Infelizmente, aconteceu o que não poderia ter acontecido. E o pior é que tudo poderia ter sido evitado. A abrupta, violenta e descontrolada desvalorização do real, deflagrada em meados do mês por pressão dos capitais especulativos nacionais e internacionais, cuja lógica assenhorou-se das decisões econômicas do governo, será uma mancha indelével na biografia do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Não é hora de se especular sobre os motivos que levaram o presidente a sustentar a política econômica suicida que foi adotada. Todos reconhecem, até mesmo o governo, que tudo começou com a euforia insana motivada pela absurda sobrevalorização do real que perdurou desde meados de 1994. A âncora cambial, cujos resultados anti-inflacionários são reconhecidos pela rapidez de seus efeitos, foi gostosamente instrumentalizada pelo governo, que amealhou vitórias eleitorais importantes. O próprio presidente embriagou-se com a inesperada notoriedade que adquiriu nos foros econômicos e políticos internacionais primeiro-mundistas.
Mas, infelizmente, a ressaca não tardou, e a conta está sendo apresentada para ser paga por toda a população brasileira. Para ela, os ganhos foram fugazes. Logo em seguida aos delírios da recém-conquistada estabilidade, os juros tornaram-se asfixiantes, o desemprego contaminou todas as classes, todas as profissões, em todos os setores, e a dívida pública, ou seja, dívida assumida por todos nós, explodiu sem limites razoáveis e sem contrapartida visível em termos de formação de capital físico ou humano.
Infelizmente, chegou a hora de pagar a conta. A crise explodiu, e a fatura está sendo apresentada por um presidente que se mostrou incapaz de perceber os perigos da trajetória que havia trilhado, apesar de todas as admoestações e alertas que lhe foram feitos. Cego pelo brilho do sucesso, o presidente sequer foi capaz de ouvir as críticas e sugestões que lhe foram apresentadas.
E agora, presidente? Fica aqui um despretensioso conselho: ouça mais, mire-se menos no espelho, discuta com mais humildade as críticas e sugestões que possam querer lhe passar. Quem sabe dentre elas poderá haver algumas que sejam capazes de nos tirar dessa enorme enrascada na qual estamos todos metidos.
Marcos Cintra Cavalcanti é deputado federal pelo PL-SP.