No painel de comando do Plano Real, todas as luzes amarelas devem estar piscando. A inflação da Fipe poderá chegar a 3,5% em outubro. O IPC-R ficou em 1,86%. Este valor será adicionado aos índices de correção salarial, que em outubro já ficaram entre 14,65% e 19,30%. Nestas condições, fica difícil imaginar que setores que tenham data-base nos próximos meses possam cumprir a legislação salarial sem repasses a preços. A âncora monetária sofreu seu primeiro arrasto. Os limites de expansão da oferta de moeda foram ampliados em cerca de 70%. O conceito de agregado monetário relevante para a atual política econômica foi alterado, e a oferta monetária, limitada inicialmente a R$ 10,2 bilhões, poderá atingir R$ 17,3 bilhões até o final do ano.
Na área cambial, as dificuldades também persistem. A valorização do real continua, impulsionada pelos juros altos e pela retração do Banco Central em suas operações no mercado de câmbio. Já começam a surgir os efeitos na Balança Comercial. O saldo teve ligeira queda em setembro, e essa tendência deve se acentuar. Com salários indexados, a relação salário-câmbio torna-se cada vez mais desfavorável ao produtor interno, e a pequena abertura da economia terá como consequência a necessidade de uma recessão profunda, se esperamos que a âncora cambial seja efetiva para estabilizar preços no Brasil.
Apesar dos esforços conten-cionistas do governo, a produção industrial paulista cresceu 13% em setembro. A utilização da capacidade instalada já se aproxima de 80%, um nível que não pode ser ultrapassado impunemente. O curioso em todo esse quadro é que em momento algum se esperava que a evolução dos principais indicadores econômicos fosse diferente. Mas se esperava, sim, que findo o período eleitoral, a reação do governo fosse mais decisiva. Se houvesse, por parte da sociedade e do governo, uma sinalização mais clara na direção de um redesenho institucional da economia, a tolerância dos vários setores econômicos em relação às perdas inflacionárias causadas durante a fase inicial do plano seria significativamente maior. Isso, contudo, não vem ocorrendo, e as pressões pela reindexação generalizada da economia logo tomar-se-ão irresistíveis.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 48 anos, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), é vereador da cidade de São Paulo pelo PL e professor titular da Fundação Getulio Vargas (SP). Foi secretário do Planejamento e de Privatização e Parceria do Município de São Paulo na administração Paulo Maluf.