Ainda não se conhece a composição da equipe do ministro Marcílio. Mais de 40 cargos de segundo e terceiro escalões terão de ser preenchidos antes que se conheça a nova fisionomia da área econômica do governo. Contudo, algumas indicações já podem ser registradas.
A própria nomeação de Marcílio Marques Moreira indica uma mudança profunda. Pela primeira vez em várias décadas, o titular da Economia, e seu segundo - o diplomata Celso Marcos de Souza - não são economistas, ou empresários com forte interesse em macroeconomia. Isso indica que o governo sente a necessidade de uma orientação política na área econômica. Nada mais correto. No entanto, há que se fortalecer a competência técnica no preenchimento dos demais cargos.
O presidente indicado do Banco Central é uma pessoa conhecida no mercado financeiro. Seu perfil indica que deverá seguir uma orientação totalmente diferente da de seu antecessor. Nos últimos meses, o Banco Central vinha sendo dirigido como se fosse apenas um operador a mais do mercado; só que enorme, e de força preponderante sobre os demais participantes. Isso poderá mudar. A nova autoridade monetária deverá proporcionar mais estabilidade e previsibilidade aos mercados. Sua atuação deverá ser mais normatizadora, seguindo metas monetárias conhecidas e anunciadas, ao invés de se comportar como um jogador com alto cacife, como vinha ocorrendo até agora.
O ministro Marcílio declarou sua fé no moderno liberalismo. Isso implica inaugurar no Brasil uma política de liberdade de mercado, dentro de um ambiente de respeito às regras estabelecidas. Também implica privilegiar a competição e a escolha como paradigmas fundamentais na definição de estratégias de governo, em contraposição à burocracia, à centralização, e à busca de um utópico e inatingível consenso na formulação de políticas públicas.
Se o ministro Marcílio for capaz de montar uma equipe de governo comprometida com estes princípios, capaz de resistir à tentação intervencionista e voluntarista que aprisionou todos os demais titulares da pasta da Economia no Brasil, então haverá esperança. As reformas que o país precisa poderão começar a ser implementadas, dentro de um regime de estabilidade, e em uma conjuntura de expansão.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 45, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas e consultor de economia da Folha.