Roberto Campos já nos alertava sobre a debilidade da fé dos recém-convertidos. É o que acontece com alguns dos "novos liberais", incrustados nas alas dos vários partidos.
Defendem a doutrina do liberalismo social. Mas na decisão sofrem recaídas de doenças como a síndrome do estatismo, o mal do fisiologismo e crises intermitentes de populismo.
Ressalvada a autenticidade ideológica das principais lideranças do PFL, é estarrecedora a truculência de alguns pseudoliberais daquele partido.
Na defesa de seus feudos eleitorais, eles pedem a cabeça dos presidentes da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, por quererem fechar agências deficitárias.
Ao primeiro arranhão, o fino verniz liberal se transforma em coronelismo, digno do empedernido clientelismo político.
Mas o ilusionismo político permeia outros lados do espectro ideológico. Sob o manto do legalismo, surgem formas de protelação e imobilismo, encontradas em todos os partidos.
A Comissão Especial que analisa as reformas no transporte de cargas e de passageiros alardeia modernidade, mas mantém a exclusão do capital externo na cabotagem.
Alegando necessidade de leis complementares, os inimigos da abertura da economia contam com o imobilismo parlamentar para perpetuar os monopólios públicos na distribuição de gás e telecomunicações.
Neste vergonhoso jogo, partidos distanciados no espectro doutrinário, como o PMDB e o PPS, tornam-se aliados circunstanciais.
O único passo à frente nas reformas constitucionais foi a eliminação da discriminação contra empresas estrangeiras. Mesmo assim carece de regulamentação para valer nos setores de mineração e de energia.
Em suma, um autêntico faz-de-conta. Se a tônica e o andamento das reformas constitucionais forem estas, há pouca esperança de mudanças efetivas. No máximo será mais uma demão de tintura liberal, enquanto por baixo prossegue a corrosão institucional.
É fácil se dizer liberal e moderno; difícil é agir como tal.
Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA).