Com as medidas anunciadas esta semana, o governo acredita ter dado início à implementação de um plano econômico capaz de resolver os principais problemas que afligem o país. Segundo declarações de alguns importantes auxiliares do ministro Funaro, considera-se superada a ameaça de uma recessão, e a próxima etapa seria definir uma política antiinflacionária; por sua vez, acredita-se que a moratória já teria amenizado o estrangulamento externo, acusado de ser o maior causador da queda na taxa de investimento interno.
No entanto, é necessário observar que as perspectivas podem não ser tão otimistas quanto parecem à primeira vista. O governo, ao injetar mais liquidez na economia, corre o risco de gerar pressões inflacionárias. Isso é particularmente evidente no setor agrícola, onde a oferta de crédito está aumentando, mas há limitações na oferta de bens e serviços. Essa falta de coordenação e a falta de uma estratégia econômica abrangente podem levar a um aumento nas importações de insumos e matérias-primas, exacerbando os problemas econômicos.
Além disso, as medidas parecem ser aplicadas de forma isolada, sem uma abordagem integrada para lidar com os problemas interconectados da economia brasileira: contração, inflação e estrangulamento externo. A combinação desses problemas exige uma estratégia de ação coordenada, e medidas isoladas podem ser contraproducentes em uma perspectiva mais ampla.
A situação atual do Brasil é delicada, com a deterioração contínua na balança de pagamentos e incertezas sobre as reservas brasileiras. O governo precisa definir uma estratégia clara e coordenada para enfrentar esses desafios e fornecer uma visão de longo prazo para a economia do país. A indefinição, neste momento, é prejudicial e pode agravar a situação econômica.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE é doutor em Economia pela Universidade de Harvard, chefe do departamento de Economia da FGV/SP e Consultor Econômico da Folha.