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Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Por que a inflação não cai

Vários economistas e empresários estão perplexos com o atual quadro econômico. Como é possível, dizem eles, que a inflação não ceda apesar da absoluta asfixia imposta pela política econômica do governo?

Mesmo com a brutal recessão os preços não param de subir. Vários setores acumulam estoques, desempregam seus funcionários, trabalham em regime de produção mínima —o que eleva brutalmente os custos fixos unitários. Mesmo assim, não reduzem seus preços de tabela.

Começa-se a ouvir opiniões no sentido de que o regime de preços livres não funciona no Brasil, numa clara alusão à volta dos controles e tabelamentos de antes.

Há pelo menos duas explicações importantes para esse aparente paradoxo.

Em primeiro lugar, há uma nítida sensação de que o ajuste fiscal do governo ainda não foi concretizado. Os controles de caixa que a administração federal realiza não têm caráter permanente nem estrutural.

Os saldos positivos de caixa do Tesouro federal estão sendo obtidos por meio de cortes de investimentos, do arrocho salarial, do funcionalismo e da absoluta deterioração da qualidade dos serviços públicos. Mata-se o paciente para curar a doença.

Nessas condições, o "ajuste" não é interpretado pelos agentes econômicos como duradouro, já autoridades, mais cedo ou mais tarde, por melhores serviços. Aí então, o déficit estrutural do governo voltará à tona. A Previdência está falida, a saúde, a educação, o saneamento, a habitação, irão exigir recursos volumosos para chegarem a um patamar apenas mínimo de qualidade e de disponibilidade.

Os agentes econômicos. Se apercebem com facilidade, portanto, que estruturalmente E economia brasileira ainda não praticou o ajuste fiscal, sem o qual a inflação brasileira continuará uma ameaça latente.

A segunda razão da persistência inflacionária se encontra: no cartelização da economia brasileira. Alguns setores sé cartelizam porque têm uma estrutura de produção fortemente concentrada em poucas empresas produtoras; em outros ramos, o número de produtores é alto, mas a cartelização ocorre quando se reúnem em “sindicatos” e “associações” para fixarem preços.

O governo está iludido se acredita que a inflação vai apenas pela força bruta da asfixia econômica. Faltam as medidas estruturais; as conjunturais hoje apenas abrem espaço e ganham tempo para o governo atuar. Infelizmente, contudo, pouco está sendo feito.

Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA).


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