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Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

A reforma do Plano Collor

O Plano Collor vem sendo duramente criticado. As objeções são inúmeras, porém as mais importantes são basicamente duas.


A primeira aponta a pouca experiência administrativa e as falhas de comunicação da equipe econômica. Não há como negar esses fatos. A estratégia de estabilização do governo vem se ressentindo profundamente desses evidentes defeitos de implementação. A credibilidade do governo está sendo atingida por essas dificuldades operacionais. Um plano de estabilização implementado com eficiência, segurança e confiabilidade seria capaz de gerar efeitos positivos mais rapidamente e com custos sensivelmente mais baixos.


A segunda crítica está centrada na questão do corte de liquidez. O sequestro de recursos financeiros, segundo esses críticos, teria sido excessivamente forte. A fixação da quantidade de meios de pagamento teria sido calculada erroneamente, a partir de equívocos quanto aos conceitos monetários relevantes. A dosagem teria sido excessiva.


A objeção mais contundente, porém, diz que os economistas do governo não teriam sido capazes de distinguir fluxos de estoques. O corte no estoque monetário afetará o nível de preços, e não necessariamente a inflação, ou seja, a taxa de crescimento desse nível. Dizem, ainda, que o provável impacto dessa política será uma queda no nível de atividade, pois os preços tendem a ser rígidos para baixo.


Na política monetária, o governo preferiu não correr riscos. Sabe-se que mesmo após um dramático corte de liquidez, o controle da inflação exige absoluta disciplina na expansão da oferta de moeda. Não há como acreditar que os economistas do governo desconheçam esse fato. Optaram por aparar todo o excesso de liquidez que ameaçava afogar o país em uma crise hiperinflacionária. Deixaram em circulação um volume reduzido de meios de pagamento. Pretendem, agora, manter a taxa de expansão da moeda sob absoluto controle, apesar das pressões em sentido contrário.


A contração de liquidez poderia ter sido feita de forma mais sofisticada. O governo não foi seletivo, como agora pretende sê-lo. Recusa-se a admitir maior flexibilidade nas conversões dos cruzados retidos nas cadernetas de poupança, pois esses recursos seriam inevitavelmente canalizados para o consumo; mas aceita injetar recursos para o financiamento de capital de giro e de investimentos para as empresas. Vê-se, portanto, que muitos problemas poderiam ter sido evitados se o Plano Collor tivesse se utilizado de formas mais adequadas de enxugamento do volume de ativos financeiros.


O Plano Collor está longe de fracassar. Mas precisa de uma nova injeção de ânimo e de credibilidade. O governo não pode tolerar uma administração insegura. Precisa urgentemente de mais operadores.


Além disso, precisa assegurar-se de que será capaz de efetuar um fortíssimo ajuste fiscal. Precisará de grandes superávits do setor público para permitir-lhe efetuar uma rigorosa política monetária. Para tanto, deve imediatamente admitir a independência do Banco Central e proibir que ele financie o Tesouro.


Essas são as linhas de ação prioritárias para a consolidação do Plano Collor. O resto são detalhes, que certamente as autoridades econômicas saberão identificar, analisar e, espera-se, corrigir.


O Plano Collor já atingiu em cheio seus objetivos. Liquidou com a ameaça de uma hiperinflação, foi capaz de discriminar com enorme habilidade quem arcaria com os custos. É certo que, se nada for feito, a recessão atingirá a todos, inclusive os que foram poupados neste primeiro estágio. Agora, o que falta é administrar o quadro conjuntural com eficiência, sensibilidade e segurança. E atacar os desequilíbrios do setor público com a mesma determinação e coragem que foram impostos ao setor privado. Assim, estarão criando condições para a rápida implementação das reformas estruturais prometidas pelo presidente em sua campanha.

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