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  • Marcos Cintra

Inovação na China e no Brasil

A China investe valores crescentes em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e tal ocorrência explica em grande parte o fato de aquela economia ser a que mais cresceu nos últimos anos ao redor do mundo. Nos últimos 25 anos, o PIB chinês avançou em média 10% ao ano e sua renda per capita se expandiu 8% anualmente.

Investimento em P&D é o fator-chave para o crescimento econômico sustentado e o bem-estar social, e os chineses assimilaram isso. Acadêmicos estudam essa relação há anos e um dos trabalhos mais recentes nesse sentido, publicado pela Levy Economics Institute, mostra que para cada 1% de aumento no gasto em saúde a economia cresce adicionalmente 0,3% e em educação o efeito é de 0,25%. No caso das despesas em defesa a expansão extra é de 0,03% e em infraestrutura o incremento é de 0,01%. Já em relação à Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) um dispêndio 1% maior gera um crescimento adicional de 9,92% no PIB.

Em apenas 15 anos a China multiplicou por nove o montante de recursos aplicados em P&D. Dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para o período entre 2000 e 2015 mostram que o investimento nesse setor nos Estados Unidos saltou de US$ 333 bilhões para US$ 463 bilhões, na União Europeia foi de US$ 241 bilhões para US$ 346 bilhões, no Japão de US$ 120 bilhões para US$ 155 bilhões e na China de US$ 41 bilhões para US$ 377 bilhões. Em relação ao PIB, o dispêndio norte-americano foi de 2,6% para 2,8%, o europeu de 1,7% para 1,9%, o japonês de 2,9% para 3,3% e o chinês de 0,9% para 2,1%.

Desde os anos 1970, o governo chinês realiza reformas no país. O Estado se mantém forte, mas o setor privado se expande rapidamente e a parceria do poder público com as empresas faz a economia avançar de modo acelerado. Nesse cenário reformista estão contemplados investimentos crescentes em P&D, cuja meta para 2020 é chegar em 2,5% do PIB. O país tem objetivos bem definidos nessa área, como a elevação da qualidade das patentes, aumento das citações em artigos científicos, prioridade para a formação de recursos humanos em tecnologia, melhoria da China no “Global Innovation Ranking” e a preferência por projetos inovativos em setores como o de semicondutores, petróleo e gás, energia nuclear, aviões e robótica.

A China se deu conta há anos de que investir em CT&I é o fator preponderante para o crescimento da economia e o bem-estar da sociedade e que a parceria entre o Estado e as empresas é a estratégia que gera eficiência e eficácia nesse processo. Infelizmente, o Brasil ainda carece de algo parecido. Alocar recursos nessa área ainda é visto por alguns gestores públicos como gasto e não como investimento. Observa-se também no país um distanciamento entre as instituições governamentais e o setor privado quando o assunto é inovação. Há uma destinação razoável de verbas em ciência e pouca integração do processo de pesquisa com as empresas.

A China segue fazendo a lição de casa que eles assimilaram há algumas décadas. O resultado é desenvolvimento econômico acelerado. No Brasil a sociedade de um modo geral ainda não tem consciência do papel da CT&I para o desenvolvimento do país. O resultado é desempenho econômico medíocre.

 

Doutor em Economia pela Universidade Harvard, professor titular de Economia na FGV. Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto único. É Presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).

Publicado no Jornal SPNorte: 02/11/2017


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