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  • Marcos Cintra

Tirania, populismo e miséria

Em meio à escalada de violência que já deixou mais de cem mortos na Venezuela desde abril, PT, PC do B e PDT assinaram um manifesto apoiando a ditadura do Presidente Nicolás Maduro. À frente desse movimento de esquerda pró-tirania chavista cabe destacar o posicionamento da Presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ao declarar “apoio incondicional” à farsa da eleição convocada por Maduro para a escolha de representantes que vão reescrever a Constituição daquele país.

A petista defendeu esse processo de votação, realizado em 30 de julho, em artigo na Folha de S.Paulo no qual tenta passar a ideia descabida de que o ato do ditador venezuelano é um exemplo a ser seguido pelo Brasil.

As regras bizarras e a falta de transparência do processo eleitoral de Maduro servirão para colocar representantes chavistas para mexer na Constituição tendo como objetivo aumentar o poder de um governo autoritário. Não se trata de uma eleição para avaliar o presidente, e sim um faz de conta para manter o impopular Maduro à frente de uma economia em frangalhos. Detalhe: entre os eleitos no dia 30 estão a esposa e o filho de Maduro e um irmão de Hugo Chávez. O número de votos deles não se sabe.

Cabe salientar que o PT sempre teve afinidade com governos ditatoriais e ajudou a financiar alguns deles. Quando era presidente, Lula afirmou: “não podemos ter preconceitos contra países não democráticos”. Seu governo colocou US$ 12 bilhões do BNDES em economias comandadas por tiranos, como Cuba, Angola, Zimbábue, entre outros. Mesmo com tantas deficiências estruturais no Brasil, o petismo bancou obras em nações que violam direitos humanos e reprimem violentamente atos contra o governo.

Juntamente com esse dinheiro foram algumas empreiteiras brasileiras tocar projetos que se revelaram como extensões dos esquemas de corrupção arquitetados pelo PT no Brasil. A tirania venezuelana foi um dos principais destinos de recursos no passado recente. Em 2009, as empreiteiras brasileiras chegaram a ter contratos que somavam US$ 20 bilhões naquele país, sendo que o Tribunal de Contas da União detectou irregularidades em muitos neles.

A Constituição, redigida em 1999 já sob o comando de Hugo Chávez, não é a causa do colapso venezuelano. A origem do caos está no autoritarismo e na má gestão da economia do país.

Os 18 anos de chavismo arruinaram a Venezuela. O país conviveu com um período relativamente estável quando o petróleo, responsável por 95% das exportações do país, tinha seu preço nas alturas. Hoje a situação se inverteu e os efeitos do populismo na condução da política econômica se revelam de modo dramático.

Em 2016, o PIB venezuelano desabou 18% e neste ano deve cair mais 12%. A inflação pode chegar a 720% em 2017. O desemprego atinge 25% dos trabalhadores. Pesquisa mostra que três em cada quatro venezuelanos perderam peso, em média nove quilos em um ano, porque não têm dinheiro para comprar comida. Aliás, mesmo que tivessem recursos eles não conseguiriam obtê-la, já que falta quase tudo nos supermercados. Isso sem falar que 85% dos medicamentos não são encontrados nas farmácias do país.

O manifesto da esquerda brasileira e a declaração da Presidente do PT têm um mérito: escancara o desprezo que eles têm pela democracia e o apreço pelo populismo, mesmo que isso arruíne a economia. Tudo em nome de uma ideologia fantasiosa que beneficia uma elite política corrupta e amplia a miséria entre os trabalhadores.

 

Doutor em Economia pela Universidade Harvard, professor titular de Economia na FGV.

Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto Único.

É Presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).


Publicado no Jornal SPNorte: 11/08/2017

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