A crise global derrubou o número de turistas internacionais no mundo. Em 2008, esse contingente foi de 913 milhões e, no ano seguinte, caiu para 877 milhões. Mesmo com a manutenção de um cenário instável em 2010, a quantidade de estrangeiros circulando pelo mundo surpreendeu e voltou a crescer, alcançando 935 milhões de pessoas.
O vigor e o dinamismo do turismo impressionam. Mesmo com a instabilidade na economia mundial, o setor cresce, gerando empregos e renda. O termo "crise" parece não fazer parte do meio turístico.
O turismo representa, atualmente, um meganegócio que responde por 11% do PIB mundial e gera cerca de 260 milhões de empregos. A expectativa é que o setor continue se expandindo de modo robusto nos próximos anos. A OMT estima que o contingente de turistas internacionais chegue a 1,6 bilhão em 2020.
Depois do México, que recebe mais de vinte milhões de turistas por ano, o Brasil é o principal destino de estrangeiros na América Latina, com pouco mais de cinco milhões de visitantes. O contingente de viajantes internacionais no território brasileiro mais do que dobrou desde meados da década de 90, quando foram registrados dois milhões de pessoas, mas o país ainda é pouco explorado na área turística, dada sua diversidade de atrativos naturais e culturais.
A participação brasileira no turismo internacional, aproximadamente 0,5% do total de viajantes, não condiz com o enorme potencial do país. Explorar esse setor deveria fazer parte de um plano estratégico voltado para a descentralização do desenvolvimento econômico nacional, uma vez que há atrativos turísticos em regiões carentes que poderiam ser utilizados como polos geradores de empregos e renda.
É necessário identificar onde o Brasil é competitivo para atrair turistas e quais os entraves que limitam o setor. Tempos atrás, o Fórum Econômico Mundial apurou que, em um rol de 133 países, o Brasil está em 2° lugar no ranking quando se trata de recursos naturais e em 14° em relação aos atrativos culturais. Por outro lado, quando o quesito é a infraestrutura, a posição brasileira despenca para 110° lugar e, na segurança pública, a situação é vexatória por conta da 130ª colocação.
O Brasil precisa capturar parte significativa dos quase 700 milhões de novos viajantes estrangeiros que circularão pelo mundo em 2020, como prevê a OMT. Esse contingente traria divisas para o país, gerando empregos e renda.
A Copa do Mundo e as Olimpíadas vão atrair um grande fluxo de turistas estrangeiros e a organização desses eventos deve ter como meta o retorno deles no futuro e que eles possam fazer "propaganda" do Brasil ao redor do mundo. Porém, entraves como a precariedade dos aeroportos e dos transportes urbanos e a falta de segurança nas grandes cidades podem deixar uma péssima imagem do país lá fora, colocando tudo a perder.
Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor-titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.