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Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Ouro - Sinal equivocado

A circular do Banco Central que proibiu o funcionamento de fundos e clubes de investimento em ouro, dando-lhes um prazo de quinze dias para serem liquidados, apenas evidencia o temor profundo do governo em relação a uma eventual desestabilização da economia. Como explicar a arbitrariedade e a violência dessa medida? A decisão demonstra o intervencionismo inconsequente, a improvisação e o voluntarismo das autoridades, que continuam sendo o maior obstáculo para o amadurecimento e a estabilização das instituições econômicas no Brasil.


É estarrecedor constatar que o governo persiste em combater os sintomas de sua desastrosa gestão, em vez das verdadeiras causas dos problemas econômicos atuais. Na realidade, a proibição do funcionamento dos fundos de investimento em ouro só contribuirá para aumentar a confusão nos mercados, ao invés de restaurar a confiança.


Essa medida pode até ser interpretada pelos agentes econômicos como um sinal de que a situação da economia é grave. Nesse caso, ela poderá exacerbar as expectativas dos investidores, em vez de acalmá-las. Além disso, é importante lembrar que os fundos e clubes de investimento em ouro abrigam os investimentos de pequenos aplicadores. As quantias envolvidas são modestas e, caso esses investidores não tenham acesso aos mercados institucionalizados de ouro, é provável que direcionem seus recursos para o mercado paralelo de câmbio ou para mercados de bens de consumo.


Em primeiro lugar, vale ressaltar que os fundos de aplicação em ouro representam uma fração insignificante dos negócios realizados. Portanto, essa medida terá apenas um impacto psicológico de curto prazo. Assim que o mercado perceber esse fato, o impulso de alta poderá retornar ainda mais forte.


A decisão do Banco Central não apenas revela uma notável falta de habilidade, mas também carece de consistência técnica.



MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 43 anos, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas e consultor econômico desta Folha.

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