Para referências, bibliografia, e demais conteúdos, acesse o livro completo em PDF. Livro em PDF
Capítulo 1: O ESCOPO E MÉTODO DA TEORIA ECONÓMICA
Introdução:
O problema da definição da Economia como ciência e de sua situação como área de estudo tem desafiado pensadores, desde Adam Smith até nossos dias.
Smith classificou sua obra, A Riqueza das Nações, como "uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das Nações". J. S. Mill considerava a Economia como "a ciência prática da produção e distribuição da riqueza".
Mais modernamente, a ênfase tem passado do conceito de riqueza como ponto focal do estudo da Economia para o conceito de bem-estar material, ou seja, vem se dando mais importância ao aspecto humano e seu relacionamento com bens materiais.
Tal tendência é clara na definição de Alfred Marshall, que talvez seja a mais conhecida e que diz: "Economia é o estudo do homem dirigindo sua vida cotidiana" (Economics is the study of mankind in the ordinary business of life).
A popularidade da definição de Marshall talvez possa ser explicada por seu alto grau de generalidade, englobando os aspectos mais particulares constantes de outras definições.
Embora definições criem grandes controvérsias, todas concordam, com relativa facilidade, no tocante à área de ação da Ciência Econômica. Ela fornece respostas parciais a questões como : "Que deve uma sociedade ou um país produzir? Como se determinam os preços? Como se forma e se altera a renda 'de um país? O que determina a poupança e o investimento? Por que há períodos de crescimento econômico e períodos de estagnação? Que é a inflação? Qual política econômica o governo deve adotar? Qual o seu papel no bem-estar da popukição? O que determinam as relações econômicas internacionais? Por que existem disparidades nos níveis de riqueza entre regiões de um mesmo país?"
Microeconomia: Empresas
Essas e infinitas outras perguntas enquadram-se na área de estudo da Economia e para elas os economistas tentam achar respostas adequadas.
Para tal, os economistas observam a realidade e, baseados na seleção de certas propriedades e sua relação com fatos, criam teorias.
MÉTODO ECONOMICO
Resumidamente, pode-se descrever o método econômico como uma seqüência de passos que auxiliam a compreender a realidade e, a partir daí, a formular previsões sobre o mundo real.
O esquema abaixo reproduz as principais características da metodologia de análise normalmente utilizada no estudo da economia.
A análise parte da observação do mundo real, e objetiva a compreensão e a previsão dos fenômenos econômicos. De um lado, a análise económica positiva interessa-se pelas relações entre fenômenos econômicos e pela compreensão e previsão do mundo econômico real, de forma neutra e desprovida de valores éticos ou morais. O objetivo maior é a compreensão e a previsão, sem que haja qualquer intenção de julgar esta realidade, ou de alterar o curso dos eventos. Quando o economista formula um modelo para o funcionamento de um mercado monopolístico, ele está preocupado em estabelecer as causas e resultados do fenômeno, sem necessariamente julgar sua conveniência para a sociedade con10 uni todo.
econômica
De outro lado, a análise econômica normativa interessa-se em compreender e prever a realidade, tendo por meta a consecução de certos objetivos, utilizando para tal a possibilidade de formulação de política econômica para intervir no mundo real. Quando o economista avalia um monopólio com relação ao seu potencial de pesquisa, redução d? custos, eqüidade e outros quesitos, e a partir daí formula estratégias de ação econômica, ele está-se utilizando de análise econômica normativa.
Evidentemente os dois objetivos, o positivo e o normativo, se confundem na grande maioria das vezes. O economista, como qualquer outro praticante de uma ciência social, dificilmente consegue desvencilhar-se de sua realidade social, econômica, cultural e política de forma a adotar uma postura essencialmente positiva. Por outro lado, jamais conseguirá formular uma teoria econômica normativa sem os conhecimentos da economia positiva.
Em realidade, a existência do hipotético conflito entre economia positiva e economia normativa raramente se concretiza. Daí a futilidade de se tentar separar a função técnica da função política do economista.
Pode-se observar no esquema reproduzido na página 2 duas seqüências distintas de passos. A primeira, seqüência externa, pode ser chamada modelo estatístico ou indutivo, ao passo que a seqüência interna é o modelo teórico ou dedutivo.
Mais uma vez, essas duas formas de conseguir-se a compreensão e a previsão do mundo real se complementam, e não devem ser entendidas como métodos alternativos.
Um modelo é uma representação simplificada da realidade, composta de um conjunto de relações entre entes econômicos, e que possibilita a simulação de fenômenos, observados empiricamente ou não.
A partir da sensibilidade do economista com relação aos fenômenos do mundo real, é necessário um esforço de abstração através do qual selecionam-se, dentre as infinitas relações possíveis, aquelas mais representativas e pertinentes ao problema em questão. Sem esse esforço de abstração, corre-se o risco de engajamento numa tarefa impossível, ou seja, a da reprodução do mundo real com toda sua infinita complexidade.
A abstração possibilita a identificação de relações entre entidades econômicas, a "teoria", o que vai possibilitar tanto a formação de um modelo teórico como a de uni modelo estatístico. Este último nunca deve prescindir de uma formulação teórica prévia.
Embora um modelo estatístico seja essencialmente uma representação de uma seqüência de observações empíricas, ele não deve ser formulado sem o endosso de uma interpretação teórica dos fatos. Evidentemente a seleção do modelo, bem con10 a ênfase que se lhe dê como instrumento de análise, vai depender da razão para a qual o modelo é construído.
Uma vez construídos, os modelos serão utilizados para a obtenção de conclusões lógicas, no caso do modelo teórico. Em ambos os casos, obtêm-se afirmações sobre a realidade analisada, as quais, devidamente interpretadas, servirão de base para a compreensão elou previsão da realidade econômica. Esta seqüência de passos constitui a estrutura básica do método de análise empregado por economistas.
Algumas premissas são freqüentemente aceitas na formulação de modelos econômicos, muito mais como simplificadoras da realidade do que como observações empíricas. Dentre as mais importantes se destacam a premissa da unidade de objetivos, a premissa da racionalidade e a premissa de coeteris paribus.
A primeira aceita, sem demonstração, o fato de que os agentes econômicos agem sempre de forma a obterem um objetivo único primordial que se sobressai sobre todos os demais. Por exemplo, na teoria da firma, aceita-se como único objetivo do empresário a maximização do lucro, embora sabe-se que, na realidade, outros objetivos estarão presentes na função objetivo do empresário, tais como metas de expansão e crescimento, diversificação, controle de riscos, imagem na opinião pública e no governo etc. Na teoria do consumidor aceita-se a hipótese de que a função utilidade, a ser maximizada, é função unicamente das quantidades de produtos e de serviços consumidos, embora saiba-se da existência de grande interdependência entre a utilidade de um consumidor e quantidades consumidas por outros consumidores.
A segunda premissa, a da racionalidade, implica que os agentes econômicos otimizem uma variável-chave. O processo de maximização (ou minimização) demonstra a racionalidade de homo economicus, já que, uma vez detectada a variável primordial, ela será otimizada, independentemente de outros objetivos. Pressupõe-se ainda que os agentes econômicos têm conhecimento de todas as variáveis intervenientes no processo de otimização, e que não cometem erros na obtenção de seus objetivos, ou seja, são eficientes.
A terceira premissa, a de coeteris paribus, também é uma simplificadora do mundo; sem ela a complexidade da análise se tornaria insuperável. Esta hipótese equivale, em economia, ao experimento científico, quando todas as variáveis, menos uma, são controladas ou mantidas fixas. Alfred Marshall introduziu este método na análise econômica. Implica a noção de que, embora seja sabido que todas as variáveis econômicas dependam de todas as demais, seja possível, na maioria das vezes, isolar algumas como mais importantes que outras. Em geral, as variáveis dependem essencialmente de algumas outras poucas variáveis, embora, em maior ou menor grau, tudo dependa de tudo o mais.
Assim, a hipótese do coeteris paribus (ou todas variáveis permanecendo constantes) possibilita o dimensionamento do número de variáveis consideradas, de fornia a tornar viável a formulação de hipóteses acerca da relação entre elas.
econômica
A demanda por carne bovina, por exemplo, depende do nível de renda do consumidor, de seus hábitos e preferências, do preço da carne de frango, do preço de todos os outros alimentos, e até do preço de automóveis, de cruzeiros marítimos, de vestuário etc. etc. etc. Com a hipótese de coeteris paribus isolamente as mais importantes, como nível de renda e preço de produtos semelhantes, mantendo-se as outras variáveis constantes. Seria impossível a análise de demanda por carne se fosse preciso analisar os milhares de outros mercados, que, em maior ou menor grau, também o influenciam.
Atrelada à hipótese de coeteris paribus, a análise econômica emprega o conceito do equilíbrio, também emprestado das ciências exatas. Uma situação econômica encontra-se em equilíbrio quando nenhum agente econômico pode alterá-la sem piorar a sua própria situação. Nestas condições, não há incentivo para que os agentes se comportem de forma distinta da que prevalece no apontamento. Analogamente ao conceito físico de equilíbrio, poder se ia dizer que em equilíbrio existe um balanço de forças que introduz um elemento de inércia no comportamento dos agentes econômicos.
Diz-se, por exemplo, que o mercado de carne bovina está em equilíbrio quando existe um preço, ao qual a mercadoria é transacionada, que satisfaz simultaneamente vendedores e compradores. Em outras palavras, ao preço vigente, a quantidade que os ofertantes desejam vender é igual àquela que os compradores estão dispostos a adquirir.
A análise econômica é primordialmente uma análise de equilíbrio; ou seja, os modelos são formulados de forma a produzirem situações de equilibrio. No caso do mercado de carne bovina, o modelo produzirá dois preços de equilíbrio distintos se forem introduzidos dois níveis de renda dos consumidores. Assim, coeteris paribus, ou seja, supondo.se todas as demais variáveis constantes, tais como oferta de carne, preços de outros produtos, preferências etc., o preço de equilíbrio da carne pua o nível de renda X seria e para o nível de renda Y seria PY.
A determinação de uma posição de equilíbrio é uma análise estática. O equilíbrio é determinado sem considerar-se a evolução, ao longo do tempo, das variáveis determinantes dessa posição de equilíbrio. Quando, no entanto, supõe-se que o nível de renda dos consumidores evolua de X para Y, e que portanto o preço de equilíbrio evolua de para PY , está se empregando uma técnica analítica chamada estática ou seja, compara-se os resultados obtidos por meio de dois modelos estáticos.
A estática comparativa não é, no entanto, uma abordagem dinâmica que determine a evolução das variáveis do modelo ao longo do tempo. peto contrário, o fator tempo é praticamente ignorado. A comparação de duas situações de equilibrio é efetuada sem que se esclareça como o sistema evolui de uma posição de equilíbrio para outra, ou mesmo, qual a duração do processo de ajustamento de um equilibrio para outro.
ALICROECONOMIA
Finalmente, cabe ressaltar que a hipótese de coeteris paribus permitiu a Marshall a introdução definitiva na economia da técnica analítica do equilíbrio parcial, que se contrapõe ao equilíbrio geral.
A abordagem do equilíbrio geral reconhece explicitamente a interdependência entre todos os mercados de um 'sistema econômico. Walras, reconhecendo este fato, formulou modelos econômicos matemáticos que refletiam a estrutura de vasos econômicos comunicantes. A abordagem dos economistas clássicos também era essencialmente de equilíbrio geral, embora sem o formalismo e a exatidão de modelos matemáticos.
A análise de equilíbrio parcial, geralmente utilizada na análise econômica introdutória e de nível intermediário, utiliza a hipótese de coeteris paribus e isola aquelas variáveis mais relevantes para a análise do problema em questão, É uma hipótese simplificadora, que permite respostas aproximativas às questões levantadas, e que tem a vantagem de permitir a representação geométrica e gráfica dos fenômenos econômicos. Caberá ao economista, na fase de interpretação das conclusões obtidas pelo uso dos modelos (como representado no esquema acima), considerar todas as simplificações de que lançou mão a fim de tornar a análise possível. Se o modelo for corretamente construído, baseado em algumas poucas variáveis relevantes, e montado a partir de estruturas teóricas adequadas, as conclusões deverão ser, pelo menos, qualitativamente corretas.
O PROBLEMA ECONÓMICO
O problema econômico aparece ao usar-se recursos para a satisfação de necessidades, ou desejos do homem. Os recursos a serem utilizados não são somente recursos naturais como terra, água, minerais, vegetais etc., os quais, muitas vezes, o homem não necessitou transformar ou beneficiar, mas incluem, também, recursos físicos e mentais como sua força bruta e inteligência, além de instrumentos, ferramentas, máquinas e edifícios por ele fabricados.
Chamam-se esses recursos fatores de produção, por serem usados para a produção de coisas que atendem às necessidades dos homens. Estas coisas são chamadas bens. Além de bens, os fatores de produção podem criar serviços, que igualmente atendem às necessidades humanas. Não são, todavia, bens físicos, concretos, tangíveis, mas atendem a uma solicitação de necessidade não material como educação, limpeza, um corte de cabelo etc:
O ato de fazer-se bens e serviços chama-se produção, e o ato de usá-los para satisfazer a necessidades chama-se consumão.
Escassez Os desejos e necessidades humanas são insaciáveis e, assim, a procura de bens e serviços pelo homem, para satisfazer a tais desejos; é infinita. Na realidade, a procura efetiva de bens e serviços é limitada pelo poder aquisitivo dos economias.
indivíduos; mas a procura potencial é, de fato, infinita. Sempre que possível, o homem tentará obter uma quantidade crescente de bens e serviços para satisfazer a seus desejos.
No entanto, os recursos ou fatores de produção existentes são limitados, criando-se, assim, uma escassez relativa de produção com respeito aos desejos. Torna-se necessário, então, que se criem mecanismos pelos quais seja possível decidir o que será produzido, quais os desejos que serão satisfeitos, que quantidades serão produzidas, como será efetuada a produção, como obter o máximo de um conjunto de recursos escassos, como distribuir a produção, quem terá seus desejos satisfeitos e quem não os terá.
Escolha Em virtude da escassez, cria-se a necessidade da escolha. Ao produzir-se maior quantidade de um determinado bem, deve-se, então, aceitar uma quantidade menor de outro, já que os recursos são limitados.
A escolha econômica é feita de várias formas, dependendo do sistema econômico vigente. Em certas economias primitivas, a escolha é feita pelo chefe do grupo; em economias socialistas, a decisão é centralizada. Nas economias capita. listas, as decisões ou escolhas econômicas são individualizadas e feitas pelos consumidores e pelos produtores através do poder aquisitivo que o dinheiro lhes confere. Existem sistemas mistos, onde, além do poder de escolha conferido pelo dinheiro, as decisões também são tomadas por delegação de poder, como pelos sindicatos, pelo governo etc.
A escolha pode ser exemplificada, usando-se o caso de uma dona-de-casa que se dirige ao mercado para fazer compras, levando consigo uma certa quantia que, assim, limita as compras que poderá efetuar. Suponha-se que seu poder de compra esteja limitado em Cz$ 100,00 e que os produtos à venda sejam laranjas, maçãs e peras. Certamente, várias serão as combinações possíveis para esta dona de-casa; no entanto, ela escolherá a combinação que, dentro do limite imposto por seu poder aquisitivo, melhor possa satisfazer suas necessidades.
Da mesma forma, uma economia, limitada por sua dotação fatorial, escolherá a combinação possível de produtos que mais satisfação proporcione à coletividade.
O exemplo constante da Tabela 1.1 indica algumas das várias combinações possíveis de frutas, cujos custos sejam iguais ao dinheiro em poder da dona-de-casa, ou seja, Cz$ 100,00.
Nota-se que, para a compra de uma dúzia de peras, ela terá de deixar de comprar duas dúzias de maçãs ou quatro dúzias de laranjas, ou uma combinação entre elas, de modo que sejam liberados Cz$ 20,00, o preço de uma dúzia de peras.
Em termos de uma economia, quando se decide pela produção de um bem qualquer, também sacrifica-se algo que poderia ter sido produzido com os recursos dirigidos à produção do bem escolhido. A isto chama-se custo de oportunidade
Microeconomia:
de um bem. Sempre que houver escassez, há de sacrificar-se algo, para obter-se alguma coisa. Este sacrifício é o custo de oportunidade, também chamado custo econômico ou custo real.
CURVA DE POSSIBLIDADE DE PRODUÇÃO
Suponha-se uma economia que produza somente dois bens, dada uma quantidade fixa de fatores de produção disponíveis.
A Curva de Possibilidade de Produção, também chamada Curva de Transformação, é o conjunto de pontos que indica as combinações possíveis dos dois bens, de tat forma que todos os fatores de produção sejam utilizados, dado um certo nível de desenvolvimento tecnológico.
O Gráfico 1.1 representa a curva de possibilidade de produção para uma economia produtora de somente trigo elou automóveis.
Se todos os fatores de produção fossem utilizados somente na produção de trigo, poder-se-ia produzir um total de '10.000 toneladas. Se, no entanto, fosse resolvido produzir-se somente automóveis, o resultado seria seis veículos. A curva de possibilidade de produção indica todas as combinações possíveis de trigo e automóveis, como, por exemplo, 5.000 toneladas de trigo e 3 automóveis.
A curva de possibilidade de produção, em si, não indica qual a combinação que será escolhida, mas tão somente todas as possibilidades abertas à economia. Com certeza, no entanto, se a comunidade agir racionalmente, jamais optará por qualquer ponto à esquerda da curva, pois isto implicaria o aproveitamento parcial de seus recursos, gerando-se desemprego de fatores de produção.
A curva indica as combinações possíveis, com a utilização total dos fatores, o que exclui todo e qualquer ponto à sua direita por serem combinações que exigiriam mais fatores de produção do que os disponíveis.
Uma curva de possibilidade de produção reta, como no Gráfico 1.1, indica que os custos de oportunidade são constantes. Qualquer movimentação de fatores da produção de automóveis para a de trigo, ou vice-versa, significaria que os fatores poderiam sempre produzir automóveis e trigo numa proporção fixa de 6: 10.000. Tal fenômeno decorre do fato de que, qualquer que seja o nível da produção de automóveis ou de trigo, os fatores retirados de um setor e transferidos para o outro serão tão eficientes quanto os já utilizados anteriormente. Se, no entanto, os fatores a serem transferidos forem continuamente menos eficientes em sua nova utilização do que os anteriores, o custo de oportunidade será crescente e a curva de possibilidade de produção será côncava, com relação à origem, como aparece no Gráfico 1.2.
O caso descrito no Gráfico 1.2 mostra uma economia que poderia produzir
OB de automóveis ou OA de trigo.
Partindo-se do ponto B, nota-se que para cada decréscimo uniforme de produção de = CD = ÉÊ) o aumento na produção de trigo é decrescente (OG > GH > > fi), o que indica que o custo de oportunidade do trigo é crescente em decorrência do fato de que os fatores não são igualmente eficientes na produção dos dois bens. Verifica-se, então, que a escassez de recursos implica opção entre bens alternativos.
que bens e serviços produzir, e em que quantidades;
como maximizar a produção, dada uma certa dotação fatorial;
como distribuir a produção entre os membros da comunidade;
como atingir, a longo prazo, níveis mais elevados de produção e consumo.
As três primeiras questões envolvem respectivamente:
a) a escolha do ponto da curva de transformação em que o sistema produtivo deve situar-se;
b) a organização do processo produtivo, de tal forma que, dada uma dotação fatorial fixa e um dado nível tecnológico, obtenha-se a maior produção possível; isto equivale a que o sistema situe-se na fronteira e não à esquerda da curva de transformação;
c) a remuneração pelos serviços dos fatores de produção disponíveis e, conseqüentemente, a determinação do nível de renda e de consumo de seus proprietários.
Estas três questões são abordadas por economistas mesmo que a quantidade de fatores de produção seja fixa e que não haja progresso tecnológico ao longo do tempo.
Já a quarta questão implica a existência de deslocamentos da curva de transformação causados por aumentos nas quantidades de fatores de produção disponíveis elou por progresso tecnológico; este último possibilita o aumento da produção com urna dada quantidade de fatores.
A curva de transformação mostra as possibilidades de produção, supondo. se uma dotação fatorial fixa, pleno-emprego dos fatores, e utilização generalizada das técnicas de produção mais eficientes. Havendo aumento nas quantidades de fatores, como, por exemplo, mais máquinas e equipamentos para a produção de automóveis elou expansão Ide áreas agricultáveis, seria possível a produção de uma maior quantidade de automóveis e de trigo, dada uma tecnologia de produção constante. Alternativamente, progressos tecnológicos como sementes selecionadas ou o aperfeiçoamento de linhas de montagem poderia causar um aumento na produção de ambos os produtos, mesmo que as quantidades dos fatores de produção não houvessem se alterado. Em ambos os casos (e obviamente no caso de ocorrência tanto de crescimento nas quantidades de fatores como de progresso tecnológico) a curva de possibilidade de produção se desloca, como no exemplo, de AB para CD. No gráfico, verifica-se que os fatores que causaram o deslocamento da curva de transformação foram mais favoráveis ao aumento da produção de trigo.
Vê-se, portanto, que as quatro questões fundamentais da economia, que serão abordadas nos capítulos que se seguem, podem ser ilustradas com o uso da curva de transformação, a qual ilustra o problema econômico primordial, ou seja. a escassez e a escolha.
FUNÇÃO DE PRODUÇÃO E CURVA DE TRANSFORMAÇÃO
Uma função de produção é definida como uma tabela, ou uma equação matemática, que mostra a quantidade máxima de produto possível de ser obtida por uma determinada quantidade de fatores de produção, dado um certo nível tecnológico.
Assim,
Capítulo 2: O MECANISMO DE TOMADAS DE DECISÕES
Descreveu-se no capítulo anterior o cenário no qual uma comunidade opera em termos econômicos. No sistema capitalista, as ações econômicas são implementadas pelos indivíduos. Cada um, perseguindo seus interesses próprios e tendo como objetivo a maximização de sua própria satisfação, contribui para a maximização da satisfação da comunidade como um todo.
Uma economia, dados uma dotação fatorial e um nível tecnológico que produza somente dois bens, A e B, terá uma curva de transformação. A questão que se propõe seria saber qual combinação de bens produzir.
Vários poderiam ser os sistemas decisórios. Poder-se-ia, por exemplo, produzir uma combinação dos dois bens, de forma que cada indivíduo da comunidade recebesse quantidades iguais às de todos os demais. Haveria, no entanto, certos indivíduos que prefeririam o bem A, a ponto de, prazerosamente, permutarem duas unidades do bem B recebido por uma unidade adicional de A; igualmente, poderiam existir indivíduos que aceitariam duas unidades de B em troca de uma unidade de A. Reunindo-se esses dois grupos, permutariam os bens A e B entre si e, assim, conseguiriam aumentar sua satisfação.
É possível conceber-se um outro sistema decisório, mais centralizado, onde todas as preferências individuais fossem levadas em conta, e as quotas dos bens A e B atribuídas a cada indivíduo já refletissem tal diversidade de preferências.
O que se nota nos dois sistemas descritos anteriormente é que ambos são demasiadamente pessoais e exigem uma quantidade de informações que são inacessíveis. No primeiro exemplo, haveria necessidade de uns indivíduos procurarem outros que aceitassem realizar a troca de mercadorias, de tal forma que satisfizesse a ambos; no segundo, haveria necessidade de uma complexa compilação das preferências individuais.
Esta é uma primeira visão das dificuldades encontradas por possíveis sistemas decisórios.
O SISTEMA DE PREÇOS
O sistema capitalista não é centralizado; as decisões são tomadas pelos próprios indivíduos, por intermédio de um sistema impessoal, que lida com o problema da informação por um mecanismo codificado. Trata-se do conceito de mercado, que opera através do Sistema de Preços. Agindo em benefício próprio, os indivíduos, impessoalmente afetando e sendo afetados pelos preços, tomam as decisões que maximizarão a satisfação coletiva.
É importante observar que o sistema de preços impõe certos pré-requisitos que se permeabilizam intensamente numa cultura, através de suas estruturas política, social e moral, como, por exemplo, os direitos de liberdade de escolha e da propriedade privada, sem os quais as decisões individuais perderiam o sentido.
Será demonstrado, num exemplo concreto, como uma comunidade, cuja alocação de recursos já estava determinada por um ponto em sua curva de transformação, age através do mecanismo de preços para poder atingir um grau de satisfação mais elevado.
Uma variação na procura significa que o desejo dos consumidores de adquirirem um bem mudou como consequência de algo que não seja uma variação no preço. Por exemplo, uma alteração na preferência dos consumidores implica, ao mesmo preço que antes, desejar-se adquirir, hoje, uma quantidade maior ou menor do mesmo produto.
Como o mercado reagiria a tal mudança?
Suponha-se que fazendeiros cultivem laranjas, maçãs e peras, e que, em decorrência de uma mudança na preferência dos consumidores, a procura por laranjas tenha aumentado. Logicamente, como o poder aquisitivo dos consumidores continua o mesmo, um aumento na procura de laranjas terá de ser acompanhado por um declínio na procura de maçãs e peras.
O que acontecerá com os preços no mercado? Como a produção continua a ser a mesma que a anterior ao aumento na procura de laranjas, ocorrerá uma falta destas para atender a todos os consumidores e um excesso de maçãs e de peras. Isso fará com que o preço da laranja se eleve, visto que os consumidores insatisfeitos oferecerão preços mais altos por ela, ou fará com que os comerciantes, vendo que não há a quantidade de laranjas suficiente para atender a todos, elevem o seu preço.
No exemplo que se segue, como a comunidade produz três bens, em realidade, teríamos uma superfície e não uma curva de transformação.
O aumento no preço das laranjas fará com que os fazendeiros cultivem mais aquela fruta e menos peras e maçãs, visto que as laranjas proporcionam maiores lucros que anteriormente. Os fatores de produção serão transferidos da produção de maçãs e peras para a produção de laranjas, o que acarretará um aumento na produção das últimas e um declínio na produção das primeiras.
O que acontecerá no mercado, agora que a produção de laranjas aumentou e a de maçãs e peras diminuiu? O preço das laranjas diminuirá, mas supõe-se que ainda será mais alto do que antes da mudança da preferência dos consumidores. Os fazendeiros, consequentemente, transferirão mais recursos para a produção de laranjas até que o preço seja tal que não mais compense essa transferência. É importante notar que, quando do primeiro aumento nos preços das laranjas, os preços das maçãs e das peras caíram, visto que os comerciantes não conseguiram achar compradores para as mesmas. Porém, no processo de transferência dos fatores de produção para o cultivo da laranja, a produção de maçãs e peras diminuiu, fazendo com que seus preços tendam a elevar-se.
No final do processo, as transferências de recursos cessarão, os preços se estabilizarão (possivelmente, as laranjas a um preço mais alto e as maçãs e peras a preços mais baixos que os iniciais) e o processo produtivo, através do mecanismo de preços de mercado, efetuará uma alteração na utilização dos fatores de produção, induzido pela alteração no desejo dos consumidores. Percebe-se, então, que o sistema de preços de mercado funciona automaticamente, sem nenhuma coordenação central, respondendo aos desejos dos agentes econômicos, todos eles agindo livre e individualmente, e cada qual satisfazendo a seus próprios interesses.
O sistema de preços, reagindo a tais variações, emite sinais que serão captados, induzindo, então, modificações correspondentes.
O sistema de preços funciona não só no mercado de bens de consumo, mas também no mercado de serviços, de trabalho, de bens de capital e monetário. É através dele que todos, agindo individualmente, operam na economia e, como resultado de pressões individuais, determinam conjuntamente o que será produzido, como será produzido e como o produto será distribuído.
É interessante notar que a obtenção de tais resultados é possível em virtude da existência de competição em todos os mercados. Por exemplo, é por causa da competição entre consumidores para adquirirem a produção insuficiente de laranjas que os preços sobem; igualmente, é por causa da competição entre os comerciantes que os preços das maçãs e das peras caem. Também é o mecanismo competitivo que faz com que os fazendeiros diminuam a produção das outras frutas, para aumentar a de laranjas. Há aí uma competição pelo lucro que, eventualmente, leva o preço da laranja a diminuir gradativamente.
O que se acaba de descrever é a Lei da Oferta e da Procura e o mecanismo de determinação de preços.
Antes de desagregar-se o mercado em seus componentes, deve-se notar que o sistema de preços age como um mecanismo simbólico, orientador das ações econômicas de uma comunidade.
A PROCURA
A procura por um bem indica, dados determinados condicionantes, a quantidade que os indivíduos desejam adquirir por unidade de tempo. Os fatores que influenciam a procura, ou a demanda, por um bem são:
a) Gosto e preferência dos membros da comunidade: vimos, no exemplo acima, como uma mudança na preferência dos consumidores afetou a procura pelos bens em questão e como esta, consequentemente, afetou todo o mercado.
b) População: o simples número de habitantes, desde que dispondo de poder aquisitivo, afetará o montante procurado. Também a distribuição da população por idade determinará o perfil da procura. Uma população jovem, por exemplo, demandará, certamente, uma quantidade maior de produtos de consumo próprios à juventude.
c) Nível de renda: quanto mais alto o poder aquisitivo da comunidade, maior será o montante de bens e serviços demandados.
d) Distribuição de renda entre os membros da comunidade: supondo-se que cada grupo socioeconômico tenha seu padrão próprio de consumo, uma modificação na parcela da renda total recebida por grupo afetará o consumo dos bens e serviços por ele preferidos. Assim, uma redistribuição de renda a favor das classes de alta renda causaria um aumento na procura por bens de luxo, ao passo que, se a redistribuição favorecesse os grupos rurais de baixa renda, dificilmente o aumento na procura favoreceria os bens de luxo.
e) Preços dos outros bens: suponha-se que o preço de um bem qualquer seja constante e que os preços de bens concorrentes caiam. Evidentemente, o consumidor racional reformulará seu padrão de consumo, passando a preferir os bens cujos preços baixaram, já que são bens substitutivos ao produto antes consumido.
f) Preço do bem em questão: evidentemente, quanto mais alto o preço de um bem, menor quantidade será demandada, e vice-versa.
Todos esses fatores estão constantemente se alterando e, consequentemente, formam um processo dinâmico, fazendo com que a procura por um bem seja um fato muito fluido. No entanto, economistas mantêm todos os fatores constantes (coeteris paribus), exceto um, e assim conseguem isolar os efeitos de cada uma das variáveis
A Tabela 2.2 indica a procura pelo bem A para toda a comunidade, que nada mais é do que a soma das tabelas individuais de todos os membros dessa comunidade. Com base na Tabela 2.2, pode-se montar o Gráfico 2.1, que representa as informações nela contidas.
Com o auxílio da curva da procura é possível determinar as quantidades demandadas a vários níveis de preços possíveis. Assim, ao preço de Cz$ 5,00, a quantidade procurada será de 60.000 unidades, ao preço de Cz$ 3,00, a quantidade aumentará para 80.000 e assim por diante.
Variações nos preços e as respectivas variações nas quantidades demandadas são movimentos ao longo da curva da procura. Se, no entanto, a renda da comunidade aumentar, ocorrerá um deslocamento da curva, já que movimentos ao longo da curva ocorrem quando somente os preços do bem em questão variam.
Igualmente, ocorrerá deslocamento da curva, para a direita ou para a esquerda, quando qualquer outro fator de influência na demanda, que não seja seu próprio preço, variar. Tais deslocamentos representam aumento ou quedas na procura, ao passo que movimentos ao longo da curva representam aumentos ou quedas nas quantidades procuradas.
Tabela 2.2 Procura pelo bem A.
O Gráfico 2.2 representa o caso de um aumento na renda da comunidade. Com a renda inicial hipotética de Cz$ 5.000.000,00 a curva da procura é representada pela reta DD. Quando a renda aumenta para Cz$ 8.000.000,00, em vista do maior poder aquisitivo de que a comunidade é agora possuidora, espera-se que a curva se desloque para a direita, representando, assim, um aumento na procura (D'D').
Nota-se que, aos mesmos preços, as quantidades procuradas representadas pela reta D D' são maiores que as representadas pela reta DD, ou seja, antes do aumento da renda.
Ao preço de Cz$ 5,00, a quantidade demandada antes do aumento da renda era de 60.000 unidades e, depois do aumento da renda, ao mesmo preço, a procura aumentou e a quantidade demandada passou a ser 80.000 unidades. O mesmo fenômeno ocorreu no exemplo dado no início do capítulo, quando, em decorrência de uma mudança na preferência dos consumidores, a curva da procura por laranjas deslocou-se para a direita.
A OFERTA
O segundo componente do sistema de Mercado é a oferta, que representa o comportamento dos produtores. A oferta por um bem indica, dados determinados condicionantes, a quantidade do bem que os indivíduos desejam produzir e oferecer no mercado.
Envesas
Os principais fatores que influenciam a oferta de um bem são:
a) Os objetivos das pessoas físicas e/ou jurídicas: embora a Teoria Econômica pressuponha a racionalidade dos indivíduos e, portanto, que eles desejam maximizar seus lucros, existem restrições de ordem moral e legal em alguns casos que impedem que a maximização do lucro seja o objetivo predominante dos produtores. Assim, o preço de mercado deixa de ser o determinante exclusivo, coeteris paribus, da oferta, mas a ele juntam-se objetivos de bem-estar coletivo, desejo de servir à comunidade, e outros mais.
b) O nível de avanço tecnológico: quanto maior o avanço tecnológico, maior será o aproveitamento dos recursos produtivos disponíveis e, portanto, maior será a oferta por bens e serviços. Este fenômeno está intimamente ligado ao efeito que o custo de produção detém na formação da oferta. c) Preço dos outros bens: os produtores, na competição pelo lucro, investido. Ao seus recursos na produção de bens que lhes proporcionem os melhores retornos. Assim, o nível do preço dos outros bens, principalmente aqueles que poderiam ser produzidos com aproximadamente os mesmos recursos, poderá atrair para este setor fatores de produção empregados em outras atividades. Foi o que ocorreu, no exemplo do início do capítulo, com os produtores de maçãs e peras quando transferiram recursos para a produção de laranjas, que, em virtude do aumento de seus preços, poderia proporcionar maiores rendimentos.
d) Preço do bem em questão: quanto mais alto for o preço do bem produzido, maior será o incentivo aos empresários para aumentar a produção.
Assim como em relação à procura, mantêm-se todos estes fatores constantes, exceto um, e isolam-se os efeitos de cada uma das variáveis que afetam a oferta.
A Curva da Oferta A curva da oferta mostra a quantidade de um bem ou serviço que será oferecido no mercado, a cada nível de preço, durante um período deter. minado. Deve-se ressaltar que é somente o preço do bem em questão que varia, mantendo-se constantes todos os outros fatores que possam afetar a oferta.
A curva da oferta de um bem é a soma das curvas de oferta de todos os empresários (produtores).
A Tabela 2.3 relaciona as quantidades ofertadas pelos produtores M e N a cada nível de, preço. A soma das quantidades ofertadas por todos os produtores compõe a curva da oferta de um bem ou serviço.
Tabela 2.3 Oferta do bem A pelos produtores M e N.
Os produtores, baseados nos preços e em suas estruturas de custo, oferecem várias quantidades no mercado, e a soma das ofertas de todos acha-se relacionada na Tabela 2.4. Com base nela, as quantidades ofertadas podem ser descritas graficamente, como no Gráfico 2.3.
Tabela 2.4 Oferta do bem A.
Gráfico 2.3 — A curva da oferta do bem A
Ao preço de Cz$ 5,00, a quantidade ofertada será de 60.000 unidades; ao preço de Cz$ 3,00, a quantidade reduz-se para 20.000 unidades, já que alguns produtores, cuja estrutura de custos de produção é mais elevada, serão obrigados a abandonar a produção de A, por não obterem os lucros necessários para mantê-los no negócio.
O mecanismo acima descrito representa um movimento ao longo da curva da oferta, num raciocínio análogo ao da curva da procura, e causa aumentos, ou quedas, nas quantidades ofertadas. Se, no entanto, algum outro fator, que não o preço de A, variar, ocorrerão deslocamentos da curva, que representam aumentos ou quedas na oferta.
O Gráfico 2.4 ilustra o caso de uma inovação tecnológica introduzida na produção de A. Como conseqüência, houve uma queda nos custos de produção.
Com a redução nos custos, os produtores, aos mesmos preços que antes, oferecem quantidades maiores no mercado. Enquanto a curva 00 indica que somente a um preço superior a Cz$ 2,00 os produtores ofereceriam o produto A no mercado, a curva 00 mostra que, a qualquer preço superior a Cz$ 0,50, haverá produção ofertada.
O PREÇO DE EXISTÊNCIA E ESTABILIDADE
No Gráfico 2.5, curvas de oferta (00) e procura (DD) pelo bem A estão superpostas. Verifica-se que só há um preço que iguala a quantidade ofertada à procurada.
Ao preço de Cz$ 3,00, por exemplo, a quantidade ofertada será de 20.000 unidades, ao passo que a quantidade demandada será de 80.000 unidades. Como a procura é maior do que a oferta, o preço de mercado tenderá a subir, conforme demonstrado no exemplo inicial do capítulo, e ele poderá oscilar até que atinja o nível de Cz$ 5,00, quando as quantidades ofertadas e procuradas serão de 60.000 unidades.
Ao preço de Cz$ 5,00, tanto os produtores como os consumidores poderão realizar suas intenções, e, assim estabelecer-se á o equilíbrio. Tanto os consumidores como os produtores poderão realizar seus planos de compra e venda, respectiva. mente, e não terão qualquer incentivo para alterar sua conduta no próximo período.
Gráfico 2.4 — As curvas da oferta, antes e depois da inovação tecnológica
E 2
"bem comportada" e por uma curva de oferta com inclinação negativas, como no Gráfico 2.10, é instável pelo critério walrasiano e estável pelo critério marshal-liano. Várias outras possibilidades são possíveis dependendo das inclinações das 6 curvas de oferta e procura, havendo inclusive situações de múltiplos equilíbrio onde alguns pontos são de equilíbrio estável e outros não.
Capítulo 3: AS REAÇÕES DO MERCADO
Viu-se, nos capítulos anteriores, que é através da Lei da Oferta e da Procura que decisões são tomadas no sistema de mercado. A oferta e a procura, simultaneamente, estabelecerão preços que orientarão os agentes econômicos em suas decisões.
Neste capítulo, serão abordados aspectos relacionados às reações do mercado frente a modificações nas estruturas da oferta e da procura.
INTERDEPENDÊNCIAS NA DEMANDA E NA OFERTA
Demanda complementar: certos produtos são complementares quando a demanda por um cria, automaticamente, demanda pelo outro. Por exemplo, automóveis e gasolina, açúcar e café, cigarro e fósforo etc. Dessa maneira, toda vez que houver uma modificação na demanda por um deles, a demanda pelo outro também será afetada.
Nota-se que, embora bens complementares sofram efeitos de interdependência, os aumentos ou quedas em suas procuras não são necessariamente iguais ou proporcionais. Por exemplo, um aumento de 10 kg na procura por café não implica aumento equivalente por açúcar; da mesma forma, um aumento de 10% na procura por automóveis pode não implicar aumentos de 10% na procura por gasolina, visto que os novos automóveis poderão não ser usados com a mesma intensidade que os existentes antes do aumento da demanda.
Demanda competitiva Alguns produtos competem entre si. Seria o caso de manteiga e margarina, leite fresco e leite em pó, ir ao teatro X ou ao teatro Y etc. Em certo sentido, todos os bens produzidos numa comunidade competem com todos os outros, já que, sendo o poder aquisitivo dos consumidores limitado, a opção por um produto qualquer implica a redução do consumo dos demais. No entanto, certos produtos concorrem de maneira tão direta que são chamados de bens competitivos ou substitutivos.
Nos Gráficos 3.3 e 3.4 os dois produtos M e N são competitivos ou substitutivos. Um aumento na procura pelo bem M implica uma queda na procura pelo bem N.
Oferta complementar Em certos casos, para que se possa aumentar a quantidade ofertada de um bem é, necessário que haja um aumento correspondente na oferta de outro. Tal seria o caso, por exemplo, nos mercados de ovos e de carne de galinha, leite e carne de vaca, gasolina e gás etc. Poder se ia argumentar, no entanto, que seria possível aumentar a quantidade ofertada de leite, sem um aumento proporcional na oferta de carne, simplesmente aumentando.se a produtividade leiteira do rebanho existente. Todavia, embora os aumentos possam não ser proporcionais, . haverá freqüentemente aumentos correspondentes nos dois mercados.
Oferta competitiva No exemplo acima, um aumento na procura por leite acarretou um aumento na oferta da carne. No entanto, a produção de leite é relativa com relação à produção de milho, por exemplo. Num sentido mais amplo, poder-se-ia afirmar que todos os produtos são competitivos uns com os outros devido ao fato de todos utilizarem fatores de produção escassos e, portanto, o aumento na produção de um bem acarretará, necessariamente, a queda na produção de um outro (custo de oportunidade). Assim sendo, o aumento no número de animais para a produção de mais leite concorre com a produção de milho, visto que áreas antes cultivadas serão, agora, transformadas em pastagens. Dessa forma, um aumento na quantidade ofertada de leite implicará redução da oferta de milho. Deixa-se a cargo do leitor a montagem da ilustração gráfica deste exemplo.
Fica claro, no entanto, que a oferta e a procura de bens e serviços são, em maior ou menor grau, interdependentes. Toda ação econômica afetará as demais variáveis, de tal forma que o conjunto dos mercados que compõem um sistema econômico forma um todo quase orgânico. A existência de um vetor de preços que produza equilíbrio em todos esses mercados interdependentes é o objeto de estudo da teoria do equilíbrio geral, em contraposição ao equilíbrio parcial, a técnica analítica aqui empregada. Esta constatação indica as grandes dificuldades encontradas pelos formuladores de política econômica, já que intervenções num determinado mercado reverberam pela totalidade do sistema gerando, con10 conseqüência, efeitos em todas as direções que podem até mesmo anular os objetivos inicialmente propostos.
VARIAÇÕES NOS COMPONENTES DO MERCADO
Fica claro, no entanto, que a oferta e a procura de bens e serviços são, em maior ou menor grau, interdependentes. Toda ação econômica afetará as demais variáveis, de tal forma que o conjunto dos mercados que compõem um sistema econômico forma um todo quase orgânico. A existência de um vetor de preços que produza equilíbrio em todos esses mercados interdependentes é o objeto de estudo da teoria do equilíbrio geral, em contraposição ao equilíbrio parcial, a técnica analítica aqui empregada. Esta constatação indica as grandes dificuldades encontradas pelos formuladores de política econômica, já que intervenções num determinado mercado reverberam pela totalidade do sistema gerando, con10 conseqüência, efeitos em todas as direções que podem até mesmo anular os objetivos inicialmente propostos. Inicialmente poder-se-ia dizer, de fornia pouco rigorosa, que, quanto maior a inclinação de uma curva de oferta, maior será o aumento no preço necessário para fazer com que os produtores aumentem sua produção em uma unidade, ou vice-versa.
ELASTICIDADE
De forma geral, chama-se elasticidade de uma função a relação que mede a sua sensibilidade face a alterações no valor de uma de suas variáveis independentes.
Assim, a elasticidade-preço da demanda é a relação entre a variação percentual na quantidade demandada e a variação percentual no preço, mantendo-se constantes todas as demais variáveis.
É possível a determinação aproximada da elasticidade-ponto numa curva de demanda curvilínea, traçando-se uma reta tangente ao ponto em questão e aplicando-se a fórmula anteriormente descrita.
Muito comumente, no entanto, é preciso calcular a elasticidade-preço entre dois pontos numa curva, e, como visto acima, a definição de elasticidade aplica-se para dois pontos infinitamente próximos. Daí a utilização do conceito da elasticidade-arco, definida como elasticidade média entre dois pontos; é a elasticidade. ponto no meio da corda que os liga. No Gráfico 3.13, o conceito da elasticidade-arco-preço da demanda é ilustrado.
Algumas das causas mais importantes das diferentes elasticidades das curvas da procura são:
a) Possibilidade de substituição: quanto maior o número de produtos similares que poderão substituir o bem em questão, maior será a elasticidade da curva de procura. Não havendo substitutos, a curva da procura tende a ser mais inelástica, como seria o caso do sal. No caso oposto, um aumento no preço da manteiga poderia causar substituição desta pela margarina.
b) O grau de essencialidade: um produto essencial, como, por exemplo, um remédio, tende a ser mais inelástico, principalmente se não houver substitutos para o mesmo. Se existem bons substitutos, mesmo sendo essencial, a curva da procura tenderá a ter maior elasticidade.
c) A importância relativa do bem no gasto total do consumidor: quanto menor for o custo do bem a ser adquirido na despesa do consumidor, mais inelástica sua curva da procura. Por exemplo, compare as elasticidades da curva da procura de fósforo e de uísque importado.
d) O tempo, cronologicamente falando: a curto-prazo, uma mudança no preço de um bem pode não afetar de maneira sensível a quantidade demandada. Com o passar do tempo, no entanto, substitutos serão encontrados ou formar-se-ão novos hábitos de consumo, de modo que a curva da procura tenderá a tornar-se mais elástica.
FATORES QUE INFLUENCIAM A ELASTICIDADE-REÇO DA OFERTA
Basicamente, são fatores técnicos que condicionam a elasticidade-preço da curva de oferta. Muitas vezes, por razões de disponibilidade de fatores, transportes ou mesmo conhecimento do mercado, a curva da oferta é insensível a variações nos preços e, assim, não reage prontamente a estímulos do mercado. Tal inelasticidade da oferta é, geralmente, mais grave em países subdesenvolvidos, onde imperfeições no mercado e condições técnicas precárias impedem um ajustamento mais imediato da oferta a modificações nos preços.
O tempo, no entanto, tende a tornar a curva da oferta mais elástica, visto que, mais a longo-prazo, vão-se criando condições para que ela reaja.
ELASTICIDADE-PREÇO DA PROCURA E A RECEITA TOTAL
Conclui-se que, no caso de uma curva de procura inelástica, o produtor não deve reduzir seus preços, sob pena de sofrer uma queda em sua receita.
Deixa-se ao leitor exercitar sua compreensão deste problema, justificando os itens da tabela a seguir.
A relação entre elasticidade-preço da procura e receita total fica mais clara com a introdução do conceito de receita marginal.
Chama-se receita total o produto do preço unitário pela quantidade transacionada,
RT = P * Q
Vê-se, portanto, que no caso de uma curva de demanda retilínea a curva da receita marginal é uma reta que inicia no ponto de interseção da curva de demanda com o eixo vertical e cuja inclinação (negativa) é duas vezes a da curva de demanda, como ilustrado no Gráfico 3.15.
ou seja, a receita total será maximizada no ponto da curva de demanda em que a elasticidade for igual à unidade; se a elasticidade for maior que a unidade, a curva da receita total terá inclinação positiva e variará em razão direta com a quantidade vendida; se a elasticidade for' menor do que a unidade, o inverso ocorrerá. O leitor deverá certificar-se de que essas conclusões são compatíveis com os resultados indicados na Tabela 3.1 .
A relação de complementaridade ou substitutibilidade entre as demandas de dois produtos, como exposto no início deste capítulo, pode ser medida com o auxílio da elasticidade -cruzada. Este conceito mede a sensibilidade da demanda de um produto com relação a variações no preço do outro. Por exemplo, que alterações na demanda por Coca-Cola seriam causadas por alterações no preço da Pepsi-Cola? Define-se elasticidade-cruzada de demanda como:
onde i e j são dois produtos distintos 3.
No caso da elasticidade -cruzada, e diferentemente da definição de elasticidade-preço, o sinal da expressão não pode ser ignorado. Caso o sinal da elasticidade-cruzada seja positivo, os produtos envolvidos serão substitutivos. Um aumento no Preço de um eleva a demanda pelo outro, havendo substituição na demanda do produto cujo preço se elevou a favor daquele que teve seu preço inalterado (e vice-versa).
Caso o sinal seja negativo, os produtos serão complementares.
Elasticidade-Renda da Demanda
Viu-se que o nível da renda afeta a curva da procura, deslocando-a para a direita ou para a esquerda. Pode-se, então, definir elasticidade-renda da procura como
Alguns bens sofrem quedas em sua procura, em decorrência de um aumento na renda. Neste caso, o numerador da fórmula da elasticidade terá sinal negativo e, portanto, o valor da elasticidade também terá sinal negativo. Quando tal acontece, diz-se que o bem é inferior. Os produtos de qualidade inferior, como carne de segunda, têm sua demanda reduzida com o aumento da renda. A maioria dos produtos, no entanto, são bens normais, já que o aumento na renda induz ao maior consumo.
CAPITULO 4: TEORIA DO CONSUMIDOR
INTRODUÇÃO
Viu-se, nos capítulos anteriores, como o mercado reage a variações na estrutura da oferta e da procura. Tais variações ocorrem quando os agentes econômicos, ao desejarem alcançar algum objetivo, colocam, através do mecanismo de preços e de mercado, toda a engrenagem econômica em funcionamento, fazendo com que a economia se ajuste aos novos desejos dos agentes. Estes, por sua vez, também ajustam seu comportamento às novas condições de mercado, até que, por movi. mentos sucessivos interdependentes, chega-se a um novo ponto de equilíbrio.
O problema econômico de uma comunidade é fazer com que seus recursos escassos sejam totalmente aproveitados, maximizando, conseqüentemente, o montante de bens e serviços disponíveis a seus membros. Pelo mecanismo do mercado, os indivíduos, agindo conforme seus interesses pessoais, conseguem maximizar a produção, atingindo o ponto de pleno emprego dos fatores.
Tal mecanismo dispensa a necessidade de um sistema centralizado de tomada de decisão, e foi chamado por Adam Smith de a mão invisível.
É com relação a esses objetivos que será abordada a estrutura do mercado e a "racionalidade" da ação de seus componentes, consumidores e produtores; será também analisada a forma como eles poderão influenciar, direta e indiretamente, a realização de tais objetivos.
TIPOS DE MERCADO
Um mercado é composto de vendedores e compradores de um produto. Assim, as Bolsas de Valores, feiras livres e livrarias são componentes dos mercados de ações, produtos alimentares e livros, respectivamente .
Tal situação contrasta com um mercado onde o preço é fixado unilateralmente por uni único vendedor, como seria o caso de serviços telefônicos fornecidos somente pelo Governo.
Tendo em vista estas diferenças, classifica-se o mercado em três tipos mais importantes:
Competição Perfeita Esta categoria descritiva, certamente com alto grau de idealização, é o padrão de referência para grande parte da teoria microeconômica. É o tipo de mercado que baliza o mecanismo de funcionamento do sistema de preço através da oferta e da procura.
A competição perfeita limita o poder de exploração no sistema econômico e leva o, através da concorrência entre os agentes econômicos, a uma situação de pleno-emprego. É a concorrência que faz com que certos setores da economia que estejam percebendo altos lucros vejam outros agentes econômicos, munidos de fatores de produção, entrarem no mesmo ramo, na expectativa de usufruírem de lucros mais elevados do que vinham obtendo em outras atividades. Isto acarretará um aumento na oferta do bem-produzido naquele setor; o que causará uma queda nos preços, até que a taxa de lucro seja "normal", quando, então, o incentivo para a transferência de fatores de produção (recursos naturais, capital e mão-de-obra) para esse setor desaparecerá.
Nota-se também que, em vista da escassez de um certo produto, os poucos que o têm vendem-no a preços elevados, obtendo, assim, avultados lucros, baseados na exploração de uma situação vantajosa com relação ao resto da comunidade. Havendo competição perfeita, outros comerciantes imediatamente tratarão de obter o mesmo bem para vendê-lo, o que, então, causará uma queda nos preços, até que a taxa de lucro seja novamente equiparada às taxas dos demais setores.
É neste tipo de mercado que os consumidores tentarão obter uma mercadoria pelo preço mais baixo, o que tenderá a igualar os preços de todos os vendedores. Não conseguindo vender a um preço mais elevado que seus competidores, os vendedores serão forçados a reduzir seus preços para escoar a produção, até que todos sejam nivelados; isto forçará a estabilização em um preço de equilíbrio que igualará a oferta à procura.
Da mesma forma, um possível desemprego de fatores de produção refletir-se-á numa quantidade ofertada maior que a demandada, causando uma queda em seu preço. Isto tornará possível a sua absorção pelo sistema produtivo, e aumentará, conseqüentemente, o quantum produzido. Em outras palavras, a lei da oferta e da procura funciona no mercado de fatores de produção da mesma forma que no mercado de bens e serviços, de consumo e de investimento, levando a economia a uma posição de pleno-emprego dos fatores de produção.
Quais são as condições para que tal mecanismo de ajuste funcione, ou seja, para que haja competição perfeita?
1) É necessário que compradores possam comparar os preços de diversos vendedores, pata, então, obter o preço mais baixo. Para que isto seja possível, é preciso que os bens que os diversos vendedores oferecem sejam iguais ou homogéneos em cada mercado.
2) É necessário que tanto os vendedores como os compradores tenham conhecimento perfeito das condições do mercado, para que possam competir em pé de igualdade.
3) É necessário que haja mobilidade perfeita de fatores de produção, para que vendedores e compradores possam afluir aquele setor do mercado onde acham que podem competir com os lá existentes, e que estes não ponham obstáculos à entrada daqueles (livre entrada).
4) É necessário que cada comprador ou vendedor represente uma parte muito pequena do mercado, de tal modo que a sua ação individual não afete as condições globais do mercado (atomização).
Se estas condições forem satisfeitas, eliminar-se-á, via concorrência, qualquer exploração no mercado, fazendo com que os preços se igualem aos custos. (Está incluída em custos a remuneração do empresário, chamada lucro normal.) Assim, poderão os consumidores pagar pelo bem o seu custo real para a comunidade, expandindo-se a procura e a oferta acima dos níveis que prevaleceriam num mercado de competição imperfeita ou mesmo de monopólio, como ficará claro no próximo capítulo.
Se as condições (1) - (4) forem satisfeitas, o mercado se caracterizará pela existência de competição perfeita, e, nesse caso, todos os agentes econômicos serão tomadores de preço.
Esta característica é, em última análise, o divisor de águas entre competição perfeita e outras formas de organização do mercado. As condições acima enumera. das garantem que nenhum agente econômico terá poder para fixar preço; pelo contrário, todos serão forçados a um comportamento determinado a partir da observação de preço de mercado, fixado de forma impessoal e descentralizada, como descrito nos capítulos anteriores. A este preço todos os agentes se subjugarão, e nenhum deles, individualmente, terá capacidade de alterá-lo.
Monopólio Neste tipo de mercado, a característica básica do regime de competição perfeita - a concorrência entre consumidores e entre vendedores - desaparece. É um caso-limite, onde só existe um fabricante ou fornecedor de um bem ou serviço. Tal situação é encontrada em indústrias onde o único produtor tenha uma patente ou o controle de uma fonte de recursos essencial ao produto. Assim, não haveria livre entrada a outros produtores.
O poder monopolístico é reforçado quando o produto não tem similares próximos, de tal forma que o consumidor fique totalmente dependente do único fornecedor. Em tal situação, o monopolista tem poder absoluto sobre o preço, visto que não há competidores que o obriguem a igualar o preço ao custo de produção. Logicamente, ele fixará o preço no ponto onde seus lucros sejam maximizados, havendo, assim, a chamada exploração monopolística.
Situações intermediárias Nota-se que nem a hipótese da competição perfeita nem a de monopólio são situações compatíveis com a realidade observada. Existem situações intermediárias que refletem mais precisamente o que ocorre no mundo real.
Uma delas é a competição monopolística, que se caracteriza pela não-homogeneidade dos produtos, embora possam ser substitutos próximos uns dos outros. Surge, então, uma situação onde os produtos são «diferenciados, o que faz com que seus produtores sejam praticamente os únicos a produzirem tal bem. As diferenças entre os produtos podem ser de qualidade, de forma, desenho, apresentação, estilo e mesmo embalagem. Exemplos típicos são: sabão em pó, creme dental, detergente etc. É justamente esta diferenciação entre eles que cria uma certa viscosidade na procura, fazendo com que a mudança de um produto para outro similar não dependa exclusivamente do preço.
Nesta situação, as firmas poderiam agir como monopolistas, porém o preço dos concorrentes limita seu poder mopolístico. Em tal tipo de mercado, as firmas travam lutas desenfreadas, mas raramente uma guerra de preços. As lutas remetem-se em publicidade, cada qual tentando deslocar para a direita a curva da procura por seus produtos. Neste caso, o consumidor está pagando pela publicidade, cujo custo onerará o preço do produto, Causando também diminuição da produção relativamente à de concorrência perfeita.
O oligopólio ocorre numa situação onde o mesmo produto é vendido por umas poucas firmas dentro de uma estrutura de procura que não é viscosa. Várias hipóteses já foram aventadas sobre o resultado de tal situação. Aqui, mais do que nunca, uma guerra de preços é inviável, visto que a procura é fluida, o que obrigaria os concorrentes a baixarenl seus preços sucessivamente, numa luta sem tréguas. Também nesta situação, provavelmente os preços não seriam tão baixos, nem a produção tão alta quanto o seria em regime de competição perfeita.
Todas essas situações estruturais de mercado serão analisadas detalhadamente nos capítulos seguintes.
A ESTRUTURA DA PROCURA: TEORIA DO CONSUMIDOR
Como demonstrado nos capítulos anteriores, o funcionamento do mercado depende das funções de oferta e de procura. Resta analisar os padrões de comportamento dos agentes econômicos que dão origem a essas funções.
A estrutura da função de procura de bens e serviços finais depende do cem. portamento dos consumidores; já a estrutura da função da oferta de bens e serviços finais depende do comportamento dos produtores. Finalmente, as funções de demanda e oferta por fatores de produção, dependem, respectivamente, dos produtores, que os demandam para a elaboração de produtos e serviços, e de seus proprietários, que os ofertam no mercado e com isto obtêm renda i .
A procura por uma mercadoria depende, como visto no Capítulo 2, de uma série de fatores, entre eles preços e nível de renda. A Teoria do Consumidor toma como ponto de partida uma série de dados de cunho psicológico, social, cultural etc que afetarão o comportamento do consumidor, mas que, no entanto, fogem da área de estudo da Economia.
Parte-se de uma situação onde gosto e preferência já são conhecidos com o objetivo de determinar como o consumidor distribuirá seu poder aquisitivo entre os bens disponíveis, tomando-se como referência os preços dos bens e nível de renda. Assim, por exemplo, uma variação na preferência será levada em consideração pelos economistas, devido a seu reflexo nas variáveis econômicas, mas não se procura determinar as causas de tal variação.
É importante salientar que a Teoria do Consumidor será desenvolvida a partir de duas premissas;
a) o consumidor é soberano em suas decisões;
b) o mercado é caracterizado pela existência de competição perfeita.
A primeira tem sido amplamente criticada a partir das contribuições de economistas como J. k. Galbraith, que alegam que o consumidor, principalmente com o desenvolvimento de modernas técnicas de marketing, é induzido a consumir determinados produtos. Dessa forma, é o interesse dos produtores, mais do que a preferência dos consumidores, que determina o perfil do consumo, cerceando, de várias formas, a capacidade soberana de decisão do consumidor.
Por um lado, as técnicas de marketing, bem como os padrões de comportamento social e econômico de uma população conseguem, indubitavelmente, induzir o consumidor a desejar ou a se sentir obrigado a aceitar um determinado padrão de consumo; por outro lado, existem balizas no comportamento do consumidor surgidas a partir do próprio convívio social dos condicionamentos daí resultantes.
Esses fenômenos, no entanto, ocorrem fora da alçada de análise do economista, já que são características formadoras das preferências dos consumidores, e estas últimas são consideradas, dentro da Teoria do Consumidor, como dados do problema a ser analisado e não como variáveis a serem investigadas.
Com relação à segunda premissa, a hipótese da competição perfeita é apenas uma das várias conformações possíveis de mercado. Realmente, situações estruturais de mercado distintas do paradigma da competição perfeita poderão ocorrer. A análise das mesmas, no entanto, estaria fora do escopo do presente texto. O problema básico da Teoria do Consumidor é a análise da solução para o seguinte problema:
Cada indivíduo conhece ou tem uma expectativa razoavelmente aproximada do montante de seus rendimentos, incluindo aí salários, lucros, juros e aluguéis. Este mesmo indivíduo tem preferências com relação aos bens e serviços ofertados no mercado. Surge, portanto, o problema de como obter a maior satisfação possível pela aquisição de um conjunto de bens e de serviços sujeito à limitação invista pela renda disponível, supondo-se a) que as preferências do consumidor possam ser descritas por uma função de utilidade, que expresse a satisfação por ele obtida ao consumir um conjunto de bens e de serviços; e b) que a renda do consumidor, num determinado período, seja conhecida. Assim, o problema da Teoria do Consumidor é a na maximização da função de utilidade sujeita à restrição de renda, ou seja,
A TEORIA CARDINAL DA UTILIDADE
As primeiras versões da Teoria do Consumidor partiam de algumas hipóteses básicas:
l ) O consumidor é racional e tem conhecimento perfeito tanto de suas preferências quanto das condições do mercado. Ele objetiva a maximização de sua utilidade tendo como limitação um nível de renda exogenamente fixado.
2) A utilidade é um conceito passível de mensuração, da mesma forma que se mede o peso de um objeto, ou seja, é um conceito cardinal. O consumidor poderá designar um número para medir a satisfação auferida pelo consumo de qualquer quantidade de um produto, e a utilidade total será a soma das utilidades associadas a cada produto consumido. Isto quer dizer que a função de utilidade é aditiva.
3) Acréscimos no consumo de um determinado produto geram, coeteris paribus, acréscimos decrescentes na utilidade total. Chamando-se utilidade marginal as alterações na utilidade total causadas por variações no consumo, este princípio é conhecido como utilidade marginal decrescente.
O Gráfico 4.1 ilustra os conceitos de utilidade total, utilidade marginal e o princípio de utilidade marginal decrescente. Assim, para -um determinado produto
XI , mantendo-se constantes as quantidades dos demais bens consumidos,
ou seja, ela é igual à inclinação da tangente à utilidade total.
Havendo um ponto de saturação, ou seja, uma quantidade X1 a partir da qual acréscimos não aumentam a utilidade total, a inclinação da curva de utilidade total e, portanto, a utilidade marginal serão iguais a zero.
Nessas condições, o problema da maximização da utilidade do consumidor implica igualar a utilidade marginal por unidade monetária gasta em todos os produtos, ou seja:
A Teoria Cardinal da Utilidade pode ser criticada sob diversos aspectos.
Uma das críticas mais sensatas refere-se à impossibilidade da mensuração cardinal da utilidade. É impossível, presentemente, uma forma de mensuração das preferências dos indivíduos que permita a afirmação, por exemplo, de que uma pessoa prefira um par de calçados duas vezes e meia mais do que um quilo de arroz; diferentemente de unidades de mensuração como peso ou comprimento, não é possível a aplicação de uma escala de medida no caso da utilidade,
Em segundo lugar, a aditividade da função da utilidade, como descrita anteriormente, implica a hipótese da independência da utilidade com relação a cada produto; em outras palavras, a independência da utilidade implica a aceitação de que a utilidade do consumo de café independe do nível de consumo de açúcar; ou que a utilidade de mesas de bilhar independe da quantidade de tacos.
Outra crítica se refere à necessidade da constância da utilidade marginal do dinheiro; isto equivale à constância do multiplicador de Lagrange À, introduzido ao se maximizar a função de consumo.
A TEORIA ORDINAL DA UTILIDADE
CURVAS DE INDIFERENÇA
É preciso notar que duas curvas de indiferença não se cruzam, caso contrário seria violado o princípio da insaciabilidade, além de tornar-se necessário admitir inconsistências nas preferências do consumidor. No Gráfico 4.4, ilustra-se este fato.
A curva renda-consumo terá sempre inclinação positiva para os bens normais, ou seja, para aqueles bens cujo consumo aumenta com acréscimo de renda; ela só terá inclinação negativa para os bens inferiores, cujo consumo se reduz com aumentos no nível de renda.
A seguir, um exemplo concreto e prático de derivação da curva de demanda, a partir do exemplo representado no Gráfico 4.6.
Suponha-se que o orçamento do consumidor se mantenha constante ao nível de Cz$ 1.000,00, que o preço de A continue sendo Cz$ 25,00, mas que o preço de B caia para Cz$ 14,30. Assim sendo, a linha de preços do Gráfico 4.6 se desloca, como no Gráfico 4.11.
Do bem A, ao preço de Cz$ 25,00, o consumidor poderá adquirir um total de 40 unidades nas duas situações, pois seu preço não variou. Quanto ao bem B, nota-se que antes, ao preço de Cz$ 20,00, era possível adquirir 50 unidades, mas, agora que o preço caiu para Cz$ 14,30, é possível adquirir 70 unidades, aproximadamente. Relacionando-se os novos preços com as curvas de indiferença do consumidor, nota-se um acréscimo no consumo de B, em vista da queda de seu preço.
Tendo sido explicado o comportamento do consumidor, torna-se necessária, agora, uma pequena modificação para montar-se a curva de procura para um consumidor. Em vez de considerar dois bens, A e B, considera-se somente um deles, o bem B. Os demais bens serão todos englobados no que, no eixo vertical do Gráfico 4.12, chama-se "reserva orçamentária", ou seja, o dinheiro que será reservado para a compra de bens que não seja o B, representado no eixo horizontal.
O orçamento total do consumidor é de Cz$ 1.000,00, e o preço de B é de Cz$ 20,00 por unidade. A linha de orçamento mostra que, se todo o orçamento do consumidor for gasto em B, ele poderá adquirir 50 unidades e que, se os consumidores preferirem não comprar B, seu orçamento total será reservado para a compra dos outros bens. Qualquer outro ponto na linha de orçamento indica a combinação de B e do montante reservado para outros bens possíveis ao consumidor. Vê-se, então, que, no ponto P, o consumidor adquirirá 15 unidades de B e reservará Cz$ 700,00 para a compra de outros produtos. O eixo vertical indica o total gasto na compra de B, que é a diferença entre o orçamento total (Cz$ 1.000,00) e o montante reservado para a compra de outros bens (Cz$ 700,00), ou seja, Cz$ 300,00 (15 unidades de B ao preço unitário de Cz$ 20,00).
Como a curva da procura relaciona as quantidades demandadas a cada nível de preços, torna-se necessário variar os preços de B, deslocando a linha de orçamento e determinando, com o auxílio das curvas de indiferença, as quantidades de B demandadas.
Agora é possível montar a tabela da procura pelo bem B. Sabe-se que, ao preço de Cz$ 20,00, serão demandadas 25 unidades de B (ponto N). Se o preço de B subisse para Cz$ 25,00 (se o orçamento total fosse gasto em B, seria o suficiente para adquirir 40 unidades), o consumidor poderia adquirir 17,5 unidades de B (ponto R). Finalmente, o exemplo mostra que, ao preço de Cz$ 14,30 (se o orçamento total fosse gasto em B, seria o suficiente para adquirir, aproximadamente, 67,5 unidades), o consumidor iria adquirir 35 unidades de B (ponto Q).
Repetido o processo para outros níveis de preços, é possível montar a tabela completa e, depois, traçar a curva da procura.
Pelo Gráfico 4.10, nota-se que, com a queda no preço de X2 de p'2 para PQ e para P2, as quantidades demandadas de X2 aumentaram. Nota-se, porém, que as quantidades demandadas de X1 também aumentaram, como ilustrado nos pontos de equilíbrio A, B e C, embora o preço do produto X1 tenha permanecido constante.
Esta observação indica que uma alteração nos preços relativos (mantendo-se a renda constante) a) induz ao aumento no consumo do bem que ficou relativamente mais barato, implicando certo grau de substituição no consumo, e b) induz a alterações no consumo de todos os produtos, já que as alterações nos preços acarretam mudanças no poder aquisitivo global do consumidor, ou seja, afetam a renda real. Assim, uma queda no preço de X2, além de incentivar a substituição de X1 por X2, também acarretará aumentos tanto em X1 quanto em X2, já que, com a queda do preço de X2 (mantendo-se constante o preço de X1), a renda do consumidor aumenta em termos de poder aquisitivo.
Desse modo, deslocamentos ao longo da curva preço-consumo podem ser decompostos em duas partes: um causado pelo efeito renda e outro pelo efeito substituição. O deslocamento do ponto A para o ponto B é a soma dos deslocamentos causados pelos dois efeitos mencionados acima.
O deslocamento causado pelo efeito total é a alteração total na quantidade demandada quando, em função de uma alteração no preço, o consumidor se move de um ponto na curva preço-consumo para outro.
O deslocamento causado pelo efeito substituição é a alteração na quantidade demandada pelo consumidor após uma compensação que anula qualquer alteração na sua renda real. Em outras palavras, são os movimentos ao longo da curva de indiferença inicial causados unicamente por mudanças nos preços relativos.
O deslocamento causado pelo efeito renda é a alteração na quantidade demandada pelo consumidor causada exclusivamente pela alteração na sua renda real, que, por sua vez, é provocada pelas mudanças nos preços.
Isto pode ser feito traçando-se a linha pontilhada, tangente em A . Notar que esta linha imaginária tangencia a curva de indiferença inicial (1); portanto, o ponto A' representa a mesma renda real que no ponto A. No entanto, a linha pontilhada tem a inclinação da nova relação de preços, ou seja, a relação de preços
BENS NORMAIS E BENS INFERIORES
ALGUMAS APLICAÇÕES DAS CURVAS DE INDIFERENÇA
A Oferta de Trabalho
Suponha-se que um trabalhador precise decidir sobre seu esquema de trabalho em função do salário/horário pago.
Enriquecendo o exemplo, suponha-se que o indivíduo só tenha duas opções: ou trabalha a jornada completa de 8 horas ou não será empregado. Portanto, no Gráfico 4.15 ele se localizará no ponto B, o que indica que a restrição imposta à determinação de horas de trabalho reduz o bem-estar deste trabalhador, já que B se situa numa curva de indiferença mais baixa do que no ponto A, onde ele pode escolher o número de horas de trabalho.
Suponha-se, agora, que a partir da oitava hora de trabalho o empregador seja obrigado a pagar um adicional de salário "g" e que o trabalhador possa fazer o número de horas extras que desejar. No Gráfico 4.15 0 trabalhador fará aproximadamente 5 horas extras, e sua renda será igual a 8W + 5(W + g). O leitor deverá verificar que, dependendo da função de utilidade do trabalhador, ele poderá não querer trabalhar horas extras.
Política Tributária
Outra interessante aplicação de curvas de indiferença se refere à avaliação dos efeitos de políticas governamentais na utilidade dos indivíduos.
O Gráfico 4.16 representa, no ponto A, uma situação de equilíbrio entre renda e um determinado produto, dado seu preço.
O caso d) do Gráfico 4.19 demonstra uma situação de inconsistência lógica, supondo-se que as preferências do consumidor não tenham se alterado. Nota-se que tanto as condições do caso a) como o caso b) do Gráfico 4.18 foram satisfeitas simultaneamente, o que configura uma situação de impossibilidade lógica.
Para finalizar, vale lembrar situações onde, além de altérações nos preços-rela. tivos, como descrito acima, ocorram também aumentos absolutos em todos os preços. Tal caso ocorre corn freqüência em situações de fortes pressões inflacionárias, quando todos os preços aumentam, embora uns mais do que outros.
O leitor atento verificará que se trata de uni caso especial da situação b) representada no Gráfico 4.18, quando o ponto B' se situa fora do quadrante positivo; ou então um caso especial da situação a) se trocadas as denominações dos pontos A e B.
CAPÍTULO 5: A OFERTA - PRODUÇÃO E CUSTO
A ESTRUTURA DA OFERTA
Analisaremos agora como são tomadas as decisões ao nível do produtor ou da firma. Antes de tentar determinar a quantidade que uma firma produzirá, dados vários níveis de preços de mercado, será explicado como o produtor minimizará seus custos unitários de produção.
A FUNÇÃO DE PRODUÇÃO
Suponha-se que uma firma que produza um bem X utilize dois fatores de produção: capital e mão de obra. Supondo-se que as especificações técnicas de fabricação do produto permitam a substituição de um fator pelo outro, conclui-se que existem várias proporções de capital e de mão de obra que possibilitam a fabricação do bem. Por exemplo, é possível fabricar cigarros utilizando pouco capital e muita mão de obra ou, então, por meio de um processo altamente mecanizado, utilizando-se muitos equipamentos e relativamente pouca mão de obra.
A determinação da demanda, da oferta e dos preços é chamada de teoria do valor. A teoria dos custos, tratada neste capítulo, bem como a teoria da firma em várias estruturas de mercado, abordada neste e nos Capítulos 6 e 7, são componentes da teoria que tenta explicar os mecanismos de formação de preços e valor no mercado de produtos finais. A teoria do valor também abrange o mercado de fatores de produção, chamada teoria da distribuição. Na realidade, a teoria da distribuição é a teoria do valor aplicada aos mercados de fatores. Como a remuneração desses últimos chama-se renda, a fixação dos preços dos fatores determina os padrões de distribuição do produto (ou da renda), explicando, portanto, o padrão de distribuição da renda entre salários, lucros, juros e aluguéis.
Essas possíveis combinações de fatores de produção são expressas pela função de produção, que representa, como variável dependente, a quantidade máxima de produção possível, e como variáveis independentes, as quantidades variáveis dos fatores de produção, dado um nível tecnológico constante. A função de produção é a representação matemática das várias formas, ou receitas, para produzir um determinado produto.
Seja a função de produção representada por
onde Y é o produto total, K representa unidades de serviço de capital e L, unidades de trabalh0 2 . A função F é contínua e diferenciável, de tal forma que
ou seja, os produtos marginais dos fatores de produção são positivos, bem como os produtos médios dos fatores de produção
A relação entre produto total, produto médio e produto marginal pode ser vista como se segue. Suponha-se que a quantidade do fator L seja fixa em a função de produção passa a ser uma função de K, já que L se transforma em parâmetro da função.
O produto marginal,
pode ser graficamente determinado pela inclinação da reta tangente à função de produção. Nota-se que o produto marginal do capital é positivo em toda extensão da função de produção até o ponto E; depois, o produto marginal torna-se negativo. No ponto E o fator capital torna-se redundante, e incrementos além deste ponto causam reduções na produção, ou seja, o produto marginal torna-se negativo.
O produto médio do capital, ou a produtividade do capital, pode ser graficamente detenninado pela inclinação da reta que une a origem do gráfico a qualquer ponto da função de produção. O produto médio do capital é positivo.
Tanto o produto médio como o produto marginal aumentam a partir da. origem do Gráfico 5.1. O produto marginal atinge o máximo no ponto B, ponto de inflexão da função de produção. Até este ponto a inclinação da tangente aumenta; a partir deste ponto ela declina, mantendo-se positiva até o ponto E.
O produto médio aumenta até o ponto C, onde a tangente coincide com a reta a partir da origem, a qual determina o produto médio. Portanto, no ponto C o produto médio atinge o seu máximo, e é igual ao produto marginal.
Até a quantidade K3 de capital (onde o produto marginal é igual ao produto médio) o produto marginal é mais alto do que a produtividade do capital; após a quantidade K3 de capital o inverso ocorre. Isto pode ser verificado comparando-se a inclinação da reta tangente, que mede o produto marginal com a inclinação da reta a partir da origem, a qual mede a produtividade.
A igualdade entre o produto marginal e o produto médio, no ponto em que este último atinge o máximo, pode ser vista da forma a seguir.
Dada uma função de produção com um fator L fixo,
Se forem mantidos todos os fatores de produção constantes, exceto um, e se aumentar as quantidades do fator variável em incrementos iguais sucessivos, o aumento na produção total decorrente da aplicação de cada unidade adicional do fator variável será decrescente.
Se, por exemplo, um trabalhador rural lavrar uma área de terra suficiente para dois trabalhadores, a adição de um segundo trabalhador aumentará a produção num certo montante. A adição de um terceiro, ainda que aumente a produção total, causará um aumento na produção inferior ao aumento trazido pela adição do segundo trabalhador; a adição de um quarto trabalhador causará uni aumento inferior ao do terceiro, podendo-se imaginar um ponto onde a adição de mais um trabalhador chegue mesmo a diminuir o total produzido, em decorrência da falta de espaço físico para que eles trabalhem.
No exemplo acima, nota-se que a relação terra [trabalho cai com a adição de mais trabalhadores, motivando, em virtude de pressões cada vez maiores no fator constante, uma queda no acréscinw da produção causado por unidades adi. cionais de trabalho.
Os conceitos definidos e ilustrados acima Se referern a uma função de produção sujeita a uma quantidade fixa de todos.os fatores de produção, menos um. É uma função de produção de curto-prazo, já que pelo menos um fator é mantido fixo, no caso L1 unidades de trabalho.
No longo-prazo, no entanto, todos os fatores de produção se tornam variáveis, de modo que a função de produção não estará sujeita a nenhuma restrição.
Voltando à função de produção com dois fatores
Dada uma função de produção, a elasticidade de produção é definida como a variação proporcional na quantidade produzida dividida pela variação proporcional em um fator variável, mantidos fixos todos os dentais. Portanto, a elasticidade de produção do capital é igual a
e a elasticidade de produção do trabalho é igual a
Como a isoquanta representa possibilidades técnicas de produção, é possível traçar um mapa de isoquantas, cada uma delas representando um dado nível de produção. No Gráfico 5.3, acham-se três das infinitas isoquantas possíveis, respectivamente para os níveis de 50, 75 e 100 unidades do bem X produzidas.
A inclinação da isoquanta, a taxa marginal de substituição técnica determina
a redução na quantidade de um insumo suficiente para compensar o incremento
de uma unidade do outro, mantendo-se constante o nível de produção.
Será deixado ao leitor a tarefa de demonstrar:
a) que isoquantas têm inclinação negativa;
b) que isoquantas não podem se cruzar.
Quanto à convexidade da isoquanta com relação à origem, tal fato pode
ser em parte justificado pela Lei dos Rendimentos Decrescentes. Este fenômeno
ocorre no Gráfico 5,3 quando há um deslocamento do ponto P para o ponto Q
na isoquanta, representando 50 unidades de produto. A pressão sobre o fator
capital é exercida tanto por uma queda no montante de capital empregado quanto
por um incremento na quantidade de mão-de-obra utilizada. Nota-se que o racio-
cínio não é um emprego direto da Lei dos Rendimentos Decrescentes, pois esta lei
pressupõe que um fator permaneça constante e não decrescente. No entanto, é um
raciocínio induzido pela Lei dos Rendimentos Decrescentes.
A COMBINAÇÃO ÓTIMA DE FATORES NO LONGO-PRAZO
Sendo dadas as especificações técnicas da produção, representadas pelas iso-
quantas, restaria considerar os preços dos fatores de produção utilizados, ou seja,
capital e mão-de-obra. Suponha-se que uma firma se defronte com as possibilidades
técnicas (isoquantas) representadas no Gráfico 5.4. Admite-se agora que, para efe-
tuar a produção, ela tenha um fundo de Cz$ 200.000,00, que o preço do
capital seja Cz$ 1.000,00 por unidade e o da mão-de-obra, Cz$ 50,00. Qual será
a combinação de fatores (capital e mão-de-obra) que permitirá a produção aos
custos mais baixos possíveis? Outra maneira de examinar o mesmo problema: qual
a combinação de fatores que permitirá, dado o fundo de Cz$ 200.000,00, produzir
a maior quantidade possível do produto?
Nota-se que a firma não faz nenhuma restrição quanto às quantidades dos
fatores que poderá utilizar. Qualquer combinação será factível desde que sujeita à
restrição de custo total, ou do fundo monetário disponível para custear o processo
de produção.
A longo-prazo, quando nenhum dos fatores de produção for fixo, a empresa
poderá contratar qualquer quantidade de trabalho ou de capital que julgar conve-
niente. A curto-prazo, no entanto, quando a quantidade de pelo menos um fator
de produção for fixa, a empresa poderá ser obrigada a utilizar a quantidade pre-
determinada do fator fixo e terá margem para ajustar tão-somente as quantidades
dos fatores variáveis.
Por exenlplo, a curto.prazó, máquinas, equipamentos e prédios industriais podem estar disponíveis em quantidades fixas para uma empresa. Somente a longoprazo, após o decurso do prazo necessário para que devidas encomendas ou construçOes sejam efetivadas, é que esses fatores poderão tornar-se variáveis..Nesta seção estaremos analisando o comportamento da empresa a longo-prazo, isto é, quando todos os fatores de produção são variáveis.
A relação de preço entre os fatores é representada pela reta chamada iso-
custo. Em qualquer ponto da reta, o dispêndio total nos fatores de produção será
igual a Cz$ 200.000,00, pois esta é a disponibilidade da firma. Poderia utilizar-se a
combinação representada pelo ponto Q e produzir 200 unidades. No entanto, com
o mesmo custo de Cz$ 200.000,00, poderia deslocar-se para a combinação P e
produzir 300 unidades, reduzindo, assim, seu custo unitário.
A maior eficiência é obtida em P, onde um ponto de isocusto coincide com
um ponto da isoquanta mais alta possível.
Se a firma decidisse expandir suas atividades e incorporasse um fundo adi-
cional para tal fim, a curva de isocusto se deslocaria para a direita, paralelamente ao
isocusto inicial.
Se, no entanto, ocorresse uma modificação nos preços relativos dos fatores, a
inclinação da curva de isocusto modificar-se-ia. No Gráfico 5.4, exemplifica-se o
caso de um aumento do preço da mão-de-obra para aproximadamente Cz$ 61,00,
sem que o preço do capital se modificasse. Com o fundo de Cz$ 200.000,00, só
é possível contratar 3.250 trabalhadores, se não fosse contratada nenhuma unidade de capital. Como resultado, o custo unitário subiu, pois, com o mesmo fundo, só
é possível, agora, produzir 200 unidades do produto. Nota-se também que, em
decorrência do aumento do preço da mão-de-obra, houve substituição de capital
por trabalho, e a técnica de produção passou a utilizar relativamente menos
mão-de-obra.
Vê-se, então, que o produtor selecionará a técnica de produção (proporção
de fatores), cujo custo unitário de produção seja o mais baixo possível.
Essas relações podem ser expressas mais formalmente, como se segue
Dada uma função de produção Y= F(K,L), é possível a determinação
de infinitas isoquantas da forma
Vê-se, portanto, que os problemas a e b são duais e que envolvem a mesma condição para a obtenção de solução. Em ambos os casos a combinação ótima dos fatores de produção é aquela em que o último cntzado dispendido enz cada fator de produção gera um produto marginal igual aos demais.
Esta é uma condição de significado quase intuitivo. Se, por exemplo, o último cruzado gasto na aquisição de serviços de capital gerasse um produto marginal menor do que na aquisição de serviços de mão-de-obra, é evidente que esta unidade monetária deveria ser transferida para a aquisição de trabalho. A queda na produção decorrente da diminuição de capital utilizado seria mais do que com. pensada pelo acréscimo decorrente da maior utilização do fator trabalho: Somente quando os produtos marginais por cruzado gasto em todos os fatores fossem igualados é que as realocações de custo entre os fatores cessariam, gerando por. tanto a combinação ótima de fatores. Em outras palavras, a relação de preços dos fatores deve ser igualada à taxa marginal de substituição técnica.
No longo-prazo a firma deverá ajustar as variáveis sob seu controle de tal forma a poder alcançar seu objetivo — a maximização do lucro. Em face dessa opção a empresa ajustará sua escala de produção, e conseqüentemente seus custos totais.
No Gráfico 5.6 estão representadas, no painel A, as combinações de fatores de produção que, a cada nível de produção desejada, minimizarão os custos; no painel B, está exemplificada uma situação de alteração nos preços relativos dos fatores.
O CONCEITO DE EFICIÊNCIA
Em sociedades capitalistas, baseadas na empresa privada e no funciona. Inento do mercado como sistema regulador de economia, o lucro é um dos objetlvos mais importantes na estabelecida pelo administrador.
Assim, um dos critérios mais importantes para a avaliação do desempenho de uma empresa passa a ser o retorno sobre o capital investido. Colocado de outra forma, o administrador objetivará produzir aos custos mais baixos possíveis, dado um certo nível de capital imobilizado. A longo.prazo , até mesmo o seu nível de investimento será avaliado em função da obtenção de uma taxa de lucros adequada.
Dentro deste quadro de referência, a atividade produtiva passa a estar fortemente vinculada a critérios de eficiência econômica. Será oportuno repetir que o empresário pode objetivar várias metas, de forma que nenl sempre a maximização dos lucros será seu objetivo fundamental, embora, provavelmente, será um dos mais importantes em sua escolha de prioridades.
O conceito de eficiência tem várias conotações, embora, freqüentemente, ele seja interpretado como eficiência "técnica", ou seja, a maior produção possível por unidade de insumo. Exemplificando em termos de economia agrícola, esta visão parcial do conceito de eficiência é freqüentemente associada com maximização da produtividade da terra, ou, às vezes, com a maximização da produtividade do trabalho. Se o objetivo é o lucro, o administrador deve considerar a eficiência econômica do seu empreendimento, mas sempre dentre as variáveis alternativas de combinações de fatores que sejam tecnicamente eficientes. Caso contrário, estará sendo "alocativamente" eficiente, porém não "economicamente" eficiente.
Estes conceitos podem ser melhor exemplificados com o auxílio das curvas de isoquantas e isocustos.
A isoquanta representada no Gráfico 5.7 identifica todas as combinações dos dois fatores variáveis de produção (X e Y) que produzem uma unidade do produto final, chamada isoquanta unitária eficiente. O conceito de eficiência técnica pode ser ilustrado como se segue.
A isoquanta unitária eficiente é o loci de todos os pontos tecnicamente eficientes. A posição da isoquanta renete a fronteira tecnológica num dado ponto e num determinado local. A produção de uma unidade do produto no interior da fronteira (por exemplo em A) é tecnicamente inviável, dadas as condições tecnológicas existentes. Se a atividade produtiva utilizar a combinação de insumos B para a produção de uma unidade do produto final, então a atividade será tecnicamente ineficiente, já que será sempre possível se atingir o mesmo nível de produção, utilizando-se de menores quantidades dos dois insumos variáveis (qualquer ponto entre B' e B'')c
Chama-se eficiência alocativa quando; dada uma isoquanta unitária qualquer, é selecionada a combinação que minimiza seus custos' de produção. Por exemplo, a isoquanta que passa pelo ponto B no Gráfico 5.7 é ineficiente. No entanto, ela pode representar a técnica de produção em utilização numa empresa. Tomando-se agora os preços dos insumos X e Y, representados no Gráfico 5.8 pela inclinação da reta de isocusto, é possível determinar qual a combinação de X e Y que produz uma unidade do produto final ao menor custo dentre as demais combinações representadas.
No caso apresentado no Gráfico 5.8 a combinação de fatores representada pelo. ponto E, onde a isoquanta tangencia o isocusto, é alocativamente eficiente. Nota-se, no entanto, que a combinação E não é tecnicamente eficiente, já que ela
não se situa na isoquanta unitária eficiente, e sim em outra isoquanta localizada "acima" dela.
O conceito de eficiência econômica pressupõe a seleção de uma combinação alocatiVamente eficiente e também tecnicamente eficiente, como no Gráfico 5.9.
O ponto E' identifica a combinação de fatores tecnicamente eficiente que minimiza os custos de produção. É em conseqüência a combinação de mais baixo custo dentre todas as combinações possíveis. Vê-se assim que o conceito de eficiência econômica pressupõe uma tecnologia de produção tecnicamente eficiente; já o conceito de eficiência alocativa não. exige o mesmo. A eficiência alocativa pode representar, por exemplo, a "segunda melhor opção", ao passo que a eficiência econômica pressupõe um "ótimo".
É interessante notar, no entanto, que nem sempre uma combinação localizada na isoquanta unitária eficiente implica custos de produção mais baixos do que uma combinação localizada numa isoquanta ineficiente. Este é o caso, por exemplo, do Gráfico 5.9, onde a combinação I implica custos de produção superiores a alguns pontos localizados na isoquanta ineficiente, entre eles o ponto alocativamente eficiente E". Esta observação é importante, pois demonstra claramente o perigo da ênfase na seleção de critérios técnicos sem devida atenção aos critérios econômicos. Isto ocorre quando um administrador define como seu objetivo obter, por exemplo, a maior produtividade possível por hectare, sem levar em consideração os custos de produção correspondentes. Nem sempre a alta produtividade de um dado fator significa maior eficiência econômica.
PROGRESSO TECNOLÓGICO
A função de produção indica a relação entre produção e insumos. Viu-se, no entanto, que a cada momento a função de produção pressupõe um nível tecnológico constante.
Havendo inovações tecnológicas a criação entre produção e insumo se altera, com possibilidade de novas combinações para a obtenção de um determinado nível de produção.
Progresso tecnológico pode ser representado pela introdução, na função de produção, da variável tempo (t), indicando assim que o processo de introdução de inovaçõe9 tecnológicas ocorre continuamente ao longo do tempo.
Com essas observações fica claro que somente o custo das combinações localizadas na curva de expansão estará representado na função de custo. No Gráfico 5.13 0 ponto D, combinação que produz 1O unidades de produto, é transformado de forma a gerar o ponto D'. Vê-se que o custo total de produção com a utilização da combinação D de fatores é superior ao custo gerado pela combinação de custo mínimo' A. Da mesma forma, é possível mostrar que todas as demais combinações possíveis irão gerar custos de produção situados acima da corva de custo total CT.
A curva CT separa o espaço do quadrante em duas áreas, Os pontos incluídos no espaço I, acima da curva CT, são pontos ineficientes, pois indicam dispêndios correspondentes a combinações de insumos que não minimizam o custo do nível de produção correspondente. Dadas as condições tecnológicas existentes, é impossível atingir os pontos incluídos no espaço II, abaixo da curva CT. O mesmo não acontece com os pontos na curva CT, que podem ser atingidos e representam os custos mínimos dos níveis de produção correspondentes.
Exemplo de obtenção da função de custo de longo-prazo com uma função de produção do tipo Cobb-Douglas.
TEORIA DOS CUSTOS
A função de custos totais de produção é gerada a partir da função de 'produção, dos preços dos fatores e do comportamento otimizador do empresário, que
CUSTO MÉDIO DE CURTO E LONGO-PRAZO
Foi visto acima que a curva de custo total de longo-prazo é tangenciada por
infinitas curvas de custo total de curto-prazo. Cada curva de curto-prazo é determi-
nada por uma quantidade fixa de um fator de produção e gera uma curva de custo
médio correspondente.
Suponha-se que existam quatro tamanhos de planta. Cada um representa um
nível de imobilização do fator fixo. O tamanho 1 representa uma firma de tama-
nho pequeno, o tamanho dois representa uma firma com capacidade para uma
produção maior, e assim por diante.
A curva de custo médio de longo-prazo tem a forma de U, tendo inclinação
negativa até o nível de produção Y* e inclinação positiva para níveis de produção
mais altos.
Esta é a configuração clássica da curva de custo que indica que os custos ini-
cialmente caem com o aumento do tamanho de planta, atingem um mínimo e
depois aumentam. Este fenômeno chama-se economia de tamanho.
Vários são os argumentos utilizados para justificar este comportamento dos
custos. Jnicialmente, as economias de tamanho podem surgir pelas facilidades e econo-
mias no manuseio de grandes quantidades de produção e de insumos, tais como des-
contos para aquisição de insumos, menores custos administrativos e de comercializa-
ção, maior autonomia financeira, diluição de riscos, indivisibilidades tecnológicas, economias de especialização etc. Estas indivisibilidades criam condições para a
redução do custo unitário de produção até um determinado ponto. Além dele, o
processo é invertido e o custo unitário poderá começar a aumentar em função do
nível de produção exageradamente alto, causando aumento nos custos de compra
de insumos, maiores gastos administrativos etc8.
Deve-se observar que a configuração da curva de custo (em forma de U)
é um fato que pode ser provado ou negado empiricamente. É uma configuração
possível, até mesmo provável, embora não haja necessidade lógica de que todas as
curvas de custo tenham configuração semelhante.
A tradicional curva de custo unitário em forma de U tem sido criticada de
diversos ângulos.
Em primeiro lugar, aponta-se para o fato de que as curvas de custo médio
variável têm um segmento onde os custos são relativamente constantes. Esta
hipótese se justifica pela constatação de que os empresários produzem plantas
onde já vêm embutida uma certa quantidade de capacidade de produção de
reserva, o que lhes garante maior flexibilidade no ajustamento de seus níveis
de produção. Dessa forma, os empresários não selecionam tamanhos de plantas
que lhes garantam custo mínimo para um dado nível de produção imediata, mas
sim, uma planta que lhes garanta certa flexibilidade na determinação da quantidade
a custos aproximadamente semelhantes. Em vez do conceito de capacidade ociosa
da curva de custo clássica, onde a diferença entre a quantidade que minimiza o
custo e a quantidade efetivamente produzida é considerada como erro de planeja-
mento, surge o conceito da capacidade de reserva; como descrito no Gráfico 5.19,
YAY* é a eventual capacidade ociosa, e Y1Y2, a capacidade de reserva.
Outra importante alternativa à teoria de custos tradicional é a curva de custos em forma de L.
As economias de tamanho causam, inicialmente, uma redução no custo de produção com o aumento das quantidades produzidas. No entanto, de acordo com a visão tradicional, os custos aumentam com o crescimento de produção, principalmente devido ao esgotamento das reduções de custo causado por fatores tecnológicos (como indivisibilidades) e pelo aumento dos custos de controle e administração.
Os defensores da curva em L alegam que efetivamente os custos administrativos começam a pressionar os custos médios para cima, além de certos níveis de produção; não aceitam no entanto o esgotamento do potencial tecnológico de redução de custos. Acreditam que o potencial tecnológico não se esgota, e que ele mais do que compensa os custos crescentes de administração e controle, de forma que a curva de custo médio de longo-prazo continua decrescente. O Gráfico 5.20 ilustra uma curva de custo médio de longo prazo em L.
Capítulo 6: COMPETIÇÃO PERFEITA
Uma vez conhecidos os custos e a combinação de insumos que minimiza esses custos para cada nível de produção, resta à firma determinar que quantidade produzir. Para isto ela deverá levar em consideração a curva de demanda aplicável ao seu produto, bem como a definição dos objetivos que os empresários desejam atingir.
A teoria econômica tradicional enfatiza, como objetivo primordial do empreSário no sistmna de mercado, a maximização dos lucros. Pressupõe-se que o empreSário, a todo momento, age de forma a maximizar a diferença entre receita e custos de produção (considera-se como custo o lucro nonnal, ou seja, o custo de oportunidade do empresário, definido como a remuneração alternativa que ele poderia obter em outras atividades; em geral, o custo de oportunidade do empresário é a taxa de lucro média do sistema).
A teoria tradicional da firma privilegia a maximização do lucro como principal objetivo da empresa, embora aceite que outros possam *existir. Ao centrar a teoria na maximização do lucro, está reconhecendo a importância deste objetivo, em comparação com outros, e o elege como pedra fundamental para a elaboração de modelos de comportamento empresarial. Cabe ao analista, no entanto, interpretar os resultados teóricos adequadamente, considerando outros objetivos porventura aceitos, que não a maximização do lucro, como "qualificadores dos resultados obtidos".
Como explicitado adiante, algumas teorias alternativas apontam para outros objetivos na teoria da firma, tais como a maxinüação da receita, maximização de parcela de mercado e limitação de entrada de concorrentes. Poder-se-ia argumentar que esses objetivos são em realidade instrumentos de curto.prazo para a obtenção do objetivo maior, de longo.prazo, que é efetivamente a maximização dos lucros.
170
Competição 171
Neste caso, a diferença entre a teoria tradicional de firma e as teorias alternativas estaria em realidade liniitada aos de curto.prazo, já que a teoria tradicional pressuposta na maximização do lucro de longo.prazo torna-se necessária à maximização do lucro no curto.prazo. Já as teorias alternativas sacrificam o lucro de curto-prazo em favor de Outros objetivos que garantam a makimização do lucro no longo.prazo.
Q comportamento da firma será analisado tanto no curto-prazo como no longo-prazo, sob as óticas tradicional e alternativa. As conclusões obtidas serão consideradas na determinação do comportamento da indústria, definida como ó conjunto das firmas que produzem o mesmo produto homogêneo, sujeitas à mesma curva de demanda do mercado.
TEORIA DA FIRMA
COMPETIÇÃO PERFEITA
A Oferta em Mercados Competitivos Perfeitos no Curto-Prazo
Logicamente, a maximização dos lucros não é o objetivo principal de todas as empresas modernas; no entanto, pode-se tomar este caso como representativo de boa parte das mesmas, e dizer que, satisfeitos certos objetivos não.monetálios, as firmas tentam ajustar sua produção de forma a maximizar seus lucros. Em outras palavras, o raciocínio que será desdobrado abaixo poderá ser reduzido a uma con. dição de subordinação a outros objetlvos.
Num regime de competição perfeita as firmas são sempre suficientemente pequenas e numerosas, dentro de cada indústria, de tal forma que nenhuma delas, isoladamente, possa afetar o preço do mercado.
Dada uma curva de procura para uma indústria qualquer, alterações na oferta de uma firma, agindo individualmente, representarão deslocamentos infinitamente pequenos, já que sua participação na oferta total é muito reduzida (atomização).
Conclui-se daf que, para cada firma, individualmente, o preço de mercado já é previamente determi%iado, ou seja, a curva da procura é uma reta paralela ao eixo horizontal e a interseção com o eixo vertical determina o preço de mercado.
O Gráfico 6.1 demonstra como o mercado (que engloba todas as firmas) determina o preço de equilLt)rio Pe, e como tal preço é dado às firmas individuais, transformando-se em suas curvas de procura.
As firmas, individualmente, conhecem seu preço de venda. Acima do preço Pe, havendo competição perfeita, elas não conseguirão escoar sua produção; da mesma forma, não venderiam abaixo do preço Pe, já que sabem que, ao preço de mercado (Pe), elas conseguirão vender toda a sua produção. Sabem também que,
Uma vez conhecidos os custos e a combinação de insumos que minimiza esses custos para cada nível de produção, resta à firma determinar que quantidade produzir. Para isto ela deverá levar em consideração a curva de demanda aplicável ao seu produto, bem como a definição dos objetivos que os empresários desejam atingir.
A teoria econômica tradicional enfatiza, como objetivo primordial do empreSário no sistmna de mercado, a maximização dos lucros. Pressupõe-se que o empreSário, a todo momento, age de forma a maximizar a diferença entre receita e custos de produção (considera-se como custo o lucro nonnal, ou seja, o custo de oportunidade do empresário, definido como a remuneração alternativa que ele poderia obter em outras atividades; em geral, o custo de oportunidade do empresário é a taxa de lucro média do sistema).
A teoria tradicional da firma privilegia a maximização do lucro como principal objetivo da empresa, embora aceite que outros possam *existir. Ao centrar a teoria na maximização do lucro, está reconhecendo a importância deste objetivo, em comparação com outros, e o elege como pedra fundamental para a elaboração de modelos de comportamento empresarial. Cabe ao analista, no entanto, interpretar os resultados teóricos adequadamente, considerando outros objetivos porventura aceitos, que não a maximização do lucro, como "qualificadores dos resultados obtidos".
Como explicitado adiante, algumas teorias alternativas apontam para outros objetivos na teoria da firma, tais como a maxinüação da receita, maximização de parcela de mercado e limitação de entrada de concorrentes. Poder-se-ia argumentar que esses objetivos são em realidade instrumentos de curto.prazo para a obtenção do objetivo maior, de longo.prazo, que é efetivamente a maximização dos lucros.
170
Competição 171
Neste caso, a diferença entre a teoria tradicional de firma e as teorias alternativas estaria em realidade liniitada aos de curto.prazo, já que a teoria tradicional pressuposta na maximização do lucro de longo.prazo torna-se necessária à maximização do lucro no curto.prazo. Já as teorias alternativas sacrificam o lucro de curto-prazo em favor de Outros objetivos que garantam a makimização do lucro no longo.prazo.
Q comportamento da firma será analisado tanto no curto-prazo como no longo-prazo, sob as óticas tradicional e alternativa. As conclusões obtidas serão consideradas na determinação do comportamento da indústria, definida como ó conjunto das firmas que produzem o mesmo produto homogêneo, sujeitas à mesma curva de demanda do mercado.
TEORIA DA FIRMA
COMPETIÇÃO PERFEITA
A Oferta em Mercados Competitivos Perfeitos no Curto-Prazo
Logicamente, a maximização dos lucros não é o objetivo principal de todas as empresas modernas; no entanto, pode-se tomar este caso como representativo de boa parte das mesmas, e dizer que, satisfeitos certos objetivos não-monetários, as firmas tentam ajustar sua produção de forma a maximizar seus lucros. Em outras palavras, o raciocínio que será desdobrado abaixo poderá ser reduzido a uma con. dição de subordinação a outros objetivos.
Num regime de competição perfeita as firmas são sempre suficientemente pequenas e numerosas, dentro de cada indústria, de tal forma que nenhuma delas, isoladamente, possa afetar o preço do mercado.
Dada uma curva de procura para uma indústria qualquer, alterações na oferta de uma firma, agindo individualmente, representarão deslocamentos infinitamente pequenos, já que sua participação na oferta total é muito reduzida (atomização).
Conclui-se da que, para cada firma, individualmente, o preço de mercado já é previamente determinado, ou seja, a curva da procura é uma reta paralela ao eixo horizontal e a interseção com o eixo vertical determina o preço de mercado.
O Gráfico 6.1 demonstra como o mercado (que engloba todas as firmas) determina o preço de equilíbrio Pe, e como tal preço é dado às firmas individuais, transformando-se em suas curvas de procura.
As firmas, individualmente, conhecem seu preço de venda. Acima do preço Pe, havendo competição perfeita, elas não conseguirão escoar sua produção; da mesma forma, não venderiam abaixo do preço Pe, já que sabem que, ao preço de mercado (Pe), elas conseguirão vender toda a sua produção. Sabem também que, como a participação de cada uma delas na oferta total da indústria é exatamente pequena, qualquer que seja seu nível de produção, o preço de mercado não será afetado.
Evidentemente, se todas as firmas que compõem -a indústria aumentassem suas respectivas produções a cada nível de preço, a curva da oferta total seria deslocada para a direita e, então, haveria uma variação no preço de mercado. Todavia, devido à grande atomização na produção, dificilmente ocorrerá fenômeno semelhante.
Tendo sido determinado o preço do produto para cada uma das firmas, resta-lhes ajustarem seus níveis de produção de forma a maximizar seus lucros. Tal ajuste depende dos custos das empresas.
Custos fixos são aqueles que independem do nível de produção. Por exemplo, imobilização em terreno, prédio e equipamentos têm custos: juros de capital empregado e depreciação. Qualquer que seja a produção, o empresário terá de fazer frente a tais despesas, mesmo que a firma não esteja operando.
Outro exemplo seriam os impostos prediais e territoriais devidos, esteja a empresa produzindo à capacidade máxima ou fechada por motivo de férias coletivas de seus funcionários. Ainda outro exemplo seria o custo gerencial, que permanece inalterado qualquer que seja a produção da firma, tal como o gerente, seção de vendas, contabilidade etc.
Custos variáveis são aqueles que variam em função do nível de produção, como custo de matérias-primas, bens intermediários, salários, custo de energia, confissões de venda e outros. Tais custos variam proporcionalmente à produção, embora tal proporção possa não ser fixa em todos os níveis.
A soma dos custos fixos e dos custos variáveis chama-se custo total de produção. Chama-se custo médio o custo total dividido peio número de unidades produzidas. Na Tabela 6.1 acham-se relacionados os custos acima mencionados.
A coluna 1 indica as quantidades produzidas. A coluna 2, os custos fixos, ao nível de 200 unidades, qualquer que seja a quantidade produzida. As colunas 3 e 4 representam os custos variáveis de salário e energia, respectivaznente, e a coluna 5, o custo variável total.
Com relação aos custos variáveis, nota-se que, até o nível de produção de 110 unidades, o custo de salário é proporcional ao nível de produção na proporção de 3 para 1. Para ultrapassar o nível de 120 unidades de produção, já seriam necessários trabalhadores 2 turnos, o que aumentaria a produção para 3,15 para I ao nível de 120 unidades, 3,27 para 1 ao nível de 130 unidades e para 1 ao nível de 140 unidades. Isto ocorre devido ao fato de serem necessárias taxas de salário mais altas para trabalhos noturnos e em virtude da dificuldade crescente de recrutação de trabalhadores para uni segundo turno, encarecendo progressivamente o custo de salário.
O fenomeno inverso ocorre com o custo de energia, quando, até o nível de 120 unidades de produção, o custo é acrescido em valores decrescentes. A partir do nível de produção de 120 unidades, no entanto, torna-se necessário utilizar mais energia do que a capacidade normal dos equipamentos, forçando, portanto, o consumo de eletricidade e encarecendo os custos.
O custo total agrega os custos variáveis com os custos fixos e, dividido pelo número de unidades produzidas, dá o custo médio da produção, na coluna 7. Nota-se que o custo médio cai até o nível de 110/120 unidades e, depois, começa a subir. A queda do custo médio é explicada por dois fatores:
1) o componente fixo do custo total vai sendo rateado por uma quantidade crescente de unidades produzidas, de forma que o custo fixo unitário
O custo total agrega os custos variáveis com os custos fixos e, dividido pelo número de unidades produzidas, dá o custo médio da produção, na coluna 7. Nota-se que o custo médio cai até o nível de 110/120 unidades e, depois, começa a subir. A queda do custo médio é explicada por dois fatores:
1) o componente fixo do custo total vai sendo rateado por uma quantidade crescente de unidades produzidas, de forma que o custo fixo unitário
Suponha-se que o preço de mercado seja Cz$ 7,00 por unidade. Para determinar o nível de produção, utiliza-se o conceito de custo marginal. Define-se esse custo como a variação do custo total decorrente da variação na produção de uma unidade adicional do produto. Convém notar que, na Tabela 6.2, o custo marginal não foi calculado para cada unidade adicional de produto, mas para cada grupo de 10 unidades adicionais. Note-se que, na prática, dificilmente são conseguidos levantamentos de custos por unidade de produto, mas sim por lotes; assim sendo, o raciocínio será feito levando-se em consideração unidades adicionais de lotes, e não unidades de produto.
Exaniinando a coluna 4a, nota-se que o custo marginal cai até o nível de produção de 110 unidades. A partir de então, sobe, fazendo aumentar também o custo nédio, que, até então, era declinante. A partir do ponto onde eles são iguais, ou seja, ao nível de produção dc 120 unidades, o cústo médio será crescente.
A coluna 5 indica o preço de mercado do produto. Como no exemplo existe competição perfeita, o preço é constante e igual a Cz$ 7,00.
A coluna 6 dá a receita total, ou seja, o preço unitário multiplicado pela produção. Havendo competição perfeita supõe-se que o produtor consiga escoar toda a sua produção, qualquer que seja ela, ao preço fixado pelo mercado.
A coluna 7 mostra o lucro da firma, aos vários níveis de produção. Ele é determinado subtraindo-se o custo total da receita total. Nota-se que a operação só se torna lucrativa a partir de níveis de produção entre 50 e 60 unidades. Até então, o empresário teria prejuízo ou perdas. Os lucros aumentam até atingir Cz% 234,00 ao nível de 130 unidades, passando, então, a declinar, e a partir de 190 unidades de produção a firma volta a ter prejuízo. Como visto anteriormente, tal fenômeno acontece em decorrência da estrutura dos custos fixos e variáveis. Sugere-se ao leitor que retrace a argumentação para explicar o comportamento dos lucros.
Há agora condições de se constatar que o nível de produção que maximizará os lucros está entre 130 e 140 unidades.
Devido à estrutura do exemplo, não é possível afirmar com certeza o nível ótimo de produção, mas sabe-se que ele se acha entre 130 e 140 unidades.
A análise marginal afirma que o nível de produção que maximizará os lucros é aquele em que o custo marginal é igual ao preço. Ao nível de 130 unidades, o custo marginal é de Cz$ 5,80 e ao nível de 140 unidades ele é de Cz$ 7,40. Conclui-se, portanto, que o ponto onde o custo marginal é de Cz$ 7,00 está entre 130 e 140 unidades do produto.
ANÁLISE MARGINAL
Pode-se afirmar que o nível de produção que maximizará os lucros é aquele no qual o custo marginal iguala-se ao preço pela seguinte razão: se a firma estiver produzindo 10 unidades, conforme a Tabela 6.2, verifica-se que seu prejuízo é de Cz$ 165,00; se a firma decidir expandir sua produção de IO para 20 unidades, o custo marginal unitário será de Cz$ 3,50, mas o preço de venda será de Cz$ 7,00 por unidade; assim sendo, a firma "lucrará" Cz$ 3,50, nas IO unidades adicionais produzidas, o que reduzirá seu prejuízo para Cz$ 130,00. Seguindo o mesmo raciocínio, a firma passará a expandir sua produção, reduzindo seu prejuízo, até que chegue ao nível de pródução de 60 unidades, onde já obterá um lucro de Cz$ 13,00. A produção não cessará neste ponto, pois, para aumentar de 60 para 70 unidades, o custo marginal unitário será Cz$ 3,30 e o preço de venda, Cz$ 7,00.
Desta forma, o empresário "lucrará" nas 10 unidades adicionais Cz$ 37 ,00, o que aumentará o lucro total de Cz$ 13,00 para Cz$ 50,00. Seguindo o mesmo raciocínio, o empresário verá que seu lucro máximo será obtido quando produzir entre 130 e 140 unidades de produto.
Além deste ponto, o lucro será reduzido, pois, para aumentar a sua produção de 140 para 150 unidades, o custo marginal unitário será de Cz$ o preço de venda de Cz$ 7,00, perdendo assim Cz$ 20,00 nas 10 unidades adicionais e reduzindo seus lucros de Cz$ 230,00 para Cz$ 210,00. Conclui-se, portanto, que o ponto de produção que maximizará o lucro em regime de competição perfeita será aquele em que o custo marginal for igual ao preço.
Isto pode ser demonstrado da seguinte forma (o problema consiste na maximização do lucro dados o preço do produto e a função do custo):
O EQUILÍBRIO DO LONGO-PRAZO EM COMPETIÇÃO PERFEITA
Embora a firma esteja em equilibrio de longo-prazo, ou seja, maximizando seus lucros (sendo dados os preços do produto, dos fatores e a função de produção, que, conjuntamente, determinam seus custos), a indústria não estará em equilíbrio. Isto acontece porque as empresas atuantes na indústria estarão auferindo lucros extraordinários ou lucros econômicos. Estarão obtendo um lucro médio acima do lucro normal, já embutido no custo médio (DC), ao passo que a taxa média de lucro do sistema econômico é tão-somente o lucro normal. As empresas que atuam em outros setores de produção estarão gerando tão-somente o lucro normal, e não estarão obtendo qualquer lucro extraordinário. Assim, num regime de competição perfeita, caracterizada entre outras qualidades pela existência de conhecimento perfeito, mobilidade perfeita de fatores e livre entrada, haverá um incentivo para que outras empresas ingressem nesta determinada indústria, onde existe a possibilidade de obtenção de lucros econômicos.
A conseqüência da entrada de novas firmas na indústria será o deslocamento da curva da oferta, pressionando o preço do produto para baixo.
Suponha-se, como no Gráfico 6.7, que a entrada de novas firmas na indústria não acarrete um aumento nos preços dos fatores, ou seja, que a indústria seja caracterizada pela existência de custos constantes.
A EFICIÊNCIA DA COMPETIÇÃO PERFEITA
O equilibrio de longo-prazo em concorrência perfeita apresenta algumas características de grande importância na avaliação normativa de estruturas de mercado:
a) as firmas são induzidas a produzir com o tamanho de planta que possibilita o menor custo de produção possível. Haverá, portanto, eficiente alocação de recursos de produção, já que são utilizados de forma a produzir a custo mínimo;
b) internamente, as empresas minimizam seus custos de produção. Estarão produzindo no ponto mínimo de suas curvas de custo médio de curto. prazo, o que não ocorreria se estivessem produzindo com qualquer outro tamanho de planta;
c) o consumidor estará pagando pelo produto um preço igual a seu custo de produção. Não estará havendo exploração, já que o produtor não consegue obter remuneração maior que seus custos. Estará havendo maximização dos ganhos sociais. As empresas estarão produzindo a maior quantidade possível do produto, já que o custo marginal se iguala ao preço;
d) a estrutura concorrencial fará com que todas as firmas atuantes na indústria funcionem com o tamanho ótimo de planta e com o mesmo grau de eficiência máxima. Se por acaso alguma firma for menos eficiente do que outras, ela não conseguirá vender seu produto. Será obrigada a encerrar suas atividades, dando lugar a outras mais eficientes, ou então será obrigada a melhorar sua produtividade de forma a poder produzir com os custos unitários mínimos.
A CURVA DE OFERTA DA INDÚSTRIA A LONGOPRAZO EM COMPETIÇÃO PERFEITA
É possível traçar a curva de oferta da indústria acompanhando-se os pontos de equilíbrio gerados pelos deslocamentos da curva de demanda.
Suponha-se inicialmente uma indústria caracterizada por custos constantes, como no Gráfico 6.8.
EFEITOS DE ALTERAÇÕES NOS CUSTOS EM COMPETIÇÃO PERFEITA
Um aumento dos custos fixos de uma firma individual desloca sua curva de custo médio para cima. Como no entanto o custo marginal não se altera em função de alterações no valor do termo constante da função de custo (o custo fixo), a curva da oferta de curto-prazo da firma não se altera, e ela continuará, no curto-prazo, a produzir a mesma quantidade que antes do aumento do custo fixo.
Se a firma já estivesse em equilíbrio (produzindo no ponto mínimo de sua curva de custo), o aumento do custo fixo geraria prejuízo. A longo.prazo a firma deixaria de produzir, e a curva da oferta da indústria se deslocaria para a esquerda. Portanto, o efeito final de um aumento do custo fixo seria, dada uma curva de demanda, uma produção menor, e um preço mais alto.
Já um aumento no custo pariápel desloca o custo marginal para cima. Como o custo marginal é a curva da oferta da firma, no curto.prazo, ele se desloca para cima. Haverá, dada uma curva de demanda pelo produto, um desloca. mento imediato para cima da curva da oferta, causando uma redução na quantidade e um aumento no preço final do produto.
A imposição de um imposto sobre o lucro da empresa terá efeito semelhante ao aumento do custo fixo. O imposto sobre o lucro não altera o custo marginal da empresa, e portanto não altera o seu equilíbrio de curto-prazo. A longo-prazo, no entanto, poderá haver saída de empresas do setor, se as mesmas já estiverem operando em equilíbrio de longo-prazo, ou seja, com lucros econômicos nulos, obtendo tão-somente lucros normais.
A imposição de um imposto fixo por unidade vendida deslocaria paralela. mente a curva de custo médio da empresa no montante do imposto e, portanto, deslocaria para cima o seu custo marginal.
Sem a imposição do imposto, a condição de maximização de lucros é dada por
O preço será igualado ao custo marginal, que agora se deslocou para cima em "t" unidades.
Dessa forma, o efeito deste imposto seria o deslocamento, no curto-prazo,
da curva da oferta da indústria, causando um aumento no preço e uma redução na quantidade ofertada.
A TEORIA DA PRODUTIVIDADE MARGINAL E PREÇO DOS FATORES EM CONCORRÊNCIA PERFEITA
Inicialmente será indicado como são determinados os preços dos fatores de produção num mercado de concorrência perfeita. Um número grande de agentes econômicos não havendo a possibilidade de predominância de nenhum agente individualmente — oferecendo os serviços de fatores de produção à venda constituirá uma curva da oferta; da mesma forma, um grande número de agentes estará adquirindo quantidades de serviço a vários níveis de preços, constituindo a curva de demanda pelos fatores. Desta forma, a conjugação da demanda e da oferta determinará o nível de preços de equilíbrio dos fatores, como a taxa de salário, a taxa de juros, o valor dos aluguéis e a taxa de lucro normal.
Chama-se renda a remuneração dos fatores de produção. Assim, a renda do trabalho são os salários, a renda do capital são os lucros e juros, e a renda dos proprietários são os aluguéis.
A função de demanda pelos serviços de um determinado fator de produção é determinada da seguinte maneira: suponha-se a existência de uma firma cuja função de produção seja dada por q = F (L)
onde L represente os serviços de mão-de-obra, o único fator para a produção do bem q. Havendo competição perfeita, o preço de q é dado por P. Este preço é fixado no mercado, e a empresa pode colocar no mercado qualquer quantidade de seu produto a este preço s . Da mesma forma, havendo competição perfeita a curva de oferta do fator L é, para esta empresa, infinitamente elástica, já que poderá empregar qualquer quantidade, ao preço de mercado w, sem que com isto influencie o preço do trabalho vigente.
Portanto, o lucro da empresa é dado por LT + Pq - wL
e a maximização de lucros implica
Capítulo 7: MONOPÓLIO E COMPETIÇÃO MONOPOLISTA
Em competição perfeita as empresas produtoras formam a indústria. A soma das ofertas individuais das empresas compõem a oferta da indústria.
Como no monopólio só existe uma firma produtora, o conceito de indústria deixa de existir, confundindo-se com a firma monopolista. Portanto, a quantidade transacionada pela indústria confunde-se com a quantidade transacionada pela firma detentora do monopólio.
A diferença entre o comportamento de uma firma em regime de competição perfeita e outra em regime de monopólio pode ser explicada pelas suas curvas de procura.
Viu-se como, em competição perfeita, a curva da procura de uma firma é infinitamente elástica e o preço é determinado pelo mercado. A firma passiva. mente ajusta sua produção ao preço dado.
Em monopólio, tal fenomeno não ocorre. Como só há um produtor de determinado produto, a curva da procura do mercado se identifica com a curva da procura da finna monopolista. Esta -pode manipular os preços, alterando as quantidades ofertadas, coisa que não seria possível em competição perfeita, devido à atomização da produção.
Em competição perfeita, a firma aumenta sua produção até igualar o custo marginal ao preço. Desta maneira, enquanto o custo de uma unidade adicional for menor que o preço, o produtor aumentará seu "lucro" , ao expandir sua produção nesta unidade adicional.
Em monopólio, ao aumentar sua produção em uma unidade adicional, haverá uma queda no preço, já que a sua curva da procura tem inclinação negativa. Desta forma, o produtor monopolista aumentará sua produção enquanto seu custo marginal for mais baixo que a receita adicional gerada pelo aumento na quantidade ofertada em uma unidade. Em outras palavras, ele aumentará sua produção até que seu custo marginal seja igual à sua receita marginal.
Como só existe uma firma na indústria, a curva da demanda da firma coincide com a demanda da indústria como um todo.
Dada uma curva de demanda, q = q(P) define-se a receita total como a quantidade vendida multiplicada pelo preço médio, ou seja:
Em competição perfeita, a condição de maximização de lucros era custo marginal igual ao preço. Em monopólio, a condição é custo marginal igual à receita marginal.
Convém notar que a diferença é puramente circunstancial, já que a receita marginal é igual ao preço quando a curva da procura é infinitamente elástica. Sugere-se ao leitor que prove esta afirmação por si mesmo.
Na Tabela 6.3 coloca-se a firma X da Tabela 5.2 frente a uma situação monopolística, e vê-se como ela determina seu nível de produção e o preço de mercado.
As colunas l , 2, 3, 4 e 5 foram tiradas da Tabela 5.2. A coluna 6, junta. mente com a coluna l, representa os dados da tabela de procura para o produto, a qual se identifica com a curva da procura da firma. A coluna I indica quais as quantidades que seriam demandadas aos preços constantes da coluna 6 A coluna 7 é o produto dos preços pelas quantidades. Nota-se que a receita total aumenta com a queda nos preços até o nível de preço de Cz$ 7,50 por unidade. Isto indica que a curva é elástica neste segmento.
No segmento entre os níveis de preço de Cz$ 7,50 e Cz$ 7,00 ela tem elasticidade unitária e, abaixo de Cz$ 7,00, ela se toma inelástica.
A coluna 8 indica a receita marginal. Como a receita marginal é a variação na receita total decorrente do aumento de renda de uma unidade adicional (no caso, um lote de 10 unidades), ela é calculada subtraindo, por exemplo, a receita total para 60 unidades vendidas da receita total para 50 unidades vendidas, o que resulta em Cz$ 90,00. Isto indica que a empresa, partindo da venda de 50 unida. des, terá uma receita adicional de Cz$ 90,00, caso venda um lote de 10 unidades a mais. Poder-se-ia aproximar dizendo que a receita marginal por unidade
Cz$ 9,00, ou seja, 90/10. Isto está indicado na coluna 8a, que é a coluna 8 dividida por 10, ou pelo número de unidades que compõem um lote. Observando a coluna 8? nota-se que a receita marginal por unidade cai a qualquer nível de produção, tornando-se negativa a partir de 150 unidades vendidas.
Não se deve esquecer que, embora a quantidade vendida seja maior, a receita marginal será decrescente em virtude da necessidade de que o preço caia para que seja absorvida uma quantidade maior.
Observando a Tabela 7.1, nota-se que a produção que maximizará os lucros do empresário se situa entre 110 e 120 unidades do produto. Neste ponto o custo marginal será igual à receita marginal, e o preço estará entre Cz$ 8,50 e Cz$ 9,00 por unidade.
O lucro foi maximizado já que, enquanto o custo marginal for mais baixo que a receita marginal, compensa aumentar a produção em uma unidade. Tal possibilidade se esgota quando eles se igualam.
A prova da condição de maximização de lucros em monopólio — quando o custo marginal deve ser igualado à receita marginal — é idêntica à prova da condição de maximização de lucros em competição perfeita.
Pode-se perguntar se, a exemplo do que ocorre em competição perfeita, a curva de custo marginal do monopolista é a sua curva de oferta, no curto-prazo.
Em realidade, não existe uma curva de oferta em monopólio. O produtor, dados sua curva de custo e a demanda por seu produto, escolherá uni ponto na curva de demanda, fixando a quantidade transacionada e o preço de venda. Além do mais, não existe uma relação única entre quantidade ofertada e preço num mercado monopolístico. Uma mesma quantidade poderá ser vendida a preços diferentes, dependendo da elasticidade da curva de demanda; por outro lado, quantidades diferentes poderão ser vendidas ao mesmo preço, dependendo do posicionamento da curva de demanda. O Gráfico 7.3 ilustra essas duas possibilidades.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES QUANTO À EFICIÊNCIA ECONOMICA
Com base nos dois modelos de equilíbrio da firma, pode-se tirar algumas conclusões quanto à relação entre a estrutura do mercado e a eficiência econômica.
Em competição perfeita, o preço do produto tende a aproximar-se do custo marginal. Isto indica que o preço que o consumidor deseja pagar por uma mercadoria, ou seja, a satisfação ou utilidade que o consumidor obtém com seu uso, é igual ao custo da mercadoria para a sociedade como um todo.
Em situações reais, no entanto, questiona-se a validade dos dogmas que acusam o monopólio de ser prejudicial à eficiência econômica do sistema.
Poder-se-ia citar o caso de indústrias que têm custos decrescentes com o aumento da quantidade produzida. Seria o caso de energia, onde os custos unitários caem com o aumento da escala de produção. Nesta situação, se a produção fosse atomizada, os custos seriam mais altos, e não seria possível realizar os beneffcios de economias de escala, já que todos os produtores seriam pequenos e constituiriam, individualmente, uma parcela muito pequena da oferta total.
Outra consideração pertinente seria relacionada com a motivação das firmas monopolistas. Embora elas possam ter o poder monopolista, podem não se utilizar de tal expediente como contenção da produção para elevar os preços. Inicialmente, por causa da "boa imagem" que as firmas desejam preservar para si e, em segundo lugar, devido ao fato de que, embora possam ter um monopólio do seu produto, existem substitutos próximos, de modo que a fluidez do consumidor de um produto para outro possa ser incentivada por uma política de exploração, Na realidade, não existem monopólios perfeitos, mas, sim, situações que se assemelham mais, ou menos, ao monopólio puro.
Outros argumentos a favor do monopólio seriam, em primeiro lugar, uma diversificação na produção, efeito este causado pelo desejo de cada firma de criar uma situação monopolística para si. Em segundo lugar, firmas grandes ,possuem melhores condições para o desenvolvimento de pesquisas tecnológicas. Dificilmente poder-se-ia entrever o nascimento de novas técnicas de produção desenvolvidas por firmas atomizadas e de pequeno porte.
Em verdade, torna-se muito difícil julgar a maior ou menor conveniência de monopólio ou de competição perfeita. O que se desenvolve neste capítulo são modelos teóricos que não representam a realidade, mas, sim, alguns traços observáveis e propositadamente exagerados, para lhes conferir um grau de maior generalidade. Eles nos fornecem pontos de referência para julgamento, e nunca um padrão a ser reproduzido na vida real.
O EQUILÍBRIO DE LONGO-PRAZO EM MONOPÓLIO
Da mesma forma que em competição perfeita, a firma monopolista procurará, a longo-prazo, determinar o tamanho de planta que maximizará seus lucros. Isto implica selecionar a escala de operação na qual o seu custo marginal de longo-prazo se iguale à receita marginal.
Em monopólio, no entanto, não subsiste aquela dinâmica causada pela concorrência que, em competição perfeita, leva a empresa a produzir no ponto mínimo de sua curva de custo de longo-prazo. Não existindo a possibilidade de entrada de novas firmas no setor, a empresa monopolística poderá atingir o equilíbrio em qualquer ponto de sua curva de custo de longo-prazo. Não haverá, portanto, nenhuma garantia de que ela minimize o seu custo médio de longo-prazo, ou que opere ao nível ótimo de produção, dado o tamanho de planta selecionado. Dependendo das condições de mercado, ela poderá produzir com um tamanho de planta maior, ou menor do que o tamanho ótimo, bem como produzir uma quantidade abaixo, ou acima, da escala ótima de produção (ou seja, com capacidade ociosa ou com super utilização de seus recursos produtivos). Tudo dependerá da configuração, em relação à curva de custo médio de longo-prazo, das curvas de receita marginal e de custo marginal de longo-prazo.
O Gráfico 7.4 ilustra algumas possibilidades de equilíbrio de longo-prazo. Deixa-se ao leitor a tarefa de ilustrar graficamente uma situação (improvável, embora possível) onde o equilíbrio de longo-prazo do monopolista coincida com o equilíbrio de longo-prazo de uma firma em competição perfeita.
EFEITOS DE ALTERAÇÕES DE DEMANDA E DE CUSTOS EM MONOPÓLIO
da produção ocorreu na fase decrescente da curva de custo médio. Deve ficar claro para o leitor que, dependendo da configuração das variáveis, poderá haver uma quantidade maior produzida e um preço constante.
Um aumento nos custos fixos do produtor monopolista não causará altera. ções no preço ou na quantidade, já que nem o custo marginal nem a receita marginal serão afetados pela mudança.
Já um aumento nos custos variáveis fará com que a curva de custo marginal se desloque para cima, o que, da mesma forma que em concorrência perfeita, acarretará uma queda na quantidade produzida e um aumento de preço.
A taxação de lucros de firmas monopolistas não acarretará alterações no preço e na quantidade produzida. O seu efeito (assim como a imposição de uma taxa fixa, independentemente de qualquer outra consideração) será circunscrito aos lucros da firma, e não será refletido no equilíbrio da firma, já que nem o custo marginal nem a receita marginal serão afetados. Este resultado é semelhante a um aumento nos custos fixos analisado acima 2.
A imposição de um imposto por unidade produzida deslocará a curva de custo marginal para cima, causando uma redução na quantidade e um aumento no preço, efeito semelhante ao que ocorre em competição perfeita.
Vê-se, portanto, que do ponto de vista do consumidor, o imposto fixo, ou o imposto sobre o lucro, é mais aconselhável, já que não acarreta reduções nas quantidades e repasse de impostos via aumento de preços. Eles simplesmente transferem renda, sem perturbar o equilíbrio atingido.
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÇÃO DE PREÇOS
Suponha-se a existência de dois submercados para o mesmo produto de um monopolista. Os submercados têm, cada um, sua própria curva de demanda, e estão efetivamente separados no sentido de que não é possível comprar em um mercado e revender em outro. A soma das duas curvas de demanda representa a curva de demanda total do monopolista, como expresso no Gráfico 7.6.
As condições de produção são unificadas. A soma das quantidades vendidas nos dois submercados é produzida numa mesma fábrica sob condições de uma única curva de custos. O monopolista irá produzir a quantidade total que igualará o custo marginal à receita marginal correspondente a sua curva de demanda total.
Como o seu mercado total é composto de dois submercados efetivamente isolados um do outro, o monopolista poderá maximizar seus lucros cobrando preços diferentes em cada um deles.
Assim, a função lucro do monopolista é dada por