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Marcos Cintra

China: exemplo a ser seguido

Há décadas, a inovação no mundo contemporâneo está associada a uma tríade formada por Estados Unidos, Europa e Japão. São economias que investem fortemente em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e que hoje concentram 52% de toda a riqueza mundial e registram os maiores Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) do planeta. Porém, no cenário global há que se destacar o que está ocorrendo na China, país que investe de modo crescente em P&D e onde a renda per capita aumenta em média 8% ao ano. Seu PIB atual só fica atrás do PIB norte-americano.

Em apenas 15 anos, a China multiplicou por nove o montante de recursos aplicados em P&D. Dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para o período entre 2000 e 2015 mostram que a despesa nesse setor nos Estados Unidos saltou de US$ 333 bilhões para US$ 463 bilhões, na União Europeia foi de US$ 241 bilhões para US$ 346 bilhões, no Japão de US$ 120 bilhões para US$ 155 bilhões e na China de US$ 41 bilhões para US$ 377 bilhões.

Desde o final dos anos 1970, o governo chinês realiza reformas profundas no país. O setor estatal se mantém forte, mas atividades privadas se expandem rapidamente e a parceria governo e empresa faz a economia avançar de modo acelerado. Nesse cenário reformista estão contemplados investimentos na educação superior e em P&D, cujo marco principal são planos quinquenais que definem as estratégias na área de CT&I.

O governo chinês tem anunciado regularmente que o desenvolvimento de um sistema nacional de CT&I é prioridade naquele país. O 13º Plano Quinquenal (2016-2020), aprovado ano passado, cita que “uma sociedade próspera deve ter como pilar central a inovação” e define 2,5% do PIB como meta de gasto em P&D para 2020 frente aos 2,1% de 2015.

Outro documento de 2016 mostra o firme propósito dos chineses de robustecer sua estrutura de P&D e qualificar sua economia. O Plano Nacional para a Inovação Científica e Tecnológica (2016-2020) estabelece que o sistema de CT&I do país deve seguir os seguintes princípios: 1) atender as principais demandas da sociedade chinesa por meio de CT&I; 2) manter a inovação impulsionada pelo talento dos cientistas; e 3) tornar a China uma liderança na elaboração de regras internacionais em CT&I.

O Estado é o principal promotor direto e indireto das principais inovações ao redor do mundo. Na China, e também nos Estados Unidos, a convergência do poder público com as empresas são regras que fazem a diferença em relação à eficácia dos investimentos em CT&I. O retorno dos recursos aplicados no setor requer um delineamento factível de um plano nacional e nele é preciso que os agentes privados e o governo estejam articulados visando acelerar o desenvolvimento econômico.

A revolução chinesa em andamento na área de CT&I deve servir de estímulo e orientação para o Brasil. A China será um grande player mundial no setor e o país deve se mobilizar frente a esse quadro inevitável. É necessário um esforço voltado à elevação do volume de recursos em P&D e à melhoria da relação custo – benefício desse dispêndio doméstico, uma vez que seu efeito é relativamente baixo no setor produtivo.

Há acúmulo de recurso em ciência e pouca integração do processo de pesquisa com as empresas aqui.

Mirar no exemplo da China: eis um saudável e bem-vindo desafio que se apresenta ao Brasil no setor de CT&I. Lá, os chineses já colhem bons frutos, que tendem a se multiplicar no futuro.

 

Doutor em Economia pela Universidade Harvard, professor titular de Economia na FGV. Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto único. É Presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).



Publicado no Jornal SPNorte: 29/09/2017



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