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  • Marcos Cintra

Rio+20 e as cidades

A conferência Rio+20, que se encerra hoje, reuniu representantes de mais de 190 países visando promover o que se convencionou chamar de economia verde. Ou seja, os governos terão que desenvolver formas de atender as necessidades de melhoria do bem-estar das pessoas sem comprometer os sistemas naturais que sustentam a vida no planeta.


A Rio+20 será um evento oportuno para chamar a atenção dos gestores públicos quanto a um problema de grande magnitude. Trata-se da rápida urbanização da população mundial. Há cinco anos o número de pessoas vivendo nas cidades ao redor do mundo ultrapassou a dos habitantes do campo, e esse processo vem se acelerando e tendo efeito sobre a poluição do ar, a demanda de energia, a produção de lixo, o abastecimento de água, entre outros.


A vida mais complexa nos centros urbanos cria uma expectativa preocupante em termos ambientais. Segundo a ONU, hoje as cidades abrigam 3,4 bilhões de pessoas, e daqui a 20 anos esse contingente deve atingir 5,5 bilhões de indivíduos. A população que vive em áreas urbanas representa atualmente pouco mais da metade dos habitantes do planeta, e por volta de 2030 ela será superior a 60% do total. Essa acelerada expansão populacional causa apreensão por conta do impacto que isso vai gerar nas grandes e médias cidades dos países em desenvolvimento. Nessas nações se concentrará a maioria da população urbana adicional prevista pela ONU.


A questão que surge é se as grandes e médias cidades dos países em desenvolvimento estão preparadas para abrigar, em tão pouco tempo, esse elevado contingente adicional de pessoas. É certo que não. Metrópoles como São Paulo, por exemplo, têm problemas urbanos agudos, e a tendência é que eles se intensifiquem, podendo causar colapsos de natureza ambiental, social e infraestrutural. A cidade de São Paulo conta hoje com 11 milhões de habitantes, e até 2030 esse contingente deve se aproximar de 13 milhões. Serão 2 milhões de pessoas a mais em um espaço que já concentra problemas de toda ordem, e que se intensificam a cada dia.


Mais de 40% dos habitantes de São Paulo moram em imóveis precários (favelas, cortiços e loteamentos irregulares), a água na região metropolitana é mais escassa que no sertão nordestino, a reciclagem das 12 mil toneladas de lixo coletado diariamente é insuficiente, metade do esgoto residencial não é tratado, e o trânsito caótico gera perdas bilionárias para a sociedade.


A cidade de São Paulo acumula problemas que comprometem, de modo acelerado, a qualidade de vida de seus moradores. A perspectiva de aumento populacional pode tornar a situação ainda mais crítica se o poder público não agir com eficiência e eficácia. Esse cenário vale para a maioria das grandes e médias cidades brasileiras.


Novas demandas urbanas estão surgindo, e elas precisam de novos tratamentos. Velhas medidas não servem mais frente a uma dinâmica que assume novas formas por conta de aspectos ambientais. É preciso produzir cada vez mais preservando o ar, o solo, as águas e a biodiversidade. Os governantes brasileiros têm grande desafio pela frente.


 

Marcos Cintra, doutor em economia pela Universidade Harvard (EUA), é professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.


Publicado no Jornal do Brasil: 22/06/2012

Publicado na Revista AMais: Julho de 2012

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