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Marcos Cintra

Livro: Introdução à Teoria Econômica (1972) - Prefácio, Cap. 1, 2, 3, 4 e 5 (I/II)


Livro completo em PDF, contendo resumos, questões, referências e bibliografia:


Prefácio


O objetivo do presente texto é fornecer a base teórica fundamental para a compreensão de fenômenos econômicos.


Cada vez mais, podemos notar a importância da Economia em nossa vida cotidiana. Nem um dia se passa sem que os meios de comunicação de massa se refiram a problemas e acontecimentos econômicos em todo o mundo.


Embora intuitivamente todos nós tenhamos algumas noções do que seja a Ciência Econômica e de seus fundamentos mais importantes, torna-se necessário um conhecimento de sua base teórica, tanto para dos fatos inferirmos suas consequências como para melhor fundamentarmos nossas opiniões.


O texto que ora apresentamos focaliza as áreas mais importantes da Ciência Econômica, ou sejam, Microeconomia (Teoria do Consumidor, Teoria da Firma, Teoria do Mercado), Macroeconomia (O Modelo Keynesiano, Moeda e Crédito), Economia Internacional e Desenvolvimento Econômico.


Dentro do possível, apresentamos os elementos teóricos de maneira a aproveitar ao máximo os conhecimentos intuitivos presentes em todos nós. Os pontos mais importantes são desenvolvidos no texto e, nas Questões para Discussão, apresentadas no final de cada capítulo, tentamos colocar problemas de caráter mais prático, para serem resolvidos com o auxílio da Teoria.


Desta forma, as Questões para Discussão se tornam parte integrante da matéria apresentada, já que são desenvolvimentos da teoria discutida.


Nos Resumos apresentados ao final de cada capítulo, a matéria tratada de forma analítica é recolocada em seu contexto mais amplo, para que o leitor não se perca nos meandros, muitas vezes essenciais para a compreensão da matéria.


Finalmente, poderíamos salientar que o presente texto nasceu de uma série de apostilas preparadas pelo autor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, para utilização nos cursos de Administração Pública, em face da não existência de um texto de Teoria Econômica que fosse suficientemente acessível e, ao mesmo tempo, condensado, para ser utilizado num curso introdutório. Assim, o presente texto pode ser utilizado tanto em um currículo onde conste somente um curso de Economia, como em um curso de Introdução à Economia, numa Faculdade de Ciências Econômicas.


1. Introdução


Podemos notar que, para a compra de uma dúzia de peras, ela terá de deixar de comprar duas dúzias de maçãs ou 4 dúzias de laranjas ou uma combinação entre elas, de modo que sejam liberados Cr$ 20,00, que é o preço de uma dúzia de peras. Em termos de economia, quando se decide pela produção de um bem qualquer, também está se sacrificando algo que poderia ter sido produzido com os recursos direcionados à produção do bem escolhido. A isso chamamos custo de oportunidade de um bem. Sempre que houver escassez, teremos de sacrificar algo para obtermos alguma coisa. Esse sacrifício é o custo de oportunidade.


CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO

Vamos supor uma economia que produza somente dois bens, dada uma dotação fatorial definida. A Curva de Possibilidade de Produção, também chamada Curva de Transformação, é o conjunto de pontos que indicam as combinações possíveis dos dois bens, de tal forma que todos os fatores de produção sejam utilizados, dado um certo nível de desenvolvimento tecnológico. O gráfico 1.1 representa a curva de possibilidade de produção para um país que produz somente trigo e automóveis. O eixo horizontal representa a produção de trigo, e o eixo vertical, a produção automobilística.


Se todos os fatores de produção fossem utilizados apenas na produção de trigo, poder-se-ia produzir um total de 10.000 toneladas. No entanto, se o país resolvesse produzir apenas automóveis, conseguiria produzir um total de seis veículos. A curva de possibilidade de produção indica todas as combinações possíveis de trigo e automóveis, como, por exemplo, 5.000 toneladas de trigo e 3 automóveis.


A curva de possibilidade de produção, em si, não indica qual a combinação será escolhida, mas apenas todas as possibilidades abertas à economia. Podemos ter certeza, no entanto, de que, se a comunidade agir racionalmente, jamais se estabelecerá em qualquer ponto no interior da curva, pois isso implicaria em um aproveitamento parcial de seus recursos, ou seja, haveria desemprego de fatores de produção. A curva indica as combinações possíveis, com a utilização total dos fatores, o que exclui qualquer ponto à direita da curva, pois essas combinações exigiriam mais fatores de produção do que os disponíveis.


Uma curva de possibilidade de produção reta, como no gráfico 1.1, indica que os custos de oportunidade são constantes. Qualquer movimentação de fatores da produção de automóveis para a de trigo, ou vice-versa, significaria que os fatores podem sempre produzir automóveis e trigo numa proporção fixa de 6:10.000. Esse fenômeno decorre do fato de que, qualquer que seja o nível da produção de automóveis ou de trigo, os fatores de produção retirados de um setor e transferidos para o outro serão tão eficientes quanto os já utilizados anteriormente. No entanto, se os fatores a serem transferidos forem continuamente menos eficientes do que os anteriores, o custo de oportunidade será crescente e a curva de possibilidade de produção será côncava, em relação à origem, como vemos no gráfico 1.2.

O caso descrito no gráfico 1.2 indica uma economia que poderia produzir ou OB de automóveis ou OA de trigo. Partindo-se do ponto B, notamos que, para cada decréscimo uniforme na produção de automóveis (BC = CD = DE = EF), o aumento na produção de trigo é decrescente (OG > GH > HI > IJ), o que indica que o custo de oportunidade do trigo é crescente, em decorrência do fato de que os fatores não são igualmente eficientes na produção de automóveis e de trigo.

Verificamos, então, que a escassez de recursos nos obriga a optar entre a alocação dos fatores na produção de bens alternativos. A escolha entre objetivos variados e conflitantes é bem exemplificada pelo conceito de custo de oportunidade. Por exemplo, o custo de oportunidade de GH de trigo, no gráfico 1.2, é igual a CD de automóveis.

A Ciência Econômica refere-se a esse dilema e tenta determinar:

— que bens e serviços produzir e em que quantidades;

— como maximizar a produção, dada uma certa dotação fatorial;

— como distribuir a produção entre os membros da comunidade;

— como atingir, a longo prazo, níveis mais altos de produção e consumo.



2. O Mecanismo de Tomada de Decisões

O que descrevemos no capítulo anterior é o cenário no qual uma comunidade opera em termos econômicos. No sistema capitalista, a comunidade age em termos dos indivíduos que a compõem. Cada um, perseguindo seus interesses próprios e tendo como objetivo a maximização de sua satisfação, contribui para a maximização do grau de satisfação da comunidade como um todo.


Uma economia, dada uma certa dotação fatorial e um certo nível tecnológico, que produzisse, por exemplo, somente 2 bens, a e b, teria, consequentemente, uma certa curva de transformação. A questão que se propõe, então, seria qual combinação de bens produzir.

Vários poderiam ser os sistemas decisórios. Poder-se-ia, por exemplo, produzir uma combinação dos dois bens, tal que cada indivíduo da comunidade recebesse quantias iguais às de todos os outros indivíduos. Haveria, no entanto, certos indivíduos que prefeririam o bem a, a ponto de prazerosamente permutarem duas unidades do bem b recebido por uma unidade adicional de a; igualmente, poderiam existir indivíduos que tivessem preferência pelo bem b, a ponto de aceitarem duas unidades a menos de a por uma unidade adicional de b. Se se conseguir acasalar estes dois grupos possíveis, eles permutariam os bens a e b entre si e, assim, conseguiriam aumentar sua satisfação.


Poderíamos também conceber um outro sistema decisório, mais centralizado, onde todas as preferências individuais fossem levadas em conta e as quotas dos bens a e b atribuídas a cada indivíduo já refletissem tal diversidade.


O que podemos notar nos dois sistemas descritos anteriormente é que ambos são demasiadamente pessoais e exigem uma quantidade de informações que ainda hoje nos são inacessíveis. No primeiro exemplo, haveria necessidade de que uns indivíduos procurassem outros que aceitassem realizar a troca de mercadorias, de tal forma que satisfizesse aos dois; no segundo, haveria necessidade de uma compilação das preferências individuais.


Temos, assim, uma primeira visão das dificuldades encontradas por possíveis sistemas decisórios.


O SISTEMA DE PREÇOS

Como mencionado acima, o sistema capitalista não é centralizado e as decisões são tomadas pelos próprios indivíduos, por intermédio de um sistema impessoal que lida com o problema da informação por um mecanismo codificado. Referimo-nos ao conceito de mercado, que age através do Sistema de Preços. Agindo em benefício próprio, os indivíduos, impessoalmente afetando e sendo afetados pelo sistema de preços, tomam as decisões que maximizarão a satisfação coletiva.


É importante notar que o sistema de preços impõe certos pré-requisitos que se permeabilizam intensamente numa cultura, através de suas estruturas política, social e moral, como, por exemplo, os direitos da liberdade de escolha e da propriedade privada, sem os quais as decisões individuais perderiam o sentido.


Vejamos agora, num exemplo concreto, como uma comunidade, cuja alocação de recursos já estava determinada por um ponto em sua curva de transformação(1), age através do mecanismo de preços, para poder atingir um grau de satisfação maior.


Uma variação na procura de um bem quer dizer que o desejo dos consumidores para adquirirem um bem mudou, como consequência de algo que não seja uma variação no seu preço. Por exemplo, uma mudança na preferência dos consumidores. Isto quer dizer que, ao mesmo preço que antes, vai-se desejar adquirir, hoje, uma quantidade maior ou menor do mesmo bem.

Como o mercado reagiria a tal variação?


Vamos supor que os fazendeiros cultivassem laranjas, maçãs e peras e que, em decorrência de uma mudança na preferência dos consumidores, a procura por laranjas houvesse aumentado. Logicamente, como o poder aquisitivo dos consumidores continua o mesmo, um aumento na procura de laranjas terá de ser acompanhado por um declínio na procura de maçãs e peras. O que acontecerá com os preços no mercado? Como a produção continua a ser a mesma que antes do aumento na procura de laranjas, ocorrerá uma falta destas para atender a todos os consumidores e um excesso de maçãs e de peras. Isto fará com que o preço da laranja se eleve, visto que os consumidores insatisfeitos oferecerão preços mais altos por ela, ou com que os comerciantes, vendo que não há a quantidade de laranjas suficiente para atender a todos, elevem-lhes o preço.


O aumento no preço das laranjas fará com que os fazendeiros cultivem mais laranjas e menos peras e maçãs, visto que as laranjas proporcionam maiores lucros que anteriormente. Os fatores de produção serão transferidos da produção de maçãs e peras para a produção de laranjas e isso acarretará um aumento na produção das últimas e um declínio na produção das primeiras.


O que acontecerá no mercado, agora que a produção de laranjas aumentou e a de maçãs e peras diminuiu? O preço das laranjas diminuirá, mas ainda será mais alto do que antes da mudança da preferência dos consumidores. Os fazendeiros, consequentemente, transferirão mais recursos para a produção de laranjas até que o preço seja tal que não mais compense essa transferência. É importante notar que, quando do primeiro aumento nos preços das laranjas, os preços das maçãs e das peras caíram muito, visto que os comerciantes não conseguiram achar compradores para as mesmas. Porém, no processo de transferência dos fatores de produção para o cultivo da laranja, a produção de maçãs e peras diminuiu, fazendo com que seus preços se elevassem um pouco.


No final do processo, as transferências de recursos cessarão, os preços se estabilizarão (as laranjas a um preço mais alto e as maçãs e peras a um preço mais baixo que inicialmente), e o processo produtivo, através do mecanismo de preços de mercado, efetuou uma alteração na utilização dos fatores de produção, em decorrência de uma alteração no desejo dos consumidores. Percebemos, então, que o sistema de preços de mercado funciona automaticamente, sem nenhuma coordenação central, respondendo aos desejos dos agentes econômicos, todos eles agindo livre e individualmente e cada qual satisfazendo a seus próprios interesses.


O sistema de preços, reagindo a tais variações, emite sinais que serão captados pelo processo produtivo, que fará, então, modificações correspondentes.


É fácil notar que o sistema de preços de mercado funciona não só no mercado de bens de consumo, mas também no mercado de serviços, de trabalho, de bens de capital e monetário. É através dele que todos, agindo individualmente, operam na economia e, como resultado de pressões individuais, determinam conjuntamente o que será produzido, como será produzido e como o produto será distribuído.


É interessante notar também que é possível atingir tais resultados, em virtude da existência de competição em todos os mercados. Por exemplo, é por causa da competição entre consumidores para adquirirem a produção insuficiente de laranjas que os preços sobem; igualmente, é por causa da competição entre os comerciantes que os preços das maçãs e das peras caem. Também é o mecanismo competitivo que faz com que os fazendeiros diminuam a produção das outras frutas, para aumentarem a de laranjas. Há aí uma competição pelo lucro alto, o que, eventualmente, como já vimos, leva o preço da laranja a diminuir gradativamente.


O que acabamos de descrever é a Lei da Oferta e da Procura e o seu mecanismo de determinação do preço.


Antes de desagregarmos o mercado em seus componentes, devemos notar, então, que o sistema de preços age como um mecanismo simbólico, orientador das ações econômicas de uma comunidade.


A PROCURA

A procura por um bem indica-nos, dados determinados condicionantes, a quantidade do bem que os indivíduos desejam adquirir. Os principais fatores que influenciam a procura ou a demanda por um bem são:

a) Gosto e preferência dos membros da comunidade: Vimos, no exemplo acima, como uma mudança na preferência dos consumidores afetou a procura pelos bens em questão e esta, consequentemente, afetou todo o mercado.

b) População: O simples número de habitantes, desde que dispondo de poder aquisitivo, afetará o montante procurado. Também a distribuição da população por idade determinará o perfil da procura. Uma população jovem, por exemplo, demandará, certamente, uma quantidade maior de produtos de consumo próprios à juventude.

c) Nível de renda da comunidade: Quanto mais alto o poder aquisitivo da comunidade, maior será o montante de bens e serviços demandados.

d) Distribuição de renda entre os membros da comunidade: Supondo-se que cada grupo sócio-econômico tenha seu padrão próprio de consumo, uma modificação na parcela da renda total recebida por cada grupo afetará o consumo dos bens e serviços por ele preferidos. Assim, uma redistribuição de renda a favor das classes de alta renda causaria um aumento na procura por bens de luxo, ao passo que, se a redistribuição favorecesse os grupos rurais de baixa renda, dificilmente o aumento na procura favoreceria os bens de luxo.

e) Preços dos outros bens: Suponhamos que o preço de um bem qualquer seja constante e que os preços de bens concorrentes caiam. Evidentemente, o consumidor racional reformularia seu padrão de consumo, passando a preferir os bens cujos preços baixaram, já que são bens substitutivos ao bem antes consumido.

f) Preço de bem em questão: Evidentemente, todos sabemos que, quanto mais alto o preço de um bem, menor quantidade será demandada e vice-versa.


Todos esses fatores estão constantemente alterando-se e, consequentemente, formam um processo dinâmico, fazendo com que a procura por um bem seja um fato muito fluido. No entanto, economistas mantêm todos os fatores constantes (coeteris paribus), exceto um, e assim conseguem isolar os efeitos de cada uma das variáveis que afetam a demanda.


A Curva da Procura: A curva da procura mostra a quantidade de um bem ou serviço que será consumido, a cada nível de preço, durante um determinado período de tempo. Devemos ressaltar que somente o preço varia, determinando, assim, um novo nível de demanda e mantendo-se constantes todos os outros fatores que possam afetar a procura.


A curva da procura por um bem em uma comunidade é simplesmente a soma das curvas de procura de todos os indivíduos que a compõem. Da mesma maneira que na tabela 2.1 relacionamos as quantidades demandadas pelos indivíduos X e Y a cada nível de preços, poderíamos fazer o mesmo para todos os indivíduos, e a soma das procuras individuais determinaria a tabela da procura da comunidade.

Com o auxílio da Curva da Procura, podemos determinar as quantidades demandadas a vários níveis de preços possíveis. Assim, ao preço de 5, a quantidade procurada será de 60.000 unidades; ao preço de 3, a quantidade aumenta para 80.000 e assim por diante. Variações nos preços e as respectivas variações nas quantidades demandadas são movimentos ao longo da curva da procura. Se, no entanto, a renda da comunidade aumentar, teremos então um deslocamento da curva, já que movimentos ao longo da curva ocorrem somente quando os preços do bem em questão variam. Igualmente, teremos deslocamento da curva, para a direita ou para a esquerda, quando qualquer outro fator de influência na demanda, que não seja o preço do bem em questão, variar. Tais deslocamentos representam aumento ou quedas na procura, ao passo que movimentos ao longo da curva representam aumento ou quedas nas quantidades procuradas.

No gráfico 2.2 está representado o caso em que houve um aumento na renda da comunidade. Com a renda inicial de, digamos, 5.000.000 de unidades monetárias, a curva da procura é representada pela reta DD. Quando a renda aumenta para, digamos, 8.000.000 de unidades monetárias, em vista do maior poder aquisitivo de que agora é possuidora a comunidade, espera-se que a curva se desloque para a direita, representando assim um aumento na procura (D'D').

Podemos notar que, aos mesmos preços, as quantidades procuradas representadas pela reta D'D' são maiores que as representadas pela reta DD, ou seja, antes do aumento da renda.


Ao preço de 5, a quantidade demandada antes do aumento da renda era de 60.000 unidades e, depois do aumento da renda, ao mesmo preço, a procura aumentou, e a quantidade demandada passou a ser 80.000 unidades. O mesmo fenômeno ocorreu no exemplo dado no início do capítulo, quando, em decorrência de uma mudança na preferência dos consumidores, a curva da procura por laranjas se deslocou para a direita.

A OFERTA

O segundo componente do mecanismo de mercado é a oferta, que representa o comportamento dos produtores. A oferta por um bem indica-nos, dados determinados condicionantes, a quantidade do bem que os indivíduos desejam produzir e oferecer no mercado.

Os principais fatores que influenciam a oferta de um bem são:

a) Os objetivos das pessoas físicas e/ou jurídicas: embora a Teoria Econômica pressuponha a racionalidade dos indivíduos e, portanto, que eles desejem maximizar seus lucros, existem restrições de ordem moral e legal em alguns casos que impedem que a obtenção do maior lucro possível seja o objetivo predominante dos produtores. Assim, o preço de mercado deixa de ser o determinante exclusivo, coeteris paribus, da oferta, e a ele se juntam objetivos de bem-estar coletivo e desejo de servir à comunidade.

b) O nível de avanço tecnológico: quanto maior for o avanço tecnológico, maior será o aproveitamento dos recursos produtivos disponíveis e, portanto, maior poderá ser a oferta por bens e serviços. Este fenômeno está intimamente ligado ao efeito do custo de produção na oferta.

c) Preço dos outros bens: os produtores, na competição pelo lucro, investirão seus recursos na produção de bens que lhes proporcionem os melhores retornos. Assim, o nível do preço dos outros bens, principalmente aqueles que poderiam ser produzidos com, aproximadamente, os mesmos recursos utilizados na produção de outros, poderá atrair para este setor fatores de produção empregados em outras atividades. No exemplo do início do capítulo, foi o que ocorreu, quando os produtores de maçãs e peras se transferiram para a produção de laranjas, que, em virtude do aumento de seus preços, poderiam proporcionar melhores rendimentos.

d) Preço do bem em questão: quanto mais alto for o preço de mercado do bem produzido, maior será o incentivo aos empresários para aumentar a produção.

Da mesma maneira que na procura, os economistas mantêm todos esses fatores constantes, exceto um, e conseguem, assim, isolar os efeitos de cada uma das variáveis que afetam a oferta.

A Curva da Oferta. A curva da oferta mostra a quantidade de um bem ou serviço que será oferecido no mercado, a cada nível de preço, durante um período determinado. Devemos ressaltar que somente o preço do bem em questão varia, mantendo-se constantes todos os outros fatores que possam afetar a oferta do bem.

A curva da oferta de um bem de uma economia é a soma das curvas de oferta de todos os empresários (produtores) da comunidade.

A tabela 2.3 relaciona as quantidades ofertadas pelos produtores M e N a cada nível de preço. Prosseguindo, se relacionarmos as quantidades ofertadas por todos os empresários e as somarmos, obteremos a curva da oferta da comunidade.

Os empresários, baseados nos preços alternativos e em suas estruturas de custo, oferecem várias quantidades no mercado e a soma das ofertas de todos está relacionada na tabela 2.4. Baseados na mesma, as quantidades ofertadas podem ser descritas graficamente, como no gráfico 2.3.


Podemos ver que, ao preço de 5, a quantidade ofertada será de 60.000 1.midades e, ao prego de 3, a quantidade ofertada reduz-se para 20.000, já que alguns produtores, cuja estrutura de custos de produção seja mais elevada, serão obrigados a abandonar a produção de A, por não obterem os lucros necessários para mantê-los no negócio.

O mecanismo acima descrito representa um movimento ao longo da curva de oferta, num raciocínio análogo ao da curva da procura, e causa aumentos ou quedas nas quantidades ofertadas. Se, no entanto, algum outro fator, que não o preço de A, variar, ocorrerão deslocamentos da curva, que representam aumentos ou quedas na oferta.

O gráfico 2.4 ilustra caso de uma inovação tecnológica introduzida na produção de A. Como conseqüência, houve uma queda nos custos de produção.



Vemos que, com a redução nos custos, os produtores, aos mesmos preços que anteriormente, oferecem, agora, quantidades maiores no mercado. Ao passo que a curva 00 nos indica que somente com um preço de mercado superior a 2 unidades monetárias os produtores ofereceriam A no mercado, a curva 0'0' mostra-nos que, agora, a qualquer preço superior a 0,5 unidades monetárias, haverá produção ofertada.


O PREÇO DE EQUILÍBRIO

No gráfico 2.5, curvas de oferta (00) e procura (DD) pelo bem A estão superpostas. Podemos, agora, verificar que só há um preço que iguala a quantidade ofertada à procurada.

Ao preço de 3, por exemplo, a quantidade ofertada será de 20.000 unidades, ao passo que a quantidade demandada será de 80.000 unidades. Como a procura é maior do que a oferta, o preço de mercado tenderá a subir, conforme vimos no exemplo inicial do capítulo, e ele oscilará até que atinja o nível de 5 unidades monetárias quando as quantidades ofertada e procurada igualarão a 60.000 unidades.

Ao preço de 5, tanto os produtores quanto os consumidores poderão satisfazer a seus desejos no mercado e estabelecer-se-á o equilíbrio.



Tanto os consumidores quanto os produtores poderão realizar seus planos de compra e venda, respetivamente, e não terão qualquer incentivo para alterarem suas condutas no próximo período. O gráfico 2.5 também ilustra o efeito no preço de equilíbrio de um deslocamento na curva de procura (de DD para D'D'), que passou a ser de 5,4 unidades monetárias, com as quantidades ofertadas e procuradas iguais a 66.000 unidades do produto. Deixaremos para o leitor responder se foi este o caso que ocorreu com o mercado de laranjas, no exemplo dado no início do O SISTEMA DE PREÇOS COMO MECANISMO DECISÓRIO Se a economia que vimos descrevendo só produzisse dois bens A e B, e as curvas de oferta e procura pelo bem A fossem representadas pelas retas OO e DD, ela estaria estacionada no ponto P de sua curva de possibilidade de produção, como podemos constatar comparando os gráficos 2.5 e 2.6. Estariam sendo produzidas 60.000 unidades de A ao preço de 5 unidades monetárias e sendo demandada a mesma quantidade, bem como, aproximadamente, 135.000 unidades do bem B (as curvas da oferta e procura pelo bem B não foram aqui representadas. Supomos, no entanto, que a quantidade de equilíbrio no mercado de B seja de 135.000 unidades).


Havendo o deslocamento da curva de procura pelo bem A para D'D', digamos, em decorrência de uma modificação na preferência da comunidade favorecendo o bem A, o mercado, agindo como mecanismo decisório, desloca o ponto P para a direita, ao longo da curva de transformação. Em decorrência da maior procura por A, o preço subirá para o novo preço de equilíbrio, igual a 5,4 unidades monetárias. A este novo preço, mais elevado que o preço anterior, os produtores passarão a alocar uma maior quantidade de fatores na produção de A e uma quantidade menor na produção de B. No novo ponto P', a economia estará produzindo 66.000 unidades de A e 127.000 unidades de B, satisfazendo, assim, ao aumento da procura dos consumidores de A. Podemos perceber, então, que os consumidores, agindo no mercado, elevaram o preço de A e, assim, sinalizaram aos produtores, através do preço mais alto, os quais responderam ao sinal, oferecendo uma quantidade maior de A no mercado.


3. As Reações do Mercado


Vimos, nos capítulos anteriores, que é através da Lei da Oferta e da Procura que decisões são tomadas no sistema capitalista. A oferta e a procura, agindo livremente no mercado, estabelecerão preços que orientarão os agentes econômicos em suas decisões.

Neste capítulo, abordaremos aspectos relacionados às reações do mercado, face a modificações nas estruturas da oferta e da procura.



Devemos notar que, embora bens complementares sofram efeitos de interdependência, os aumentos ou quedas em suas procuras não são necessariamente iguais ou proporcionais. Por exemplo, um aumento na procura por café em 10 kg não implica em um aumento de 10 kg por açúcar; da mesma forma, um aumento em 10% na procura por automóveis pode não implicar em um aumento em 10% na procura por gasolina, visto que os novos automóveis poderiam não ser usados com a mesma intensidade que os existentes antes do aumento da demanda.

Notamos também que as condições de oferta dos bens complementares não são necessariamente semelhantes, como podemos observar comparando, nos gráficos 3.1 e 3.2, as curvas Ob0b e ObOb.

Em decorrência de todas essas diversidades, o ajustamento do mercado poderá ser dessemelhante para os dois produtos complementares. Notamos nos gráficos acima que o mercado do bem A determinou um aumento no preço de A de OPI para OP2, aumento este maior que o do bem B, que foi de OP'I para OP'2. Quanto às novas quantidades transacionadas, houve um aumento maior no bem B de Oq₁ para Oq₂ do que no bem A de Oq₁ para Oq₂.

Demanda Competitiva. Alguns produtos competem intensamente uns com os outros. Seria o caso de manteiga e margarina, leite fresco e leite em pó, ir ao Teatro X ou ao Teatro Y etc. Em certo sentido, todos os bens produzidos numa comunidade competem com todos os outros, já que, sendo o poder aquisitivo dos consumidores limitado, a opção por um produto qualquer implica a redução do consumo de algum outro. No entanto, certos produtos concorrem de maneira tão direta que são chamados de bens competitivos ou substitutos.

Nos gráficos 3.3 e 3.4, temos o caso de dois produtos M e N, que são competitivos ou substitutos. Um aumento na procura pelo bem M implica em uma queda na procura pelo bem N.



Notamos que, antes das modificações na procura pelos bens M e N, a curva da procura no mercado do bem M era Dm, a oferta Om e, ao preço de OPI, era transacionada a quantidade O'q1. Com o aumento na procura de Dm para D'm o preço subiu para OP2 e a quantidade transacionada para O'q2. No mercado do bem N, devido à substitubilidade entre N e M, houve, em decorrência do aumento na procura de M, uma queda na procura de N de Dn para D'n e, em conseqüência, o preço caiu de O'P'1 para O'P'2 e as quantidades transacionadas caíram de Oq'1 para Oq'2.

Oferta complementar. Em certos casos, para que se possa aumentar a quantidade ofertada de um bem, é necessário que haja um aumento correspondente na oferta de outro. Tal seria o caso, por exemplo, nos mercados de ovos e de carne de galinha, leite e carne de vaca, gasolina e gás etc. Poder-se-ia argumentar, no entanto, que seria possível aumentar a quantidade ofertada de leite, sem um aumento proporcional na oferta de carne, simplesmente aumentando-se a produtividade leiteira do rebanho existente. Todavia, embora os aumentos possam não ser proporcionais, haverá sempre aumentos correspondentes nos dois mercados. Suponhamos que haja um aumento na procura por leite. Tal fato acarretará um aumento no preço, que incentivará os produtores a aumentarem a quantidade ofertada do produto. No gráfico 3.5, que exemplifica este caso, um aumento na procura de DLDL para.D'LD'L, fez com que o novo preço de equilíbrio aumentasse de OP1 para OP2 e as quantidades transacionadas aumentassem de Oq1 para Oq2.



Devemos notar que não houve um aumento na oferta de leite, mas sim um aumento na quantidade ofertada do produto, em decorrência de um deslocamento na curva de procura para a direita. Em decorrência da necessidade de um maior número de vacas para que a produção de leite pudesse aumentar de Oq1 para Oq2, houve um aumento na oferta de carne bovina (gráfico 3.6) de OcOe para O'eO'c. Como resultado, o preço da carne caiu de O'P'1 para O'P'2 e, em decorrência da queda do preço, as quantidades transacionadas aumentaram de O'q'1 para O'q'2.

Oferta Competitiva. No exemplo acima, um aumento na procura por leite acarretou também um aumento na oferta da carne. No entanto, a produção de leite é competitiva com relação à produção de milho, por exemplo. Num sentido mais amplo, poderíamos afirmar que todos os produtos são competitivos uns com os outros, devido ao fato de que todos utilizam fatores de produção escassos e, portanto, o aumento na produção de um bem acarretará, necessariamente, a queda na produção de outro (custo de oportunidade). Assim sendo, o aumento no número de animais para a produção de mais leite concorre com a produção de milho, visto que áreas antes cultivadas serão, agora, transformadas em pastagens. Dessa forma, um aumento na quantidade ofertada de leite implicará em uma redução da oferta de milho. Deixaremos a cargo do leitor a montagem da ilustração gráfica deste exemplo.


A ELASTICIDADE


Já vimos como as curvas da oferta e da procura determinam, simultaneamente, o equilíbrio no mercado de um bem. Chamamos, agora, a atenção do leitor para a importância das inclinações das curvas da oferta e da procura. Inicialmente, poderíamos dizer, de forma pouco rigorosa, que, quanto maior a inclinação de uma curva de oferta, maior será o aumento no preço necessário para fazer com que os produtores aumentem sua produção em uma unidade ou vice-versa. Por exemplo, no gráfico 3.7, utilizaremos as duas curvas de oferta TT1 e TT2; podemos constatar, visualmente, que a inclinação da curva de oferta TT2 é maior que a curva TT1. Para que haja um aumento na quantidade ofertada de Oq1 para Oq2, podemos verificar que, no caso da curva menos inclinada TT1, o preço teria de aumentar de OP1 para OP2, ao passo que, no caso da curva mais inclinada TT2, o preço teria de subir de OP3 para OP4. Constatamos, assim, que, no caso da curva mais inclinada TT2, o aumento no preço P3P4 teve de ser duas vezes o aumento P1P2 no caso da curva menos inclinada TT1. A explicação econômica para tal caso poderia ser a maior dificuldade encontrada pelos produtores em transferir recursos da produção de outros bens para a produção em questão, o que os faria incorrer em custos mais elevados de produção. Seria o caso em que os produtores localizados em TT2 tivessem de oferecer salários mais altos para conseguir mão-de-obra para aumentar a produção de Oq1 para Oq2 do que os produtores localizados em TT1. Isso ocorreria se os produtores em TT2 vivessem numa área de escassez de mão-de-obra, ao passo que os produtores em TT1 tivessem uma disponibilidade de trabalho mais abundante.

Outro exemplo seria o caso em que os produtores TT2 tivessem de se utilizar de fatores de produção cuja produtividade fosse mais baixa que os dos produtores TT1, como a produção de banana nos Estados Unidos e no Equador, respectivamente.

Quanto à inclinação da curva da procura, podemos dizer que, quanto mais inclinada ela for, menor será a queda no preço necessária para que a quantidade demandada aumente em 1 unidade ou vice-versa.

No gráfico 3.7, ilustramos tal fenômeno medindo as quedas nos preços necessários para que a quantidade demandada aumente de Oq1 para Oq2, utilizando as curvas da procura PP1 (menos inclinada) e PP2 (mais inclinada). Notamos que, no caso da curva PP1, o preço terá de cair de OP5 para OP7 e, no caso da curva PP2, o preço caiu de OP6 para OP8. Podemos constatar que, no caso da curva mais inclinada (PP2), a queda no preço teve de ser duas vezes a queda no caso da curva menos inclinada (PP1). O fato de que a curva mais inclinada (PP2) seja menos sensível a variações no preço poderia ser explicado, por exemplo, por julgarem os consumidores o bem em questão mais limitado em sua utilidade, de forma que somente uma queda considerável no seu preço faria aumentar-lhe o consumo. Um exemplo concreto seria o consumidor de ar refrigerado no Canadá, face a um consumidor em uma ilha tropical.

A inclinação das curvas de oferta e de procura também influi nos preços e quantidades de equilíbrio num mercado.

Notamos que, dada uma curva de oferta, digamos, TT1 no gráfico 3.7, quanto mais inclinada for a curva da procura, menor será a quantidade transacionada e mais baixo, também, o preço de equilíbrio e vice-versa. Por exemplo, a interseção das curvas TT1 e PP1 no ponto B indica uma certa quantidade transacionada e um certo preço de equilíbrio (não traçados no gráfico). Se deslocarmos a curva PP1 para baixo, centrada no eixo P, deslocaremos o ponto B em direção ao ponto A, ao longo de TT1. Assim fazendo, vemos que, quanto mais inclinada a curva de procura, menor o preço e menor a quantidade. De maneira similar, dada uma curva de procura, digamos, PP1, quanto mais inclinada a curva da oferta, menor a quantidade transacionada e mais alto o preço e vice-versa. Constatamos isto, deslocando a curva TT1 para cima, centrada no eixo T, e deslocando o ponto de equilíbrio B em direção ao ponto C, ao longo de PP1.

A inclinação das curvas de oferta e procura também afeta a determinação de equilíbrio no caso de deslocamentos das mesmas.

Partamos do ponto de equilíbrio A, entre as curvas TT1 e PP2. Se deslocarmos a curva de procura PP2 para P'P'2, o novo ponto de equilíbrio será o ponto D.



Se, no entanto, a curva da oferta fosse mais inclinada, digamos, TT2, o novo ponto de equilíbrio seria o ponto E. Podemos constatar que, no ponto E, o preço de equilíbrio é mais alto do que em D e a quantidade transacionada é menor. Concluímos, então, que, dado um deslocamento da curva da procura, quanto mais inclinada for a curva da oferta, menor será o aumento na quantidade transacionada e mais alto será o novo preço de equilíbrio e vice-versa.

Tal caso ocorreria, por exemplo, se aumentasse a procura por abacaxis e, dependendo da época deste deslocamento, a inclinação da curva de oferta seria diferente. Durante a safra, os produtores podem aumentar a oferta num dado mercado sem ser preciso um aumento muito grande nos preços. Tal não seria o caso durante a entressafra, quando, possivelmente, um aumento na quantidade ofertada só seria possível importando-se abacaxis de outras áreas produtoras que estivessem no período de safra.

Poderíamos supor, agora, um aumento na oferta de T'T'2 para TT2, sendo a curva da procura a reta P'P'1. O ponto de equilíbrio inicial era F e, depois do deslocamento da oferta, passou a ser G. Notamos que o preço caiu e a quantidade transacionada aumentou. No entanto, se a curva da procura fosse mais inclinada, digamos, P'P's, o preço teria caído mais e a quantidade teria aumentado menos, como podemos constatar comparando os pontos G e H. Seria o caso se comparássemos os efeitos de um deslocamento na oferta de roupas de lã, em virtude de um novo processo tecnológico que reduziu seus custos de produção, primeiramente no inverno e depois no verão. Durante o inverno, devemos esperar uma maior sensibilidade dos consumidores a um aumento na oferta, o que seria refletido numa curva de procura menos inclinada (P'P'1). Durante o verão, no entanto, quando roupas quentes não são necessárias, a curva da procura se torna mais inclinada (P'P's) e, mesmo com uma queda de preço maior, a quantidade adicional transacionada foi menor do que durante o inverno.

Deixaremos ao leitor a tarefa de prosseguir nesta linha de raciocínio, formulando hipóteses quanto às possíveis curvas de oferta e procura, até que fique patente a importância das inclinações das curvas na maneira como o mercado reage às variações em seus componentes. Desta importância nasceu a necessidade de medirmos as inclinações das curvas de oferta e procura e tentarmos quantificar a sensibilidade das mesmas a variações no preço. A isto chamamos elasticidade-preço.


Deixaremos ao leitor os cálculos da elasticidade-preço da oferta, entre os pontos FG em OO, HI e JK em O'0'.

Observamos, portanto, que, quanto maior a inclinação da curva no intervalo em questão, menor será sua elasticidade e, quanto menos inclinada, mais elástica ela será.

Notamos no gráfico 3.9 que a curva PP1 é perfeitamente elástica, ao passo que a QQ1 é perfeitamente inelástica. Notamos, também, que as elasticidades variam ao longo das curvas, exceto alguns casos especiais que ignoraremos aqui. (O conceito de elasticidade não é equivalente ao de inclinação. Enquanto declividade ou inclinação se refere a toda curva (no caso de uma reta), o conceito de elasticidade refere-se a um ponto ou, de uma forma aproximada, a um segmento. O leitor não deve referir-se, de agora em diante, a elasticidade como inclinação ou declividade).



FATORES QUE INFLUENCIAM A ELASTICIDADE-PREÇO DA PROCURA


Podemos investigar algumas das causas mais importantes das diferentes elasticidades das curvas da procura.

a) Possibilidade de substituição: quanto maior o número de produtos similares que poderão substituir o bem em questão, maior será a elasticidade da curva de procura do mesmo. Não havendo substitutos, a curva da procura tende a ser mais inelástica, como seria o caso do sal. Mas um aumento no preço da manteiga poderia causar substituição desta pela margarina.

b) O grau de essencialidade: um produto essencial, como, por exemplo, um remédio, tende a ser mais inelástico, principalmente se não houver substitutos para o mesmo. Se existem bons substitutos, mesmo sendo essencial, a curva da procura tenderá a ter mais elasticidade.

c) A importância relativa do bem no gasto total do consumidor: quanto menor for o custo do bem a ser adquirido na despesa do consumidor, mais inelástica sua curva de procura. Por exemplo, compare as elasticidades da curva de procura de fósforo e de uísque importado.

d) O tempo, cronologicamente falando: a curto prazo, uma mudança no preço de um bem pode não afetar de maneira sensível a quantidade demandada. Com o passar do tempo, no entanto, substitutos serão encontrados ou formar-se-ão novos hábitos de consumo, de modo que a curva da procura tenderá a tornar-se mais elástica.


FATORES QUE INFLUENCIAM A ELASTICIDADE-PREÇO DA OFERTA


Basicamente, são fatores técnicos que condicionam a elasticidade-preço da curva de oferta. Muitas vezes, por razões de disponibilidade de fatores, transportes ou mesmo conhecimento do mercado, a curva da oferta é insensível a variações nos preços e, assim, não reage prontamente a estímulos do mercado. Tal inelasticidade da oferta é, geralmente, mais grave em países subdesenvolvidos, onde imperfeições no mercado e condições técnicas precárias impedem um ajustamento mais imediato da oferta a modificações nos preços. O tempo, no entanto, tende a tornar a curva da oferta mais elástica, visto que, mais a longo prazo, vão-se criando condições para que ela reaja.


ELASTICIDADE-RENDA DA PROCURA


Já vimos como o nível da renda afeta a curva da procura, deslocando-a para a direita ou para a esquerda. Podemos, então, definir elasticidade-renda da procura como


O gráfico 3.10 ilustra um caso em que a renda aumentou, digamos, em 10%, causando o deslocamento da curva da procura de PP para P'P'. Consequentemente, ao preço de mercado (OB), notamos que um aumento de 10% na renda causou um aumento de 40% na quantidade demandada. Em consequência,

Alguns bens sofrem quedas em sua procura, em decorrência de um aumento na renda. Neste caso, o numerador da fórmula da elasticidade terá sinal negativo e, portanto, o valor da elasticidade também terá sinal negativo. Quando tal acontece, dizemos que o bem é inferior.


A ELASTICIDADE-PREÇO DA PROCURA E A RECEITA TOTAL


A importância do conceito de elasticidade-preço da procura para o empresário prende-se ao fato de que uma variação no preço acarretará uma variação na receita (preço multiplicado pela quantidade). Por exemplo, no gráfico a seguir, a receita total pelo bem X é igual à quantidade OA multiplicada pelo preço OB.



A receita é igual à área OACB.

Se o preço cair para D, a quantidade demandada aumentará para OE e a receita total será igual à área sombreada OEFD; no caso concreto acima, é, evidentemente, menor do que OACB (ou a área GFEA é menor do que a área BCGD). O que ocorreu neste caso é que a procura é inelástica e, então, uma queda no preço acarretou uma queda na receita total. Tal fenômeno é explicável pelo fato de que, sendo a curva inelástica, a razão

Assim, o numerador terá de ser menor que o denominador. Como a quantidade reage em direção inversa à do preço na curva da procura, o aumento na quantidade vendida foi menor que a queda no preço, em termos percentuais, causando, assim, uma queda na receita.

Concluímos que, no caso de uma curva de procura inelástica, o produtor não deve reduzir seus preços, sob pena de sofrer uma queda em sua receita.

Pedimos ao leitor que exercite sua compreensão deste problema, justificando os itens da tabela a seguir.


4. A Estrutura do Mercado
I

Vimos, nos capítulos anteriores, como o mercado reage a variações na estrutura da oferta e da procura. Tais variações se dão quando os agentes econômicos desejam alcançar algum objetivo e, através do mecanismo de preços e do mercado, colocam toda a engrenagem econômica em funcionamento, fazendo com que a economia se ajuste aos novos desejos dos agentes. Estes, por sua vez, também ajustam seu comportamento às novas condições decorrentes da movimentação da engrenagem econômica, até que, por ajustes sucessivos, o mercado chega a um novo ponto de equilíbrio.

O problema econômico de uma comunidade é fazer com que seus recursos escassos sejam totalmente aproveitados, maximizando, consequentemente, o montante de bens e serviços disponíveis a seus membros. Pelo mecanismo do mercado, os indivíduos, agindo conforme seus interesses pessoais, conseguem maximizar a produção nacional, ou seja, atingir o ponto de pleno emprego dos fatores de produção.

Tal mecanismo, dispensando a necessidade de um sistema centralizado de tomada de decisão, chamado por Adam Smith de "a mão invisível", atinge também outros objetivos importantes, ou seja, fazer com que a utilização dos fatores de produção seja realizada de maneira racional e também com que a produção total da comunidade seja satisfatoriamente distribuída entre seus membros.

É com relação a esses objetivos que estudaremos a estrutura do mercado e também a "racionalidade" da ação de seus componentes, consumidores e produtores, e como esses fatores poderão influenciar, direta ou indiretamente, a realização de tais objetivos.


TIPOS DE MERCADO


Um mercado é composto por vendedores e compradores de um produto. Assim, a Bolsa de Valores, feiras livres e livrarias são exemplos de mercados de ações, produtos alimentares e livros, respectivamente.

Observemos, no entanto, que o relacionamento entre compradores e vendedores pode seguir padrões diferentes, dependendo do mercado. O mercado de produtos alimentícios, por exemplo, é caracterizado pela existência de um grande número de vendedores e compradores, onde o preço é determinado pelo jogo da oferta e da procura. Assim, os preços são fixados por todos simultaneamente, numa tentativa de cada um satisfazer seus próprios interesses.

Poderíamos contrastar essa situação com um mercado onde o preço é fixado unilateralmente por um único vendedor, como seria o caso dos serviços telefônicos fornecidos apenas pelo governo. Aqui, o preço não é uma tentativa de escoar a produção, mas sim uma determinação de um agente que tem poder para tal.

Com base nessas diferenças, classificamos o mercado em três tipos mais importantes:

1. Competição Perfeita: Este é um modelo idealizado que serve como referência para grande parte da teoria microeconômica. Na competição perfeita, o poder de exploração no sistema econômico é limitado pela concorrência entre os agentes econômicos na busca pelo lucro, levando a uma situação de pleno emprego. A concorrência incentiva a entrada de novos concorrentes em setores com lucros elevados, o que eventualmente reduz os preços até um nível "normal", onde não há mais incentivo para novas entradas.

2. Monopólio: Neste tipo de mercado, não há concorrência entre os vendedores, pois existe apenas um fornecedor do produto. O monopolista tem controle absoluto sobre o preço e geralmente estabelece preços que maximizam seus lucros, explorando a falta de alternativas para os consumidores.

3. SITUAÇÕES INTERMEDIÁRIAS: Entre os extremos da competição perfeita e do monopólio, existem situações intermediárias que refletem mais precisamente o que ocorre no mundo real. Exemplos incluem a competição monopolística, onde produtos são diferenciados e há poucos concorrentes, e o oligopólio, onde poucas empresas dominam o mercado.


A ESTRUTURA DA PROCURA


Após estudarmos as reações do mercado a variações na oferta e na procura, vamos descrever o padrão de comportamento do consumidor e, no próximo capítulo, o do produtor. A procura por uma mercadoria depende de diversos fatores, como preço e nível de renda. A Teoria do Consumidor parte desses dados econômicos para analisar como o consumidor distribui seu poder de compra entre os bens disponíveis, levando em consideração as restrições orçamentárias e as preferências individuais.


Os fenômenos que estão além do escopo da Economia são representados pelas curvas de indiferença. Vamos exemplificar este conceito supondo a existência de uma economia simplificada que produz apenas dois bens, A e B, e tentaremos determinar como um consumidor, com uma certa renda, distribuirá seus gastos entre os dois bens, de modo a maximizar sua satisfação. Eliminando, por enquanto, as limitações impostas pelo poder aquisitivo do consumidor, podemos determinar, supondo uma renda inicial hipotética, quais são as possíveis combinações de A e B que dariam ao consumidor o mesmo grau de utilidade ou satisfação. Em outras palavras, quais são as possíveis combinações de A e B que deixariam o consumidor indiferente entre elas.

Partindo de uma possível combinação inicial dada ao consumidor de 40 unidades de A e 40 unidades de B, podemos perguntar quantas unidades de B seriam necessárias para compensar um decréscimo de 10 unidades de A, de modo que sua satisfação total permaneça a mesma. A resposta poderia ser: 8 unidades de B. Assim, uma combinação de 40 de A e 40 de B proporcionaria ao consumidor a mesma satisfação que 30 de A e 48 de B. Repetindo este tipo de pergunta (se adicionarmos ou diminuirmos X unidades de A, quantas unidades de B serão necessárias para compensar o ganho ou a perda, de forma que a utilidade total permaneça a mesma?), poderíamos montar uma tabela como a que se encontra a seguir, que é representada no gráfico 4.1, chamada curva de indiferença I¹.



Examinemos agora a combinação de A e B representada pelo ponto P no gráfico 4.1. Embora não seja possível quantificar o nível de utilidade auferida pelo indivíduo no ponto P, é possível, no entanto, inferir que é maior do que no ponto M. Como a utilidade no ponto M é a mesma que em qualquer outro ponto da curva I¹, inferimos que o ponto P é superior a qualquer ponto na curva I¹. Sabemos que o ponto P é superior a M, baseados no princípio da insaciabilidade do consumidor, ou seja, o consumidor jamais se sentirá totalmente satisfeito com uma combinação de bens e, toda vez que a ela for adicionado algum bem, a satisfação total será maior. Por exemplo, no ponto M, o consumidor tem uma dada satisfação auferida pelo consumo da combinação de 40 unidades de A e 40 unidades de B. No ponto P, sua combinação será acrescida de 20 unidades de B, sem que haja um declínio na quantidade de A. Concluímos, portanto, que sua satisfação será maior em P do que em M.

Pelo mesmo raciocínio com o qual montamos a curva I¹, poderíamos montar uma curva I², passando pelo ponto P, e infinitas outras curvas de indiferença, formando, então, um mapa de indiferença.

Devemos notar que duas curvas de indiferença não podem se cruzar, pois teríamos, então, violado o princípio da insaciabilidade, além de termos que admitir inconsistências nas preferências do consumidor. No gráfico 4.2, ilustramos este fato.


Pelas razões expostas acima, o ponto N deve ser superior ao ponto R. No entanto, o ponto Q encontra-se na mesma curva que R, o que implica que a utilidade no ponto R é igual à do ponto Q. Igualmente, o ponto Q encontra-se na mesma curva que N e, consequentemente, a utilidade no ponto Q é igual à do ponto N. Como duas variáveis iguais a uma terceira são iguais entre si, concluímos que as utilidades em R e em N são iguais, o que provamos não ser verdadeiro.

Devemos notar, também, que as curvas de indiferença são convexas com relação à origem. Tal fato se explica pelo princípio da Utilidade Marginal Decrescente. Tal princípio nos diz que, quanto maior for a quantidade consumida de um bem por um indivíduo, menor será a utilidade da última unidade consumida. Por exemplo, a utilidade do primeiro copo de água é, sem dúvida, maior que a do segundo, e a do segundo é maior que a do terceiro, e assim por diante. Inversamente, quanto menor for a quantidade consumida de um bem, maior será a utilidade da última unidade consumida.

No gráfico 4.3, mostramos como a lei da utilidade marginal decrescente explica a convexidade das curvas de indiferença. No ponto C, uma unidade de A será trocada por 0,4 de unidade de B, suficientes para manter o nível de utilidade constante. No ponto D, a combinação consiste em uma quantidade de A menor e de B maior que no ponto C, e uma unidade de A será trocada por 0,5 de unidade de B. No ponto E, será trocada por 1,5 de unidade de B. Isto é explicável pelo fato de que, partindo-se do ponto C em direção ao ponto E, as quantidades de A tornam-se menores, o que aumenta a utilidade da última unidade de A. Consequentemente, maiores quantidades de B são necessárias para compensar a perda de utilidade causada pelo decréscimo de A e manter o indivíduo em um mesmo nível de satisfação.


Vamos introduzir, agora, a variável econômica que, juntamente com as curvas de indiferença, ilustrará o comportamento do consumidor.

Além da preferência (curvas de indiferença), o consumidor será condicionado por seu poder aquisitivo. Dados os preços dos bens A e B, a renda do consumidor e suas preferências, poderemos determinar como ele alocará seus recursos entre as duas mercadorias disponíveis, de modo a maximizar sua utilidade.

Suponhamos que um indivíduo tenha uma renda igual a 1.000 cruzeiros mensais e que o preço do bem A seja 25 cruzeiros e o preço do bem B seja 20 cruzeiros. Com estes dados, poderemos traçar a sua linha de orçamento, ou seja, a reta cujos pontos representem combinações acessíveis ao consumidor, dado seu orçamento.

O gráfico 4.4 representa a linha de orçamento desse indivíduo.

Caso toda a sua renda fosse gasta na compra do bem A, ele poderia adquirir 40 unidades; caso fosse gasta em B, poderia adquirir 50 unidades; os outros pontos da linha de orçamento representam todas as combinações de A e B possíveis. A combinação que maximizará sua satisfação será aquela que, além de ser um ponto na linha de orçamento, também é um ponto na curva de indiferença mais alta possível, ou seja, o ponto P no gráfico 4.4, que representa um consumo de 25 unidades de A e 20 unidades de B. Esta combinação é acessível ao consumidor, já que as quantidades multiplicadas por seus preços somam 1.000 cruzeiros, que é a renda do consumidor, e é também o ponto localizado na curva de indiferença mais alta possível, ou seja, a que representa o nível de utilidade mais alto possível.

Qualquer ponto que não seja P em I3, ou qualquer ponto em qualquer curva de indiferença mais alta que I3, não é acessível ao consumidor, pois representa combinações cujo custo é mais alto do que o poder aquisitivo do consumidor.

Qualquer ponto na linha de orçamento representa uma combinação possível, mas somente P é o ponto que maximiza a utilidade total. Por exemplo, o ponto E é um ponto acessível ao consumidor; no entanto, está localizado na curva de indiferença I2, que é inferior à I3.

No ponto E, o consumidor será indiferente entre uma unidade de B e 0,2 de unidade de A. Como uma unidade de B custa 20 cruzeiros e 0,2 de unidade de A custa 5 cruzeiros, o consumidor certamente se deslocaria do ponto E. Não comprando uma unidade de B, ele libera 20 cruzeiros e compra 0,2 de unidade de A para compensar a perda de uma unidade de B. Como 0,2 de A custa 5 cruzeiros, ainda sobram 15 dos 20 cruzeiros liberados inicialmente, com os quais o consumidor pode adquirir mais 0,6 de unidade de A. Como ele só necessitava de 0,2 de A para compensá-lo por 1 unidade a menos de B, e como o dinheiro liberado foi suficiente para comprar 0,8 de unidade de A, o consumidor se deslocou para o ponto F, que representa um nível de utilidade mais alto que em I2.

Prosseguindo o mesmo raciocínio, o consumidor se deslocará até o ponto P, onde sua utilidade será maximizada.

Um aumento de renda (um deslocamento da linha de orçamento para a direita) possibilitará ao consumidor atingir níveis de satisfação mais altos. No gráfico 4.4, o consumidor poderia atingir o ponto M, localizado numa curva de indiferença superior a I3.

Outra variação econômica, além do nível de renda, também pode ocorrer, modificando o comportamento do consumidor: são os preços. Vamos supor que o orçamento do consumidor se mantenha constante ao nível de 1.000 cruzeiros, que o preço de A continue sendo 25 cruzeiros, mas que o preço de B caia para 14,30 cruzeiros. Assim sendo, a linha de preços anterior se desloca, como vemos no gráfico 4.5.


Do bem A, ao preço de 25, o consumidor poderá adquirir um total de 40 unidades nas duas situações, pois seu preço não variou. Quanto ao bem B, notamos que antes, ao preço de 20, era possível adquirir 50 unidades, mas, agora que o preço caiu para 14,30, é possível adquirir 70 unidades, aproximadamente. Relacionando os novos preços com as curvas de indiferença do consumidor, notamos que aconteceu o que seria de esperar, ou seja, um acréscimo no consumo de B, em vista da queda de seu preço.

Tendo sido explicado, da maneira acima, o comportamento do consumidor, faremos agora uma pequena modificação para podermos, do acima exposto, montar a curva da procura para um consumidor. Em vez de considerarmos dois bens, A e B, consideraremos somente um deles, o bem B. Os demais bens serão todos englobados no que, no eixo vertical do gráfico 4.6, chamaremos reserva orçamentária, ou seja, o dinheiro que será reservado para a compra de bens que não sejam o B, representado no eixo horizontal.

Suponhamos que o orçamento total do consumidor seja de 1.000 cruzeiros, e que o preço de B seja 20 cruzeiros por unidade. A linha de orçamento mostra que, se todo o orçamento do consumidor for gasto em B, ele poderá adquirir 50 unidades e que, se os consumidores preferirem não comprar B, seu orçamento total será reservado para a compra dos outros bens. Qualquer outro ponto na linha de orçamento indica a combinação de B e do montante reservado para outros bens possíveis ao consumidor. Vemos, então, que, no ponto P, o consumidor adquirirá 15 unidades de B e reservará 700 cruzeiros para a compra de outros bens.

Notamos que o eixo vertical também indica o total gasto com a compra de B, que é a diferença entre o orçamento total (1.000 cruzeiros) e o montante reservado para a compra de outros bens (700 cruzeiros), ou seja, 300 cruzeiros (15 unidades de B, ao preço unitário de 20 cruzeiros).

Como a curva da procura relaciona as quantidades demandadas a cada nível de preços, o que temos a fazer é variar os preços de B, deslocando a linha de orçamento e determinando, juntamente com as curvas de indiferença, as quantidades de B demandadas.

Podemos, então, montar a tabela de procura pelo bem B. Sabemos que, ao preço de 20 cruzeiros, serão demandadas 25 unidades de B (ponto N). Se o preço de B subisse para 25 cruzeiros (se o orçamento total fosse gasto em B, seria suficiente para adquirir 40 unidades), o consumidor iria adquirir 17,5 unidades de B (ponto R). Finalmente, o exemplo nos mostra que, ao preço de 14,80 cruzeiros (se o orçamento total fosse gasto em B, seria suficiente para adquirir, aproximadamente, 67,5 unidades), o consumidor iria adquirir 35 unidades de B (ponto Q).


Se repetirmos o mecanismo para outros níveis de preços, poderemos montar a tabela completa e, depois, traçar a curva da procura. Vimos, então, qual a lógica do consumidor e como podemos montar a curva da procura, que é elemento essencial no mecanismo do mercado.


5. A Estrutura do Mercado

II


A ESTRUTURA DA OFERTA

Vejamos, agora, como são tomadas as decisões ao nível do produtor ou da firma. Antes de tentarmos determinar a quantidade que uma firma produzirá, dados vários níveis de preços de mercado, tentaremos explicar como o produtor minimizará seus custos de produção unitários. Vamos supor que uma firma que produza um bem X utilize dois fatores de produção: capital e mão-de-obra. Suporemos que as especificações técnicas de fabricação do produto permitam uma substituição de um fator pelo outro, ou seja, existem várias proporções de capital e de mão-de-obra que possibilitam a fabricação do bem. Por exemplo, é possível fabricar cigarros utilizando pouco capital, ou então, por um processo altamente mecanizado, utilizando muitas máquinas e equipamentos e, relativamente, pouca mão-de-obra, ou seja, poucos operadores dos equipamentos. Poderíamos traçar uma curva, cujos pontos representassem combinações de capital e mão-de-obra, sendo que a produção de qualquer combinação se mantivesse constante. O gráfico 5.1 representa tais curvas, que chamamos de isoquantas.

A isoquanta representada indica todas as combinações de capital e de mão-de-obra, que, conjugados, produzem 50 unidades do bem X, num certo período. Por exemplo, o produtor poderia conseguir este nível de produção contratando 7 unidades de capital e 20 de homem/dia (ponto P) ou 3 unidades de capital e 60 de homem/dia (ponto Q) ou por qualquer outro ponto da isoquanta. Como a isoquanta representa possibilidades técnicas de produção, poderíamos ter um mapa de isoquantas, cada uma delas representando um nível de produção. No gráfico 5.1, representamos três das infinitas isoquantas possíveis, para os níveis de 50, 75 e 100 unidades do bem X a serem produzidas. Por um raciocínio semelhante ao utilizado no caso das curvas de indiferença, chegaríamos a mostrar que as curvas de isoquantas não se poderiam cruzar, tarefa que deixaremos a cargo do leitor. Quanto à convexidade das isoquantas com relação à origem, tal fato é explicado pela Lei dos Rendimentos Decrescentes. Esta lei demonstra-nos que, se mantivermos todos os fatores de produção constantes, exceto um, e se aumentarmos as quantidades do fator variável em incrementos iguais sucessivos, o aumento na produção total decorrente da aplicação de cada unidade adicional do fator variável será decrescente. Se, por exemplo, um trabalhador rural lavra uma área de terra suficiente para 2 trabalhadores, a adição de um segundo trabalhador aumentará a produção num certo montante. A adição de um terceiro, ainda que aumente a produção total, causará um aumento na produção inferior ao aumento trazido pela adição do segundo trabalhador; a adição de um quarto trabalhador causará um aumento inferior ao do terceiro, podendo-se imaginar um ponto onde a adição de mais um trabalhador chegue mesmo a diminuir o total produzido, em decorrência da falta de espaço físico para que eles trabalhem. Baseados neste princípio, podemos deduzir que, na maior parte dos casos, as isoquantas serão convexas com relação à origem. No exemplo acima, podemos notar que a relação Terra/Trabalho cai com a adição de mais trabalhadores, o que causa uma queda no aumento da produção causado por unidades adicionais de trabalho, em virtude de pressões cada vez maiores no fator constante. Tal fenômeno ocorre ao longo das isoquantas, onde, por exemplo, a relação capital/mão-de-obra cai constantemente, quando se desloca, verbi gratia, do ponto P para o ponto Q; assim, a pressão sobre o fator capital é exercida tanto por uma queda no montante de capital empregado quanto por um incremento na quantidade de mão-de-obra utilizada. Nota-se que o raciocínio não é um emprego direto da lei dos Rendimentos Decrescentes, pois esta lei pressupõe que um fator permaneça constante e não decrescente. No entanto, é um raciocínio induzido pela Lei dos Rendimentos Decrescentes. Sendo dadas as especificações técnicas da produção, representadas pelas isoquantas, restaria considerar os preços dos fatores de produção utilizados, ou seja, capital e mão-de-obra. Suponhamos que uma firma se defronte com as possibilidades técnicas (isoquantas) representadas no gráfico 5.2. Admitiremos agora que, para efetuar a produção, ela tenha um fundo de 200.000 unidades, monetárias e que o preço do capital seja 1.000 cruzeiros por unidade e o da mão-de-obra 50 cruzeiros. Qual será a combinação de fatores (capital e mão-de-obra) que permitirá a produção aos custos mais baixos possíveis, ou, com outra maneira de examinar o mesmo problema, qual a combinação de fatores que permitirá, dado o fundo de 200.000 unidades monetárias, produzir o maior número possível de unidades?


A relação de preço entre os fatores é representada pela reta chamada isocusto. Em qualquer ponto da reta, o dispêndio total nos fatores de produção será igual a 200.000 cruzeiros, pois esta é a disponibilidade da firma. Poderia esta utilizar a combinação representada pelo ponto Q e produzir 200 unidades. No entanto, com o mesmo custo de 200.000 cruzeiros, poderia deslocar-se para a combinação P e produzir 300 unidades, reduzindo, assim, seu custo unitário. O ponto de maior eficiência é o ponto P, onde um ponto do isocusto coincide com um ponto da isoquanta mais alta possível. Se a firma decidisse expandir suas atividades e incorporasse um fundo adicional para tal fim, a curva de isocusto se deslocaria para a direita, paralelamente ao isocusto inicial. Se, no entanto, ocorresse uma modificação nos preços relativos dos fatores, a inclinação da curva de isocusto modificar-se-ia. No gráfico 5.2, exemplificamos o caso de um aumento do preço da mão-de-obra para, aproximadamente, 61 cruzeiros, sem que o preço do capital se modificasse. Com o fundo de 200.000 cruzeiros, só é possível contratar 3.250 trabalhadores, se não fosse contratada nenhuma unidade de capital. Como resultado, o custo unitário subiu, pois, com o mesmo fundo, só é possível, agora, produzir 200 unidades do produto. Nota-se também que, em decorrência do aumento do preço da mão-de-obra, houve substituição de capital por mão-de-obra e a técnica de produção passou a utilizar relativamente menos mão-de-obra. Vimos, então, que o produtor selecionará a técnica de produção (proporção de fatores), cujo custo unitário de produção seja o mais baixo possível. Isto, no entanto, não é tudo o que o produtor terá de considerar. Deverá ele produzir 200, 300 ou 1.000 unidades de produto? Embora um aumento na produção possa representar um custo total maior (um deslocamento da linha de isocusto), dependendo das condições de procura, o nível mais alto da produção poderá aumentar o lucro do empresário. Introduziremos, agora, fatores de demanda, que, conjugados com os custos de produção, determinarão o nível de produção a vários níveis de preço, ou seja, a curva da oferta.

A OFERTA EM MERCADOS COMPETITIVOS Supondo-se que os preços dos fatores sejam constantes, para que a empresa no gráfico 5.2 atinja um nível de produção mais alto que o ponto P, ela terá de incorrer em custos de produção mais altos, contratando mais fatores de produção. No entanto, ela só tomará esta atitude se o aumento da produção incrementar os lucros da empresa. Logicamente, a maximização dos lucros não é o objetivo principal de todas as empresas modernas; no entanto, poderemos tomar este caso como representativo de boa parte das mesmas. Podemos dizer que, satisfeitos certos objetivos, não monetários, muitas vezes, as firmas tentam, então, ajustar sua produção de forma a maximizar seus lucros. Em outras palavras, o raciocínio que desdobramos abaixo poderá ser reduzido a uma condição de certa subordinação a outros objetivos. Num regime de competição perfeita, as firmas são sempre suficientemente pequenas e numerosas dentro de cada indústria, de tal forma que nenhuma delas, isoladamente, poderá afetar o preço do mercado. Dada uma certa curva de procura para uma indústria qualquer, modificações introduzidas na oferta, por parte de qualquer firma agindo individualmente, representarão somente deslocamentos infinitamente pequenos, já que sua participação na oferta total é muito reduzida (atomização). Concluímos daí que, para cada firma, individualmente, o preço de mercado já é previamente determinado, ou seja, a curva da procura é uma reta paralela ao eixo horizontal, onde a interseção com o eixo vertical determina o preço de mercado.


O gráfico 5.3 demonstra como o mercado, englobando todas as firmas na curva da oferta, determina o preço de equilíbrio Pe e como tal preço é dado às firmas individuais, transformando-se em suas curvas de procura. As firmas, individualmente, já conhecem seu preço de venda. Acima do preço Pe, havendo competição perfeita, elas não conseguirão escoar sua produção; da mesma forma, não venderiam abaixo do preço Pe, já que sabem que, ao preço de mercado (Pe), elas conseguirão vender toda a sua produção. Sabem também que, como a participação de cada uma delas na oferta total da indústria é extremamente pequena, qualquer que seja seu nível de produção, o preço de mercado não será afetado. Evidentemente, se todas as firmas que compõem a indústria aumentassem suas respectivas produções, a cada nível de preço, a curva da oferta total seria deslocada para a direita e, então, teríamos uma variação no preço de mercado. Todavia, devido à grande atomização na produção, dificilmente teríamos um fenômeno semelhante. Tendo sido determinado o preço do produto para cada uma das firmas, resta-lhes ajustarem seu nível de produção, de forma a maximizarem seus lucros. Tal ajuste se dá considerando-se os custos das firmas.

CUSTOS FIXOS E CUSTOS VARIÁVEIS Custos fixos são aqueles nos quais as firmas incorrem, independentemente do nível de produção. Por exemplo, imobilização em terreno, prédio e equipamentos têm custos como juros de capital empregado e depreciação. Qualquer que seja a produção da firma, o empresário terá de fazer frente a tais despesas, mesmo que a firma não esteja operando. Outro exemplo seria os impostos prediais, territoriais etc., em que incorre a firma, esteja ela produzindo à capacidade máxima ou fechada por motivo de férias coletivas de seus funcionários. Ainda outro exemplo seria custo gerencial, que permanece inalterado, qualquer que seja a produção da firma. Incluímos aí o gerente, seção de vendas, contabilidade etc. Custos variáveis são os custos em que incorrem as firmas que variam em função do nível de produção, como, por exemplo, custo de matérias-primas e intermediárias, salários de operários, custo de energia, comissões de venda etc. Tais custos variam proporcionalmente à variação na produção, embora tal proporção possa não ser fixa em todos os níveis. A soma dos custos fixos e dos custos variáveis chama-se custo total de produção. Chamamos de custo médio o custo total dividido pelo número de unidades produzidas. Na tabela 5.1 relacionamos os custos acima mencionados, para uma firma X. A coluna 1 indica-nos as quantidades produzidas. A coluna 2, os custos fixos, ao nível de 200, qualquer que seja a quantidade produzida. As colunas 3 e 4 representam custos variáveis de salário e energia, respectivamente, e a coluna 5, o custo variável total.

Com relação aos custos variáveis, notamos que, até o nível de produção de 110 unidades, o custo de salário é proporcional ao nível de produção na proporção de 3 para 1. Para ultrapassar o nível de 120 unidades de produção, já seriam necessários trabalhadores em 2 turnos, o que aumentaria a proporção para 3,15 para 1 ao nível de 120 unidades, 3,27 para 1 ao nível de 130 unidades e 3,5 para 1 ao nível de 140 unidades. Isto se dá devido ao fato de serem necessárias taxas de salário mais altas para trabalhos noturnos e devido à dificuldade crescente de se recrutarem trabalhadores para um 2.° turno, o que encarece, progressivamente, o custo de salário. O fenômeno oposto ocorre com o custo de energia, até o nível de 120 unidades de produção, onde o custo da energia utilizada é acrescido por quantidades decrescentes. A partir do nível de produção de 120 unidades, no entanto, torna-se necessário utilizar mais energia do que a capacidade dos transformadores, forçando, portanto, o consumo de eletricidade e encarecendo os custos. O custo total agrega os custos variáveis com os custos fixos e, dividido pelo número de unidades produzidas, dá-nos o custo médio da produção, na coluna 7. Notamos que o custo médio cai até o nível de 110 unidades e, depois, começa a subir. A queda do custo médio é explicada por dois fatores:


Para determinarmos o nível de produção, vamos introduzir o conceito de custo marginal. Definimos esse custo como o acréscimo ao custo total decorrente do aumento na produção de uma unidade adicional. Convém notar aqui que, na tabela 5.2, o custo marginal não foi calculado para cada unidade adicional de produto, mas para cada grupo de 10 unidades adicionais. Notamos que, na prática, nunca são conseguidos levantamentos de custos por unidade de produto, mas sim por lotes; assim sendo, o raciocínio será feito levando-se em consideração unidades adicionais de lotes e não unidades de produto. As colunas 1, 2 e 3 são tiradas da tabela 5.1. A coluna 4, que indica o custo marginal, foi calculada da seguinte maneira: como o custo marginal é o acréscimo no custo total decorrente do aumento da produção de uma unidade (no caso, um lote de 10 unidades), calculamos o mesmo subtraindo, por exemplo, o custo total para a produção de 60 unidades do custo total de 50 unidades, que resulta em 34. Isto indica que a empresa, partindo do ponto de produção de 50 unidades, terá um custo marginal de 34, para produzir um lote a mais de 10 unidades. Poderíamos aproximar, dizendo que o custo marginal por unidade de produção é 3,4, ou seja, 34 dividido por 10. Isto está indicado na coluna 4a que é a coluna 4 dividida por 10 unidades que compõem um lote. Examinando a coluna 4a, notamos que o custo marginal cai até o nível de produção de 110 unidades. A partir de então, sobe, fazendo aumentar também o custo médio, que, até então, era declinante, a partir do ponto onde eles são iguais, ou seja, ao nível de produção de 120 unidades. A coluna 5 indica-nos o preço de mercado do produto. Como estamos em regime de competição perfeita, o preço é constante e igual a Cr$ 7,00 no exemplo acima. A coluna 6 dá-nos a receita total, ou seja, o preço unitário multiplicado pela produção. Como o regime é de competição perfeita, supomos que o produtor consiga escoar toda a sua produção, qualquer que seja ela, ao preço fixado pelo mercado. A coluna 7 indica-nos o lucro da firma, aos vários níveis de produção. Ele é determinado, subtraindo-se o custo total da receita total. Notamos que a operação só se torna lucrativa a partir de níveis de produção entre 50 e 60 unidades. Até então, o empresário teria prejuízo ou perdas. Os lucros aumentam até atingir Cr$ 234,00 ao nível de 130 unidades, passando, então, a declinar, e a partir de 190 unidades de produção a firma volta a ter prejuízo. Como já vimos anteriormente, tal fenômeno acontece em decorrência da estrutura dos custos fixos e variáveis. Sugeriríamos ao leitor que retraçasse a argumentação para explicar o comportamento dos lucros. Estamos, agora, em condições de determinar o nível de produção que maximizará os lucros, ou seja, o nível de produção entre 130 e 140 unidades. Devido à estrutura de nosso exemplo, não podemos afirmar com certeza o nível ótimo de produção, mas sabemos que ele se acha entre 130 e 140 unidades. Podemos fazer tal afirmação baseados na análise marginal, que nos diz ser o nível de produção que maximizará os lucros aquele em que o custo marginal é igual ao preço. Ao nível de 130 unidades, o custo marginal é de 5,8 e ao nível de 140 unidades ele é de 7,4. Concluímos, portanto, que o ponto onde o custo marginal seja Cr$ 7,00 está entre 130 e 140 unidades do produto.



ANÁLISE MARGINAL

Podemos afirmar que o nível de produção que maximizará os lucros é aquele em que o custo marginal for igual ao preço, pela seguinte razão: se a firma estiver produzindo ao nível de 10 unidades conforme a tabela 5.2, verificamos que seu prejuízo é de Cr$ 165,00; se a firma decidir expandir sua produção de 10 para 20 unidades, o custo marginal unitário será de Cr$ 3,50, mas o preço de venda será de Cr$ 7,00 por unidade; assim sendo, a firma "lucrará" nas 10 unidades adicionais produzidas Cr$ 35,00, o que reduzirá seu prejuízo para Cr$ 130,00. Seguindo o mesmo raciocínio, a firma passará a expandir sua produção, reduzindo seu prejuízo, até que chegue ao nível de produção de 60 unidades, onde já obterá um lucro de Cr$ 13,00. A produção não cessará neste ponto, pois, para aumentar o produto de 60 para 70 unidades, o custo marginal unitário será Cr$ 3,30 e o preço de venda de Cr$ 7,00. Desta forma, o empresário "lucrará" nas 10 unidades adicionais Cr$ 37,00, o que aumentará o lucro total de Cr$ 13,00 para Cr$ 50,00. Seguindo o mesmo raciocínio, o empresário verá que seu lucro máximo será obtido quando produzir entre 130 e 140 unidades de produto. Além deste ponto, seu lucro será reduzido, pois, para aumentar sua produção de 140 para 150 unidades, o custo marginal unitário será de Cr$ 8,00 e o preço de venda de Cr$ 7,00, perdendo, assim, Cr$ 10,00 nas 10 unidades adicionais e reduzindo seus lucros de Cr$ 230,00 para Cr$ 220,00. Concluímos, portanto, que o ponto de produção que maximizará o lucro em regime de competição perfeita será aquele em que o custo marginal for igual ao preço. Poderíamos exemplificar graficamente o raciocínio com o auxílio do gráfico 5.4.


Observando a tabela 5.2, notamos que o preço do produto é fixo, em regime de competição perfeita. No gráfico 5.4, o preço é OP.

Observando novamente a tabela 5.2, notamos que o custo médio declina até atingir a produção entre 110 e 120 unidades, passando, depois, a aumentar com o aumento da produção. Podemos verificar também que o custo marginal se situa abaixo do preço médio até o ponto em que o custo médio atinge um mínimo, quando, então, o custo médio e o custo marginal são iguais. Tal situação verifica-se ao nível de produção de 110 unidades. A partir de então, o custo marginal torna-se mais alto que o custo médio, ou seja, a partir do ponto A no gráfico acima. Essas relações estão presentes no gráfico 5.4, como o leitor pode verificar.

Como o ponto de maximização dos lucros se encontra ao nível de produção onde o custo marginal é igual ao preço de mercado, a firma representada no gráfico 5.4 produziria no ponto B, ofertando ao mercado a quantidade \( q \).

Com base neste tipo de análise, podemos montar a curva da oferta para a firma X representada no gráfico 5.4.

Sabemos que ao preço Op a oferta seria Oq. Se o preço fosse Op', a quantidade ofertada seria Oq' e assim para qualquer outro nível de preço. Existe, no entanto, um nível de preço abaixo do qual a firma simplesmente não ofertaria qualquer quantidade no mercado. Tal preço é aquele que é igual ao custo médio variável.

Vimos na tabela 5.1 que os custos da firma se dividem em custos fixos e custos variáveis.

A curto prazo, qualquer que seja o nível de produção da firma, ela terá de arcar com o custo fixo, até mesmo na situação extrema de não estar produzindo nada. Desta forma, seu prejuízo seria igual ao custo fixo total, já que, não produzindo nada, ela não teria custos variáveis.

Somente a longo prazo é que uma firma que esteja tendo prejuízo poderá desfazer-se de seus investimentos e, assim, cessar os prejuízos.

No gráfico 5.5 estão representadas as curvas de custo marginal, custo médio total e custo médio variável.

A curva de custo médio variável é a coluna 5 da tabela 5.1, dividida pela coluna 1, ou seja, ela representa o custo variável por unidade produzida. A diferença entre a curva de custo médio total e a curva de custo médio variável é o custo médio fixo, que, como deveríamos esperar, é decrescente ao aumentarmos o nível de produção.

Já vimos que, ao preço op", a firma ofertaria a quantidade oq" no mercado e neste ponto (A) não estaria auferindo lucro, já que o custo médio é igual à receita média. O empresário teria somente uma remuneração por seus serviços prestados, chamada de lucro normal, cujo montante é um item de custo e já está incluído no custo médio total. O lucro normal seria o equivalente a uma retirada pro labore e não inclui lucros propriamente ditos, ou seja, uma sobretaxa sobre sua remuneração. Em outras palavras, o lucro normal é o custo de oportunidade do empresário.


A qualquer preço abaixo de Op", o empresário estará tendo prejuízo, já que o custo médio total é superior ao preço pelo qual ele vende seu produto. No entanto, a curto prazo, produzindo ou não, o empresário terá de arcar com o custo fixo e a pergunta se resume na possibilidade ou não de reduzir o prejuízo. Observando o gráfico 5.5, vemos que, para preços entre Op" e Op3, o empresário, se continuar produzindo as quantidades respectivamente situadas entre os pontos A e D, poderá reduzir seu prejuízo, o qual seria igual ao custo fixo total, caso não produzisse nada. A qualquer preço entre Op" e Op', a receita ainda não seria suficiente para eliminar o prejuízo. No entanto, ela é suficiente para cobrir os custos variáveis e ainda resta uma soma para custear uma parte dos custos fixos. O empresário, desta forma, ainda continuará produzindo de forma a minimizar seu prejuízo. Tal comportamento, no entanto, verificar-se-á somente a curto prazo, já que, a longo prazo, ou seja, assim que as condições permitirem, ele fechará a firma, na qual estava tendo uma perda monetária.

A qualquer preço acima de Op", o empresário estaria auferindo lucros acima do lucro normal e, portanto, produziria nos pontos onde o custo marginal é igual ao preço. Concluímos daí que uma firma em competição perfeita terá sua curva de oferta de curto prazo coincidente com sua curva de custo marginal, em seus pontos acima da curva de custo médio variável. Ao preço Op', o empresário estaria indiferente, entre produzir a quantidade Oq''' ou não produzir.



No gráfico 5.6 está representada a curva de oferta da firma a curto prazo. Os pontos A, B, C e D são os mesmos do gráfico 5.5. A soma horizontal das curvas de oferta de todas as firmas numa indústria seria a curva de oferta da indústria. Constatamos o fato de que, acima do preço Op", a firma terá lucros extras, em virtude do preço estar a um nível mais alto que o custo médio. Poderíamos perguntar se, em regime de competição perfeita, tal situação seria estável. A curto prazo, a firma poderia continuar auferindo lucros acima do lucro normal. No entanto, a longo prazo, tal situação tenderia a desaparecer. Como já vimos anteriormente, num sistema de competição perfeita, haveria perfeita mobilidade de fatores, bem como conhecimento perfeito. Empresários em outras atividades, que não estivessem auferindo lucros extras, sentir-se-iam motivados a ingressar no ramo explorado pela firma acima mencionada, com o intuito de partilhar dos altos lucros recebidos naquele setor. Como um número significativo de empresários efetuaria tal mudança, a curva de oferta total (soma das curvas de oferta individuais) deslocar-se-ia para a direita, causando uma queda no preço de mercado. Se, no gráfico 5.5, o preço de mercado fosse Op', tal situação tenderia a fazer esse preço de mercado cair. A firma X, representada no gráfico 5.5, continuaria operando até que o preço de mercado caísse ao nível Op'". Se, no entanto, as outras firmas tivessem uma estrutura de custos tal que, mesmo ao preço abaixo de Op', seus custos totais pudessem ser cobertos, o preço de mercado se estabilizaria em tal nível e a firma X seria obrigada ou a encerrar suas atividades ou, então, reduzir seus custos de produção, equiparando sua tecnologia à das outras firmas, cujos custos são mais baixos. A longo prazo, teríamos, em competição perfeita, uma situação onde todas as firmas estariam operando com uma tecnologia que reduzisse ao máximo a estrutura de custos e, devido à competição pelo lucro, nenhuma estaria auferindo lucros acima dos lucros normais. O gráfico 5.7 representa uma firma em tal situação.


O preço de mercado Op possibilita ao empresário acima uma receita que cobre seus custos totais, mas que, no entanto, não é suficiente para gerar lucros extras.

A OFERTA NUM SISTEMA MONOPOLÍSTICO

A diferença entre o comportamento de uma firma em regime de competição perfeita e outra em regime de monopólio pode ser explicada pelas suas curvas de procura.

Vimos como, em competição perfeita, a curva da procura de uma firma é infinitamente elástica e o preço é determinado pelo mercado. A firma, passivamente, ajusta sua produção ao preço dado.

Em monopólio, tal fenômeno não ocorre. Como só há um produtor de determinado produto, a curva da procura do mercado se identifica com a curva da procura da firma monopolista. Esta pode manipular os preços, alterando as quantidades ofertadas, coisa que não seria possível em competição perfeita, devido à atomização da produção.

Em competição perfeita, a firma aumenta sua produção até igualar custo marginal ao preço. Desta maneira, enquanto o custo de uma unidade adicional for menor que o preço, o produtor aumentará seu "lucro", ao expandir sua produção nesta unidade adicional.

Em monopólio, ao aumentar sua produção em uma unidade adicional, haverá uma queda no preço, já que a sua curva da procura tem inclinação negativa. Desta forma, o produtor monopolista aumentará sua produção, enquanto seu custo marginal for mais baixo que a receita adicional gerada pelo aumento na quantidade ofertada em uma unidade. Em outras palavras, ele aumentará sua produção até que seu custo marginal seja igual à sua receita marginal.

Definimos receita marginal como o acréscimo na receita total (preço multiplicado pela quantidade vendida), decorrente da venda de uma unidade adicional.

Em competição perfeita, a condição de uma maximização de lucros era custo marginal igual ao preço. Em monopólio, a condição é custo marginal igual à receita marginal.

Convém notar que a diferença é puramente circunstancial, já que a receita marginal é igual ao preço, quando a curva da procura é infinitamente elástica. Sugerimos ao leitor que prove esta afirmação por si mesmo.

Na tabela 5.3, colocamos a firma X da tabela 5.2 frente a uma situação monopolística e veremos como ela determinará seu nível de produção e o preço de mercado.

As colunas 1, 2, 3, 4 e 5 foram tiradas da tabela 5.2. A coluna 6, juntamente com a coluna 1, representam os dados da tabela de procura para o produto, a qual se identifica com a curva da procura da firma. A coluna 1 indica quais as quantidades que seriam demandadas aos preços constantes da coluna 6. A coluna 7 é o produto dos preços pelas quantidades. Notamos que a receita total aumenta com a queda nos preços até o nível de preço de Cr$ 7,50 por unidade. Isto nos indica que a curva é elástica neste segmento.

No segmento entre os níveis de preço de Cr$ 7,50 e Cr$ 7,00 ela tem elasticidade unitária e abaixo de Cr$ 7,00 ela se torna inelástica.

A coluna 8 indica a receita marginal. Como a receita marginal é a variação na receita total decorrente do aumento de renda de uma unidade adicional (no caso, um lote de 10 unidades), calculamos a mesma subtraindo, por exemplo, a receita total para 60 unidades vendidas da receita total para 50 unidades vendidas, o que resulta em 90. Isto indica que a empresa, partindo da venda de 50 unidades, terá uma receita adicional de 90, caso venda um lote de 10 unidades a mais. Poderíamos aproximar, dizendo que a receita marginal por unidade é 9,0, ou seja, 90/10. Isto está indicado na coluna 8a, que é a coluna 8 dividida por 10, ou pelo número de unidades que compõem um lote. Observando a coluna 8a, notamos que a receita marginal por unidade cai a qualquer nível de produção, tornando-se negativa a partir de 150 unidades vendidas.




Não devemos esquecer que, embora a quantidade vendida seja maior, a receita marginal será decrescente em virtude da necessidade de que o preço caia para que seja absorvida uma oferta maior. Observando a tabela 5.3, notamos que a produção que maximizará os lucros do empresário situa-se entre 110 e 120 unidades do produto. Neste ponto, o custo marginal será igual à receita marginal e o preço estará entre Cr$ 8,50 e Cr$ 9,00 por unidade. O lucro foi maximizado já que, enquanto o custo marginal é mais baixo que a receita marginal, compensa aumentar a produção em uma unidade. Tal possibilidade se esgota quando eles se igualam. Graficamente, ilustramos o caso no gráfico 5.8.


A produção que maximizará os lucros do monopolista é a quantidade Oq₀, determinada na interseção A. Para que a quantidade Oq₀,  seja vendida, o monopolista pode cobrar Op₀, o que é indicado pelo ponto C na curva da demanda. A diferença AC entre o preço e o custo médio representa lucros extras, acima do lucro normal, que o monopolista teria assegurado para si.


ALGUMAS CONSIDERAÇÕES QUANTO À EFICIÊNCIA ECONÔMICA

Baseados nos dois modelos de equilíbrio da firma, poderemos tirar algumas conclusões quanto à relação entre a estrutura do mercado e a eficiência econômica. Em competição perfeita, o preço do produto tende a aproximar-se do custo marginal. Isto indica que o preço que o consumidor deseja pagar por uma mercadoria, ou seja, a satisfação ou utilidade que o consumidor obtém com seu uso, é igual ao custo da mercadoria para a sociedade como um todo.


Observando o gráfico 5.8, notamos que, em regime de competição perfeita, a quantidade produzida seria Oq₁ e o preço Op1. Em monopólio, a quantidade produzida é menor, Oq₀, e o preço é mais alto, Opo. Isto nos mostra que o consumidor está pagando pela última unidade de mercadoria um preço mais alto do que o custo da mesma, de tal forma que seria possível aumentar a satisfação total dos consumidores, aumentando a produção. O consumidor ainda desejaria adquirir mais unidades da mercadoria a um preço mais alto que seu custo. Em segundo lugar, a longo prazo, em sistema de competição perfeita, as firmas se veriam coagidas a adotar as técnicas de produção que minimizassem os custos de produção. Tal coação não seria verdadeira em monopólio, já que a firma monopolista não teria concorrentes competindo pelos lucros gerados no sistema produtivo.


Em situações reais, no entanto, poderíamos questionar a validade dos dogmas que acusam o monopólio de ser prejudicial à eficiência econômica do sistema.


Poderíamos citar o caso de indústrias que têm custos decrescentes com o aumento da quantidade produzida. Seria o caso de energia, onde os custos unitários caem com o aumento da escala de produção. Nesta situação, se a produção fosse atomizada, os custos seriam mais altos, não seria possível realizar os benefícios de economias de escala, já que todos os produtores são pequenos e constituem, individualmente, uma parcela muito pequena da oferta total.


Outra consideração pertinente seria relacionada com a motivação das firmas monopolistas. Embora elas possam ter o poder monopolista, podem não se utilizar de tal expediente como contenção da produção para elevar os preços. Inicialmente, por causa da "boa imagem" que as firmas desejam preservar para si e, em segundo lugar, devido ao fato de que, embora elas possam ter um monopólio do seu produto, existem substitutos próximos, de modo que a fluidez do consumidor de um produto para outro possa ser incentivada por uma política de exploração. Na realidade, não existem monopólios perfeitos, mas, sim, situações que se assemelham mais à competição monopolística.


Outros argumentos a favor do monopólio seriam, em primeiro lugar, uma diversificação na produção, efeito este causado pelo desejo de cada firma de criar uma situação monopolística para si. Em segundo lugar, firmas grandes possuem melhores condições para o desenvolvimento de pesquisas tecnológicas. Dificilmente poderíamos entrever o nascimento de novas técnicas de produção efetuadas por firmas atomizadas e de pequeno porte.


Em verdade, torna-se muito difícil julgar-se maior ou menor conveniência de monopólio ou de competição perfeita. O que desenvolvemos neste capítulo foram modelos teóricos, que não representam a realidade, mas, sim, alguns traços observáveis e propositadamente exagerados, para lhes conferir um grau de maior generalidade. Eles nos fornecem pontos de referência para julgamento e nunca um padrão a ser reproduzido na vida real.










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