Dois preços podem aumentar em breve: energia elétrica e gasolina. Esses reajustes poderão ter impacto nos custos de produção da economia.
Se o aumento de preços pode aliviar as pressões que os subsídios ao álcool e à energia estão impondo ao setor estatal, também pode reforçar ainda mais a necessidade de o governo adotar uma política econômica contracionista para evitar a reaceleração da inflação.
É uma dúvida cruel, que está subjacente a toda a política econômica atual: o que sustenta a inflação baixa é o crescente desemprego.
Com os juros elevados, os desequilíbrios orçamentários do setor público e o real valorizado, a única forma de manter a estabilidade da moeda é não permitir o crescimento da demanda, o que, por sua vez, resulta em aumento do desemprego.
O governo FHC merece reconhecimento por ter rompido com a perversa lógica inflacionária e sua notória desigualdade social. No entanto, tornar a recessão o estado natural da economia é inaceitável.
A providência mais imediata do governo é não ceder às pressões do setor financeiro. Tentar encobrir as fragilidades dos bancos apenas agravará a perda de confiança no governo de FHC.
Disponibilizar bilhões de reais para evitar crises bancárias serve apenas para esconder a falta de vontade ou poder para fazer o país atravessar a difícil fronteira entre a inflação e a estabilidade.
Afinal, para quem tem tanto dinheiro para salvar os bancos, o que representaria um pequeno subsídio ao álcool ou à energia elétrica?
Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, 50 anos, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), vereador da cidade de São Paulo pelo PL e professor titular da Fundação Getúlio Vargas (SP). Foi secretário do Planejamento e de Privatização e Parceria do Município de São Paulo na administração de Paulo Maluf.