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Marcos Cintra - Diário do Comércio

Salto no escuro

A crise energética pela qual o Brasil está passando tem como principal causa a falta de investimentos no setor. A crise tem muito pouco a ver com a escassez de chuva. Desde meados da década de 80, especialistas na área energética vêm alertando sobre a iminência de um choque na oferta de energia no país.


Agindo de forma irresponsável e inconsequente, o governo federal seguiu exatamente o caminho oposto ao indicado por esses especialistas. Nos anos 80, foram investidos no setor energético entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões por ano, um montante que diminuiu para cerca de US$ 6 bilhões por ano na década seguinte. Em 2000, o setor recebeu investimentos de apenas US$ 4,2 bilhões. Para ilustrar, vale mencionar que no ano passado os gastos com os encargos da crescente dívida mobiliária federal, resultante de erros na condução da política econômica, totalizaram US$ 13 bilhões. Em 1995, essas despesas foram de US$ 7,5 bilhões.


A crise decorrente do descaso com o abastecimento de energia nos últimos anos causará prejuízos enormes a toda a sociedade. Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) prevê que o racionamento na demanda de energia no próximo semestre resultará na redução de 856 mil postos de trabalho e em uma queda na arrecadação de impostos de R$ 6,6 bilhões, sendo um terço desse valor representado pelo ICMS. O déficit comercial do país também deve aumentar e fechar o ano em US$ 1,6 bilhão.


O trabalho da FGV destaca claramente os danos que o programa de racionamento poderá causar. O custo dessa crise, anunciada há anos, é mais um fardo a ser suportado pelas empresas e pelo custo de vida das famílias.


Os consumidores residenciais de energia podem ser penalizados tanto com sobretaxas sobre o consumo acima de 200 kWh quanto com o corte de energia quando atingirem esse limite. Para evitar essa situação, os cidadãos se veem forçados a adquirir seus próprios geradores de energia, aumentando a pressão sobre seus já combalidos orçamentos domésticos.


No comércio e na indústria, o racionamento terá um impacto negativo nas vendas, especialmente de produtos eletrônicos, e aumentará os custos de produção, comprometendo a competitividade da indústria nacional.


A situação é grave. O governo, de forma lamentável, alega que não estava ciente da situação e ainda culpa São Pedro pelo problema. A verdade é que houve negligência na gestão do setor e uma obsessão das autoridades econômicas em alcançar metas fiscais, o que restringiu os investimentos na expansão da oferta de energia. A questão energética foi negligenciada, e o país optou por dar um salto no escuro, literalmente.



Marcos Cintra é deputado federal pelo PFL-SP. E-mail: mcintra@marcoscintra.org

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