No painel sobre a inflação, no seminário realizado esta semana pelo recém-criado Centro de Estudos e Formação para o Desenvolvimento Brasileiro, da Unesp, ficou claro que há consenso entre economistas de várias tendências acerca da necessidade de uma política anti-inflacionária calcada no tripé formado pela contração fiscal, disciplina monetária e política de rendas. No entanto, mesmo a cúpula ministerial não mostra um mínimo de coerência e convergência administrativa.
Combinações desses instrumentos, dois a dois, ou qualquer um deles isoladamente, surtiriam dois tipos de resultado: primeiro, não seriam capazes de controlar a inflação de forma permanente; ou segundo, reduziriam a inflação, mas com fortes pressões recessivas. Apenas a conjugação dos três instrumentos seria capaz de combater a inflação de forma permanente, sem elevados custos sociais resultantes da perda de produto e de empregos.
Há, contudo, uma questão que vem sendo discutida com muita intensidade na literatura sobre políticas de liberalização nos países do Terceiro Mundo, mas que não tem sido abordada adequadamente no problema da contenção inflacionária. Não basta identificar os instrumentos para controlar a inflação. É preciso conhecer o "timing" adequado no uso de cada um deles.
Tomando-se o caso específico de uma estratégia antiinflacionária, qual seria a melhor sequência na aplicação dos instrumentos disponíveis?
Fala-se muito na necessidade de uma urgente desindexação da economia; clama-se por um pacto social capaz de controlar os rendimentos do trabalho e o retorno do capital; muitos pedem um urgente congelamento para extirpar a memória inflacionária. Há que lembrar, contudo, que para que logrem sucesso tais medidas exigem, acima de tudo, a presença de um coordenador confiável, que naturalmente deveria ser o governo. Este, contudo, não consegue coordenar suas próprias ações, como ficou claramente evidenciado no episódio da taxa do over na última quinta-feira.
Mais importante ainda, para que uma política de rendas seja eficaz, não devem existir pressões que causem a aceleração inflacionária, como vem ocorrendo no momento. Caso contrário, a inflação residual poderá ser excessivamente alta; desacreditando os esforços de estabilização, e gerando nova exacerbação das expectativas.
É certo que a meta é combater a inflação com um mínimo de retração da economia; não contudo como garantir que os sacrifícios sejam nulos, e muito menos que se obtenha a estabilidade num contexto expansionista, ao menos no curto prazo.
O agravamento das tensões inflacionárias mostra que a aplicação de uma terapêutica não ortodoxa torna-se cada vez mais necessária, como coadjuvante da política convencional. Porém, é preciso que o tratamento ortodoxo seja intensificado, antes de quaisquer congelamentos, ou mudanças de padrão monetário. É possível atenuar os custos da estabilização, mas eliminá-los totalmente é impossível.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 41, doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas e consultor econômico desta Folha.