O governo FHC rompeu com a perversa lógica inflacionária e sua iniqüidade social e merece ser por isso reconhecido. Mas é inaceitável fazer com que a recessão deixe de ser uma fase e passe a ser o estado permanente da economia. Entretanto, sua medida mais imediata é não ceder às pressões nem se acovardar com a situação do setor financeiro, pois a tentativa de acobertar as mazelas dos bancos só fará aumentar a perda da confiança no seu governo. Ademais, dispor de bilhões de reais para contornar crises bancárias só serve para esconder falta de vontade, ou de poder, para levar o País a ultrapassar a difícil fronteira entre a inflação e a estabilidade.
Agora, aumenta os preços da gasolina, como forma de minorar as pressões que os subsídios ao álcool estão exercendo sobre o setor estatal. Tal ajuste poderá ter reflexos nos custos de produção da economia e empurrar, mais ainda, o governo rumo à prática de uma política econômica recessiva, para evitar a realimentação da inflação.
Uma incerteza cruel, que realça o que está na base de toda a atual política econômica: crescente desemprego é o que mantém a inflação baixa. Com persistentes desequilíbrios orçamentários, juros elevados e o real sobrevalorizado, inibir o crescimento da demanda é o único jeito de manter a estabilidade da moeda. Então, tome mais desemprego.
As medidas de política econômica devem ter a marca da ponderação e do equilíbrio, a fim de reduzir seus efeitos adversos na produção e na sociedade. Afinal de contas, o que pode representar um ínfimo subsídio ao álcool ou à energia elétrica em comparação com a torrente de dinheiro consumida na salvação de bancos mal administrados?
Marcos Cintra é vereador da cidade de São Paulo.