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Marcos Cintra

Livro: Introdução à Teoria Econômica (1972) - Cap. 6,7,8 e 9 (II/II)

Livro completo em PDF, contendo resumos, questões, referências e bibliografia:


6. Os Agregados Econômicos e o Setor Real


Até este ponto, descrevemos o funcionamento de unidades individuais dentro de um sistema econômico, ou seja, a racionalidade do consumidor, a forma como as unidades individuais se relacionam com o mercado. Em outras palavras, estudamos a Teoria Microeconômica.


Passamos agora à Teoria Macroeconômica. O ponto focal de interesse desloca-se para os agregados econômicos. As questões que nos proporemos não mais se relacionam com o nível de produção da empresa X, Y ou Z, mas sim com o nível total da produção, agregando a produção de todas as unidades produtivas; não nos interessará mais saber o que o indivíduo M deseja consumir em função dos preços e de sua preferência, mas sim a que nível de consumo global estará a economia e assim por diante.


Robert Heilbroner descreve a Macroeconomia da seguinte forma:

"Tal esforço (para aprender alguma coisa sobre Macroeconomia) e a disposição de abandonar nosso ponto de vista familiar da vida econômica, substituindo-o por outro novo, são, por vezes, desconcertantes. É nossa capacidade de deixar para trás o conhecimento do cenário econômico como participantes individuais e adotar uma nova visão, da qual possamos perceber todas as atividades econômicas, simultânea e coletivamente - visão que abarca não os atos de uma única pessoa ou firma ou cidade, mas que abrange toda a sociedade. De todas as exigências intelectuais feitas pela Teoria Econômica, esta adoção do ponto de vista do economista talvez seja a mais difícil. Mas é também a mais necessária, pois somente depois de termos ocupado este ponto de observação, situado em posição elevada, começamos a ver o panorama extraordinário de que se ocupa a Teoria Econômica."


O FLUXO ECONÔMICO

Observando-se a economia como um todo, notamos uma série de fluxos.


Em primeiro lugar, há um fluxo real de bens e serviços. As firmas contratam mão-de-obra, compram matérias-primas e bens de investimento e produzem bens, que são posteriormente vendidos a outras firmas as quais transformam o produto ainda mais, até que o produto final seja vendido ao consumidor. Durante todas essas operações, há uma constante transferência de bens e serviços entre os agentes econômicos. A isto chamamos fluxo real.



Em segundo lugar, existe a contrapartida monetária dos fluxos reais, a que chamamos fluxos monetários. Toda vez que um bem ou um serviço é transferido de um agente para outro, são efetuados pagamentos em troca deles. O fluxo monetário, consequentemente, gira em direção contrária do fluxo real.


A interação desses dois fluxos, o real e o monetário, cria, como consequência, o fluxo de renda.

Quando um trabalhador é contratado por uma firma, ele lhe transfere os seus serviços (fluxo real) e recebe em troca dinheiro (fluxo monetário). Em decorrência dessa operação, ele recebeu um certo poder aquisitivo, que poderá gastar (fluxo de renda), comprando o produto da firma.


Da mesma forma, uma firma que vende matéria-prima a outros também está criando fluxos.



Vamos, agora, definir renda. Todo pagamento a fatores de produção chama-se renda e inclui salários, lucros, juros e aluguéis, sendo estes, respectivamente, pagamentos feitos aos fatores trabalho, empresário, capital e recursos naturais ou bens imóveis.


Chama-se produto o valor dos bens e serviços finais produzidos num determinado período. O produto inclui bens de consumo duráveis e não duráveis e também bens de investimento, com a condição de que tenham sido produzidos durante o período determinado.


O valor final do produto é igual à soma dos valores adicionados durante o processo produtivo.


Assim, o valor dos bens intermediários não está incluído no valor do produto final; seria contar duplamente o valor do bem intermediário se, por exemplo, somássemos ao produto de uma economia tanto o valor do tabaco quanto o valor do cigarro, pois o preço do tabaco já está incluído no preço final do cigarro.


No esquema abaixo, acha-se exemplificado tudo a que nos referimos até o momento.



Suponhamos que, numa economia, só haja produção de cigarros e que a população só necessite consumir este produto.


O setor de fatores de produção inclui o fator mão-de-obra, que é a população assalariada e empresarial da economia, mais os outros indivíduos que, embora não ofereçam seu próprio trabalho para o processo produtivo, oferecem fatores de produção de sua propriedade, como capital e imóveis. Dessa forma, é para o setor dos fatores de produção que fluem pagamentos por serviços prestados, tais como mão-de-obra; juros, como pagamentos por empréstimos efetuados às firmas; aluguéis, como pagamentos pelo uso de propriedades dos indivíduos; e lucros, como pagamentos efetuados pelas firmas aos seus proprietários. Assim, quando a refinaria paga 10 unidades monetárias aos fatores de produção, já está incluído o próprio lucro do proprietário da firma que, como empresário, é parte do setor de fatores de produção.


Como já havíamos definido, todos os pagamentos efetuados ao setor de fatores de produção chamam-se renda. Vamos mostrar, agora, como a renda é igual ao valor adicionado pelo sistema produtivo.


Quando a fazenda comprou serviços aos fatores de produção, ela criou valor pelo uso destes serviços. Por exemplo, contratou homens e tratores para cultivarem a terra e, desse processo, resultou o tabaco, cujo preço é igual à renda, ou seja, é igual aos pagamentos efetuados aos fatores mais o lucro do fazendeiro (que também é renda). Assim, o valor adicionado, ou o valor criado neste primeiro processo, é igual à renda.


No próximo estágio, a refinaria adquiriu o tabaco da fazenda; o ato de adquirir não adiciona valor ao bem. Tal adição só é feita quando ela contrata serviços dos fatores de produção e com eles refina o tabaco adquirido. Assim, o valor do tabaco refinado é igual ao valor adicionado pela fazenda, mais o valor adicionado pela refinaria. O valor adicionado pela refinaria é igual aos seus custos de produção, mais os lucros da firma. Tais valores, como vimos anteriormente, são iguais à renda.


Seguindo o mesmo raciocínio, em todos os estágios de produção, vemos que a renda total criada nessa economia simplificada é igual ao total dos valores adicionados criados na mesma.


No nosso exemplo, a renda é igual a todos os recebimentos pelos fatores de produção, que são iguais a 45 unidades monetárias. O valor adicionado é também igual a 45 unidades monetárias.


Passemos, agora, ao produto. Definimos o produto como o valor do bem final, neste caso, o cigarro.


A fábrica adquiriu o tabaco refinado por 25 unidades monetárias e, para fabricar o cigarro, adicionou o valor de 20 unidades monetárias, onde já está incluído o lucro. Assim, o seu preço de venda é igual a 45 unidades monetárias. Podemos, agora, redefinir o produto como a soma dos valores adicionados, que é também igual a 45 unidades monetárias. Como a renda é igual à soma dos valores adicionados, podemos concluir que renda = produto.


Convém notar, mais uma vez, que o valor dos bens intermediários (tabaco cru e tabaco refinado) não é somado ao valor do cigarro quando se chega ao produto final, pois os seus valores já estão incluídos no preço do cigarro. Assim, poderíamos, novamente, chegar ao produto somando-se todas as transações em bens efetuadas no sistema e deduzindo-se daí o valor dos bens intermediários.

Notemos agora que os pagamentos de renda efetuados aos fatores de produção lhes conferem poder aquisitivo sobre o produto da economia. Assim, o produto é vendido pelas firmas ao setor de fatores de produção. O dispêndio efetuado nesta compra chama-se despesa. É fácil notar que a despesa é necessariamente igual ao produto, visto que o que é comprado tem obrigatoriamente que ser igual ao vendido. Assim, renda = despesa = produto.


A POUPANÇA E O INVESTIMENTO

O leitor deve ter notado que, no exemplo acima, os indivíduos que receberam renda gastaram-na totalmente para adquirir o produto. Isso, no entanto, não corresponde à realidade, visto que eles podem poupar parte de sua renda e reservá-la para consumo posterior. Assim, poderemos fazer a seguinte notação:

Isto nos diz que a renda poderá ser consumida ou poupada. As firmas poderiam igualmente ter reservado uma parte de sua produção para investimento. Por exemplo, poderiam ter reservado uma parcela do valor de sua produção para a formação de bens, parcela que seria usada no futuro para a produção de outros bens. Por exemplo, em vez de enviar ao setor de fatores de produção todo o lucro da fábrica de cigarros, uma parte poderia ser retida para a compra de máquinas, a fim de aumentar a capacidade da firma. Em outras palavras, parte do valor do produto final poderia ser consumida e parte poderia ser usada para a formação de capital. Assim, poderíamos notar:


Concluímos, então, que poupança é igual ao investimento.


O leitor poderia estranhar, dizendo que não há necessariamente essa igualdade e que somente por coincidência o montante poupado pelos indivíduos seria igual ao montante investido pelas firmas.


Nestes termos, não hesitaríamos em concordar com o leitor, mas agora torna-se necessário definir investimento corretamente. Ele não é somente aquela parte da produção que não é consumida e que é usada para a produção de outros bens no futuro, mas também a parte do produto que não é consumida e é simplesmente estocada, sendo usada para consumo posterior. Assim, investimento é igual à formação de capital mais variação de estoques.


Por exemplo, vamos supor que, numa economia, o produto (consequentemente, a renda) seja igual a Cr$ 200,00, que os indivíduos poupem Cr$ 50,00 de sua renda e consumam o restante, que as firmas decidam investir somente Cr$ 30,00 e que, finalmente, o restante da produção seja vendido para consumo. Notamos, aqui, que a poupança não é igual ao investimento propriamente dito (significando formação de capital), porém, a formação de capital mais a variação de estoques (que é o investimento) será igual à poupança.


Vejamos a razão: o investimento é de Cr$ 30,00, de modo que restam Cr$ 170,00 de mercadorias, que as firmas desejam vender aos consumidores. Porém, as famílias desejam poupar Cr$ 50,00 e, portanto, só lhes restam Cr$ 150,00 para comprarem mercadorias de consumo. Como resultado disto, as firmas não conseguirão vender tudo o que desejam, ficando com Cr$ 20,00 em mercadorias (Cr$ 170,00 - Cr$ 150,00), que serão estocadas. Houve, então, uma variação de estoques de + Cr$ 20,00. Consequentemente, P = I

visto que P é igual a Cr$ 50,00 e I é igual a Cr$ 30,00 de formação de capital mais Cr$ 20,00 de variação de estoques.


Poderíamos dizer que o investimento planejado das firmas (Cr$ 30,00) não pôde ser concretizado, visto que o investimento realizado foi diferente (Cr$ 50,00).


ALGUNS CONCEITOS

Os ativos reais de uma sociedade, tais como imóveis, máquinas, ferramentas etc., desgastam-se com o uso. Por exemplo, uma máquina não dura eternamente. Se ela só dura 10 anos, dizemos que a sua taxa de desgaste ou depreciação é de 10% ao ano, de modo que, no fim de 10 anos, ela não tem mais qualquer valor ou utilidade. Assim, é importante saber qual é a parte da produção total de uma economia que é simplesmente uma reposição dos ativos desgastados nesse ano e qual a parte que é, realmente, o fruto adicional do processo produtivo.


A produção total de uma economia chama-se produto bruto. Se deduzirmos do produto bruto a parcela que deverá substituir o desgaste dos ativos (a depreciação), teremos o produto líquido.


Notamos, também, que parte do que é produzido dentro de um país pode não pertencer a residentes neste país e que pode pertencer-lhes parte do que é produzido em outros países.


O valor do que é produzido internamente, mas que é propriedade de não residentes, pode ser enviado para o estrangeiro, como pagamentos de renda (remessa de lucros, royalties etc.), e vice-versa. Dizemos, então, que o produto interno é tudo o que foi produzido dentro do país e o produto nacional é igual ao produto interno + renda recebida - renda enviada. O produto nacional demonstra-nos não o que foi produzido internamente, mas a produção total que pertence a residentes no país.


OS VAZAMENTOS E AS INJEÇÕES

Vimos que a economia, em seu processo de funcionamento, cria fluxos entre os setores de fatores de produção e das firmas, e que esses fluxos se perpetuarão se alcançarmos uma situação de equilíbrio. Definimos uma situação de equilíbrio como um estado em que todos os agentes econômicos conseguem realizar seus planos e não têm qualquer incentivo para variar sua conduta.


Por exemplo, uma situação na qual o investimento realizado não é igual ao investimento planejado claramente não é uma situação de equilíbrio. No exemplo que vimos, os empresários foram obrigados a estocar Cr$ 20,00 em mercadorias e, como resultado disso, provavelmente diminuirão sua produção no período seguinte. Só poderá haver equilíbrio quando a poupança for igual ao investimento planejado; assim, os empresários não se verão obrigados a variar o seu nível de estoques contra seus desejos.


Podemos ilustrar a situação de equilíbrio usando o conceito de vazamentos e de injeções (ou gastos compensatórios). Abaixo, temos uma situação em que não há poupança nem investimentos. Neste caso, o fluxo recebido pelos fatores e pago às empresas, que o enviam novamente aos fatores, ocorre no período seguinte, e assim por diante.

Assim, a economia está em equilíbrio com um produto igual a Cr$ 100,00.


Acontece que a poupança é um vazamento no fluxo e isso fará com que as firmas não consigam receber a totalidade da renda paga aos fatores de volta. Neste caso, as firmas diminuiriam sua produção no período seguinte e, desse modo, pagariam menos renda e assim por diante. A economia não estaria em equilíbrio.


Ela só poderia restabelecer o equilíbrio se houvesse alguma injeção no fluxo, que compensasse o vazamento de poupança. Tal injeção é o investimento planejado. Quando a poupança é igual ao investimento planejado, o fluxo retorna ao seu nível de equilíbrio.

Nesta situação, a renda dos fatores foi de Cr$ 100,00, mas eles só desejaram consumir Cr$ 80,00. As firmas produziram Cr$ 100,00, mas desejaram vender somente Cr$ 80,00 e reservar os Cr$ 20,00 restantes para investir. Assim, quando P = I, a economia está em equilíbrio (Ip = investimento planejado).


Existem outros vazamentos, como importações e impostos, e outras injeções, como exportações e gastos governamentais.


A DETERMINAÇÃO DO EQUILÍBRIO DO FLUXO ECONÔMICO

Além da igualdade vazamento / injeção, outra forma de expressar uma situação de equilíbrio é quando a oferta total é igual à procura total.


A oferta total baseia-se na expectativa dos empresários quanto às possibilidades de vendas. Assim, as firmas responderão a qualquer estímulo da procura e, quando a oferta se igualar à procura, o ponto de equilíbrio terá sido determinado. Podemos expressar isto da seguinte maneira:

Y = C + I

(Y = produto)

(C = consumo)

(I = investimento)

Y é a produção dos empresários ou a oferta. C + I é o total da procura (quando não há governo nem comércio internacional), visto que os bens são procurados ou para serem consumidos pelos indivíduos ou procurados pelas próprias firmas para serem investidos.


A quantia a ser investida ou a procura de investimento também é uma decisão feita pelos empresários autonomamente. A decisão de consumir (ou poupar), no entanto, será feita pelos consumidores individuais.


Poderíamos perguntar agora o que determina o consumo. O consumo é determinado pela renda do indivíduo. Por exemplo, quanto maior for meu salário, mais irei gastar em bens de consumo. Agora, que parcela do aumento do meu salário eu consumirei e que parcela eu pouparei dependem simplesmente de minha vontade. Chamamos de propensão marginal a consumir esta proporção do aumento da renda que seria consumida e propensão marginal a poupar a que seria poupada.


Poderíamos expressar tudo isto através da função consumo, que relaciona o quantum a ser consumido com os vários níveis de renda. A função consumo representa, assim, a soma do consumo dos indivíduos de uma comunidade, dados certos níveis de renda possíveis.

A função consumo no gráfico 6.1 é representada pela equação C = 100 + 0,5Y. Isso indica que, mesmo com a renda sendo zero, haverá um aumento de 100 (possibilitado por poupanças anteriores). Além disso, qualquer acréscimo na renda resultará na metade sendo consumida e a outra metade sendo poupada (propensão marginal a consumir igual a 0,5).

Assim, quando a renda é 100, o consumo será igual a 150:

C = 100 + 0,5(100) = 150

Quando a renda é 200, o consumo será:

C = 100 + 0,5(200) = 200


Nesse ponto, o consumo não é mais maior que a renda e, a partir daí, haverá sempre uma poupança positiva. Isso pode ser visualizado por uma reta de 45°, que transforma distâncias horizontais em distâncias verticais.


Ao longo da reta Y = C, sempre teremos um consumo igual à renda. Comparando essa reta com a função consumo, podemos determinar a poupança e o consumo. Por exemplo, com uma renda de 500, o consumo será de 350 (C = 100 + 0,5(500) = 350). A poupança é dada pela diferença entre a função procura e a reta de 45° (neste caso, poupança é igual à renda menos o consumo, isto é, 500 - 350 = 150).


Nossa hipótese é que a propensão marginal a consumir (b) seja sempre menor do que 1 (um), de modo que haverá sempre uma propensão marginal a poupar maior do que zero (1 - b > 0).


Voltando agora ao equilíbrio da renda, ela será determinada quando a oferta for igual à procura ou quando as injeções forem iguais aos vazamentos (poupança = investimento planejado). Algebricamente, a renda de equilíbrio será:

Por exemplo, se .o nivel do investimento planejado e igual a 30 (determinado exogenamente, ou seja, determinado autonomamente pelos empresários) e a função consumo é C = 100 +0,5(Y), a renda de equilíbrio será:

Graficamente, podemos determinar o nível de renda de equilíbrio quando a oferta total for igual à procura total, representada por qualquer ponto ao longo da reta de 45°. Para obtermos a procura total, basta somarmos os investimentos à função consumo.

Assim, teremos a reta C + I, que representa a procura total. No ponto onde ela cortar a reta de 45 graus, teremos o ponto de equilíbrio, onde Y, no eixo horizontal, é igual a C + I, no eixo vertical e, consequentemente, a oferta total será igual à procura total. Com uma renda de 260, o consumo será de:

C = 100 + 0,5(260) = 230

E a poupança será de 260 - 230 = 30. O investimento planejado também é de 30; então, P = I, e a economia está em equilíbrio.

Por que a economia não estaria em equilíbrio ao nível de renda de 280?

Porque, com uma renda de 280, a poupança seria:

P = Y - C = 280 - [100 + 0,5(280)] =

= 280 - (100 + 40) =

= 280 - 240 = 40

Com P = 40 e Ip = 30, os vazamentos não seriam iguais às injeções e haveria, então, um investimento não planejado de 10 (variação de estoques). No próximo período, os empresários diminuiriam sua produção até que ela chegasse ao equilíbrio de 230, onde ela se estabilizaria, já que os empresários foram obrigados a estocar parte de sua produção, por falta de demanda para a mesma.


VARIAÇÕES NOS INVESTIMENTOS

O que ocorreria com o nível da renda, se houvesse uma variação no nível dos investimentos?

Já vimos que o investimento não varia em função da renda Y e, sim, em função da decisão dos empresários. Vamos supor que a renda potencial da economia seja 300, isto é, empregando-se todos os fatores de produção de que a economia dispõe, chega-se a um produto (ou renda) igual a 300. Visto que a renda de equilíbrio é de 260, está havendo desemprego de fatores. Os empresários percebem este fato e resolvem aumentar os investimentos em 20, passando-os de 30 para 50. Qual será o novo nível da renda de equilíbrio? Ele será:

Com o nível de investimento igual a 50, a renda de equilíbrio é de 300, que é o seu nível potencial. A economia chegou, então, ao seu nível de pleno emprego. O grande economista John Maynard Keynes, quem primeiro usou este tipo de análise de curto prazo em 1936, chegou, assim, a uma importante conclusão quanto ao funcionamento de uma economia.


Lembremo-nos de que a Teoria da Competição Perfeita diz que, havendo desemprego, os preços dos fatores cairiam, o que faria com que os empresários contratassem o excedente, levando a economia automaticamente ao nível de pleno emprego. Keynes sugeriu que a economia poderia, perfeitamente, estabilizar-se num ponto aquém do nível de pleno emprego, visto que os preços, principalmente da mão-de-obra, são inflexíveis para baixo. Em outras palavras, mesmo havendo desemprego, os operários não se ofereceriam para trabalhar por menos do que o salário estabelecido.


Keynes chamou a atenção de todos para o fato de que, para a economia chegar ao nível de pleno emprego, é necessário que a demanda agregada aumente. Acabamos de ver como isto pode ser feito, através de um aumento nos investimentos.


O GOVERNO E O NÍVEL DE RENDA

Uma outra maneira de se aumentar a demanda total ou agregada é através de um aumento nos gastos governamentais (G). Vimos como os gastos governamentais também são injeções no fluxo e, como tal, agem numa economia da mesma forma que os investimentos. Para que haja equilíbrio, é necessário que:

Desta forma, mesmo que os empresários não desejassem aumentar os investimentos para 50, o governo poderia iniciar gastos (de consumo, pagamentos de renda ou mesmo investimentos) de tal forma que G fosse igual a 20, elevando assim o nível de renda da economia.

O governo também poderia ajustar os impostos (T), o que reduziria a renda disponível dos indivíduos (renda disponível é a renda recebida menos os impostos, ou seja, Ya = Y - T), e consequentemente faria com que o consumo diminuísse. Isso teria um efeito depressivo no nível da renda, pois, com a redução do consumo, a demanda agregada (C + I + G) também diminuiria.


Desta forma, chegamos à conclusão de que o governo também deve intervir na economia para aumentar ou diminuir o nível da renda.


O governo poderá, então, manipular G e T. A manipulação de T (os impostos) chama-se política fiscal. Por exemplo, se a economia estiver sofrendo de desemprego, o governo poderá diminuir T, o que elevará o consumo e, consequentemente, a procura e a oferta. Ou, então, o governo poderia manter T estável e aumentar G, podendo, mesmo, incorrer num déficit orçamentário. A manipulação conjunta de G e T chama-se política orçamentária. O governo estaria, então, manipulando um possível déficit, superavit ou equilíbrio no orçamento.


A INFLAÇÃO

A inflação - um aumento no nível de preços - é um fenômeno que já recebeu diversas explicações. Uma das teses mais conhecidas é a dos estruturalistas, que afirmam ser ela causada por fatores estruturais de uma economia, tais como estrangulamentos em certas áreas (falta de mão-de-obra qualificada é um caso), pressões institucionais inevitáveis (sindicatos, por exemplo), imperfeições no mercado etc. A análise keynesiana que vimos desenvolvendo fornece-nos uma outra interpretação para o fenômeno.


Já vimos que existe um ponto onde o nível de renda está em seu potencial máximo. Este ponto, no entanto, não pode ser bem delineado, de modo que nos referimos a uma faixa de pleno emprego. Quando a renda de uma economia se aproximar desta faixa, haverá possibilidade de que se comecem a sentir certas pressões inflacionárias. Logicamente, quando tentarmos atingir uma renda que ultrapasse a esta faixa, teremos inflação de demanda. Ela se caracteriza pelo fato de a procura agregada estar além do que a oferta possa satisfazer, visto não haver mais fatores de produção disponíveis que possibilitem um aumento na produção. A longo prazo, poderia haver inovações tecnológicas, que aumentariam a produtividade dos fatores, mas, a curto prazo, ocorreria a inflação, já que uma procura maior que a oferta tenderia a causar uma elevação nos preços. No gráfico abaixo, apresentamos uma situação nitidamente inflacionária.

A procura agregada precisa ser comprimida, para que Yg se desloque para a esquerda e a economia evite a inflação. Os empresários poderiam diminuir I; o governo poderia aumentar os impostos sem aumentar seus gastos ou, ainda, cortar seus gastos, mantendo constantes os impostos. Poderia, também, aumentar os impostos num montante maior que um aumento nos gastos.


Devemos também salientar uma outra teoria da inflação, que não se relaciona diretamente com a análise keynesiana que abordamos até aqui. Trata-se da inflação de custos. De acordo com esta teoria, a pressão para a elevação do nível de preços parte de decisões autônomas, sem intervenção do mecanismo de mercado implícito na inflação da demanda. Seria o caso, por exemplo, de sindicatos de trabalhadores, os quais, por sua força política e/ou econômica, conseguem aumentos salariais, mesmo quando não há escassez de mão-de-obra, encarecendo o preço final do produto.


Uma variante desta teoria, chamada inflação administrada, põe em evidência o fato de que, muitas vezes, empresas monopolísticas simplesmente aumentam seus preços para auferirem uma taxa de lucro mais alta. Quando tais firmas produzem bens usados como insumos em outros estágios de produção, isto causaria nos outros setores uma inflação de custos, o que se poderia transformar-se em uma espiral inflacionária.


Devemos notar que todas as teorias da inflação estão intimamente relacionadas, de tal forma que se torna difícil isolar-se a causa principal de pressões inflacionárias.


Vejamos um exemplo: os gastos governamentais elevados de uma economia próxima à faixa de pleno emprego poderiam gerar um nível de demanda agregada superior à oferta. Isto causaria uma inflação de demanda. Em virtude da elevação de preços, os sindicatos poderão conseguir um aumento nos salários, para compensar a perda do poder aquisitivo real do trabalhador, o que, elevando o custo de produção, poderá acusar uma alta nos preços finais do produto (inflação de custos). Certas firmas, no entanto, poderão utilizar-se do fato de seus custos terem aumentado, para elevarem seus preços além do incremento nos custos, causando, assim, uma nova pressão inflacionária (inflação administrada). Estas firmas poderão agir de tal forma visando a um incremento em seus lucros ou, então, em virtude de uma expectativa de inflação futura. Elevando seus preços além do incremento em seus custos, estar-se-ão precavendo contra futuras elevações no nível de preços (inflação causada por razões psicológicas de expectativas de futuro aumento nos preços). Havendo expectativa de aumento nos preços, os consumidores desejarão aumentar as compras de bens de consumo e as firmas também desejarão incrementar seus estoques de matéria-prima, por exemplo, prevendo uma queda no valor real do dinheiro. Por razões de deficiências no setor de distribuição a varejo, como também por causa da elasticidade da oferta de curto prazo, natural em produtos agrícolas, criar-se-ão novas pressões de aumentos de preços (inflação estrutural).


Notamos assim que, uma vez iniciado o processo, forma-se uma espiral inflacionária, da qual todas as teorias expostas oferecem explicações parciais para o fenômeno.

A causa do efeito multiplicador é a seguinte: quando o governo, por exemplo, aumenta os seus gastos em 10 (sem o correspondente aumento em T), alguém receberá esses 10 como pagamento por um serviço ou um bem vendido ao governo. Isso significa que a renda já aumentou em 10, pois, sem o governo, esse gasto não teria sido efetuado. Essa pessoa, se a propensão marginal a consumir for de 0,5, consumirá 5 e poupará 5. No ato de consumir, a pessoa teve que efetuar um pagamento a alguém, cuja renda foi, assim, incrementada em 5. Essa segunda pessoa gastará 2,5 e poupará o resto. Dessa forma, 2,5 foram recebidos por uma terceira pessoa e assim por diante. Os incrementos na renda foram:

O processo prossegue infinitamente, sendo que cada incremento da renda é menor que o anterior. A soma de todos os incrementos é igual ao produto do aumento inicial pelo referido multiplicador, que será 10 * 2 = 20, visto que o multiplicador é igual a

Assim, um aumento na procura agregada causará um aumento na renda igual ao aumento inicial ampliado pelo multiplicador, o qual mede a magnitude da variação da renda. É interessante notar que, quanto maior a propensão marginal a consumir, mais alto será o valor do multiplicador. No entanto, quanto maior a propensão marginal a consumir, mais baixa será a parcela poupada de um dado aumento da renda. Um multiplicador alto aumenta a renda numa proporção alta, dado um aumento em investimento, por exemplo, mas dificulta o próprio ato de investir.





7. O Setor Monetário


O DINHEIRO

Qualquer coisa universalmente aceita como pagamento em troca de bens ou serviços é dinheiro. O dinheiro tem certas características que o diferenciam dos outros bens. É um meio de troca, o que possibilita transações entre pessoas que não tenham a dupla coincidência de desejos, que se torna necessário quando transações são efetuadas por troca ou barganha. Um indivíduo que tivesse um cavalo e quisesse trocá-lo por uma vaca não teria que achar uma pessoa que tivesse uma vaca e quisesse trocá-la por um cavalo. Através do uso do dinheiro, ele teria de vender o cavalo inicialmente e, com o dinheiro, procuraria uma vaca.


O método, como vimos, elimina uma série de condições que seriam essenciais para se efetuar a transação, sem o auxílio do dinheiro.


O dinheiro também é um modo conveniente de se acumularem valores. Assim, como o dinheiro mantém o seu poder aquisitivo, fica claro que, mantendo-se dinheiro, se estaria mantendo o comando sobre a parte correspondente em dinheiro do produto da nação. É fácil notar como a função do dinheiro associada ao acúmulo de valor pode ser extremamente prejudicada pela inflação. O dinheiro também é uma unidade contábil, o que facilita, sobremaneira, operações com unidades diferentes. O dinheiro é o denominador comum para máquinas, frutas e animais e, assim sendo, permite uma melhor agregação na economia. O dinheiro mais comum em nossa civilização tem sido o ouro. Por ser de difícil manuseio, era depositado em lugares seguros (os "goldsmiths") e o depositário emitia recibos prometendo devolver o ouro contra apresentação do mesmo.



Assim, o ouro passou a ter o seu equivalente em papel, circulando livremente como dinheiro - o papel-moeda - mas garantido pelo depósito em metal junto ao "goldsmith". Com o passar dos tempos, e aqui está também a origem dos bancos, os "goldsmiths" perceberam que, se os seus clientes confiassem neles, não haveria necessidade de manter-se o lastro - ouro integral sobre o papel-moeda que corria livremente. Ele estaria seguro, se mantivesse somente uma percentagem do valor do papel-moeda em ouro, para garantir possíveis saques do metal, sob apresentação do seu "recibo". Eles poderiam, conseqüentemente, emitir mais "recibos" (papel-moeda) do que possuíam em ouro. Nasceu, assim, o papel-moeda, que não é simplesmente a contrapartida do ouro, mas que é universalmente aceito, mesmo desvinculado do precioso metal (moeda fiduciária). Tal confiança baseia-se na garantia do governo, que agora controla totalmente a emissão de dinheiro.


Quando se fala em dinheiro, fala-se, então, de qualquer meio de pagamento universalmente aceito. Modernamente, incluímos na oferta de dinheiro as moedas metálicas em circulação, o papel-moeda e os depósitos bancários a vista.


O SETOR MONETÁRIO E O SETOR REAL

Os clássicos, em sua famosa Teoria Quantitativa da Moeda, achavam que a oferta monetária, ou seja, a quantidade de dinheiro em circulação, não teria qualquer efeito sobre o setor real da economia.


Julgavam eles que o sistema monetário nada mais era do que uma superestrutura, cujo intuito ou função era simplesmente facilitar as operações entre agentes econômicos e que variações na oferta de dinheiro não afetariam o nível de emprego, nem a renda real gerada numa economia. Esta visão se operava na suposição de que, havendo Concorrência Perfeita, o nível do produto seria sempre o de pleno emprego dos fatores de produção, o que, aliás, Keynes provou não ser correto. A flexibilidade nos preços faria sempre com que a remuneração dos fatores caísse, caso houvesse desemprego, o que incentivaria a maior utilização dos mesmos até que o desemprego fosse totalmente absorvido e a renda da economia encontrar-se-ia novamente em um nível potencial. Desta forma, o setor monetário serviria somente para lubrificar o mecanismo descrito acima. Um aumento ou queda na oferta de dinheiro faria com que o nível de preços aumentasse ou caísse, mantendo, no entanto, os preços relativos constantes. Por exemplo, 1 tonelada de trigo teria o valor equivalente a 2 toneladas de milho, não importando se o trigo custasse Cr$ 100,00 a tonelada e o milho Cr$ 50,00 a tonelada, ou se ele custasse Cr$ 500,00 a tonelada e o milho Cr$ 250,00. O importante é que, qualquer que seja o nível de preços, o valor do trigo será sempre duas vezes maior que o valor do milho. Os preços relativos só sofreriam alterações caso houvesse desemprego dos fatores de produção.


Neste caso, haveria uma modificação no valor real do bem ou do serviço, o que, como já vimos, faria com que o desemprego fosse absorvido. Por exemplo, havendo trabalhadores desempregados, a taxa de salário poderia cair de Cr$ 100,00 para Cr$ 80,00. Se todas as outras variáveis se mantivessem constantes, a mão-de-obra se tornaria relativamente mais barata que o preço do capital, por exemplo.


Isto acarretaria um aumento na procura por mão-de-obra e o desemprego seria eliminado, voltando a economia a produzir o nível de produção máximo que lhe permite sua dotação fatorial. Supunham os clássicos que, exceção feita a certas flutuações de curto prazo, a economia se manteria sempre ao nível de pleno emprego e que variáveis monetárias não afetariam o setor real da economia.


Desta forma, a inflação ou a deflação seriam fenômenos restritos ao setor monetário, desde que houvesse uma variação na oferta de dinheiro, não afetando em nada a produção real da economia. A Teoria Quantitativa da Moeda pode ser descrita formalmente da seguinte maneira: MV = PT, onde M = oferta de dinheiro V = velocidade de circulação da moeda P = nível geral de preços T = número de transações efetuadas durante o período em conta. A equação nos diz que a oferta de dinheiro multiplicada pela velocidade de circulação da moeda é igual ao número de transações efetuadas vezes o nível de preços.


O primeiro termo representa o volume das despesas, ou seja, a quantidade de dinheiro existente multiplicada pelo número de vezes que o dinheiro foi utilizado. Se a oferta de dinheiro é igual a Cr$ 1.000.000,00 e se, em média, este montante foi utilizado 5 vezes durante um ano, isto nos diz que o total de despesas efetuadas foi Cr$ 5.000.000,00.


O segundo termo representa o volume das receitas, ou seja, o nível médio de preços vezes o número de transações efetuadas. Se o nível médio de preços das transações é igual a Cr$ 100,00 e se foram efetuadas 50.000 transações durante o ano, o total das receitas será igual a Cr$ 5.000.000,00. Logicamente, o total da despesa será igual ao total da receita, ou seja, o valor das compras será igual ao valor das vendas.


Como os clássicos supunham que V (velocidade da moeda) era sempre constante e que refletia, simplesmente, um hábito da população, e também que T (número de transações) estava sempre ao nível de pleno emprego, para que MV = PT, qualquer variação em M (oferta de dinheiro) acarretará variações correspondentes em P (nível de preços) ou vice-versa, de tal forma que a igualdade seja mantida. Se T e V são constantes, o nível de preço será uma função da oferta de dinheiro, ou seja:

Notamos que a renda de uma economia, ou seja, PT, variará em termos nominais com variações na despesa, ou seja, MV; no entanto, o nível de produção real não será modificado.


Constatamos, assim, que a Teoria Quantitativa da Moeda separa completamente a longo prazo o setor monetário do setor real da economia. Esta interpretação mecânica do sistema econômico é válida, se V e T se mantiverem realmente constantes. No entanto, tal não ocorre. Mostraremos, agora, que existe um elo de ligação entre o setor monetário e o setor real, que é a taxa de juros, e que há preferência pela liquidez, de tal forma que V e T não podem ser consideradas constantes. Nossa experiência com aumentos na oferta monetária e com a inflação daí decorrente é suficiente para que olhemos tal teoria com grandes suspeitas. A inflação não é neutra, como preconizam os clássicos, e pode causar efeitos reais na economia. Ela redistribui a renda contra aqueles que, por receberem rendas fixas, criam distorções na estrutura de investimentos, favorecendo a especulação, inibem a poupança e criam conflitos sociais.

P = KY1 + C - d (i), onde i representa a taxa de juros(2). Devemos notar que K, d e c são constantes.


Observando o gráfico 7.1, vemos uma curva de procura de dinheiro e duas curvas de oferta. O segmento oa representa o montante da parcela K da renda recebida (neste caso, a renda é Y1). Tal parcela representa o mínimo de dinheiro que será mantido em forma líquida, independentemente do nível da taxa de juros.


A PREFERÊNCIA PELA LIQUIDEZ E A TAXA DE JUROS

A taxa de juros, que é a remuneração, pagamento ou preço do dinheiro, é determinada pela procura e pela oferta do mesmo. A procura por dinheiro é baseada em três motivos principais:

1) A procura para transações, baseada na renda recebida. Como o dinheiro não é totalmente gasto no dia em que se recebem os salários, e sim durante o período entre os recebimentos, haverá sempre um "saldo em caixa", ou seja, uma parcela t da renda (ty) que representa a procura para transações;

2) A procura por precaução. Como o próprio nome diz, é um saldo que se mantém para contornar qualquer imprevisto. Esse saldo é uma parcela p da renda (py);

3) A procura especulativa. Baseia-se na taxa de juros. Quanto mais baixa a taxa de juros, menos incentivo terão os poupadores a emprestar seus fundos, que, assim, permanecem em forma líquida, esperando que a taxa de juros suba, para, então, obterem maiores rendimentos(1). Se a taxa de juros é baixa, o custo de oportunidade de manter o dinheiro em forma líquida também é baixo.


Assim, com uma renda Y1, as procuras por transações e por precaução podem ser representadas por uma proporção da renda Y1, onde K = t + p e a procura por especulação será uma função negativa da taxa de juros C - d (i). A procura total por dinheiro será: P = KY1 + C - d (i), onde i representa a taxa de juros(2). Devemos notar que K, d e c são constantes.


Observando o gráfico 7.1, vemos uma curva de procura de dinheiro e duas curvas de oferta. O segmento oa representa o montante da parcela K da renda recebida (neste caso, a renda é Y1). Tal parcela representa o mínimo de dinheiro que será mantido em forma líquida, independentemente do nível da taxa de juros.

A reta jb representa a procura especulativa e, como podemos observar, a procura ou preferência pela liquidez aumenta quanto mais baixa é a taxa de juros. As duas retas verticais pontilhadas (M2 e M1) representam níveis de oferta de dinheiro, que são exogenamente determinadas. A um nível de oferta de dinheiro igual a M2, a taxa de juros de equilíbrio será ie; a um nível de oferta maior, igual a M1, a taxa de juros de equilíbrio cairá para i1. Notamos, então, que a taxa de juros igualará a oferta à procura por dinheiro (M = KY1 + C - d (i)) e que, dada uma certa renda de equilíbrio Y1, variações na oferta monetária acarretarão modificações na taxa de juros de equilíbrio.


A FUNÇÃO INVESTIMENTO

No capítulo anterior, afirmamos que o nível de investimentos era exogenamente determinado. Vamos, agora, tornar o modelo mais realista, fazendo com que o investimento varie em função da taxa de juros. Na realidade, quanto mais baixa for a taxa de juros, menor será o preço que os empresários terão de pagar para efetuar investimentos e vice-versa; ligamos, assim, o setor monetário ao setor real. Uma variação na taxa de juros acarretará variações na taxa de investimento, o que, consequentemente, fará variar a procura agregada e a renda de equilíbrio. A curva que relaciona a taxa de juros e o nível de investimento chama-se Eficiência Marginal do Investimento, que podemos ver no gráfico 7.2, à direita. A Eficiência Marginal do Investimento, ou seja, a rentabilidade da última unidade investida, representa a expectativa dos empresários com relação à lucratividade e às oportunidades de investimento.


Obviamente, os empresários investirão seu capital naquelas oportunidades que lhe darão a rentabilidade mais alta. Ao passo que tais investimentos são feitos, a lucratividade de investimentos adicionais vai decrescendo. Com um investimento efetuado de Cr$ 5.000.000,00, a taxa de lucro esperada pode ser de 15%; com Cr$ 25.000.000,00 investidos, a taxa de lucro será menor, digamos, de 5% e assim por diante. Os empresários efetuarão investimentos até onde a taxa de lucro for igual à taxa de juros, ou seja, até onde a remuneração do investimento ao empresário for igual ao custo de capital para o mesmo.

Na situação acima, por exemplo, dadas a procura por dinheiro (com yE - y1) e a oferta monetária M1, a taxa de juros será i1, a qual determinará no gráfico, que relaciona a taxa de juros e os investimentos, o nível I1 de investimentos. Com este investimento, teremos o nível de renda de equilíbrio igual a y1, onde I1 no gráfico 7.2 é igual a I1 no gráfico 7.3.


Suponhamos que o nível de renda y1 estivesse abaixo da renda de pleno emprego e que o governo quisesse expandir a renda. Ele poderia usar políticas fiscal e orçamentária, que já conhecemos; mas também poderia usar uma política monetária que se relacione com variações na oferta de dinheiro. Neste caso, o governo teria de aumentar a oferta monetária (mesmo através de emissão, pois, como a economia não está a pleno emprego, isto não acarretaria inflação de demanda) para M2, o que faria com que a taxa de juros baixasse para i2; à taxa de juros i2, mais baixa que i1, os investimentos aumentariam de I1 para I2, o que levaria a economia a um nível de renda y2, mais alto que y1.


Vimos aqui qual o efeito da política monetária na economia, mas não estudamos devidamente como o governo efetua a política monetária. Um modo seria através de emissões e recolhimentos de papel-moeda, o que, no entanto, é uma forma perigosa e precária de efetivar uma política monetária racional. Vejamos a estrutura da oferta de dinheiro e como ela pode ser manipulada.


A OFERTA DE DINHEIRO

Além do papel-moeda, emitido pelo governo, definimos como dinheiro os depósitos bancários à vista.

Vejamos então como os bancos comerciais podem fazer variar a oferta de dinheiro através de variações em seus depósitos.

Suponhamos inicialmente que haja um só banco em toda a economia e que sua situação seja a descrita pelo balanço abaixo.

Chamamos de reservas o dinheiro que os bancos mantêm em caixa para efetuarem pagamentos contra apresentação de cheques. Como já vimos anteriormente, os antigos "goldsmiths" só mantinham uma parte do lastro-ouro para garantirem os empréstimos. Da mesma forma, os bancos comerciais mantêm uma percentagem dos depósitos em forma de dinheiro líquido e o restante é emprestado a juros pelos bancos. No exemplo dado, o banco mantém em caixa 25% de seus depósitos.


Suponhamos que o governo regule o montante de caixa em relação aos depósitos, que chamaremos de reserva compulsória, e que ela seja de 25%. Os bancos podem manter reservas acima deste limite mínimo de 25% se eles assim o desejarem. Aqui, vamos considerar que os bancos julguem a reserva de 25% perfeitamente segura e não queiram manter reservas extras.


Se houvesse um depósito de 100 efetuado, a situação do banco seria a seguinte:

Como o intuito do banco é ter lucro através de pagamentos de juros sobre empréstimos e como ele acha que 25% de reservas oferecem segurança, o banco irá aumentar seus empréstimos. Vamos supor, agora, que não haja vazamentos; em outras palavras, que o banco, ao emprestar o dinheiro, faça-o via abertura de uma conta em nome do tomador do empréstimo. Assim, seus depósitos também aumentarão com um aumento nos empréstimos. Os bancos notarão que, ao emprestar mais 300, os depósitos aumentarão para 1400 e que o caixa, sendo 350, a reserva será de 25%, que é o desejado.

O que observamos foi que, com um aumento no caixa de 100, houve um acréscimo nos depósitos de 400, o que aumentou no mesmo tanto a oferta de dinheiro, já que depósito à vista é dinheiro. Neste caso, o multiplicador bancário foi de 4 (o multiplicador 1 é igual a -, sendo a reserva compulsória). O multiplicador poderá ser reduzido se o banco, por exemplo, desejar manter em caixa uma reserva maior do que a reserva compulsória e também se houver vazamento no sistema, como um tomador de empréstimo, que, em vez de aceitar uma conta no banco e usar cheques, prefira retirar dinheiro. Isto reduzirá o caixa e limitará a expansão dos empréstimos.


O mesmo mecanismo funcionaria se, em vez de um só banco, a economia dispusesse de vários. Os fenômenos se repetiriam, só que, em vez de ocorrerem num só banco, ocorreriam no sistema bancário como um todo. Assim, um empréstimo efetuado pelo banco X pode aumentar não os seus depósitos, mas os depósitos do banco Y, se o tomador fizer um pagamento a um cliente do banco Y. Notamos, no entanto, que o efeito multiplicador será o mesmo, considerando-se todos os bancos em conjunto.


TIPOS DE POLÍTICA MONETÁRIA

A política monetária tem como principal objetivo o controle da oferta de dinheiro, e consequentemente, o da taxa de juros. Os principais instrumentos utilizados são: controle direto da quantidade de dinheiro em circulação, modificações na taxa de reserva compulsória, open-market, e taxa para redesconto.


O controle direto se relaciona principalmente com emissões de dinheiro e sua circulação por intermédio das autoridades monetárias.


Variando as taxas de reserva compulsória, o governo pode, também, controlar a oferta de dinheiro efetuada pelos bancos. Por exemplo, com uma taxa de reserva compulsória de 25% e 100 unidades monetárias em caixa, os bancos poderiam emprestar e aumentar seus depósitos em 400. Uma queda para 20% possibilitaria um aumento em seus empréstimos de 400 para 500.


As operações "open-market" começam, agora, a ser utilizadas no Brasil. Ela é feita quando o governo emite e vende ou, então, recolhe títulos.


Ao vender títulos, o governo está retirando dinheiro da circulação, pois, ao ser pago em cheque, por exemplo, o governo realmente retira o dinheiro da caixa do banco, causando, então, uma redução nos empréstimos bancários de acordo com o multiplicador. Quando o governo recolhe títulos, ele paga aos vendedores, que, então, depositam esse dinheiro em bancos, os quais expandem empréstimos e depósitos, de acordo com o multiplicador bancário.


A taxa para redesconto é a taxa pela qual o Banco Central empresta aos bancos comerciais.

Um aumento na taxa desencoraja os bancos a tomarem emprestado do Banco Central e incentiva-os a liquidarem parte de seus outros ativos ou diminuírem seus empréstimos. O efeito será uma diminuição na oferta monetária e nos empréstimos. Uma queda nas taxas incentivaria empréstimos do Banco Central e também empréstimos ao público.


No Brasil, onde o mercado de capitais é ainda imperfeito, a política de manipulação da taxa para redesconto não é eficiente; o maior efeito é provavelmente o efeito psicológico de tais variações, o que indicaria, então, a direção da política governamental.




8. O Setor Externo


COMÉRCIO INTERNACIONAL

Vamos agora estudar os problemas relacionados com o fato de as nações comerciarem entre si.


O comércio internacional é efetuado por compradores e vendedores residentes em países diferentes e que usam internamente moedas distintas para efetuarem suas transações. Por exemplo, o vendedor de café brasileiro receberá pagamento em dólares do comprador americano. Como o vendedor necessita de cruzeiros para efetuar suas transações no Brasil, é necessário que o dólar possa ser convertido em cruzeiros. O preço de uma moeda em termos de outra chama-se taxa de conversão ou taxa de câmbio. Por ela, o vendedor brasileiro poderá trocar seus dólares por cruzeiros e, caso deseje importar algo, será a essa taxa que comprará os dólares para efetuar o pagamento ao vendedor americano.


A DETERMINAÇÃO DA TAXA DE CÂMBIO

É importante notar o efeito que teria nos preços dos bens comercializados internacionalmente uma variação na taxa de câmbio. Por exemplo, se a taxa de câmbio entre o cruzeiro e o dólar for de Cr$ 4,00 por dólar, um bem vendido no Brasil por Cr$ 8,00 custará ao importador americano dois dólares; da mesma forma, um importador brasileiro terá de gastar Cr$ 8,00 para comprar dois dólares com os quais efetuaria o pagamento por uma importação cujo preço nos E.U.A. fosse de dois dólares.


Se a taxa mudasse para Cr$ 5,00 por dólar (uma desvalorização do cruzeiro), o importador brasileiro teria de despender Cr$ 10,00 para efetuar o mesmo pagamento de US$ 2.00, ao passo que o importador americano, que necessitasse efetuar um pagamento por uma importação do Brasil de Cr$ 8,00, teria de despender somente US$ 1.60. O efeito da desvalorização do cruzeiro foi fazer com que os produtos brasileiros se tornassem mais baratos no exterior, ao passo que os produtos estrangeiros se tornassem agora mais caros para os importadores brasileiros.


Mas poderíamos perguntar o que determina a taxa de câmbio. Num mercado competitivo, a taxa de conversão de cruzeiro em dólar, por exemplo, seria determinada pela oferta e procura pelo cruzeiro. A oferta será determinada por aqueles que têm cruzeiros em seu poder e a procura por aqueles que os desejam comprar. (Em outras palavras, quem oferta cruzeiros deseja comprar dólares e quem demanda cruzeiros deseja vender dólares.)


No gráfico abaixo, teremos no eixo vertical o preço do cruzeiro em dólar e no eixo horizontal quantidades de cruzeiros.

A taxa de câmbio será determinada no ponto em que a oferta for igual à procura por cruzeiros, neste caso, US$ 0.30 por cruzeiro.


É importante notar que a oferta por cruzeiros representa a procura por bens importados transformada em termos de dólares. O que ela nos diz é que, quanto mais alto for o preço ou valor do cruzeiro, mais importações desejaremos efetuar, visto que o custo da importação será mais baixo. A curva de procura representa quanto podemos obter em cruzeiros, através de nossas exportações efetuadas em dólares. A curva, realmente, reflete a procura de importadores estrangeiros pelos nossos bens de exportação.


Se houvesse um aumento na oferta por cruzeiros, ou seja, um aumento em nossa procura por bens importados (isto representa um deslocamento da curva e não um movimento sobre a curva), a taxa de câmbio de equilíbrio se alteraria, como vemos no gráfico 8.2.

O preço do cruzeiro em dólares diminuiu; em outras palavras, é necessário menos dólares para comprar um cruzeiro ou mais cruzeiros para comprar um dólar. Houve, então, uma desvalorização do cruzeiro. O seu preço em dólares caiu para US$ 0.20; isso quer dizer que o novo preço do dólar, em cruzeiro, é de Cr$ 5,00, ao passo que antes era de Cr$ 3,33.


Devemos observar, no entanto, que as taxas de câmbio, na realidade, não são determinadas pelo livre jogo de mercado, mas sim fixadas pelo governo.


Isso pode se transformar em uma importante arma para a política econômica, chamada política cambial. Se o governo desejar incentivar exportações e desincentivar importações, deverá desvalorizar o cruzeiro em termos do dólar. Assim fazendo, estará protegendo a sua produção interna contra a competição estrangeira.


Vejamos, por exemplo, o que ocorreria se o governo fixasse a taxa de câmbio a Cr$ 5,00 por dólar, ou seja, US$ 0.20 por cruzeiro (taxa fixa).

Neste caso, o governo está, evidentemente, criando condições, ainda que artificiais, para que a procura por cruzeiro (ou seja, a oferta de dólares provenientes de nossas exportações) seja maior que a oferta por cruzeiro (ou seja, a nossa procura por bens importados), num montante igual ao segmento ab.


Se o governo houvesse fixado a taxa de câmbio a Cr$ 2,50, ou seja, US$ 0.40 por cruzeiro (para baratear importações consideradas essenciais), a nossa procura por importações seria maior que nossas importações atuais, devendo, então, o governo estabelecer tarifas aduaneiras com o fito de deslocar a curva da oferta por cruzeiro (ou seja, nossa procura por importações) para a esquerda, evitando, assim, deficit em nosso balanço de pagamentos.


Sem tal medida, as importações seriam maiores que as exportações, num montante igual ao segmento cd.


Devemos observar, no entanto, que nem sempre uma desvalorização da moeda pode ter o efeito desejado. Se, no exemplo, as importações que um país efetua forem inelásticas com relação ao preço, o aumento no custo das importações decorrentes da desvalorização poderá não afetar sobremaneira o montante das importações. Da mesma forma, se a elasticidade-preço dos produtos exportados também for baixa nos mercados externos, a queda no custo dos produtos exportados não causará um aumento no volume das exportações.


Assim sendo, a desvalorização de uma moeda, tendo como objetivo eliminar um déficit no Balanço Comercial (exportações-importações), poderá não alcançar os objetivos propostos.


Tal fenômeno ocorre com relativa frequência em economias subdesenvolvidas. A elasticidade-preço das importações pode ser baixa em virtude da essencialidade dos produtos importados (matérias-primas, bens de capital e produtos alimentares essenciais) e a elasticidade-preço das exportações também pode ser baixa, como acontece com grande parte das exportações que se compõem, sobretudo, de produtos primários.


O BALANÇO DE PAGAMENTOS

O Balanço de Pagamentos é uma conta que registra transações com o exterior. Compõe-se de duas partes:

Balanço em conta-corrente, que registra nossas importações e exportações de bens, serviços e fatores de produção (inclui seguro, frete, royalties etc.);


Balanço de capital, que registra as entradas e saídas de capital e de reservas (incluindo ouro).


Um déficit em conta-corrente (mais importações do que exportações) precisa ser contrabalançado por um superávit em conta de capital, o que quer dizer que se necessita efetuar pagamentos com reservas ou, então, tomar emprestado no estrangeiro.


Um superávit em conta-corrente precisa ser contrabalançado por um déficit em conta-corrente, o que quer dizer que aumentou-se as reservas ou, então, efetuou-se empréstimos a compradores estrangeiros.


Chama-se superávit ou déficit no balanço de pagamentos um desequilíbrio nas contas, quando se excluem movimentos de reservas. Se, por exemplo, importa-se mais do que se exporta, haverá um déficit em conta-corrente. Este déficit poderá ser financiado parcialmente pela entrada de capitais autônomos, parcialmente por empréstimos compensatórios e, parcialmente, por movimento de reservas acumuladas pelo governo. É o valor do movimento de reservas, que chamaríamos de déficit ou superávit no balanço de pagamentos.


POR QUE COMERCIAR COM O EXTERIOR

Se o mundo todo fosse um só país, não haveria comércio internacional, visto que todo ele seria efetuado internamente. Os princípios que levam o homem a comerciar internamente são os mesmos que o levam a comerciar com outros países.


O comércio entre dois Estados seria mantido inalterado se os mesmos se transformassem em países independentes. As normas e vantagens desse comércio, provavelmente, seriam mantidas inalteradas. A única diferença seria nas formas de pagamento, o que já examinamos na seção anterior.


Comércio entre indivíduos ou entre nações possibilita-os a concentrarem seus esforços na produção de bens para os quais eles possuem uma vantagem com relação a outros e trocam esses bens por outros que não poderiam produzir de forma eficiente. O próprio fato da concentração em certas áreas de produção tende a aumentar a produtividade nessas atividades, em decorrência de um conhecimento mais perfeito da área, de economias de escala, de possibilidades de maior divisão de trabalho etc.


Vejamos um exemplo. Se, com duas unidades de fatores de produção, o Brasil conseguir produzir 10 sacas de café ou um metro de tecido e, com essas mesmas duas unidades, a Índia puder produzir duas sacas de café ou 7 metros de tecido, pelo quadro abaixo veremos que, havendo comércio e concentração na produção de bens onde o país tenha vantagem com relação a outro, a produção total será maior do que se cada país produzir ambos os produtos para seu próprio consumo.


Se o Brasil importasse tecido da Índia, ganharia 10 sacas de café. A Índia, ao perder 2 sacas de café, produziria 7 metros de tecido. O efeito líquido é o ganho de café para o Brasil.

Porém, o comércio exterior especializado é vantajoso mesmo sem vantagem absoluta de um país. Basta haver vantagem comparativa. Por exemplo, o Brasil, embora eficiente em café e tecido, deveria focar na área onde é mais superior.

Com 100 unidades de recursos, o Brasil poderia produzir mais café e tecido do que a Índia. No entanto, se o Brasil transferisse 10 unidades para o café e a Índia, 100 unidades para a produção de tecidos, o efeito líquido seria:

Seria vantajoso que países produzissem bens nos quais têm produtividade maior, importando o que outros países produzem melhor. Assim, poderiam se especializar e usufruir de maior quantidade de ambos os bens via comércio internacional.


O SETOR EXTERNO E O NÍVEL INTERNO DA RENDA

Vimos no cap. 5 que

Y=C+I+G

Vamos agora introduzir no modelo as variáveis do setor externo.


Exportações injetam na economia, enquanto importações representam vazamentos. Então:

Y = C + I + G + (X - M),

onde X = exportações e M = importações.


Um saldo positivo de X - M expande a renda, assim como aumento nos investimentos ou gastos governamentais. Um saldo negativo contrai a renda. Esse saldo é afetado por políticas como tarifas e câmbio.


No gráfico 8.4, vemos uma economia abaixo do pleno emprego.


Para aumentar a renda e eliminar o desemprego, o governo pode adotar medidas fiscais, orçamentárias e monetárias.


A função consumo é C = 40 + 0,2Y. O investimento é 20 e os gastos governamentais são 10.

O país tem um saldo negativo de X - M, indicando mais importações que exportações em 20 unidades monetárias. Podemos determinar o equilíbrio da renda, que é igual a:

Supondo que haja desemprego na situação apresentada pelo gráfico 8.4, o governo resolve eliminar o saldo negativo de X - M por meio de duas medidas:

1) Desvalorizando a moeda. Embora tenha aumentado as exportações, as importações não caíram como esperado, mostrando inelasticidade-preço.


2) Impondo quotas de importações para produtos supérfluos, efetivamente reduzindo as importações.


Com essas medidas, o governo transformou o déficit em X - M em um saldo positivo de 15 unidades. O efeito no nível de renda pode ser medido pela equação:

O novo nível da renda foi, em conseqüência, aumentado para 106,25, diminuindo, conseqüentemente, o nível de desemprego.


Capítulo 9 - Desenvolvimento Econômico


CRESCIMENTO ECONÔMICO

Observando o mundo atual, notamos um desnível cada vez maior entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos. Este desnível pode ser observado em todos os campos de atividade econômica, mas o que realmente nos impressiona não é a diferença absoluta entre os ricos e os pobres, mas, sim, o fato de os ricos se tornarem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, em comparação com os ricos.


É a observação desse fato, mais os efeitos psicológicos decorrentes dos modernos métodos de comunicação (efeito demonstração), que têm levado as autoridades de países subdesenvolvidos a tentarem acelerar as suas taxas de crescimento econômico.

O processo de crescimento econômico pode ser efetuado pela utilização de recursos ociosos, por inovações tecnológicas, por um esforço maior em seu processo produtivo, por um aumento em sua capacidade produtiva, etc.


A curto prazo, poder-se-ia efetivar o crescimento econômico pelo método keynesiano do aumento da procura agregada, através de gastos governamentais, política fiscal ou por investimentos crescentes; a longo prazo, porém, é necessário que a economia aumente sua capacidade produtiva, para que não encontre barreiras ao seu desenvolvimento posterior.

O próprio ato de investir, aumentando a curto prazo o nível da renda via aumento na procura agregada, gerará no futuro um aumento na oferta de bens e serviços. Aumentando o estoque de capital, a capacidade produtiva do sistema também foi expandida.


O aumento da capacidade produtiva gerada por um dado investimento é determinado pela relação técnica chamada relação produto-capital marginal. Por exemplo, um investimento adicional de Cr$ 10.000,00 gerará, dependendo das relações técnicas tais como administração tecnológica, controle etc., um aumento no produto anual de Cr$ 5.000,00. A relação produto capital marginal será, portanto 5.000 / 10.000 = 0,5.


Devemos notar que a relação Pmarg. / Kmarg. varia muito de setor para setor e mesmo de indústria para indústria. A relação que nos interessa é a relação média para a economia.


Notamos, então, que o investimento eleva a capacidade produtiva pela relação produto-capital marginal e que o mesmo investimento eleva a renda da economia pela relação do multiplicador. Para que a economia cresça em equilíbrio, é necessário que a capacidade produtiva (a oferta) cresça à mesma taxa que a renda e, portanto, à mesma taxa que a demanda agregada. Caso contrário, a economia pode parar de crescer, se a capacidade produtiva cresce mais rapidamente que a demanda, gerando a capacidade ociosa e inibindo investimentos.


Chamemos Δ CP o acréscimo na capacidade produtiva, Δ Y o acréscimo na renda, « a relação Pmarg. / Kmarg., I o investimento líquido e Δ I / I a taxa de aumento dos investimentos e b a propensão marginal a consumir.


Sabemos que Δ CP = « I e sabemos também que Δ Y = Δ I = 1/1 ― b, onde 1/1 – b é o valor multiplicador.


Para que haja crescimento equilibrado, é necessário que Δ Y = Δ CP, OU SEJA Δ I 1/ 1 ― b = « I; multiplicando ambos os termos por 1 ― b, (que é a propensão marginal a poupar) e, em seguida, dividindo por I, teremos Δ I/I = « (1 ― b).


Vemos, então, que a taxa de crescimento de investimento (Δ I / I) deve ser igual ao valor da relação produto-capital marginal multiplicada pela propensão marginal a poupar.

Vemos, então, que a taxa de crescimento do investimento não deve ser inferior nem superior a « (1  ― b), sob pena de o crescimento não ser equilibrado - a economia geraria capacidade ociosa, retardando o crescimento, ou geraria uma procura superior à oferta, criando pressões inflacionárias. Daí a necessidade de se manter a taxa de crescimento de investimentos constantes.


CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

O crescimento econômico é um processo cumulativo. Para termos uma ideia desse processo, reproduzimos aqui uma tabela sobre os efeitos de diferentes taxas de crescimento do nível da renda, ao fim de certos períodos de tempo.

Observamos que, com uma taxa de crescimento de 5% ao ano, no final de 30 anos a renda ter-se-á quadruplicado, em termos reais; ao cabo de 70 anos, ela se multiplicará por 33 e, ao cabo de 100 anos, por 148.


Face a esses fatos, o crescimento econômico regular, contínuo e auto-sustentado tornou-se o ponto focal de toda a política econômica governamental, principalmente em países subdesenvolvidos. Com tal intento, governos têm tomado sobre si não só a responsabilidade de efetuarem investimentos, como também a de incentivarem e criarem condições para que o setor privado de uma economia os efetue.


É importante notar que aumentar simplesmente investimentos seria uma política de curto prazo, mas que, a longo prazo, é necessário que se criem novas oportunidades de investimentos, introduzindo-se, assim, um elemento de mudança qualitativa estrutural no processo de crescimento. Este não é só o processo "clássico" de acumulação de capital, mas também um processo onde novos fatores de crescimento sejam criados, através de inovações tecnológicas, de melhoria do fator humano por meio da educação, de modificações nas normas de ação das sociedades tradicionalistas, além de modificações essenciais na estrutura social e política, para que o desenvolvimento tenha diante de si condições favoráveis ao seu prosseguimento.


A importância desses fatores não tangíveis ao processo de desenvolvimento econômico foi alvo de estudo por E. F. Denison.

Notamos a importância crescente da tecnologia e da educação contra a perda de importância de fatores materiais, como capital e mão-de-obra.


Devemos perguntar, agora, até que ponto teorias "clássicas" de acumulação de capital e, mais recentemente, o nascimento da tecnologia como fonte dinâmica de um processo de crescimento são fatores suficientes para desencadear o mecanismo de desenvolvimento econômico nos atuais países subdesenvolvidos, e não tão somente crescimento do produto.


O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO NOS PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS

O processo de desenvolvimento não poderá ser compreendido como um simples índice econômico, mas deve incorporar uma série de condições supletivas, sem as quais não se poderá realizar. Poderíamos perguntar-nos por que permanecemos subdesenvolvidos.


Um fato importante é o círculo vicioso da pobreza. Um país pobre poupará pouco e, consequentemente, investirá pouco, permanecendo assim pobre e novamente poupando pouco. No entanto, esse pouco investido poderia levar o país a um rompimento no círculo vicioso; já vimos que, mesmo a modestas taxas de crescimento de 3% ao ano, no final de 50 anos poderíamos mais do que quadruplicar a renda; poderíamos esperar também que a propensão marginal a poupar fosse mais alta do que a média dos países.


O problema surge quando consideramos um país como subdesenvolvido, não com relação à sua renda global, mas sim quando examinamos o padrão de vida de seus habitantes. A renda per capita (renda dividida pela população) dá-nos um índice, ainda que grosseiro, do padrão de vida de uma comunidade. É aí que nos defrontamos com o nosso maior inimigo, ou seja, a explosão demográfica.


A população brasileira tem crescido a taxas superiores a 3% ao ano, o que anulará totalmente um crescimento na renda de igual valor anual. Tal explosão se deve, principalmente, à queda nas taxas de mortalidade, decorrentes de melhorias médico-sanitárias.


Com tal explosão demográfica, fica a sociedade numa situação onde, além de ter de dividir entre um número cada vez crescente os frutos de seus esforços desenvolvimentistas, se vê obrigada a investir maciçamente em projetos em que a relação produto/capital é baixa, ou seja, onde os frutos do investimento não se traduzem num crescimento imediato e tangível da produção global, tais como investimentos em hospitais, serviço social, habitações etc.

Tal situação também obriga um país a ter de acelerar tremendamente as suas taxas de crescimento, para que possa haver crescimento na renda per capita.


A curto prazo, já analisamos de que maneira o governo poderia incentivar uma aceleração no processo de desenvolvimento, através de instrumentos de políticas monetária, fiscal, cambial e orçamentária.


A longo prazo, no entanto, o problema do desenvolvimento econômico se apresenta de forma muito mais complexa: Uma política de curto prazo orientada para a obtenção de altas taxas de crescimento, pode não ser adequada para gerar os efeitos qualitativos que caracterizam o desenvolvimento econômico.


Os países subdesenvolvidos teriam que efetuar transformações em todos seus sistemas que, em muitos casos, ainda se acham presos a estruturas consideradas obsoletas e até mesmo incompatíveis com o processo de desenvolvimento. Alguns exemplos amplamente observados seriam a falta de estruturas educacionais voltadas a objetivos técnico-científicos, estruturas sociais que não favorecem a inovações e reformas, falta de espírito empresarial, aversão ao capital estrangeiro e à exploração de certos recursos minerais, e muitos outros.

Seria oportuno notar que qualquer esforço no sentido de acelerar o ritmo de crescimento de uma economia e de gerar um processo de desenvolvimento genuíno envolve, antes de mais nada, uma aceitação geral desses objetivos.


A maior dificuldade, possivelmente, é o fato de que o processo de desenvolvimento implica necessariamente em um sacrifício no presente objetivando o recebimento de retornos no futuro. Tal esforço pode fazer necessário que gerações inteiras aceitem uma queda em seus padrões de vida como a história do moderno desenvolvimento do Japão poderia bem testemunhar.


OBSTÁCULOS MAIS COMUNS AO DESENVOLVIMENTO EM PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS

1. Imperfeições no mercado: em países subdesenvolvidos, notamos, com frequência, grandes imperfeições no mercado, de modo que a economia não consegue alocar seus recursos de maneira eficiente. Tais imperfeições são decorrentes de sistemas de comunicações e transportes precários, estrangulamentos com referência a certos tipos de mão-de-obra e de capital (humano e físico), tendências monopolísticas de certas indústrias, visto que o pequeno mercado interno não comportaria um sistema eficiente de competição, tabelamento de preços, às vezes como consequência de pressões políticas e sociais, etc.


Tais imperfeições impedem a obtenção de um sistema eficiente de recursos; no entanto, um planejamento racional de desenvolvimento poderia superar algumas dessas dificuldades. Novamente, os países subdesenvolvidos veem-se impedidos, muitas vezes, de formularem um planejamento eficiente, visto não disporem de dados estatísticos abundantes e corretos.


2. Tecnologia e educação: mais uma vez nos referimos ao exemplo japonês, para observarmos como a tecnologia pode ser desenvolvida de forma a ajustar-se às condições reinantes num país. Tal fato só pode ser possível com um sistema educacional eficiente, adaptado às condições próprias do país e bem desenvolvido, de forma a poder proporcionar instrução àqueles que o desejem e se mostrem capazes.


Os japoneses, por exemplo, não hesitam em copiar técnicas estrangeiras, não antes, porém, de as adaptarem às suas próprias condições, ou seja, a uma economia onde a mão-de-obra ainda é abundante e relativamente barata.


3. Inflação: a elevação dos preços nos países subdesenvolvidos pode ser uma faca de dois gumes. Há quem diga que uma elevação controlada dos preços é realmente inevitável num país em desenvolvimento, visto que seria impossível que tal crescimento se desse sem encontrar pontos de estrangulamento. A inflação seria, então, um fator que assinalaria as áreas onde houvesse tensões, de modo que fatores de produção se vissem atraídos para essas áreas.


Além disso, o processo inflacionário pode acarretar uma poupança forçada, além de uma certa concentração da renda, o que tenderia a aumentar a poupança.


O perigo, no entanto, apresenta-se quando verificamos que é extremamente difícil manter a inflação controlada e evitar que ela se transforme numa espiral. Se isto ocorresse, além de problemas em nosso balanço de pagamentos, teríamos de enfrentar situações de efervescência social, visto que os grupos econômicos estariam todos numa louca corrida para protegerem ou até aumentarem o seu poder aquisitivo.


Provavelmente, ocorreria também uma distorção nos investimentos, que se deslocariam para bens imóveis, com baixa relação produto/capital.


4. Estrangulamento externo: países subdesenvolvidos exportam, geralmente, produtos primários e importam manufaturados. Um fato comum no processo de desenvolvimento econômico é que as necessidades de importação de matérias-primas e bens de capital aumentam, ao passo que suas exportações, geralmente, não crescem à mesma taxa (com exceção feita aos países exportadores de petróleo). Isto cria, então, grandes déficits em seus balanços de pagamentos, o que eventualmente tenderá a diminuir sua capacidade de importar.


É por esta razão que, muito comumente, se notam altas tarifas aduaneiras para bens de consumo importados, o que, além de incentivar a produção interna via proteção e aumento nos preços desses bens, libera divisas para a importação de bens de capital e matéria-prima essenciais.


O capital estrangeiro poderia aliviar essa tensão, além de trazer consigo um know-how mais moderno. No entanto, ele também pode ser uma faca de dois gumes. Algumas restrições que poderíamos fazer ao capital estrangeiro, que não fossem corretamente e conscientemente regulamentadas, seriam a alta remessa de lucros ao exterior, o emprego de uma tecnologia desenvolvida para condições diferentes das dos países subdesenvolvidos, a transferência do centro de decisões para o exterior, uma grande dependência externa, etc.


5. Mercado interno insuficiente e dualismo econômico: uma outra característica comum a países subdesenvolvidos é a existência de estruturas econômicas modernas nos grandes centros urbanos e uma estrutura ultrapassada e obsoleta nas zonas rurais. Isto pode criar dois importantes problemas: primeiro, a não exploração do mercado potencial que se acha nas zonas não urbanas, justamente em decorrência do atraso reinante nessas áreas; segundo, o grande êxodo para os centros urbanos de segmentos consideráveis da população rural que, geralmente, não estão aparelhados para se integrarem nesses focos econômicos mais modernizados.


Cria-se, então, uma situação em que o setor industrial não pode, realmente, beneficiar-se de economias de escala que pressuporiam um amplo mercado e que o leva a produzir bens orientados para a satisfação da população urbana de renda média e alta, produzindo, então, quantidades consideráveis de bens de luxo, ao passo que grandes camadas da população não podem adquirir nem os bens mais essenciais à sua sobrevivência.


Urgiria, então, uma política que visasse à maior incorporação do homem do campo à economia de mercado, isto através de um programa de modernização e de exploração mais racional do setor rural, para que se pudesse efetivar, igualmente, a criação de um mercado rural para bens manufaturados.


Esse seria, também, um passo importante no prosseguimento do processo de substituição de importações, possibilitando, então, que se produzissem equipamentos industriais internamente, o que não seria viável, face ao mercado restrito para produtos industriais.


O PLANEJAMENTO ECONÔMICO

A crescente distância entre os países ricos e os pobres é, sem dúvida, um grande incentivo para que os países subdesenvolvidos concentrem esforços em políticas desenvolvimentistas. Visto que os países pobres têm "pressa" em se desenvolverem, torna-se cada vez mais potente a necessidade de o governo intervir na economia como um órgão centralizador das decisões mais importantes e, também, como o agente economicamente mais poderoso da nação.


É neste ponto que nos perguntamos: até que ponto o estudo de como os países hoje desenvolvidos cresceram é um bom guia para nossa política de desenvolvimento? Deve o governo intervir energicamente ou manter um clima liberal, à moda do laissez-faire? Até que ponto deve o governo formular um plano de desenvolvimento?


Os países desenvolvidos, como EUA, Inglaterra, Canadá etc., atingiram, sem dúvida alguma, alto nível de renda per capita através de um sistema liberal, em que o governo tinha somente uma função supletiva ao setor privado. Parece-nos, no entanto, que tal processo foi possível em circunstâncias completamente diversas das condições atuais dos países subdesenvolvidos.


O próprio subdesenvolvimento não existia quando países como a Inglaterra entraram num surto de progresso. Não havia, como consequência, a premência e impaciência com que países subdesenvolvidos tentam hoje atingir padrões mais altos de vida. As condições sociais, culturais e psicológicas eram bem diversas das atuais. Seria impossível repetir-se a experiência quando as condições são totalmente diversas.


Uma diferença, que imediatamente salta à vista, é o fato de o crescimento populacional ser devido a uma taxa de mobilidade bem mais baixa, em face da alta taxa de mortalidade que havia na época. Como resultado disso, não houve grandes dificuldades em se absorverem os excedentes populacionais nos setores industriais, porque nunca chegaram a proporções alarmantes, como se vê atualmente, em regiões subdesenvolvidas.


Pode haver, então, uma completa participação da população no processo de desenvolvimento. Com o prosseguimento da industrialização, criou-se escassez de mão-de-obra, o que possibilitou progressos tecnológicos, capitais intensivos, que aumentavam tremendamente a produtividade da mão-de-obra, o que se converteu em grande melhoria do padrão de vida da população.


Com relação a essa diferença demográfica e a muitas outras que existem, seria supérfluo qualquer estudo mais detalhado, visto que são perfeitamente observáveis por qualquer estudante que casualmente folheie um livro de História Econômica. O Planejamento Econômico possui dois grandes atrativos: a) acelera a taxa de crescimento; b) orienta a economia na direção desejada.


Já havíamos visto como a taxa de investimento é um fator importante no crescimento econômico. É sacrificando parte do consumo crescente que se pode acumular capital e aumentar a produção total no futuro. Tal investimento, no entanto, só poderá ser mantido se houver poupança. Em países como o nosso, o círculo vicioso da pobreza impossibilita a poupança privada. O governo, no entanto, poderia intervir energicamente e forçar, através de impostos, a população a poupar. Neste caso, pressionaria o padrão de consumo para baixo, através de retirada de poder aquisitivo da população, e investiria tais fundos. Esse processo aumentaria investimentos e também a taxa de crescimento. É muito duvidoso que, voluntariamente, a população decidisse reduzir o seu consumo, de modo que a intervenção do governo através de um planejamento de meios e de objetivos seria altamente vantajosa.


O planejamento também poderia influenciar outras variáveis, além da poupança; o diagnóstico de uma economia poderia ser seguido por medidas que visassem à eliminação de estrangulamentos, seja de mão-de-obra, de capital, de comunicações e transportes etc., além de criar condições psicológicas para um esforço desenvolvimentista.


O processo de aceleração da taxa de crescimento (já vimos como pequenas variações nas taxas de crescimento causam grandes mudanças no produto de uma nação, ao longo dos anos) é importante em países subdesenvolvidos, se não pelo simples fato de querermos alcançar os países ricos, pelo menos para não regredirmos em nossa renda per capita. Não nos devemos esquecer que a ausência de uma política demográfica adequada poderá anular grande parte, senão totalmente, qualquer esforço desenvolvimentista.


Também importante é o fato de que, pelo planejamento da economia, se pode orientá-la para uma desejada direção. Seria muito duvidoso se o mercado, imperfeito como é, realmente orientasse a economia, de acordo com o desejo da sua população, a longo prazo.


A racionalidade de curto prazo nem sempre se orienta para objetivos de longo prazo. No Brasil, por exemplo, estamos tentando transformar em um país industrial uma economia tradicionalmente agrícola. Inicialmente, isto envolve esforço e sacrifícios, mas poder-se-ão no futuro, colher os frutos de tais políticas, às vezes nem sempre saborosos. Um exemplo típico desse problema, onde, a curto prazo, podemos tomar decisões que nos prejudicam a longo prazo, foi a preocupação brasileira em manter preços altos de café, solucionando problemas internos imediatos, como a obtenção de divisas para prosseguir na industrialização, porém abrindo um enorme guarda-chuva sob o qual se abrigaram todos os nossos atuais concorrentes.


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