O Plano Collor 2, desde seu lançamento, não contou com a confiança dos agentes econômicos. Foi quase unanimemente criticado. Deixa a sensação de ser mais um plano a exigir enormes sacrifícios, mas incapaz de resolver a questão inflacionária no país.
É certo, como alegam vários analistas e o próprio governo, que alguma coisa teria de ser feita para evitar que o país caminhasse rapidamente para uma nova crise hiperinflacionária. Há que diferenciar, contudo, uma afirmação que revela conformismo e fatalismo diante da incapacidade do governo equacionar a questão inflacionária, de afirmações positivas acerca dos méritos do Plano Collor 2.
Nas circunstâncias atuais, dados o quadro político e a configuração da equipe econômica, fez se o que teria de ser feito. O congelamento irá conceder ao governo mais algumas semanas para rearticular seu projeto de estabilização. Será também tempo precioso para a conquista de credibilidade e confiança por parte da equipe econômica, sem a qual a reinflação será ainda mais rápida que nos congelamentos anteriores.
O acerto da movimentação tática, contudo, não garante uma avaliação positiva acerca dos instrumentos de combate inflacionário a serem utilizados. O repertório de medidas adotadas guarda enorme semelhança com os esforços anteriores de estabilização. Desindexação, congelamento, promessas de austeridade fiscal e monetária, criação de novos mecanismos financeiros de investimentos de longo prazo. São fórmulas desgastadas, que transmitem à população, a cada nova investida, uma frustrante sensação de violência contra seus direitos.
Há uma inequívoca fadiga de congelamentos. A cada nova tentativa, as regras antigas passam a não valer mais. Os contratos têm de ser alterados com custos significativos para toda a sociedade. As infindáveis renegociações de preços entre fornecedores, industriais e varejistas, a ameaça de constante desabastecimento, as perdas e confiscos de rendimentos financeiros, as ameaças policialescas da fiscalização, as tablitas, as tabelas de cálculos de médias de salários e de aluguéis. Enfim, não há mais paciência para esta monótona repetição, que seria cômica se não custasse tão caro.
O Plano Collor 2 precisa ser avaliado, portanto, como uma estratégia de estabilização e não como mais um paliativo a esconder a incapacidade das autoridades encaminharem uma solução definitiva para a crise brasileira.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE. 44, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, consultor de economia da Folha e presidente regional do PDS.