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  • Marcos Cintra - Diário do Comércio

Crise longe dos bancos

Mesmo com a economia brasileira cambaleando, há setores que exibem números impressionantes. Os lucros e a rentabilidade dos bancos brasileiros mostram que a palavra crise não existe para o setor. O processo de concentração bancária foi muito acentuado de 1994 a 2002. O número de bancos comerciais no período passou de 246 para 167, lembrando que, diferentemente de outros setores, as fusões e aquisições bancárias não precisam se submeter ao CADE. A concentração bancária no Brasil foi avaliada pelo FMI, que concluiu que o setor atua de modo oligopolístico.


O poder exercido pelos bancos sobre a economia nacional tem possibilitado a geração de altos lucros oriundos da captação de parte da renda dos tomadores de crédito. No primeiro trimestre deste ano, o ganho dos bancos com a concessão de crédito saltou 18% em relação ao mesmo período de 2002, passando de R$ 10,9 bilhões para R$ 12,9 bilhões. Os elevados juros cobrados pelos bancos, cuja maior parte é constituída pelos altíssimos spreads (diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram quando emprestam), têm garantido receitas crescentes com as operações de crédito. De 2000 a 2002, as receitas com intermediação financeira dos 100 maiores bancos brasileiros quase dobraram, passando de R$ 110,7 bilhões para R$ 219,2 bilhões.


As receitas com prestação de serviços obtida pelos bancos nos primeiros três meses deste ano se expandiram em torno de 18% em comparação com o mesmo período do ano passado, saltando de R$ 3,9 bilhões para R$ 4,6 bilhões. De 2000 a 2002, os 100 maiores bancos registraram um crescimento na receita com tarifas de R$ 17,3 bilhões para R$ 22,3 bilhões. Os números registrados pelos bancos evidenciam o poder que o setor possui para definir seus preços. Os juros cobrados dos tomadores finais de crédito, que chegam a ser até oito vezes a taxa Selic, e a parafernália de taxas administrativas das mais variadas espécies absorvem fatias crescentes do debilitado orçamento da classe média e da raquítica renda de boa parte das empresas.


Além de exercerem seu poder oligopolístico, os bancos encontram ainda nas operações de tesouraria outra fonte para turbinar seus ganhos. Os bancos aumentaram em 50% os resultados com títulos e valores mobiliários no primeiro trimestre de 2003 em relação ao ano passado, totalizando R$ 12,3 bilhões e R$ 8,2 bilhões, respectivamente. No geral, a rentabilidade dos 25 maiores bancos no período foi de 23,2%, contra 8% das empresas abertas não financeiras.


O mar de rosas vivido pelos bancos contrasta com a situação de penúria dos agentes produtivos. As empresas não financeiras fazem malabarismos para continuarem operando, e trabalhadores que conseguem manter seus empregos veem seus rendimentos minguarem. Como se vê pelos números, crise é um termo que passa longe do setor bancário.

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