O debate realizado ontem na Folha entre os assessores dos candidatos à Presidência começou com uma exposição clara e concisa do ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, acerca do atual quadro econômico brasileiro. Terminou também com uma avaliação do ministro sobre o que foi dito pelos assessores. Entre uma fala e outra de Mailson, ouviram-se boas perguntas e más respostas. Houve um misto de discurso político com declarações de intenções utópicas, propostas de política econômica sem amarração coerente por parte do representante do PT e um projeto de governo inacabado e mal defendido por parte da representante do PRN.
O uso de expressões como "ajuste fiscal", "política monetária", "renegociação da dívida externa" e outros importantes conceitos na formulação de uma política econômica consistente perderam sentido. Viraram chavões sem conteúdo, sendo utilizados sem as qualificações essenciais para garantir-lhes um significado concreto no contexto de um plano de estabilização e de crescimento para a economia brasileira.
Os discursos dos dois assessores mostraram-se frágeis. Houve um excesso de voluntarismo por parte do PT, sem mencionar o "basismo" do partido, como lembrou o ex-ministro Sayad, e uma concepção ainda crua e tosca de política econômica por parte do PRN. Mercadante acredita que as forças de mercado perderam significado na economia moderna e que o planejamento estratégico e a programação econômica dispensam qualquer sinal emitido pelas forças da oferta e da demanda. Isso representa um grande equívoco.
Os instrumentos de administração são apenas formas e meios de fazer política econômica, que funcionam adequadamente quando aplicados na mesma direção ditada pelo mercado, jamais contra ele. Dessa maneira, estrategicamente, não faz sentido declarar a suspensão do serviço da dívida externa — e quem sabe uma suspensão "negociada" da interna — e ao mesmo tempo querer aumentar investimentos com capitais internos e externos, como disse Mercadante. Estrategicamente correto seria honrar os contratos para poder crescer, como lembrou ser possível o ex-ministro Roberto Campos.
Zélia foi prejudicada no debate por uma proposta de governo incompleta, embora longa e detalhada, como fez questão de lembrar. Ela tenta agradar a todos, sem sequer desagradar aos credores internacionais. Por isso foi acusada de populista pelo ex-ministro Bresser. Sua proposta é correta nas intenções, mas falha e, portanto, inconsistente na compatibilização dos meios.
Em sua fala final, Mailson desfez vários mitos e ilusões que nortearam os assessores. Ele foi o grande vencedor do debate.