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  • Marcos Cintra

Hora de agir

A substituição da equipe econômica anterior causou uma súbita alteração nas expectativas. Os novos integrantes do governo não eram identificados com estratégias heterodoxas de estabilização, já desacreditadas pelos agentes econômicos. Ademais, o quadro conjuntural era mais favorável, pois não havia uma sensação de explosão inflacionária iminente. Pelo contrário, a profunda recessão garantia uma certa estabilidade inflacionária, mesmo dentro de um processo de gradual liberação de preços.


Nesse sentido, houve um período de relativa calmaria, que, contudo, acha-se ameaçada pela volta de expectativas pessimistas para os próximos meses. A inflação de junho, medida pelo IGP, foi de 9,9%, contra 6,5% no mês anterior. Outros indicadores registraram acelerações inflacionárias igualmente preocupantes.


Ao mesmo tempo, aproxima-se a liberação dos cruzados novos retidos pelo Plano Collor 1, a safra agrícola começa a pressionar o abastecimento interno, as pressões fiscais se tornam mais agudas, e a demanda agregada mostra sinais de expansão, embora ainda esteja em patamares baixos relativamente aos verificados no passado. Em outras palavras, acumulam-se evidências de que a inflação não se encontra sob controle e de que a atual tendência de recuperação do emprego, do nível de atividade e dos salários reais poderá reacender o temor de uma explosão hiperinflacionária em futuro próximo.


Até o momento, a equipe econômica não adotou um conjunto de providências orientado para as imprescindíveis reformas estruturais da economia. Pelo contrário, a relativa inapetência por medidas mais profundas evidencia com grande destaque a fragilidade do equilíbrio orçamentário do setor público. A ênfase tem sido estritamente conjuntural.


Uma política bem-sucedida de estabilização exige a conjugação de providências conjunturais e estruturais. Tanto um conjunto quanto o outro são essenciais para a geração da sinergia favorável à reversão das expectativas, além de seus impactos concretos no controle da inflação.


É tolice imaginar um sequenciamento, pelo qual se espera resolver em primeiro lugar os problemas mais imediatos para, em seguida, iniciar as reformas. Pelo contrário, o sucesso no curto prazo depende de uma correta sinalização sobre políticas de longo prazo, e vice-versa.


 

MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 45, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas e consultor de economia da Folha.

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