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  • Marcos Cintra

O esgotamento de um modelo

A crise de 2008 derrubou economias que representam metade da produção mundial. Nos Estados Unidos o crescimento anual médio do PIB caiu de 2,8% entre 2004 e 2007 para 0,2% nos quatro anos seguintes. No mesmo período de comparação, a União Europeia passou de crescimento médio de 2,6% ao ano para uma retração de 0,2% ao ano.


A economia brasileira também sentiu os efeitos da crise mundial. O PIB, que crescia em média 4,7% ao ano entre 2004 e 2007, teve a expansão reduzida para 3,8% entre 2008 e 2011. Em relação a outros países pode-se dizer que conduziu bem sua política econômica no sentido de imunizá-la contra a turbulência.


Dentre os fatores que contribuíram para minimizar os efeitos da crise global o destaque fica para o consumo das famílias, cuja contribuição para o crescimento da economia saiu de 3% , em média, entre 2004 e 2007, para 3,2% entre 2008 e 2011. No caso do consumo do governo a contribuição caiu de 0,69% para 0,64% em igual período.


Quanto à contribuição dos investimentos, houve estagnação de 1,5% ao ano no período.


A incerteza predominou na economia mundial e criou resistência em muitas empresas para tocar seus empreendimentos. No setor público, eles andaram em ritmo lento por questões políticas e ambientais, além de mudanças no comando de órgãos responsáveis por grandes obras e má qualidade dos projetos.


No caso das exportações, a contribuição para o crescimento caiu de uma média de 1,4% ao ano entre 2004 e 2007 para 0,1% entre 2008 e 2011.


O enfraquecimento do comércio mundial derrubou preços e quantidades de produtos exportados pelo Brasil.


A China, mesmo com seu crescimento reduzido, minimizou esse impacto ao manter forte demanda por matérias primas.


Os efeitos negativos nas exportações do Brasil foram substancialmente causados pela valorização do real e pela concorrência da indústria chinesa.


O consumo das famílias minimizou a crise por conta do desempenho do mercado de trabalho e do crédito.


Comparando a média dos anos 2004-2007 com a média de 2008-2011 vê-se que o desemprego caiu de 10% para 7%, a renda real dos empregados saltou de R$ 1,4 mil para R$ 1,6 mil, a massa salarial passou de R$ 81 bilhões para R$ 126 bilhões e o crédito para pessoas físicas em relação ao PIB subiu de 8,8% para 14%.


Com o salário e o crédito crescendo os consumidores foram às compras, vitaminadas ainda com a redução do IPI, amenizando a crise no País. Mas aumentou o endividamento, passando de uma média de 24% para 36% da renda na comparação entre os períodos 2004-2007 e 2008-2011.


Dados de 2012 indicam que a imunização do País à crise como vem sendo tocada está esgotada. O crescimento deve ficar entre 1,5% e 2%. Mesmo prorrogando-se a redução do IPI e a elevação das compras do governo ele será pífio.


As empresas estão com estoques elevados e as famílias comprometem parte expressiva da renda com as dívidas.


A crise mundial deve durar pelo menos mais dois anos. Precisamos de ações mais eficazes para o Brasil voltar a crescer.


Há duas saídas: destravar os investimentos públicos – promovendo concessões e parcerias com o setor privado – e iniciar uma reforma tributária que reduza custos para as empresas e eleve o poder de compra dos consumidores, a começar pela substituição imediata do PIS/Cofins e do INSS patronal.


 

Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard, professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.



Publicado na Revista AMais: Novembro de 2012

Publicado no Diário do Comércio: 11/07/2012 Publicado no Jornal Perfil Econômico: 13/06/2012


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