução, o autor explicita a parcela de responsabilidade dos credores na geração da atual crise e critica a visão inicialmente aceita pelos países envolvidos de que se tratava de um problema de falta de liquidez por parte dos devedores. Em seguida, demonstra a importância de ajustes estruturais e a necessária reorientação de rumos nas formas de financiamento do desenvolvimento econômico seguidas pelos países pobres. Logo de início, coloca o dedo na ferida e observa que "o que se vê hoje na América Latina é o esgotamento de uma estratégia de desenvolvimento baseada na expansão do setor público com base no endividamento interno e externo."
Nos capítulos que seguem, Langoni analisa o processo de endividamento ocorrido no Brasil desde os anos 60, mostrando tratar-se de uma estratégia de crescimento viável, dadas as circunstâncias então vigentes. No desenrolar dos acontecimentos, com as sucessivas crises nos mercados de taxas de juros internacionais, o autor mostra que o principal elemento na performance do balanço de pagamentos dos países devedores passa a ser a taxa de juros, sobre a qual os países endividados não têm nenhum controle. A crise se avoluma e explode em 1982 com a inadimplência do México e da Polônia.
Segundo Langoni, a primeira reação foi a de não efetuar qualquer tentativa de reajustamentos estruturais nas relações entre devedores e credores. Foi mantida uma atitude não intervencionista por parte dos bancos centrais dos países industrializados, acreditando tratar-se apenas de uma crise passageira de liquidez. Daí as soluções paliativas encontradas, pelas quais apenas se refinanciaram os créditos vincendos. Com esta atitude, o peso e os altos custos do ajuste caíram exclusivamente sobre os países endividados, que se viram forçados a adotar, com a supervisão do Fundo Monetário Internacional, políticas fortemente recessivas que se tornaram insuportáveis com o passar dos anos.
O autor descreve as primeiras rodadas de negociações com credores em 1983 e critica a aplicação de critérios de mercado na busca de soluções ao dizer que, na realidade, tratava-se de uma situação caracterizada como "não-mercado". O resultado para o Brasil foi a moratória informal do segundo semestre daquele ano.
Para Langoni, a solução para a atual situação internacional exige remessas nulas de capital por parte dos países devedores (para uma dada balança comercial) obtidas não através de novos empréstimos, mas sim por meio de maior flexibilidade no pagamento dos juros (capitalização parcial automática dos juros). A grande vantagem sobre os atuais esquemas - novos empréstimos por "sindicatos" de bancos - é que o processo decisório e as iniciativas de política econômica seriam transferidos dos bancos, como é atualmente, para os países em desenvolvimento.
Nos últimos capítulos, o autor faz uma análise detalhada do relacionamento entre as políticas preconizadas pelo FMI e os processos de ajuste interno nos países devedores, explicitando os principais condicionantes teóricos das políticas clássicas de ajuste. Estas estariam desatualizadas em função da passagem de um regime internacional de taxas de câmbio fixas para outro de taxas flexíveis. Langoni mostra as diferenças fundamentais, bem como pontos comuns, entre políticas de ajuste baseadas na administração da demanda agregada, à la FMI, e as políticas estruturais orientadas para o crescimento econômico. Conclui que, apesar do progresso obtido nos acordos do FMI com o México e com a Argentina, as mudanças ainda são tímidas, o que limita a efetividade do Fundo como um agente auxiliar na solução da crise do endividamento externo.
A análise é desenvolvida, em grande parte, tomando o Brasil como exemplo, e o trabalho acaba com o virtual delineamento de uma estratégia de política econômica orientada para o crescimento nos países endividados do Terceiro Mundo.
Trata-se, sem dúvida, de um trabalho maduro que apresenta com grande nitidez o pensamento de um economista que vivenciou momentos de crise no Brasil e que, sem dúvida, refletiu sobre como superá-los. É uma análise crítica competente e que abre perspectivas de encaminhamento de soluções.