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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Imediatismo perigoso

Os índices de preços continuam a demonstrar um aumento na inflação. Mesmo com superávits de caixa do governo federal e uma política monetária extremamente rigorosa, não estamos vendo o tão esperado alívio das pressões inflacionárias.


Nesse cenário, economistas estão expressando preocupações e clamando, de forma unificada, por políticas de renda. É importante observar que isso nada mais é do que um eufemismo para o controle de preços.


O que surpreende nessa argumentação não é tanto o apelo às políticas de renda, mas sim a impressão que está sendo transmitida à população de que a solução miraculosa e imediata para o problema da inflação está no congelamento de preços, tabelamento ou outras formas de controle. O congelamento ou pré-fixação de preços e salários, por si só, serviria apenas para reduzir artificialmente as pressões inflacionárias a curto prazo. Isso não ajuda a controlar a inflação de maneira permanente, a menos que seja acompanhado por políticas fiscais e monetárias fortemente contracionistas, como as adotadas pelas autoridades econômicas. É verdade que a política monetária poderia ser mais consistente e que o controle fiscal poderia lidar com elementos estruturais mais evidentes. No entanto, afirmar que não existe uma política de contenção, cujos primeiros resultados serão visíveis no primeiro trimestre de 1991, é uma distração que esconde o vício do imediatismo que persiste no país desde o Plano Cruzado, onde se espera que a inflação caia abruptamente, sem custos sociais e econômicos significativos.


É fundamental que o governo não altere sua política antiinflacionária, pelo menos até meados de 1991, quando haverá elementos tangíveis para uma avaliação mais precisa. Qualquer mudança de curso seria lamentável, pois só agora começamos a ver os primeiros indícios dos resultados do grande esforço de contenção iniciado no meio do ano. A hiperinflação foi construída ao longo de uma década, e agora é necessário ter paciência e resiliência para que os primeiros sinais positivos surjam.


MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 44 anos, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas e consultor de economia da Folha.

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