A aprovação do impeachment de Dilma Rousseff no final de agosto a afastou definitivamente do governo, marcando o fim de uma era para o Partido dos Trabalhadores (PT). O PT deixa o poder sob um véu de melancolia, carregando o estigma de ter promovido uma das maiores ondas de corrupção na história do Brasil.
Ao contrário do que aconteceu na gestão de Fernando Collor de Mello, onde o processo de impeachment teve origem no Legislativo Federal, o PT está sendo retirado do governo devido a um movimento que começou nas ruas e reverberou no Congresso. A esmagadora maioria da população brasileira já não deseja mais o PT no poder, incluindo a "nova classe média", que percebeu que o partido desempenhou um papel fundamental na atual crise econômica, que já levou ao desemprego de mais de 12 milhões de pessoas.
O PT frequentemente tentou atribuir a si mesmo o mérito da ascensão de 30 milhões de pessoas para a classe C. No entanto, é importante lembrar que essa transformação não é obra de apenas um governo, mas sim resultado de ações empreendidas ao longo de vários anos e administrações públicas. Iniciativas que datam dos anos 90 contribuíram para melhorar significativamente a qualidade de vida de muitas famílias no Brasil.
Na gestão Collor, a economia brasileira foi aberta ao mundo, incentivando inovações, como a modernização dos carros, que antes eram considerados obsoletos. Privatizações também começaram nessa época, já que as estatais ineficientes representavam um dreno infinito de recursos públicos. No governo Itamar Franco, as privatizações continuaram, e a implementação do Plano Real eliminou uma inflação anual de 2500%, que prejudicava especialmente os mais pobres. Durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso, medidas como a Lei de Responsabilidade Fiscal, o regime de metas de inflação, o câmbio flutuante e a política de superávit fiscal foram fundamentais para a estabilização econômica.
Quando o PT chegou ao poder, em particular na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, os benefícios das privatizações, abertura externa e estabilidade macroeconômica já tinham sido consolidados. No entanto, o partido não aproveitou a oportunidade para implementar reformas cruciais para o desenvolvimento do país, como aquelas iniciadas nos anos 90. Isso incluiria a qualificação da força de trabalho, modernização da infraestrutura e reformas estruturais, como as políticas e tributárias.
Hoje, o Brasil enfrenta uma crise resultante da má gestão econômica do PT e dos escândalos de corrupção que o partido patrocinou. Os avanços sociais conquistados estão rapidamente retrocedendo, e isso tem contribuído para o afastamento dos petistas do poder. O PT, que inicialmente surgiu como defensor dos excluídos e com a bandeira da moralidade, encerra sua era de maneira melancólica.
Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto Único. Atualmente, é Subsecretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.