A crescente desestabilização do quadro econômico brasileiro vem sendo atribuída a um pretenso "efeito estrela". Segundo os defensores desta visão dos fatos, as mudanças que ocorrem no cenário eleitoral - com o avanço de Lula e a queda de Collor - estariam criando expectativas fortemente desfavoráveis aos interesses das classes produtoras. Daí, a corrida para ativos reais e outros tipos de bens-refúgio; daí o temor da hiperinflação e de uma súbita corrida contra a moeda e contra a quase moeda, os títulos públicos.
Esta interpretação da atual conjuntura econômica distorce a realidade. A causalidade ocorre em sentido inverso. A reviravolta eleitoral é consequência de uma política econômica que se torna a cada dia mais equivocada. A instabilidade está favorecendo aqueles candidatos que se mostram capazes de catalisar os sentimentos de insatisfação com o atual governo.
O candidato do PT é o que mais se beneficia, pois vem se opondo, com coerência, aos desmandos praticados no país nos últimos cinco anos. Ao mesmo tempo, perde o candidato Collor de Mello, pois apesar de seu discurso oposicionista ainda não conseguiu transmitir ao eleitorado, principalmente das classes de renda mais elevada, o tom pretensamente contestador de suas ideias. Também não conseguiu transmitir aos formadores de opinião qualquer segurança quanto aos seus planos e projetos de governo. Preferiu se isolar, e num rasgo populista, se comunica apenas com as massas, o que está revelando erro que poderá ser fatal.
Assim, a deterioração do quadro econômico brasileiro terá como consequência imediata o desbalanceamento no equilíbrio que perdurou por alguns meses entre os presidenciáveis, e já iniciado nas últimas semanas.
Cabe indagar das possibilidades de que as mais recentes tentativas de evitar a hiperinflação tenham sucesso, pois disso dependerá, em grande parte, os resultados das próximas eleições.
Em poucas palavras, a atual política econômica irá permitir, senão favorecer, a continuidade do atual descontrole da economia. Os índices de inflação já são totalmente insuportáveis. Diferentemente do que muitos afirmam, a indexação não é um antídoto perfeito que neutraliza os efeitos perversos da inflação alta.
Para muitos segmentos da economia, a hiperinflação já é uma realidade. Para assalariados, produtores rurais, pequenos empresários e outros agentes econômicos incapazes de fixar preços - os chamados tomadores de preços - as atuais taxas de inflação já exigem sacrifícios que apenas a esperança de um novo governo permite suportar.
Por outro lado, a indexação e as altas taxas de inflação acabaram por se transformar em poderosas fontes de lucro para o rentista, para o mercado financeiro e para todos aqueles setores produtivos mais concentrados, capazes de impor preços ao consumidor.
As autoridades tentam de todas as formas mostrar que a economia vai bem, que as pessoas continuam produzindo, transacionando, trabalhando. Porém, tudo isto mascara o altíssimo custo social do descontrole inflacionário, como a queda nos investimentos, a fuga de capital, a concentração de renda, a desaceleração do crescimento.
São estas as principais razões do fulgor da estrela petista; ela é o efeito, e não a causa do quadro econômico deteriorado.
O mais preocupante, porém, é que as autoridades governamentais aplicam uma não-política contra a inflação. Preocupam-se apenas em mistificar a realidade, em camuflar fatos. Querem que os empresários pratiquem preços que não podem praticar. Querem convencê-los a praticar o mesmo tipo de fraude que o governo cometeu no Plano Cruzado - conter artificialmente os preços, com olho nas eleições.
Esquecem-se, porém, que a reação vem depressa, como ocorreu logo após o fracassado pacto social do ano passado, com a forte aceleração inflacionária que forçou o governo a decretar o Plano Verão. Esquecem-se da hiperinflação antes da posse do novo presidente argentino; esquecem-se sobretudo dos incidentes de Caracas, com a crise e a frustração que seguiram a posse do novo governante.