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Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

A culpa dos neoliberais

Em economia, quando alguma coisa dá errado fica difícil culpar o mordomo. Então, por que não acusar o neoliberalismo? É um bode expiatório tão bom quanto qualquer outro.

A crise cambial nas economias latinas deu início a uma nova moda: atribuir ao modelo neoliberal a responsabilidade por problemas enfrentados pelo México, Argentina e Brasil.

O verdadeiro liberal não tem programa de ação rígido, como os socialistas, sociais liberais ou comunistas. Ele tem compromisso apenas com o princípio da liberdade individual, que acredita ser a matriz da criatividade, da operosidade e da ética.

O liberal, ao invés de conjurar a presença do Estado, deseja-o, ardentemente, na medida em que possa garantir as regras de convivência social adequadas para evitar o cerceamento das liberdades individuais. O liberal só é contra o Estado quando ele se agiganta e tenta deslocar o indivíduo de suas atividades próprias.

Os problemas da economia brasileira refletem opções de política macroeconômica. Não se pode atribuir a crise emergente às privatizações, à abertura da economia ou aos fluxos financeiros internacionais. Estes são apenas os mordomos. A culpa maior da crise está na escolha equivocada de instrumentos na política de estabilização econômica.

No caso brasileiro, o governo quis resultados rápidos. Lançou a âncora cambial sem o reforço das âncoras monetária e fiscal. Mandou os juros para a estratosfera e recebeu de bom grado a avalanche de voláteis capitais externos.

O Brasil é uma economia relativamente fechada. Portanto, para que a âncora cambial tivesse eficácia antiinflacionária, tornou-se necessária a valorização cavalar do real, superior a 30%. Nestas condições, a crise do balanço de pagamentos não poderia tardar.

Houve erro na estratégia e na tática da estabilização. A solução, agora, é içar, urgentemente, a âncora cambial —de pouca eficácia no Brasil a médio e longo prazos— e lançar as âncoras fiscal e institucional (reformas na Constituição).

 

Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA).

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