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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

O prefeito que cresce

Recentemente, o prefeito Jânio Quadros publicou nos jornais um informe publicitário de quase uma página, prestando contas de sua administração. Segundo aquele manifesto, intitulado "Os Resultados da Competência", o prefeito tenta demonstrar que realizou um verdadeiro milagre administrativo. Apesar de ter à sua disposição apenas 8,7% dos impostos arrecadados na cidade de São Paulo - como fez questão de salientar na publicação - a equipe administrativa municipal teria saneado as finanças da cidade sem, no entanto, deixar de atender às prioridades de investimentos e de prestação de serviços à população carente. Sem dúvida, se as alegações são exatas, um caso ímpar dentro da administração pública brasileira, destroçada pela incompetência, pelo desperdício e pelos reflexos da crise econômica que afeta toda a nação.


A grade de avaliação da cidade de São Paulo que a Folha está publicando hoje permite uma análise mais precisa da situação. Embora boa parte dos dados seja referente a 1986, pois os números de 1987 não estão disponíveis, as informações coletadas e sistematizadas nestas páginas possibilitam avançar alguns passos no sentido de se avaliar com maior confiabilidade a performance do prefeito Jânio Quadros como administrador público.


No tocante às áreas de saúde, educação, saneamento, transportes e outros serviços, os dados da grade não são capazes de demonstrar progressos inequívocos. Existe uma sensação generalizada de que a atual administração tem concentrado seus esforços nas áreas centrais da cidade, onde o fluxo de pessoas de todas as camadas sociais e econômicas é elevado. A periferia parece não ter sido igualmente beneficiada. Deixarei a aferição destes fatos a especialistas nestas questões.


Quanto às funções administrativas e financeiras, contudo, Jânio Quadros efetivamente dá uma demonstração de competência. Diferentemente da quase totalidade dos demais municípios brasileiros, o número de funcionários públicos não cresceu, as receitas foram recompostas e os investimentos aumentaram significativamente. Cabe apontar que isso ocorreu sem compressão salarial do funcionalismo municipal. Pelo contrário, os rendimentos dos servidores municipais vêm sendo valorizados. Tudo isso com queda no endividamento do tesouro municipal.


As equipes responsáveis pelas finanças e pelo funcionalismo municipal vêm obtendo bons resultados mediante a aplicação de critérios empresariais na gestão da cidade. É pena, porém, que no âmbito das empresas do município as evidências não sejam igualmente favoráveis. Os resultados das estatais municipais foram decepcionantes. Resta esperar que haja um efeito demonstração no tocante aos métodos administrativos empregados na administração central e que também as empresas municipais venham a ser mais eficientes, deixando de gerar perdas cujos montantes vêm aumentando em relação à administração anterior.


Em suma, para que Jânio Quadros saia de sua atual função aclamado e reconhecido como um bom prefeito, resta provar que não é apenas o "prefeito dos ricos". Com a palavra o alcaide, e a periferia, obviamente.



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