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Marcos Cintra

A alternativa expansionista

Ontem, na página 1-3, a Folha indagou a ilustres economistas se a retomada do crescimento econômico aceleraria a inflação. Os vários tipos de abordagem adotados pelos articulistas mostram a complexidade do tema.


Falou-se que a expansão da economia e a estabilidade não são incompatíveis; que as expectativas são determinantes fundamentais do "trade-off" entre crescimento e variação de preços, de onde a importância das variáveis políticas na busca de crescimento com estabilidade; e da necessidade de um intenso ajuste estrutural para permitir a recuperação das taxas de investimentos de longo prazo.


Faltou, contudo, uma abordagem microeconômica para a pergunta da Folha, não sugerida por nenhum dos articulistas. Segundo esta ótica, a recuperação da atividade produtiva seria perfeitamente compatível com a estabilidade de preços. Poderia até contribuir para a redução das pressões inflacionárias.


Bastaria aceitar a premissa de que a função de custos das empresas é decrescente em seu segmento inicial, e que a forte concentração industrial na economia brasileira permite aos produtores fixarem seus próprios preços no mercado. Apenas nos setores competitivos os vendedores (e compradores) são forçados a aceitar os preços ditados pelo livre jogo da oferta e da demanda.


Nesse sentido, uma política de contenção da demanda agregada (juros altos, compressão dos salários reais, contingenciamento de crédito), ao contribuir para a redução da quantidade produzida, aumenta os custos unitários de produção. E são repassados aos preços. A inflação acelera, e aumenta a capacidade ociosa e o desemprego nos setores produtivos.


Sob esta ótica, a política econômica correta seria a conjugação de medidas macroeconômicas mais expansionistas e rigoroso controle de preços nos principais setores oligopolizados da economia (não mais do que uma centena de setores concentrados, com forte impacto na formação dos custos industriais de produção). Enquanto a capacidade instalada não for esgotada, e os ajustes estruturais que permitirão a retomada do crescimento de longo prazo estiverem sendo feitos, esta terapia permitirá expandir a produção no curto prazo, sem acirrar a inflação.


Cabe atentar, contudo, que o impacto antiinflacionário do aumento da produção se restringe ao segmento decrescente da função de custos, influenciado pelo impacto positivo da diluição dos custos fixos em quantidades crescentes de produto. Trata-se de medida de curto prazo, mas que nas atuais circunstâncias, tenderia a atenuar os custos dos ajustes mais profundos de que necessita a economia brasileira.


 

Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, 45, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, consultor de economia da Folha e presidente regional do PDS.

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